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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A cartola do sapo




        
Era uma vez um rapazola que ia a passar sem pressa por um campo com a sua flauta numa mochila. 

     Viu um sapo a saltar de um riacho com uma sacola, e perguntou: 

- Sapo, sapola, o que trazes nessa sacola? 

     O sapo não gostou nada de ser chamado por sapola, e respondeu: 

- Óh rapazola, chamaste-me sapola, vais ficar sem saber o que levo na sacola. E tu, rapazola, o que levas na mochila? 

- Desculpa sapola...quer dizer, sapeco...levo uma flauta na mochila. 

- Mau…! Agora chamas-me sapeco?! Não estou a achar piada nenhuma! 

- Desculpa...sapoide! 

- E continuas a chamar-me nomes feios?! Que chato. Sou sapo! Vai lá passear com a tua lá o que é, na mochila, que eu não tenho paciência para quem me chama nomes. 

- É flauta! 

- Agora sou flauta? 

- Não, estou a dizer que levo uma flauta na mochila, tu mandaste-me passear com ela, e não lhe chamaste flauta, ela não ficou zangada. E eu também não fiquei zangado, é o que me chamam! E sou um rapaz ainda novo. 

- Mas eu sou um sapo, e ponto final. 

- Vá lá, desculpa sa...sapo! 

- Áh! Assim está melhor. 

- Mas então o que levas na sacola? 

- Levo uma cartola, e tu? 

- Uma cartola? Uau! Eu levo uma flauta. Posso ver a tua cartola posta na tua cabeça horrorosa de sapo? - pergunta o rapaz 

- O que é que estás a dizer da minha cartola...? - pergunta o sapo irritado 

- Só pedi para pores a cartola, por favor, só para eu ver como fica, é que nunca vi um sapão tão grandalhão com uma cartola. 

- Tu pareces educado, e de repente estragas tudo...! Só por isso não a ponho. 

- Vá lá. Por favor...! Não te quis ofender, mas és realmente um sapo enorme, e nunca vi nenhum de cartola. 

- Eu não sou um sapo qualquer! E esta não é uma cartola qualquer... 

- Põe-na, por favor! 

        O sapo quase se nega a pôr a cartola, mas põe, e dobra os lados, para segurar. O rapaz dá umas sonoras gargalhadas. 

- Que cartola horrorosa! Parece um saco de atar, ou um chapéu com orelhas, daqueles países frios...que coisa tão feia, isso nem parece uma cartola! Parece um capacete da idade da pedra, ou do século passado. Se eu usava isso! - diz à gargalhada

       O sapo fica irritado, tira a cartola, tira de lá uma bola e atira-a com força para a cabeça do rapazola, que se senta com o impacto da bola: 

- Pega lá uma bola, nessa tola, para não dizeres mal da minha cartola, seu antipático! Achas que te fica bem, dizer isso na cara de alguém?! 

- Ei, que mau feitio sapola…! Levas tudo tão a sério…! Até dizemos coisas piores uns aos outros, mas é a brincar. 

- Claro, claro, a brincar, e depois andam ao murro e à chapada, ou ao pontapé, como eu já vi, quando chamam coisas que eu prefiro nem saber o que é, mas...claro...é na brincadeira! Vocês, humanos...são uma coisa do outro mundo! 

- Sim, é verdade, somos diferentes dos sapos! Somos humanos. 

- Duvido que sejam melhores que sapos, ou mais bonitos que nós! 

- Isso de beleza, há de tudo! 

- Não estou habituado a que me chamem nomes, nem a que digam mal da minha cartola. - reclama o sapo 

- De onde saiu essa bola que me acertou em cheio na tola? - pergunta o rapaz meio atordoado

- Saiu da cartola que tu disseste que era horrorosa, que parecia um saco com orelhas, e são orelhas, para segurar quando a ponho na cabeça! Mas garanto-te que não é uma cartola qualquer. 

- Bela pontaria! Desculpa…! Acho que já percebi. É feia, mas é mágica! - diz o rapazola 

- Queres levar com outra coisa na tola? Vê lá…! - ameaça o sapo irritado - Voltando ao que tu trazes, para não me irritar mais, e não te mandar uma coisa pior: disseste que trazes uma flauta? Não sei o que é isso! 

