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sábado, 24 de outubro de 2020

A águia e o medo

       
desenhado por Lara Rocha 


       Era uma vez um ser muito pequenino, muito simples, feito de paus e folhas. Um dia, os seus pais fizeram uma grande festa em casa, com muita gente de família, que durou até de manhã, mas os pequenitos, ele e os primos, quiseram experimentar dormir no terraço da casa, que era um lugar sossegado. 
        Esse pequenino e os primos, acomodaram-se como puderam, instalaram-se confortavelmente em cascas de bolotas, espalhadas por todo o terraço, pelo vento, que levantava e arrastava as folhas, as bolotas e tudo o que apanhasse. 
        Cabiam na perfeição, era um lugar aconchegante! Cobriram-se com uns trapinhos do pequenino ser, e ficaram em silêncio, naquela noite, protegidos do vento, mesmo assim, ouviram sons desconhecidos de todos, só o pequenino é que já conhecia. 
        Ouviram vento a mexer com as folhos no solo, e o vento entre as árvores. 
- Ai, o que é isto, primo? - perguntou um pequenino assustado 
- Não precisam de ter medo, é o vento a embalar as folhas no chão para elas dormiram. - disse o pequenino da casa 
- E as folhas dormem? 
- Dormem! 
- Acho que deve ser algum monstro debaixo das folhas. - diz outro pequeno 
- Qual monstro, qual quê? Nunca vi nenhum monstro aqui! É o vento! 
        Passado um bocadinho, ouvem o barulho dos mochos e das corujas a piar. Ficam todos estáticos. 
- O que é isto, primo? 
- São os mochos e as corujas a piar. 
- Já costumas ouvi-los? 
- Já. 
- Fazem mal?
- Não! 
        Tentam adormecer, mas não há maneira. Ouvem outro barulho: 
- Primo, o que é isto? 
- São cigarras e grilos a cantar! 
- Já conheces? 
- Já. Durmam, estamos num lugar seguro! 
- É que estes barulhos são muito esquisitos. 
- Não são nada. Ouçam, como é bonito o cantar deles e delas.
- São perigosos? 
- Não. Nem se veem. 
        Distraem-se com os barulhos, e como não conhecem o lugar, tudo os assusta. Passam uma águia a voar baixinho. 
- Primooo... - gritam todos 
- O que foi? Durmam! - resmunga o pequeno 
- Quem é este aqui por cima? 
- É uma águia. - estremece - não se mexam. 
- É perigosa? 
- Esta pode ser. 
        A águia paira: 
- Olá, boa noite... aqui fora, hoje? - pergunta a águia, simpática 
        O pequenino ser, tenta disfarçar o medo, mas responde: 
- É! Hoje houve festa cá em casa, ainda está a haver, e nós, mais pequenos viemos dormir para aqui, mas os meus primos estão tão assustados que não me deixam dormir, nem dormem. 
- Áh! Estão com medo, e tu também! Não, não fiques envergonhado, nem precisas de disfarçar, eu sei que todos têm medo de mim, e dos meus, mas somos vítimas de discriminação, pelo nosso aspeto! Só que, nem sempre é verdade, o que dizem por aí de nós. - diz a águia  
- A...A sério...? 
- Sim! 
- Como não estão com sono, querem ouvir a minha história? - pergunta a Águia 
- Sim! Por favor... - respondem todos 
      A águia chama-os, para se aproximarem mais. Todos se chegam mais para a beira do primo, sentam-se nas caminhas e olham para a águia. Como ela é gigantesca, e no escuro ainda parece maior e mais assustadora. 
- Sei que vos pareço agora, ainda mais assustadora em tamanho, e porque o escuro desperta a nossa imaginação! Porque é que dizem que somos tão perigosas... - a águia conta pacientemente a história da evolução da sua espécie, fala sobre a forma como vivem, e o que se diz delas. Às vezes dá mais intensidade às palavras que diz, e os pequeninos estremecem, quase com os olhos a saltar de órbita, desde que a Águia contou a sua história. Quando eles estremecem, ela ri-se e diz: 
- Desculpem, não vos quero assustar... é só o meu entusiasmo! Continuando... 
        Os pequenos riem, ouvem atentamente, e como ainda estão muito despertos, a Águia convida-os para dar uma pequenina volta, nas suas asas, só naquele espaço, para conhecerem os barulhos e dormirem descansados. 
        Eles aceitam, adoram sentir a maciez e o calor das penas da águia, ela voa devagar, e baixinho, mostra cada milímetro daquele espaço, quem vive nesse lugar, põe-nos a ouvir os sons e explica o que são, quem os faz, e garante que não são perigosos. 
        Põe-nos a ouvir barulhos mais distantes, e fala sobre eles. Os pequeninos começam a ficar mais calmos, e com sono. A águia devolve-os ao terraço, deita-os nas caminhas, cobre-os, e levanta voo. Eles dormem até de manhã, quando os pais vão buscá-los. 
        A partir dessa noite, os pequeninos seres não tiveram mais medo de barulhos, porque quando voltaram para as suas casas, pediram aos pais, e aos avós que lhes apresentassem o espaço onde estão, ficaram muito atentos aos barulhos que os cercavam, dentro e fora de casa, com luz acesa, luz apagada, de dia e de noite, com escuro e claridade, aprenderam a distingui-los, e a saber que estavam num lugar seguro. 
        Sempre que iam para casas de familiares ou amiguinhos, lembravam-se que podiam ouvir barulhos diferentes, mas estavam com pessoas que conheciam, e que não faziam mal, por isso, dormiam descansados. 

E vocês, pequeninos leitores, conhecem os barulhos que há fora e dentro do vosso quarto? Quais são? Podem pedir aos vossos papás para os desenhar, ou escrever aqui no blog. 

                                                                Fim 
                                                           Lara Rocha 
                                                          24/Outubro/2020
                                            

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