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terça-feira, 13 de outubro de 2020

As prendinhas das pinhas

 

                                                                                foto de Lara Rocha 


           Era uma vez uma grande família, que depois de uma festa foram dar uma volta até à montanha que ficava poucos metros abaixo da casa. Pelo caminho, e como rapidamente se aproximava o Natal, apanharam pinhas. Uma tradição de Natal para esta família, era trocar pinhas, decoradas a gosto por cada um, e embrulhadas, para a noite em que todos se reuniam.  

           Depois de apanhadas, cada um levou todas as que precisava, e começa a preparação. Maravilhosamente pintadas, com brilhantes e outros pequeninos objetos colados, outras salpicadas de púrpura de várias cores, outras coladas com tecidos, outras com flores artificiais, uma grande variedade. 

           O que ninguém estava à espera era das surpresas que algumas guardavam nas aberturas. Não. Não eram pinhões. Uma senhora que estava deliciada a decorar a sua pinha para oferecer, apercebeu-se de alguma coisa branca, pequenina, redonda, numa das aberturas. Pegou numa palhinha e tirou, para grande surpresa dela, era mole, e percebeu que era um pequenino ovo. 

- Um ovo numa pinha...? Será que não vai sair daqui alguma coisa…? Não, não deve ter vingado, é capaz de ter caído de um ninho, ou levado por algum outro animal e foi parar aqui. Mas que direitinho e bonito, está. Vou pô-lo uns dias ali ao sol no jardim, e ver se acontece alguma coisa, se não crescer, nem aparecer nenhum bichinho, deito fora! 

          Assim fez. Levou o ovinho para o jardim, pô-lo debaixo de uma árvore, pousado em cima de relva fofa, onde dava sol e sombra, e continuou a sua arte. Só passado alguns dias é que olhou para o ovo, e para seu grande espanto, estava grande. Ela ficou mais atenta, e até cobria o ovo à noite, pousado numa alcofa, e tapado com um pequenino cobertor dos bonecos das suas netas. 

          Poucos dias depois, o ovo estalou, e tinha mesmo lá um passarinho fraquinho, sem penas. Ela levou a um veterinário que conhecia, e mostrou-lhe. O veterinário deu-lhe todas as instruções, e ela cuidou do passarinho, mesmo sem saber o que seria. O passarinho cresceu, ela alimentou-o, encheu-o de carinho, conversava com ele, as netas brincavam com ele, cantavam-lhe, e como ficou lindo!

         Grande, com umas penas coloridas e brilhantes, que se tornou o seu animal de estimação, andava pelo jardim, aprendeu a voar sozinho, fazia os seus passeios, e voltava sempre para o jardim. A senhora observava os seus voos, encantada, sempre que ele aterrava, ela aplaudia, e ele dava uns passinhos que pareciam de dança. Era uma delícia, e apresentou-o a toda a família, tratavam-no como se fosse uma pessoa. 

        Outra senhora, que estava muito entretida a pintar as pinhas, ouviu alguma coisa estranha, não sabia o que era, nunca antes tinha ouvido. Parou, e observou atentamente toda a sala. Tudo igual, continuava a parecer que estava a ouvir qualquer coisa, umas pequeninas vozes, em coro, que pareciam cantar, conversar ou rir. 

        Ela ficou tão assustada, porque pensou que estava a ficar avariada da cabeça. Ouvia as vozezinhas, e não via ninguém. Ligou para umas amigas, e chamou as vizinhas, contou-lhes o que estava a acontecer, juntaram-se todas e ficaram a ouvir. Primeiro muito silêncio, e todas ficaram a pensar que a senhora estaria mesmo com algum problema, ou seria a solidão, já que ela era solteira. 

            Mas logo a seguir, todas ouviram as vozezinhas, um lindo coro. 

- Ouviram? - pergunta a senhora muito assustada 

- Ouvimos! - respondem em coro, surpresas 

- Ouviram mesmo, ou estão a dizer isso, só para eu pensar que não estou tolinha? - insiste a senhora 

- Ouvimos mesmo. - confirmam todas 

- E de onde vem? Não estamos a ver aqui mais ninguém, não estamos a cantar. - pergunta a senhora 

- Pois…- ficam em silêncio e as vozes continuam 

            De repente, perceberam que as vozes vinham da pinha, e viram uns pequeninos arco-íris a sair, a voar pela sala toda, e a cantar. Confirmaram que eram as vozes que elas ouviam, todas ficaram imóveis, geladas com o susto, mas logo abriram um grande sorriso. 

- Que lindas! - dizem todas 

- O que é isto? - pergunta a senhora, dona da pinha 

- São fadas da Natureza. - responde uma amiga 

- Áh…afinal tu é que estás a ficar maluquinha da cabeça… olha agora, fadas… isso era na nossa infância! 

            Todas riem. 

- Óh mulher, temos que acreditar em alguma coisa, ou devemos. Não há idades para acreditar em magia, e em coisas bonitas. Ou tu sabes explicar, de forma racional o que são estes arco-íris que cantam e tudo…? 

- Pois, não sei! Mas, e agora o que é que eu faço? - pergunta a senhora 

- Deixa-as andar e aprecia, só...que maravilha. É mágico...uau! 

- Está bem, pelo menos não estou a ficar maluquinha. 

            Ficam todas a apreciar aquele momento mágico, sorridentes, como se tivessem voltado à infância. A senhora ganhou uma nova companhia. Outra senhora que pintava, quando virou a pinha ao contrário para colar um pedaço de tecido em baixo, percebeu que tinham saltado sementes que não sabia o que eram. 

- O que será isto…? Umas sementes? Vou pôr num vasinho, a ver o que acontece. 

            Plantou as sementes, regou-as e passados alguns dias, apareceram umas cabecinhas de lindas flores, de várias cores, que passou para o seu jardim, regou-as, falou para elas, cuidou muito bem delas, e cresceram. Ao lado das flores, começou a nascer um pinheiro.

            Na noite de Natal, toda a família se juntou na grande casa onde tinham nascido os mais velhos, Uma grande bonita festa, cheia de pessoas, que se abraçavam, riam, conversavam, brincavam, os mais pequenos estavam tão eufóricos que não paravam, falavam alto, riam, corriam, saltavam, partilhavam brinquedos. Os mais crescidos, ajudavam na cozinha, e também conversavam uns com os outros. 

            Chegou a hora da troca de prendas. Cada um recebeu pequenas lembranças materiais, e uma pinha, cada qual a mais bonita. As senhoras que ofereceram as pinhas contaram as surpresas. Uns acreditaram, outros não, porque a única surpresa que tinham visto realmente, foi o pássaro, e mesmo assim, duvidaram que tivesse saído da pinha, o que vale é que a senhora tirou fotografias, tal como as outras. 

            A magia do Natal, é bonita e contagia! E vocês? Se encontrassem uma pinha de surpresas, o que haveria nelas?

                                                                            FIM 

                                                                         Lara Rocha 

                                                                    13/Outubro/2020 

                     

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