- Posso tocar alguma coisa, para tu veres…! Huuuummmm, já sei. 

- Óh, sim, por favor! Muito obrigado. 

        O rapaz tira a flauta da mochila e toca uma bela melodia para o sapo. O sapo solta exclamações de encanto e de espanto. 

- Áh! Que som tão bonito. É difícil tocar isso? 

- Obrigado. Bem...eu já toco há muito tempo, não é difícil, mas no início sim, foi um bocadinho. 

- É preciso umas boas guelras, não? 

- Não. Nós não temos guelras, temos pulmões. Quer dizer quanto melhor respiramos, melhor tocamos, mas também não podemos soprar demais senão fica um som muito agudo e incomoda! 

- Óh, agudo é melhor não, se não acordamos os animais que estão a dormir. 

- Áh, sim, claro.

     Outra gargalhada do rapazola a gozar com a cartola do sapo, e comenta: 

- Essa cartola, ou lá o que é, que parece tudo menos uma cartola, e feia, está cheia de coisas, estou a ver! 

- Ai queres ver mais…? - nunca vi um humano tão provocador como este, mas eu não me calo! Pega lá…!

   Quando o sapo vasculha a cartola, para procurar outra coisa e atirar ao rapaz, que ri à gargalhada, e o sapo furioso, passa um ganso patola, a fugir de alguém que ia com uma gaiola para o prender, a quem tinham calçado umas botas. 

- Safei-me! Obrigado, pateco. - diz o rapazola às gargalhadas 

- Até com o ganso patola és atrevido! - resmunga o sapo 

     Ia tão aflito e tão zangado por não saber andar nelas, que resmungou, tentou desviar a bola, mas deu um valente trambolhão, rebolou e ficou virado para cima. 

- Então patola, o que aconteceu?

- Óh, por favor, ajudem-me, vem atrás de mim uns homens com uma gaiola e calçaram-me esta porcaria que nem sei o que é, nem consigo andar nelas. Por favor, escondam-me e se passarem por aqui, digam que não me viram! Onde me posso esconder. 

- Ali. - diz o sapo, pondo um anexo num tronco da árvore, da mesma largura, e cor, que tirou da cartola. - Fica calado, aí estás seguro, mesmo assim não faças barulho. 

- Eles vem aí. - diz o rapazola surpreso com a magia do sapo 

     Aproximam-se uns homens mal encarados, irritados e aos gritos perguntam: 

- Viram passar aqui um ganso patola, com umas botas nas patas? 

- Não! - respondeu o sapo e o rapazola 

- Isso são maneiras de falar connosco? - perguntou o sapo 

     E o rapazola dá uma sopradela irritante, e aguda na flauta. Os homens começam aos gritos, o sapo encolhe-se todo, e grita:

- Deixem os gansos patolas em paz. Vão caçar carrapatos, ou ervas daninhas… nojentos! Fora daqui… 

   Os homens começam a correr sem olhar para trás, irritados, e o ganso patola respira de alívio: 

- Ufa. Foi por pouco. Muito obrigado. Viram a cara deles…? Que medo! 

- Está descansado, já estás em segurança. 

- Quem deu aquele grito estridente que pareciam vidros a partir? - pergunta o ganso patola 

- Foi o rapazola com a sua flauta. - diz o sapo 

- Áh. 

- Deixa-me tirar-te essas botas… - diz o sapo ao patola 

     O sapo tira as botas ao ganso patola. 

- Áh, que bom. Muito obrigado. 

- O que vais fazer com elas, sapeco? 

- Vou atirar-tas com elas! Há bocado escapaste, mas desta não escapas.

     O sapo atira as botas que o ganso patola tinha calçadas, mas o rapazola já se defendeu delas, e quando estavam quase a acertar-lhe, ele devia-se, e não leva com elas. 

- Chamas-me mais uma coisas dessas e meto-te na cartola, óh rapazola. Verás em que é que te transformo. - diz o sapo irritado. 

    O rapazola ri-se, o sapo apanha as botas, zangado, põe-nas na cartola abana-a e sai uma camisola. 

- Oferece esta camisola a quem precise, óh rapazola. Ou então fica tu com ela para ver se deixas de me chamar nomes feios. 

