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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Gratidão pelas nozes e amor à Natureza

        

fotos de Lara Rocha 

        Era uma vez uma aldeia, onde havia uma montanha muito alta. Nessa aldeia viviam centenas de esquilos em árvores centenárias com grandes troncos ocos, onde fizeram portas e janelas. A partir do mês do Setembro, que era, segundo a lenda das origens da aldeia, festejavam as nozes, e faziam muitas atividades para agradecer ao planeta, por terem alimento o ano todo. 

        Havia festa dia e noite, que começava com um momento de reunião com todos, em círculo, onde cantavam, aplaudiam, e faziam vénias aos pés de um gigantesco pote de vidro cheio de nozes, tocavam no vidro, outros beijavam e cada um agradecia como gostava mais. 

        Os esquilos mais velhos da aldeia, com o pelo branco, benziam as nozes, faziam uma oração, todos rezavam com ele, cantavam e acendiam velas à volta do pote, mas não eram as velas que ardiam, eram elétricas, com um interrutor que cada um ligava ao passar num grande fio elétrico, agradecendo como queria. 

        Fotografavam, e a festa continuava. Aconteciam corridas de nozes, que eram largadas de um balão de ar gigante, e os esquilos ficavam eufóricos, corriam atrás delas, pela montanha abaixo que dava acesso às casas, as esposas e restantes famílias, acompanhavam-nos ao lado, com grandes sacos para encher quanto mais podiam. 

        Os esquilos corredores atiravam para os sacos, com uma pontaria arrepiante, em movimento e não acertavam em ninguém. No meio de muita gargalhada, cambalhotas, quedas, escorregadelas, mas sacos a estourar de nozes, bem precisas para o Inverno demasiado rigoroso que rapidamente se aproximava. 

        Chegados à aldeia, eram presenteados com um belo banquete, num mobiliário de cascas de nozes, em pratos e talheres de cascas de nozes, uma bela sopa cremosa de castanhas e nozes, sumo de uva em copos de casca de noz, puré de castanhas com nozes, pão com nozes, e todos conviviam, ao som de músicas compostas por esquilos artistas, estudantes de música e cantores. 

        Música para todos os gostos que dançavam até de manhã. Descansavam o resto o dia, e no dia seguinte acontecia a corrida das nozes, em carros feitos de cascas de nozes. Era uma loucura e uma delícia de ver.

        O primeiro a chegar ganhava uma taça feita de noz. Os outros recebiam o prémio de consolação:  uma noz. Depois, festa outra vez. Outra atividade que fazia parte dessa festa, era o desfile de moda, mais para as esquilos fêmeas, que desfilavam lindos vestidos e acessórios de moda, para o Outono/ Inverno, maravilhosamente feitos pelas Avós, Mães e Tias. 

        As modelos eram de todas as idades, e passeavam-se pela passadeira ao longo do pequeno rio que passava naquela zona. Aplaudiam, e no fim, umas compravam às outros, encomendavam roupa a gosto, e com pequenas mudanças. 

        Os esquilos machos, conviviam e assistiam a jogos de futebol entre si, com bolas feitas de nozes, torneios de sabedoria, exposições de trabalhos manuais feitos a partir da noz, à noite, havia concursos de culinária entre esquilos macho e esquilos fêmeas, com votação, provas de degustação e prémios. 

        Depois da comezaina, vinha a caça às nozes, que eram escondidas por toda a aldeia, nos sítios menos prováveis, outras mais ou menos fáceis de encontrar, onde todos, até os mais pequenos participavam. Dançavam pelo caminho ao som da música alta, enquanto apuravam os narizes e as mãos para encontrar o máximo. 

        Cada um tinha um saquinho, cheiravam tudo e mais alguma coisa, espreitavam em todas as tocas, apanharam alguns sustos, com habitantes subterrâneos, que gritavam ao vê-los, e rapidamente fugiam, algumas gargalhadas e quedas, mas no fim, ganhava quem fosse o mais rápido e o que tivesse o saco mais cheio. 

