Número total de visualizações de páginas

sábado, 24 de maio de 2014

AS MULHERES GAIVOTAS

       


       Era uma vez uma praia cheia de lixo e gaivotas. Não era uma praia que tivesse muita gente, porque de dia para dia, aumentava o lixo.
Era Inverno, e por isso, as tempestades no mar, eram quase diárias. Por causa disso, as gaivotas não podiam comer no mar, nem tinham a sorte de encontrar pescadores.
Estavam cheias de fome, e voavam baixinho, ao contrário do que era costume, com o peso das nuvens. Quando há tempestades, as gaivotas não têm outra escolha a não ser procurar no lixo das cidades alguma coisa para comer. Nem sempre é o que elas mais gostam, mas comem para sobreviver.
Um dia, com muita chuva, o monstro que vivia no mar, vem à superfície. Um ser de lata, com sucata, mas simpático.
Quando chegou à superfície assustou-se:
- O que está a acontecer aqui? Tanta gaivota em terra?! Áh…já sei…deve haver tempestade no mar! óh…e há mesmo…que ondas tão grandes se aproximam…ui…que medo! Acho que os terrocos não vão escapar…o mar vai engoli-los.
- O que estás a fazer aqui? Volta para a tua casa! – Grita uma gaivota.
- Mas quem és tu para me mandar para casa?
- Sou uma gaivota.
- E eu sou o monstro sucata! Conheço muito bem o fundo do mar.
- E nós a superfície! – Diz outra gaivota
- Eu também conheço a superfície! Sei muito bem que vem aí uma tempestade daquelas!
- Nós também sabemos. Por isso é que te estamos a avisar.
- Eu vivo aqui no mar…
- E nós também vivemos por aqui.
- Se o mar está tempestuoso porque é que estão aqui?
- Porque viemos à procura de comida, e vimos-te aqui…achamos que te devíamos avisar.
- Obrigada! Sabem, eu tenho lixo de sobra, lá em baixo. Vou trazer-vos algum. O que gostam mais?
- Óh! Que simpático!
- Gostamos de qualquer coisa.
- Espera…qualquer coisa, não é bem assim. Um dia quase sufocamos com plástico, por isso, plástico e ferro, e pedras, pregos ou madeira não comemos.
- Pois! Já vi muitas iguais a vocês aflitas por causa de lixo.
- Mas porque tens lixo na tua casa?
- Porque…olha…não sei…eu também fui criado a partir de lixo, pelas mãos de um homem!
- Um homem?
- Sim! Um terroco…ou terra…qualquer coisa…
- Terráqueos…ou…terrenos… - Dizem as gaivotas em coro.
- Isso!
- E como é que ele te criou?
- Devia ser uma mulher!
- Uma mulher porquê?
- Era uma artista.
- Áh! – Respondem todas
- E deixou-te aí em baixo?
- Sim!
- Porquê?
- Não sei.
- E onde é que ele, ou ela foi buscar o teu corpo?
- Ao fundo do mar! – Diz o monstro
- Como é possível?
- Vocês não fazem ideia do lixo que há lá em baixo.
- A sério?
- Sim!
- Como pode ser?
- As pessoas fazem do mar…um gigantesco caixote do lixo! Não sei de quem foi a estúpida ideia de dizer que o mar é um caixote do lixo.
- Só pode ter sido alguém que em vez de miolos, tinha lixo na cabeça.
- Os terráqueos também têm lixo na cabeça?
- Desconfio bem que sim!
- Não tenho pena nenhuma… - Diz o monstro a rir
- Nós também não! – Dizem as gaivotas
- Bom, volto já, com os vossos petiscos.
        O monstro de sucata mergulha outra vez e manda para a superfície muito lixo, que não serve para alimentar as gaivotas. Mas de repente, um barco estranho despeja baldes de restos de comida, como cascas, fritos, alface…as gaivotas enchem o papo de comida, satisfeitas e felizes.
- Ei…eu aqui com este trabalho todo, e agora não querem nada? Mas que mal agradecidas. – Resmunga o monstro.
- Só nos trazes coisas que não comemos!
- Fidalgas!
- Lembra-te que somos seres vivos… gaivotas…! Não comemos qualquer coisa como tu, que és feito de sucata!
- Áh…pois é! Tens razão, desculpem…mas já viram o que aquele louco fez?
- Deu-nos de comer! – Diz uma gaivota satisfeita.
- Sim, mas também poluiu, e arriscou-se a ser engolido pelas ondas.
- Pois foi! – Dizem as gaivotas em coro.
        Vem uma onde enorme e vira o barco. O rapaz cai á água. Um bando de gaivotas voa logo em direcção a ele.
- Socorro…! – Grita o rapaz.
        As gaivotas às centenas transformam-se em lindas mulheres e ajudam o rapaz a sair da água.
- Ei…vamos salvá-lo ou damos-lhe uma liçãozinha? Só…uma brincadeirinha! – Propõe uma gaivota.
- Salvamo-lo! – Gritam todas.
- Tenho tantas saudades de ser mazinha…aaaaiiiii…!