- Óh! Muito obrigado, sapo. 

      O sapo abana outra vez a cartola, e cai de lá uma gaiola.

- Toca aí, qualquer coisa óh rapazola, para chamar os pássaros, por favor.

- É para já, sapeco, sapola, sapão, sapalhão... - diz o rapazola a rir 

- Ai, ai, ai, ai....queres ser tu o primeiro a ir para lá? - resmunga o sapo 

- Desculpa

       Ri o rapazola e toca uma melodia tão suave, que chegam centenas de pássaros aos bandos, embalados pela música e entram na gaiola. 

    O sapo, e o ganso patola abrem um grande sorriso. È uma gaiola gigante para os pássaros de abrigarem. Os pássaros agradecem numa grande sinfonia de chilreada e oferecem um bailado ao fim do dia, tão espetacular como numa antes tinham visto. 

     O sapo abana outra vez a cartola e cai de lá um gafanhoto saltitão, que pousa no cabelo do rapazola, este desata aos gritos e tenta bater-lhe com a flauta. O sapo e o ganso riem à gargalhada. 

- Socorro, sapo, sapoide, sapola, sapão, tira esta porcaria daqui de cima de mim. 

  O sapo ficou irritado que soltou mais uns quantos gafanhotos, e ri à gargalhada com o ganso ao ver o escândalo que o rapazola estava a fazer por causa dos gafanhotos. 

- É para ver se aprendes a chamar o meu nome e não esses que dizes! 

      Tirou da cartola um sardão com uma língua tão comprida que parecia um chicote e deu uma sapatada na cabeça do rapazote. 

   Os gafanhotos fogem o mais rápido que podem, porque sentem muito medo de sardões, o rapazote tenta afugentar o sardão com a música. E consegue! 

    O ganso patola dá um pontapé a um chapéu que vai para à cabeça de uma menina que andava à procura dele. 

- Ei, como é que ele veio aqui parar? 

- Menina, queres esta camisola? Foi o sapalhão...sapo, sapola, sapoide, sapão que o tirou da cartola. 

  O sapo respira fundo ruidosamente, para se controlar, por respeito à menina: 

- Queres que tire alguma coisa da cartola, menina? 

- Podes tirar uma linda boneca para mim, por favor? 

- É para já! Uma boneca linda como tu… 

- Obrigado! - diz a menina a sorrir 

      Remexe a cartola, e sai de lá uma linda boneca. A menina fica muito surpresa e pergunta: 

- Como fizeste isso? Tu és um sapo mágico…? 

        O sapo sorri, e pergunta: 

- Gostas desta ou queres outra? 

- Gosto desta. Muito obrigado. Até parece que adivinhaste os meus gostos. 

        O sapo ri. 

- Sapola...ahhhh....quer dizer....sapo, que tal se fizermos um lanche? - sugere o rapazola 

     O sapo quase explode, até sai fumo, e os olhos quase saem das órbitas, mas controla-se: 

- Eu…a ti, rapazola, dava-te um lanche especial...mas...hummmm....parece-me bem! 

- Boa! - diz a menina 

- Áh! Soa bem, já estou com fome - diz o ganso patola

- O que é que cada um gosta? - pergunta o sapo 

       Cada um diz o que gosta, o sapo agira a cartola e retira de lá tudo o que todos gostam para o lanche. Conversam alegremente, riem, e o rapazola toca várias músicas com a sua flauta, o sapo tira outros instrumentos musicais da cartola, que cada um mais aprecia. 

        Juntam-se mais outros à festa, cantam, dançam, batem palmas, riem, os cães e os lobos acompanham a uivar, e a ladrar, os passarinhos a chilrear, as crianças, os pais e os avós recebem balões, flores, doces, bonecas, carrinhos, tirados da cartola do sapo. 

- Quais são as palavras que rimam? 

- Acham que o rapazola agiu bem com o sapo? (sim, não, porquê) 

- Se vocês fossem o sapo, o que faziam? Como respondiam? 

- E se vocês fossem o rapaz? 

- Como lhe diziam que ele não estava a ser amigo do sapo? 

- O que tiravam da cartola, se tivessem uma cartola como a do sapo? 

                

                                         FIM 
                                                   Lara Rocha 

               6/Outubro/2022 

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