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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

A tradição do 31 de Outubro

    Era uma vez uma aldeia onde viviam bruxinhas traquinas, inocentes, boas, brincalhonas, com os seus pais. Umas eram desajeitadas, outras vaidosas, umas magrinhas outras mais redondinhas, umas mais altas, outras mais baixinhas. 

   Adoravam brincar, ajudar quem precisava, curavam alguns doentes, e adivinhavam algumas coisas. Todos gostavam muito delas, e eram quase todos família. Mas havia uma noite, em que as bruxinhas marotas, amigas, não se entendiam. 

      Havia uma competição e desfiles, bailes de vassouras, roupas, na noite de dia 31 de Outubro, em que elas levavam tudo muito a sério. 

   Quase se esqueciam que eram amigas, e família, vestiam-se, calçavam-se, penteavam-se, maquilhavam-se, cada uma diferente da outra, mas todas achavam que eram as merecedoras dos prémios, e que tinham tudo mais bonito do que a outra. 

    Não faltavam prémios para as melhoras, para as mais bonitas, para as vassouras mais espetaculares, as vassouras mais fora do comum, os sapatos mais limpinhos, as botas mais altas, os cabelos, os chapéus, as pinturas, tudo era votado. 

      Durante o ano, os animais com penas: gaivotas, pavões, pássaros das mais diferentes espécies, galinhas, perus, patos, garças, cisnes, faisões, milhafres, águias, mochos, corujas, penas de todas as cores, tamanhos, deixavam as suas penas, as que caiam naturalmente, ou aquelas que eram arrancadas com o vento, nas corridas, lutas e brincadeiras entre eles, num armazém, para as bruxinhas irem lá buscar na noite de festa. 

      Assim livraram-se de ser caçados e torturados o resto do ano, pelas bruxinhas para lhes arrancar as penas. Era a euforia e histeria total, quando se aproximava a data. 

      As bruxinhas lembravam-se de ir todas ao mesmo tempo, apanhar todas as penas que mais gostavam, e idealizar vestidos, imaginar quais podiam pôr nos sapatos, nos cabelos, na roupa, tiravam todas as que queriam, ou achavam que iam usar. 

        Davam gritinhos de alegria, às vezes engalfinhavam-se, quando queriam a mesma pena, gritavam umas com as outras, arrancavam as penas das mãos, depois pediam desculpa, quando a bruxa mais velha gritava: 

- Parem imediatamente, ou ficam fora do concurso! Há penas para todas, porque é que estão a fazer tanta guerra? 

    A bruxa mais velha tinha toda a razão, pediam desculpa e continuavam à procura, entusiasmadas. Trocavam ideias, e iam logo de seguida preparar as coisas. Era um corridinho de casa em casa, para a casa das costureiras, para os sapateiros, para os cabeleireiros. Deixavam as suas ideias, o que queriam, e tudo ficava pronto para a grande noite. 

     No dia 31 de Outubro, estavam todas que não se aguentavam, todas vaidosas, bem vestidas, bem calçadas, bem penteadas, bem maquilhadas, todas lindas, todas diferentes, cada uma como gostava mais. 

       A bruxa mais velha da aldeia dava inicio à grande noite. 

- Boa noite a todos! Que bom reencontrarmo-nos aqui, mais um ano, bem de saúde, hoje, durante o ano alguns de nós estivemos doentes, e estes seres maravilhosos curaram-nos, mas hoje estamos bem! Muito bem vindos, e vamos então dar inicio à festa das vossas filhas, as nossas bruxescas fantásticas. Que lindas que elas estão! 

- Nem todas… - comenta uma bruxinha traquina vaidosa 

- Já vão começar? - ralha uma mãe 

- Claro que não, eu sou a mais bonita de todas! - diz outra bruxinha vaidosa 

- Ai, que vergonha! - murmura a mãe de uma delas 

- Calem-se meninas, querem perder o concurso? - comenta outra bruxinha mais crescida 

- Olha, olha...não tens espelho em casa….- diz outra bruxinha mais pequena invejosa 

- Tu é que tens a mania! - ralha outra pequena 

       Ouve-se um barulho de chicote: 

- Saem já do concurso! - ralha a bruxa mais velha

   Ouve-se o barulho de um gigantesco trovão. As bruxinhas encolhem-se todas 

- Concordo totalmente! - gritam as mães e os pais 

- Se se portam mal, saem. - comenta outra bruxa mais velha 

- Pois claro! - dizem os pais e as mães em coro 

     As bruxinhas param de se provocar. Os pais orgulhosos das filhas, fotografavam, filmavam, aplaudiam. As bruxinhas desfilavam, umas malandrecas riam umas das outras, gozavam, chamavam feias, levavam uma vassourada, e retribuíam. 