        Era tudo registado, porque cada um tinha um número, pesavam cada saco, e havia peso limite. Quem tivesse acima desse valor, perdia alguns pontos. Diziam que era para chegar para todos. Ninguém levava a mal, e no fim todos festejavam, com trocas de carinhos, e até pequeninos presentes, feitos pelos mais pequenitos do colégio. 

        Depois havia o mercado solidário, onde montavam uma enorme tenda, em forma de noz, compravam quase de graça, ofereciam e vendiam o que tinham a mais, o que outros podiam precisar, e o que fazia falta. 

        E um acontecimento que ninguém estava à espera. De repente....abateu-se sobre a aldeia uma enorme e assustadora tempestade, com trovões, chuva e vento muito forte. Os alarmes dispararam todos, e cada um dirigiu-se para as suas casas, numa correria como nunca antes vista.

        Felizmente, conseguiram todos proteger-se, não se molhar, e estavam em segurança com as suas famílias, apesar do medo. No dia seguinte, além das nozes, foram agradecer o ter conseguido escapar, e por nada ter ficado estragado. 

        Os mais velhos decidiram criar um centro de convívio, seguro, para todos se encontrarem no Inverno, de forma segura e que não tivessem de passar pelo perigoso frio. Pensaram, planearam e pouco tempo depois, construíram no espaço coberto de árvores nas traseiras das casas, próximas umas das outras, uma cobertura com pedaços de cascas de nozes que não se aproveitavam para comer, equipado com todo o conforto de um salão. 

        Num curto espaço de tempo, e com a ajuda de todos, puderam reunir-se sempre que queriam para conviver, dançar, cantar, fazer jantaradas, almoçaradas, festas de aniversários, reuniões, desafios, brincadeiras. e até casamentos. Todos adoravam aquele espaço. 

        A estreia de utilização do salão, foi um jantar e uma festa de agradecimento à Natureza, por terem abrigo, família, alimento, e por estarem em segurança, protegidos. Puseram outra vez as nozes num gigantesco pote de vidro, cada um acendeu uma vela eletrónica à volta do pote, cantaram, dançaram, rezaram e agradeceram. 

        Mas desta vez, o que os esquilos mais velhos da aldeia não sabiam, nem estavam à espera, é que também tinham preparados uns mimos para eles. Cada um dos mais velhos recebeu de cada esquilo vários presentes, uns comprados no mercado solidário, outros feitos pelos próprios, uma ternura.

        Ofereceram coisas muito úteis, como meias, camisolas interiores, botinhas de agasalho, pijamas, cobertores, saquinhos, almofadas, bonequinhas, bombons de nozes e de castanhas e outras que quiseram. Além das ofertas materiais, receberam beijinhos e abraços de todos. 

        Os mais velhos ficaram mesmo muito felizes, com um sorriso de orelha a orelha, retribuíram com carinho, cantigas, danças e muita alegria. E assim, custou menos a passar a tristeza dos dias pequeninos de Inverno, na companhia uns dos outros, em família, com amigos, em festa, quase nem deram pela chuva que marcou muitas vezes presença, e suportaram melhor o gelo. 

        O Natal nesta aldeia, foi mesmo muito diferente e ainda mais especial do que nos anos anteriores, porque todas as famílias, depois de jantarem juntas, nas casas de familiares, como é tradição em todo o mundo, encontraram-se no salão, onde tiveram direito a troca de prendas, muita festa e muita alegria. 

        No final da noite de Natal, voltaram a pôr o gigantesco pote de vidro com nozes, e agradeceram, acenderam uma velinha eletrónica, rezaram, fizeram vénias. Encontravam sempre motivos para agradecer, juntar-se e conviver. 

E vocês. também agradecem todos os dias, ou às vezes? O que agradecem? 

                                                                    FIM 

                                                                    Lara Rocha 

                                                                   12/Outubro/2020  

        

        

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