- Eu também, mas agora não! – Responde outra gaivota.
- Controla lá esses desejos maléficos…
- Também acho.
- Se o deixarmos vai ser mais lixo para o mar!
(Todas desatam às gargalhadas, levam o rapaz para terra. Enquanto ele recupera, as gaivotas comentam entre si)
- Aii…que tentação! – Suspira uma gaivota a olhar para ele
- Temos aqui um belo peixão…realmente! – Comenta outra
- Ai, que vontade de lhe dar umas belas bicadas…
- Que jeitoso…
- Ui, acho que vou levá-lo outra vez para a água…
(Todas riem)
- Olhem-me para estes lábios…este corpo…
(Todas suspiram a sorrir)
- Por momentos até senti inveja dos polvos…quem me dera ser um polvo! Agarrava-me a esta escultura, não o largava mais…corria este corpinho todo centenas de vezes por dia…huuummm…! Só se ele me cortasse os tentáculos.
(Todas riem)
- Acho que vamos virar mais vezes o barco dele…
O rapaz abre os olhos, olha em volta, vê as gaivotas e diz)
 (Riem)
- Estou vivo?
- Sim! – Gritam as gaivotas.
- Óh…que maravilha! Óh…milagre!
- Milagre? Bem…eu chamo-lhe sorte!
- Pois. Se não estivéssemos ali, bem que te passavas…
- Tu tiveste noção do que fizeste?
- Mas que grande louco! Meteste-te ao mar, com este tempo, e com estas ondas?
- Salvaram-me a vida…uau! Um bando de gaivotas salvou-me a vida.
- Louco!
- Óh…nem sei como vos agradecer.
- Deste-nos de comer, mas estamos zangadas contigo, porque poluíste o mar com a comida. – Resmunga uma gaivota.
- Tu fazes sempre isso? – Pergunta outra gaivota
- Sim! Não tenho outra solução.
- O quê?
- Então para que servem os caixotes do lixo?
- Estão sempre a rebentar. Não há espaço para mais!
- Que desculpa mais esfarrapada.
- Vocês humanos são mesmo porcos selvagens. Até os animais porcos são mais limpos na natureza.
- Não sejam assim…
- Vê se mudas de comportamento, se não da próxima vez deixamos que vás ao fundo, principalmente para veres a porcaria que mandam para o mar!
- Esperem aí…eu estou a falar com um bando de gaivotas, ou a delirar?
- Estás a falar com gaivotas, sim!
- Eu quase podia jurar que tinha, sido umas mulheres que me salvaram.
- Mulheres? – Perguntam em coro.
- Sim! Os pescadores que já foram salvos, disseram que eram mulheres!
- Mulheres? – Perguntam em coro.
- Não! – Diz outra gaivota
- Isso queriam eles! – Diz outra.
- O quê? Viram sereias, não? – Diz outra.
(Todas riem)
- Devem ter tido uma visão, com o medo! – Diz outra gaivota.
- Sim…deve ter sido isso! – Diz o rapaz desconfiado
- E tu, também viste a mais…ou…viste aquilo que querias…gostarias de ter visto! Querias ter sido salvo por mulheres, não era?
- Bem! Sim! – Diz ele a sorrir.
- Vê se tens juízo, e se paras de poluir! Há muitos sítios e muitas pessoas que têm fome, dormem na rua, e procuram comida como nós, nos caixotes! Em vez de deitarem para o mar…ponham tudo junto dos caixotes do lixo, que há pela cidade. Vão ver que desaparece tudo num instante.
- Áh! É?
- Sim! Não sabias?
- Moras na cidade e não sabes dessa triste realidade?
- Andas a dormir.
- EU não vou para esses sítios.
- Tens muita sorte! Então abre os olhos, e lembra-te disto, quando deitares comida no mar…
- Sim, porque da próxima vez, podes não ter a mesma sorte que tiveste desta.
- O mar já tem lixo que chegue e sobre.
- Quem o deitou para aqui, devia engoli-lo.
- Pois era.
- Bom…gaivotas…muito obrigado! Não me vou esquecer do que me disseram…- murmura – Parecem a minha mãe…
- A tua mãe é com certeza alguém que te ama e que te quer proteger! Agradece-lhe e trata-a bem.
        O rapaz fica embaraçado, sorri e volta para a sua casa. as gaivotas caminham pela praia em forma de mulheres lindas, leves e misteriosas, ao sabor do vento forte, e à chuva.
        E depois deste dia, o rapaz nunca mais deitou comida para o mar. Fez o que as raparigas gaivotas disseram, e matou a fome a muita gente sem poluir.
        Antes de poluirmos o mar, é melhor pensarmos duas ou três vezes antes de o fazermos. Devemos pensar se queremos ficar doentes por causa da poluição dos mares, ou se queremos ter saúde, ser amigos do mar, e aproveitar tudo o que ele tem de bom.
        O mar não é um caixote do lixo gigante!

FIM
Lálá
(13/Maio/2014)


Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras