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quinta-feira, 8 de março de 2012

A abelhinha que queria ser grande e pequenina

A Abelhinha que queria ser grande… e pequenina…
 


    Era uma vez, …num país chamado PARALÁDOESPELHO, onde não há guerras, nem fome, nem miséria, e onde a solidão está fora dos dicionários dos habitantes, onde todos são amigos uns dos outros, vive uma abelhinha chamada CHUVASOL, com a sua família.
Chuvasol é ainda pequenina, está perto de ser adolescente, mas longe de ser adulta. O seu maior sonho é ser grande como a sua Mãe e todas as outras abelhas do reino.
Sempre que está sozinha, com as outras amigas, e quando a sua Mãe sai, todas as suas brincadeiras são como se fossem abelhas grandes, mas nem todas acabam da melhor maneira. 
Às vezes o que as salva são a Tia Cecília e a Tia Margarida, irmãs mais novas da Mãe da Abelhinha Chuvasol, a Abelha Raquel. E também contam com a cumplicidade da vizinha anã, a Dona Lucília, já com alguma idade, mas com um espírito muito jovem, brincalhona, simpática e que protege a nossa amiga Chuvasol, e as outras amigas dos ralhetes e castigos da Mamã Raquel.
       No inicio de uma manhã cheia de sol, a Abelha Raquel, está já muito atarefada, a preparar o pequeno-almoço, deixa cair algumas latas, põe água a ferver, tira pólen congelado do frigorífico, o mel do armário, lava alguma loiça que ficou de noite, anda de um lado para o outro, põe algumas pétalas de flores variadas na água, abre as varandas e as janelas das outras divisórias da casa, cumprimenta as vizinhas que passam, enquanto Chuvasol, ainda está no mundo dos sonhos…
A anã Lucília bate á porta da Abelha Raquel. As duas falam uma com a outra.  
Quem é?
Bom Dia, Dona Raquel… sou eu, … a vizinha Lucília…
– (sorri) Áh, Bom Dia, Lucília, entre… pode abrir a porta… desculpe não ser eu a abrir, mas estou de volta do fogão…
A Anã Lucília roda o trinco da porta e entra…
– Desculpe estar a incomodá – la! Antes de mais, quer ajuda?
– Para já não, muito obrigada!
– Olhe, eu vim aqui perguntar – lhe se por acaso me pode dar um bocadinho de fermento de jasmim, um bocadinho de pétalas de rosa branca e um bocadinho de pétalas de tulipa…?! É que queria fazer uma boa sopa para os meus filhos que estão doentes! O Nuninho, e o Pedrinho… Tenho todos os ingredientes, mas faltam – me esses. Se tiver, claro.
– Ai, que maçada, os seus filhos doentinhos, coitadinhos, … deve ter sido da chuvada que apanharam anteontem.
– Pois, e ontem andaram á fresca!
– Ãh, …. Vejamos,.... (Vasculha no armário, tira algumas latas) …Ãhhh…não é isto… (pausa curta) … s…sim, … é mesmo isto, … ora segure aqui Dona Lucília se faz favor, para não fazermos confusão… (Dona Lucília segura na lata) Esta… s…sim, é esta, … e… esta?!... Não… deve ser… (espreita para a lata) …sim, é esta… Ora confirme Dona Lucília, por favor, que latas é que estão aí?!
– Ora, está… 1 lata de fermento de jasmim, outra lata de pétalas de rosa branca, e… pétalas de tulipa.
– (sorri) Áh, pronto, então está tudo! Precisa de mais alguma?
– Não, muito obrigada. Logo que for às compras e tiver estes ingredientes, devolvo – lhe.
– Ora essa… (ri – se) nem pense numa coisa dessas! O que interessa é que os seus meninos se recuperem rápido e que a sopa lhe saiba bem! (Pausa curta) a Dona Lucília precisa hoje de mim, amanhã ou daqui a bocado posso precisar eu de si…
– (sorri) Sim, claro. Se precisar sabe que estou aqui… A menina Chuvasol ainda está a dormir?
– (sorri) Sim… faz – lhe bem.
– (sorri) Ela está a crescer, e a ficar bonita… logo, logo, vai tornar – se uma senhorinha.
– (sorri) Áh, sim… ela também se alimenta muito bem!
– (sorri) Isso já é meio caminho andado… comer bem!
– (sorri) Pois é! Já tomou o pequeno-almoço?
– (sorri) Sim. Muito obrigada!
– (sorri) Eu vou tomar agora. É servida?
– (sorri) Muito obrigada, mas vou voltar para minha casa… O que não gastar já volto a trazer.
– Óh, não se preocupe com isso! Gaste o que for preciso. (Pausa curta) Rápidas melhoras para os seus filhotes, e se precisar de mais alguma coisa, estou aqui.
– (sorri) Obrigada, a Dona Raquel também…
– Obrigada. Até logo, Dona Lucília.
– (sorri) Até logo…
A Anã Lucília volta para casa com as latas dos ingredientes que precisa. A Abelha Raquel toma um bom pequeno-almoço. Espreita a abelhinha Chuvasol, e prepara – se para sair. 
Veste um leve, fresco e colorido vestido, calça uns lindos sapatos, põe um perfume de flores muito fresco e suave, põe uma maquilhagem levezinha e sai de carteira ao ombro, para ir ao mercado das formigas comprar algumas coisas.
Toca á campainha da casa de uma das irmãs mais novas, a Abelha Cecília, e vê tudo fechado. Esta abelha, e a abelha Margarida adoram festas, e saem quase todas as noites, até altas horas da madrugada. Foi o que aconteceu hoje. Deitaram – se, já o sol tinha nascido. Estão agora a dormir.
A abelha Raquel grita da porta:
- Ceciiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilllllllllllliiiiiiiiaaaaaa (Murmura baixinho enquanto espera resposta) … de certeza que te deitaste de manhã… tu, e a Guida… são sempre as mesmas! Mas hão – de aprender… (volta a gritar) Ceciiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiillllllllllllllllllllllllllliiiiiiiiiiiiiiiaaaaa (bate á janela do quarto da Cecília.)
            Cecília estremece e acorda sobressaltada e murmura:
– Mas, … que grande lata! A fazer esta gritaria toda a esta hora da madrugada… que chatice… (espreguiça – se, boceja, quase não abre os olhos, mastiga…)
Abelha Raquel volta a gritar, agora chateada:
– Cecília… Acorda imediatamente, antes que deite a porta abaixo… preciso de ti…
Dois passarinhos que estão pousados na árvore em frente desatam a rir. A Abelha Raquel pergunta aos passarinhos chateada, o Passarinho Lóló responde a rir:  
– O que é que estão a rir…?!
– Desculpa, mas acho que estás a perder tempo a gritar, e a bater á porta…
– (chateada) Porquê?
       O passarinho Pipo responde, e o passarinho Lóló acrescenta a rir, mas a Abelha Raquel não acha piada nenhuma e responde sempre zangada:
– Quando essas meninas se deitaram já o sol tinha nascido…
– A esta hora estão a sonhar…
– (muito zangada) Obrigada! Agora é que ela vai acordar nem que seja á força. – (a rir) Porque não as deixas dormir?
– Sim, devem estar muito cansadas…
– (muito zangada) Ai estão cansadinhas…? Coitadinhas…que pena que eu tenho delas! Elas vão aprender a deitar – se a horas decentes! Já não é hora de dormir. Ainda se tivessem estado a trabalhar…! Mas não…estiveram na vadiagem.
A Abelha enche os pulmões de ar, ao máximo e manda um grande grito da porta:
- Ceciiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilllllllllllllllllllllllllllllllllllliiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa…..
Todos os vizinhos mais próximos, ouvem, vai tudo às janelas, todos os passarinhos se encolhem e recolhem – se nas árvores.
As flores nos arredores desse espaço encolhem – se, e uma das flores até grita, muito assustada:
– Socorro… cuidado, meninas … protejam – se porque vamos ser atacadas por um enxame de abelhas enfurecidas…
Todas as flores começam a gritar, a tremer e encostam – se umas às outras encolhidas. A pequena abelha e Margarida acordam. A Chuvasol, assustada levanta – se, abre as portadas da janela do quarto e ouve tudo. A Mãe ainda não deu pela presença dela.
Cecília arregala os olhos, zangada, levanta – se, tropeça no pé da cama, grita, continua a andar a mancar, com a pata no ar, e vai á porta. Abre a porta e pergunta:
– O que é que se passa?! Porque é que me acordaste a esta hora da madrugada?!
     A Abelha Raquel fala muito zangada, e a Abelha Cecília responde ensonada.  
– (muito zangada) A esta hora da madrugada?! Tu enlouqueceste, só pode…!
Há algum incêndio?!
– (muito zangada) Ainda gozas… vai haver 1 incêndio se não te despachares e ires imediatamente para a minha casa tomar conta de Chuvasol, enquanto vou às compras.
– Porque é que tenho que ser eu? Eu quero é dormir.
– (zangada) Já te deitaste de manhã… achas normal?! Uma menina da tua idade, á hora a que te deitaste já devia estar a passear, e a trabalhar… (Pausa curta) Despacha – te. Tomas o pequeno-almoço na minha casa.
– Não posso acreditar nisto. A tua filha já é grandinha o suficiente para ficar alguém de polícia a tomar conta dela. Além disso não sabes a que horas é que nos deitamos…
        A abelhinha Chuvasol acrescenta, mas a mãe ralha-lhe:
– Também acho Mamã, a Tia tem toda a razão… eu já sou grandinha!
– (zangada) Cála – te e respeita – me! Eu é que sei o que a minha filhota precisa ou não. Porque raio estás a segurar na pata?
        A Abelha Margarida, ensonada resmunga:
– Tanto estardalhaço para isto?! Ainda não viste a tua filha na janela?
       A Abelha Raquel sorri quando olha para a janela e diz:
– Olá filha… vai para dentro. Eu vou às compras, a Tia já vai para ai tomar conta de ti.
      A Abelha Chuvasol tenta apoiar as tias, mas a Mãe responde-lhe muito zangada:
– Mamã… deixa as Tias dormirem, e vai descansada. Eu sei tomar conta de mim…
– Cála – te. Eu sei o que precisas e o que não precisas.
– Já não sou nenhuma bebé…
– Xiiiiiiiiiiiiiiiuuuuuu… não te metas. Cecília… porque raio estás a segurar na pata?
    A abelha Cecília explica chateada o que aconteceu, e a irmã Raquel responde-lhe mais calma:
– Por causa dos teus berros, até bati com a pata na cama…
– Depois faço – te 1 curativo…mas agora vai para lá, rápido.
- Não preciso dos teus curativos…! Ranhosa…!
- Vê lá como falas comigo…se não em vez do curativo dou-te chineladas nesse rabo arrebitado!
   A abelhinha Chuvasol ri-se, a Abelha Margarida acrescenta amuada:
– Hoje acordaste de rabo para a lua…
   A abelha Raquel muito zangada continua a resmungar com Margarida e com Cecília. As duas respondem em coro.
– E tu, também vais para lá… vocês as duas tem que aprender a deitar – se a horas decentes, não é de manhã.
– Que chata!
– Margarida… Cecília… despachem – se. Não há mais conversa.
       A Abelhinha Chuvasol comenta:
– Mamã… hoje estás muito mal disposta…
      A mãe não lhe responde. Mas volta a resmungar com as irmãs:
– Estou á vossa espera… despachem – se… tem 2 minutos para se vestirem e porem – se cá fora… até podem ir de pijama…
Lá vão as duas a resmungar, de pijama, para casa da Abelha Raquel, enquanto ela vai às compras. A abelhinha Chuvasol fala com as Tias, e as Tias Cecília e Margarida respondem-lhe:
- Desculpem Tias, eu disse á minha Mãe que não precisava…
– Não faz mal querida… nós já estamos habituadas. 
– A tua Mãe até a nós nos trata como criancinhas!
– (chateada) Eu detesto que ela me trate como 1 bebé…
– (em coro) Nós também detestamos…
– Tias podem dormir á vontade! Querem tomar o pequeno-almoço comigo?
    Cecília aceita, mas Margarida está quase a dormir, e não responde.
– Sim, acho boa ideia, estou cheia de fome.
– Tia, também tomas o pequeno-almoço?
– Sim, querida… eu tenho mais sono que fome, mas aceito.
– Tia Cici… o que é que tens na patinha? Está inchada!
– (resmunga) Por causa da tua Mãe, ao sair da cama, bati com a pata no pé da cama… acordei assustada.
A Abelhinha Chuvasol faz 1 festinha á Tia, sorriem, e Chuvasol pergunta:
– O que é que se faz quando acontece esse dó dói?
       A Abelha Margarida aconselha:
– Para já não mexas… é melhor o doutor anão ver isso.
       Cecília concorda:
– Sim, é melhor.
       Chuvasol está curiosa e pergunta, a Tia explica:
– Óh, Tia, porque é que bateste com a pata no pé da cama, se faz dó dói?
– Não foi porque quis, estava cheia de sono que nem vi.
- Mas porque é que estavas cheia de sono?
- Olha porque tinha-me deitado há pouco.
- E porque é que não te deitaste cedo?
- Porque fui sair com a tua tia Guida, e chegamos tarde!
- Onde foram?
- Fomos ter com uns amigos e estivemo-nos a divertir.
- E não tinham sono?
- Não!
- Que sorte…já podem sair até tarde, com os amigos.
- Não é sorte, querida…! Tu quando fores maiorzinha também vais poder sair até tarde.
- Achas que a minha mãe me vai deixar sair até tarde?
- Vai, claro que sim.
- Ela não me deixa estar na casa das minhas amigas aqui ao lado, depois do jantar…o que fará a noite toda!
- Mas isso é enquanto és pequenina…daqui a uns tempos já deixa.
       Guida acrescenta, Cecília reforça:
- A tua mãe connosco era a mesma coisa…mas depois teve que se calar.
- Ainda agora é controladora.
- Mas sabes, querida…não tenhas pressa de ser grande! (p.c) Eu se pudesse voltava a ser pequenina.
- Ai, Tia…que seca!
       As duas riem, Guida acrescenta, Cecília concorda:
- Seca nada. É muito bom enquanto se é pequenina.
- Acredita! Quer dizer…tem coisas boas, ser grande, mas são poucas.
       Chuvasol não entende porquê, mas muda de assunto:
- Querem vir brincar comigo, Tias, ou querem dormir?
        As duas entretanto espalharam o sono, e respondem:
- Vamos brincar!
- Mas antes, o pequeno-almoço…! Deixa que eu preparo para nós as duas…quer dizer…três…!
     Sorriem, tomam o pequeno-almoço, a conversar alegremente, riem, e vão para o jardim brincar. À noite, depois do jantar, a Abelhinha Chuvasol faz um pedido às tias sem a mãe ouvir, no jardim da sua casa:
- Tia Cecília, e Tia Margarida…vocês esta noite vão sair?
       As duas respondem em coro, e a Abelhinha completa o pedido:
- Sim.
- Posso ir convosco?
- Não.
       Cecília pensa melhor:
- Quer dizer…por mim…podes…!
       Margarida tem uma opinião contrária:
- Estás maluca?! A Raquel matava-nos.
       Chuvasol sugere:
- Não precisamos de lhe pedir. Eu vou convosco às escondidas.
       Margarida não quer:
- Não. Não podes ir connosco. Não é para meninas da tua idade, e eu não vou levar-te. Muito menos às escondidas! Não é correto fazermos isso com a nossa irmã…! É arriscado.
   Cecília protesta, quase a ceder, mas Margarida não quer problemas e as duas discutem. Chuvasol fica nervosa:
- Que caldo sem sal…estás agora armada em santinha…aqui há tempos até fugíamos pela janela, quando a chata da Raquel não nos deixava ir e adormecia.
- Mas agora compreendo porque é que ela se preocupava, connosco. Ela tinha toda a razão, e nós fomos muito inconscientes ao fazer isso.
- Eu não acredito no que estou a ouvir! (p.c) Nunca estiveste do lado dela…! Óh Chuvasol, por mim…vais. Vamos só a um cafezito.
- Não, não…não vamos nem ao café. Ainda é muito cedo para ela ir para estes sítios.
- O quê? Tu bebeste?
- Bebi…água…!
- Ardente, só pode.
- Deixa-te de piadinhas estúpidas…ela não vai connosco e ponto final.
- Ela vai connosco, e ponto final. Já não é uma bebé…tem que começar a olhar para o lado, e a conhecer novos amigos…
- Ainda tem muito tempo para isso!
- Não precisas de vir connosco, se não quiseres, agora…não podes proibir a nossa sobrinha de ir comigo a um café.
- A Raquel vai-te crucificar.
- Óh Tia…vá lá…não sejas má…eu vou com a Tia Cecília.
 - Mas que coisa…! Estás a ser um péssimo exemplo para a nossa menina.
- Tia…!
- Cala-te…! Não tens idade para te pronunciar. A tua mãe não te vai deixar ir e tem toda a razão, eu sou totalmente a favor que tu não vás com essa maluca.
- Olha-me esta…! Estás a falar assim porque não gostas de cafés…mas não quer dizer que a nossa sobrinha não goste. Aliás, tenho a certeza que ela vai adorar.
- Tu não pensas…pois não?!
- Penso, claro.
- Não…não estás a pensar…queres meter a nossa sobrinha naquele antro…?
- Tia…eu não sou uma bebé.
- Não és uma bebé, mas ainda és uma criança. Nós já somos maiores, agora tu, não, querida.
- Que raio…!
- Deixa-a vir connosco…temos de a ajudar a crescer e a preparar-se para a vida, não para a infância…! (p.c) Ela não pode estar eternamente enfiada no cortiço, debaixo da saia da mãe…até porque a mãe é bem rodada…!
- Dobra a língua…vê lá o que ensinas à menina.
- O quê?
- Nada querida! Daqui a uns tempos vais saber.
- É sempre a mesma resposta que me dão…!
- Por mim, não vai.
- Mas por mim vai.
- Vais ter chatices com a nossa irmã…e sabes que ela fica insuportável contrariada.
- Eu não tenho medo dela.
- Então, entende-te com ela…eu não quero saber…! Mas fala tu com ela.
- Deixa-a comigo.
   As três entram na cozinha onde está a Abelha Raquel a pôr a máquina na louça. Raquel suspeita de qualquer coisa estranha entre as irmãs e a filha. Cecília começa suavemente…Raquel responde, primeiro suavemente:
- Queres ajuda aí?
- Não, obrigada.
- Tens programa para hoje à noite?
- Não…vou ficar por aqui por casa! E vocês vão sair?
- Não queres ir connosco dar uma voltinha a pé por aí?
- Hum…acho que não! Mas vão vocês!
      Chuvasol acrescenta, e a mãe responde:
- Eu quero ir convosco tias!
- Tu queres o quê?
- Eu quero ir com as tias dar uma voltinha a pé.
- E já pediste autorização às tias?
- Posso ir convosco, tias?
       As duas respondem. Cecília é a favor, Margarida é contra:
- Podes.
- Não.
       Chuvasol não percebe nada.
- O quê? Posso ir ou não?
       Margarida aconselha, mas Cecília defende a sobrinha:
- Eu não a deixava ir.
- Mas eu deixava, e ela por mim pode ir. Se a mãe deixar ir…! Qual é o problema? Não vamos para nenhum buraco. (p.c) A esta hora anda muita abelha por aí, a pé.
       Raquel cede, mas recomenda:
- Está bem, vai com as tias…mas nada de a trazer tarde…ela daqui a pouco tem de dormir. Não vão para longe, nem para aqueles sítios…!
    Ficam todas surpresas. A Chuvasol sorri, e Cecília também, e responde:
- Claro, não te preocupes…não vamos dar uma volta muito grande, e não vamos demorar…!
      Raquel sorri e responde:
- Muito bem. Leva um casaco filha.
      Chuvasol sorri, e responde:
- Vou só mudar de roupa e já venho. Anda comigo, Tia Cecília.
     Cecília dá-lhe a mão, e vão as duas ao quarto da Chuvasol. Estão as duas surpresas e contentes.
- Tia…achas que a minha mãe estava a falar a sério?
- Sim, claro.
- Acho que este vestido está bem…ou levo calças…?
- Leva…calças…estas…e…com esta blusinha.
- Está bem! (p.c) Sabes que eu pensei que ela não ia deixar sair convosco?
- Eu também pensei isso, mas olha, ainda bem que deixou. Como vais connosco…ela confia em nós. Mas olha, temos que cumprir à risca o pouco tempo, para te deitares a tempo…vimos-te trazer a casa daqui a bocado está bem?
- Óh tia…que seca!
- Que seca nada! É melhor assim…vais saindo connosco aos bocadinhos, e se cumprirmos com a tua hora de chegada, vamos conquistando a confiança dela. E nada de protestares. E não protestes, se não é pior.
- Está bem. Só não entendo é porque é que vocês podem ficar até tarde, e eu não.
- Daqui a uns tempos já vais poder sair até mais tarde connosco, mas agora, vamos devagar, está bem…? As mães não são fáceis. (p.c) Vamos a um cafezinho aqui perto, tomar um chá e voltamos, combinado?
- Mas…só isso?
- Cala-te rapariga…! Não reclames…olha que ela connosco não foi fácil…estás cheia de sorte ela deixar-te sair connosco à primeira…não sabes o que eu e a tuas tias passamos quando éramos mais novas, com ela…para sairmos…! (p.c) Tivemos que fazer umas malandrices. E as coisas nem sempre correram bem, porque depois foi muito pior…por isso…cala-te…e escova bem a tua mãe agora à saída…!
- O que é isso?
- Faz elogios à tua mãe…fala de mansinho…percebes…?
- (sorri) Está bem, já percebi. (p.c) Olha tia…esta blusa está muito apertada…!
- Hum…! Estás…mais…cheinha…! (sorri orgulhosa da sobrinha)
- Mas…estou mais gorda…olha para aqui…!
- Estás ótima…linda!
- Ai…não aperta!
- Pois…realmente…está pequena…Troca…levamos esta…!
       A Abelhinha veste e também lhe está pequena e apertada.
- Óh, não…também não serve! E eu gostava tanto dessa camisola…!
- Óh, querida…não fiques assim…estás a crescer, por isso é que a roupa te está pequena. Mas podes pedir à mamã para te alargar…ela deve conseguir.
- Sim.
- Pega…veste esta.
     Veste outra, e está apertada e pequena.
- Outra…!
     A tia escolhe uma maior, o tamanho a cima.
- Vê esta.
    A Chuvasol veste e está bem.
- Esta serve!
    Chuvasol sorri, penteia-se, e a tia sugere:
- Põe uma corzinha…assim…só um cheirinho discreto…! E…este batãozinho…que só fica brilhante…!
  A Chuvasol está contentíssima, e a Tia também. A tia leva as camisolas para a cozinha, e entrega-as à irmã Raquel, irónica e sorridente, orgulhosa:
- Olha, Raquel…estas camisolas mingaram…deve ter sido…as lavagens…! (pisca o olho à irmã).
   Raquel entende, sorri igualmente orgulhosa, e comenta:
- Já teve que ser essa…? Hum…! Deixa estar…eu vou ver se dá para alargar.
- Éh. Ela diz que está apertada…mas gosta muito dessa camisola.
- Sim, está bem. Vão lá para não virem muito tarde!
    Respondem todas em coro:
- Está bem.
    Chuvasol pergunta docemente, a Mãe responde sorridente:
- Não queres vir Mamã?
- Não, filha…vai com as tias…com juízo…toma conta delas…!
    Todas riem e respondem em coro:
- Está bem, Mãezinha.
- (sorri) Não demorem…não te podes deitar tarde, filha.
     Margarida responde:
- Fica descansada…nós já voltamos. Precisas de alguma coisa?
- Hum, que me lembre…não.
     Respondem todas:
- Até já!
- Até já.
    A Chuvasol pendura-se na mãe, abraça-a, dá-lhe beijos carinhosos e diz:
- Obrigada, Mamã…!
   Raquel sorri, deliciada, orgulhosa e as três saem contentes. Pelo caminho, Chuvasol vai a olhar para todo o lado, e fica encantada com o que vê. Margarida disse:
- Ainda não acredito que ela deixou a filha sair connosco.
     Cecília sorri orgulhosa e responde:
- Eu disse para a deixares comigo. Ela tem olhos na cara, felizmente…! Sabe muito bem que a filha não é bebé…está a crescer.
     Chuvasol sorri, vaidosa. Cecília lembra:
- Vamos só aqui tomar um chazinho ao café da Paula, e voltamos com ela…só para ela começar a ver coisas diferentes…!
     Margarida concorda e acrescenta:
- Está bem. Sim, é melhor não voltarmos muito tarde, se não ela pode não voltar a deixar sair a nossa sobrinha linda.
     Cecília sorri e responde:
- Claro, se voltamos tarde é pior. (p.c, pisca o olho à irmã) Já viste como ela está a crescer…?! E bonita…!
      Margarida responde, orgulhosa e sorridente:
- Sim, é verdade! Já tinha reparado.
     As três entram no café já conhecido, e cumprimentam uma série de amigos, apresentam a sobrinha, e um casal amigo tem um besouro pequenote, da idade da Chuvasol. 
    Os dois são apresentados, e enquanto tomam o chá e os pais conversam, Chuvasol e o menino trocam olhares e sorrisos, falam um pouco, e acham piada um ao outro.
       À saída, no fim do chá, Chuvasol sugere:
- Óh, Tia Cecília: posso levar uma caixinha de chocolates para a minha mãe?
       Cecília está totalmente de acordo:
- Claro que sim, linda…! Leva…aqueles…eu pago-te.
    Chuvasol sorri, pede a caixinha de chocolates, embrulhada e combina com o besouro encontrarem-se mais vezes, no café e no bairro. 
    As duas levam Chuvasol a casa, sem demorar, como combinado. Chuvasol está encantada com todo o ambiente, e ficou deliciada com o besouro. 
    As tias falam animadamente e riem, com ela. Ao chegar a casa, Chuvasol oferece à mãe a caixa dos chocolates. Raquel sorri, surpresa e babada com a filha. Trocam beijos e abraços. 
A Mãe agradece:
- Obrigada, filhota…! Não tinhas nada que andar a pedir dinheiro às tias para isto.
- (sorri) – Tu mereces, Mamã.
- Muito bem, meninas…chegaram mesmo cedo!
      As duas sorriem, e Cecília disse:
- Já sabes que podes confiar em nós. Nós sabemos tratar da nossa sobrinha, e dissemos que a trazíamos cedo…cá está ela.
      A Raquel responde, sorridente:
- Muito bem, obrigada. Vá, Chuvasol agora…cama…! Vai-te arranjar para ir para a cama.
- Está bem. (p.c. dá beijos e abraços às tias, muito contente). Obrigada Tias.
      As tias sorriem:
- De nada! Boa noite…!
- Boa noite!
    As três sorriem, e Chuvasol prepara-se enquanto as mães falam. Na casa de banho, Chuvasol olha-se ao espelho, várias vezes, em várias posições, e sorri, murmurando:
- O meu sonho está a realizar-se…boa…eu já estou a crescer…pelo que as tias e a mamã disseram… (p.c) E eu…sinto-me estranha! (p.c) Mas demora assim tanto, realizar um sonho…?
   Olha-se mais um pouco, e vai deitar-se. As tias saem. A mãe espreita Chuvasol no quarto, sem fazer barulho. Senta-se à mesa, na cozinha, e pega na caixa da costura. Olha para as camisolas e comenta, a sorrir:
- É, minha pequenina…estás a crescer…muito rápido! (p.c) Por um lado…ainda bem…mas por outro… (p.c. suspira) Que tristeza…estares a crescer…! (p.c) Eu…deixei-te sair com as tias…porque sei que estás a crescer…e que faz-te bem sair…conhecer outras pessoas…! Fazer amigos…olhar para a sombra como nós dizemos… (p.c) quer dizer…isso de olhar para a sombra…eu sei que é normal…mas espero que não aconteça tão cedo…! Ainda não tens idade para coisas muito sérias…como namorado…marido ou filhos. (p.c) As preocupações de uma mãe nunca acabam, em altura nenhuma…nem quando eles são grandes…! (p.c.) Espero que tenhas muito juizinho…! (p.c) Não te vou proibir de sair…mas não vai ser como as tuas tias vadias…! Pelo menos não por enquanto. (p.c) Custa aceitar que já não és mais a minha bebé…pequenina…em quem eu pegava ao colo…e abraçava…beijava muito…brincávamos com as bonecas… (p.c) Já quase nem queres saber delas…! (p.c) Não és mais aquela menina pequenina a quem contava as histórias que me contaram a mim… (suspira, e continua a murmurar).
Chega o pai da Chuvasol, e fala com a mulher.
- Boa noite…ainda estás a pé?
- Sim.
- O que estás a fazer?
- Estou a alargar umas roupas da nossa filha…!
- Áh sim…? Porquê? Ela anda a comer demais…?
- Que insensível. Não…não anda a comer demais…está…a crescer…a tornar-se uma mulher…linda como a mãe!
- Pois…! Mas também está gorda. Tens de lhe cortar à ração…senão daqui a pouco fica como eu.
- Ela não está gorda…está a ganhar forma…!
- Pois claro! És uma irresponsável.
- O quê?!
- Irresponsável, dás-lhe de comer toda a porcaria e mais alguma…depois ela fica que parece uma bola.
- Mas…mas…tu bebeste, foi?
     Os dois começam a discutir, tão alto, que acordam a Chuvasol. Ela vai ver o que se passa e grita nervosa:
- Com todo o respeito, calem-se por favor…
     Eles nem dão por ela. Ela fica nervosa e chateada. Abre a porta de casa, e bate-a com força. Os pais assustam-se, olham para a porta, e dizem em coro:
- Filha…!
       O pai pergunta:
- Saíste…sua vadia?
      Chuvasol responde, zangada:
- Eu…vou fazer de conta que nem ouvi isso. (p.c) Querem discutir vão lá para fora…há quem queira dormir. (p.c) Que inferno…! É sempre a mesma coisa…! Se não se entendem, porque não vai um para cada lado, e já está?!
      Os pais estão estarrecidos. A mãe pergunta:
- Acordamos-te filha?
      Chuvasol responde zangada:
- Não…é por isso que eu estou aqui…! Estava acordada se calhar…! E vim agora da vadiagem…não? Sinceramente…deviam ter vergonha. (p.c) Que raio é que estavam a discutir…? (p.c) Com estes berros, todos os vizinhos devem ter acordado…querem ver…?
     Abre a porta de casa, e estão todos os vizinhos à janela e à porta. Eles assustam-se, e disfarçam. Respondem todos em coro:
- Boa noite, menina!
      Ela responde:
- Boa noite…com licença…!
      Fecha a porta e continua, com os pais surpresos e em silêncio:
- Vou dormir lá para fora, ou vão vocês discutir lá para fora…arrefecer e depois voltam? (p.c) Mamã…não precisas de deixar aqui as tias…vai e volta…e eu fico aqui muito bem…! (p.c) Quero é silêncio se faz favor.
       A mãe está boquiaberta, a filha responde:
- Mas…esta é a minha filha…?
- Sim, sou a tua filha…!
- Mas…mas…a minha filha nunca reagiu assim!
- A tua filha não é sempre bebé…!
- Parece que deste um pulo, esta noite…estás…estranha…!
- Mamã…sou acordada aos berros, e não queres que eu esteja estranha…? Como é que tu ficavas…na mesma situação?
- Pois…! Desculpa filha…nós…estávamos…
- Não precisas de dizer o que estavas a fazer com o pai…eu ouvi muito bem…tão bem que quase vi…! (p.c) Pai…vou fazer-te um aviso, e deves levá-lo a sério.
       O pai ri-se, e responde:
- Ui, que medo! (p.c) Isso é uma ameaça…? (p.c, zangado) Respeita-me sua mal-educada…estás a precisar de apanhar umas chineladas…!
      A Chuvasol responde:
- Estás a falar em respeito…?! Essa tem piada…e tu estás a respeitar a tua mulher e a tua filha…?
      O pai fica sem resposta. A filha responde:
- Mãe…se faz favor…faz-me um chá para a dor de cabeça e para os nervos…e anda dormir comigo…!
      A mãe e o pai ficam sem palavras, e preocupados:
- Mas…estás doente, filha?
- Claro…é de comer de mais…e outras porcarias.
    Chuvasol começa a gritar de raiva, e bate com as patas na mesa, muito nervosa. A mãe manda o pai sair da cozinha. O pai fica assustado:
- Mas…o que é que ela tem…?
      Vai para o quarto. A mãe pergunta, e a filha responde:
- Queres que chame o médico, filha?
- Não…! Aaaaaiiii….
- Dói-te alguma coisa?
- Sim…dói-me muita coisa…aaaaaiiiii…! A minha cabeça…aqui…no peito…aqui…mais em baixo…Aaaaaiiii…! Que eu vou…explodir…!
- Calma, filha…! Isso…vai já passar a seguir…! Foi de…teres acordado assim sobressaltada! (p.c) Vou fazer-te o chazinho. (p.c) O que bebeste lá no café com as tias?
- Aaaaaiiii…um chá…de…camomila…!
- Esse é bom. Mas agora vou fazer-te outro.
    Enquanto a mãe prepara o chá, preocupada e surpresa, a Chuvasol deita a cabeça na mesa, nervosa. Ela diz:
- Mãe…detesto a maneira como o pai fala contigo!
- Óh filha, não dês importância a isso…! Tu sabes…quando o teu pai chega das comezainas…também já vem bem encharcado. Ele a seguir adormece e amanhã está bom.
- Então está sempre encharcado. Está sempre a resmungar contigo.
- Não…nem sempre. Os homens são assim…!
- Nem todos, mãe…os pais das minhas amigas não falam assim com as mães delas.
- Não ligues…aquilo é só da boca para fora.
- Não gosto. Porque tu não mereces ser tratada assim. Mereces ser muito bem tratada. Ele é ingrato…fazes tudo por ele…e ele ainda reclama…? Ainda por cima, a chamar-me vadia…?!
- Mas fizeste bem não lhe ter respondido. Ignorá-lo é melhor…assim não há chatices.
- Então eu vou ter muitas chatices, se tiver algum homem. Tenho a certeza que não lhe vou permitir que ele me fale assim.
     A mãe fala mais um pouco com ela. Chuvasol está muito nervosa, e com dores. A mãe percebe que é das rápidas transformações que ela está a sofrer. A mãe pensa para si mesma, enquanto a filha toma o chá:
- Estás mesmo grande, filha…já pareces uma mulher…a falar…e…fisicamente…hummm…em breve…serás uma mulher feita!
    Nessa noite, a Chuvasol já não dorme mais…fica deitada, mas não consegue dormir. No dia seguinte, como ela continua com os mesmos sintomas, a mãe leva-a ao médico.
Chuvasol pensa:
- Isto é castigo de eu querer ser grande…! Só pode…! Se eu soubesse que era assim…não tinha tido tanta pressa em crescer…!
 E o médico confirma isso mesmo. Chuvasol entrou na Adolescência, e todos aqueles sintomas são normais. O seu corpo continua a desenvolver. E tudo nela muda rapidamente.
Começa a sair mais com as tias, à noite, até mais tarde um bocadinho, vai às compras com elas, conhece uns rapazinhos…namorica com alguns…e rapidamente se envolve com um besouro. Um namoro muito sério, que dá em casamento.
Depois de se tornar mulher, dona de casa…continua a frequentar a casa dos pais, e a conviver com eles, a visitá-los, a ajudá-los…e a fazer companhia. Tem uma excelente relação com o marido…e é uma excelente profissional. Feliz.
Mas agora que é grande…pensa muitas vezes:
- Quem me dera ser pequenina outra vez!
   Só que agora, esse desejo não se concretiza, pelo menos fisicamente, porque mentalmente, no seu interior…e apesar de ser grandinha, pode voltar a ser criança, de outras formas…a brincar…a sorrir…a divertir-se…a ser inocente…
    É sempre assim: quando somos pequenos…queremos ser grandes, quando somos grandes, muitas vezes queremos ser pequeninos outra vez. Todas as fases do nosso crescimento têm coisas boas e coisas mais dolorosas, que custam mais…mas devemos aceitá-las, e revisitar mais vezes a infância, que é tão bonita! Desde que seja normal, e feliz.

                                               Fim.
                                          Lara Rocha 
                                      (2/Março/2012)  






           
           
             


           

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