      Quando isso acontecia, a bruxa mais velha penalizava, e se o mau comportamento era demasiado grave, saía do concurso. Dançavam juntas, e individualmente, exibiam as vassouras, os penteados, os vestidos, os sapatos, a maquilhagem, e todos votavam nas preferidas. 

     No final de várias provas, como corridas de vassouras, danças com sapatos, e sem sapatos, cânticos, brindes, comidas, caças aos tesouros bruxescos, jogos de descoberta, dramatizações, em que todos riam muito, muita alegria, muita gargalhada, algumas quedas com as corridas, para ganharem, risos, gritos, saltos, e outros jogos, chegava a hora da votação. 

    Aquela que ninguém queria, porque todas achavam que mereciam ganhar, mas só as mais votadas recebiam prémios maiores. 

   As outras todas que não eram tão votadas, ficavam tristes, choravam, gritavam, saltavam, guinchavam, ralhavam com os animais pelas penas, mas recebiam na mesma uma medalha de cristal com bons poderes. 

   Aplaudiam cada uma, mas entre elas, não achavam piada nenhuma, engalfinhavam-se, faziam caretas umas às outras, gritavam, empurravam-se, puxavam os cabelos umas às outras, davam vassouradas, ou arrancavam penas e outros adereços umas das outras. 

      Às vezes os pais tinham de subir ao palco impor respeito e parar com a luta. As que ganhavam os melhores prémios nas diferentes categorias do concurso, não cabiam nelas de felicidade e vaidade. As outras ficavam furiosas, mesmo ganhando as medalhas. 

    Ficavam zangadas e amuadas, andavam no dia seguinte era um silêncio quase aterrador na aldeia,  as bruxinhas não se falavam, passavam o dia a descansar, e a dormir, pela longa noite, que acabava só de manhã, e a recuperar o cansaço. 

      No dia seguinte, pediam desculpa, davam os parabéns, trocavam abraços, a seguir estavam amigas outra vez, e os animais começavam logo no fim dessa festa a acumular as suas penas para elas. A bruxa mais velha transmitia sempre esta mensagem final: 

- Na verdade, o mais importante não é quem ganha, quem é a mais bonita, quem tem a roupa mais especial, ou os sapatos mais estranhos, os cabelos, a maquilhagem, as carteiras, as vassouras. Porque todas ganharam, pela coragem de participar, todas participaram porque são amigas umas das outras, e o que conta realmente, é a noite de diversão que vivem, a amizade que comemoram, mesmo com as pequenas lutas, o cair das máscaras, que acontece quando mostram inveja umas das outras, ou querem o que a outra tem e elas não. Não precisam de lutar, porque cada uma de vocês é diferente, cada uma de vocês é bonita à sua maneira, cada uma de vocês usa o que quer, e as outras não têm de se pronunciar, gozar ou criticar. Vestem-se como gostam, calçam-se como gostam, usam o que mais gostam. O mais importante deste concurso é o encontro, a união, a competição saudável, a felicidade, a diversão, a  vida, o reencontro! Não precisam de ter inveja umas das outras, nem de se imitarem umas às outras, só porque elas ganharam. Todos os anos ganham meninas diferentes, por isso, o que conta não é o concurso, é o que aprendem com ele, o estarem juntas. Estão todas muito bonitas, são todas muito bonitas e não é só neste dia, são todos os dias, porque têm bons corações, gostam de ajudar os outros, e são boas meninas. Isso sim, é o mais importante. Sejam felizes todas, o resto do ano, e até para o ano! Obrigada a todas. Obrigada aos pais que ajudaram, e obrigada às meninas por todo o esforço e empenho! 

   Isso não consolava as bruxinhas nessa noite, mas nos dias seguintes eram carinhosas umas com as outras, e tudo voltava ao normal. 

                                                           FIM 

                                                       Lara Rocha 

                                                       24/Outubro/2022

        

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