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segunda-feira, 30 de março de 2020

As estrelas da ursa menor (monólogo de reflexão e agradecimento, respeito pela terra)


Monólogo

     Fui à janela, enquanto descansava os olhos no vestido negro com brilhantes que cobria a cidade, percorri as estrelas da ursa menor, solitária, linda, que parecia mexer com o vento dessa noite!
      Cheguei à meia seta e os meus olhos  pararam numa silhueta que dava a entender pertencer a uma mulher, leve, escura, que flutuava.
     A lua estava proxima dela e quando a sua luz incidiu nela, pude confirmar que era mesmo uma mulher. Linda!
     Com um olhar triste, uma expressão sem sorriso, mas tinha qualquer coisa de muito especial. Eu não sabia explicar o que era, mas soava a mágico.
      Disse-lhe boa noite, ela retribui e disse que se chamava Terra. Contou-me que sofreu muito de violência, nas mãos dos homens,  a quem ela chamava filhos, e enchia de mimos.
     Foi queimada, esfaqueada, intoxocada de todas as maneiras. E mesmo assim suportou anos de maus tratos. 
     Senti o peso da sua raiva e dor, coberta de tristeza, mas via-se um rasto de brilho no seu rosto, que ela justificou como sendo um conjunto de coisas boas que a faziam creditar de novo no amor de alguns dos seus filhos.
      Já todos sabiam da sua triste história, mesmo assim, quando ela voltou a contar, a Lua e o Sol choraram, das suas lágrimas, com a luz dela, formou-se um lindo arco-íris cintilante. Fiquei maravilhada.
       A Terra mostrou-me o que a mantinha feliz. Pequenas coisas. Deu-me a mão, apontou para um fundo à nossa frente e comecei a ver e ouvir coisas que a faziam renascer do sofrimento.              Disse para eu despertar todos os meus sentidos. Se o fizesse, entenderia porque ainda existia luz em si.
       O bater das asas das águias, os imponentes falcões, com os seus piares profundos e estridentes, em conjunto com a brisa e as diferentes intensidades do vento, que passa pelas árvores, folhas e pinheiros, as carícias da brisa delicada sobre as flores, as gotas de orvalho a brilhar na relva e nas pétalas.
      Uma variedade de sons de pássaros, cada qual o mais bonito, parecia um coro. Águas de rios, cascatas, ribeirinhos e riachos a suspirar, a espirrar, a cantar e a dançar com as pedras e plantas aquáticas. 
      Era uma harmoniosa sinfonia, umas caricia para o nosso corpo e alma. Mostrou-me prados verdes, montes, montanhas que impunham respeito só de olhar, mas lindas, cheias de natureza. 
    Uma perfeição, árvores, campos intermináveis de encher o olhos. As praias, o mar, a areia, as rochas, as pedras.
     O uivo dos lobos, a fofura das focas, dos ursos, as raposas, os coelhos, os cães, gatos, linces, patos, ovelhas, porcos, vacas, bois, e muitos outros. 
     As cores dos frutos, das folhas das árvores, das flores, e tudo o que vemos. A neve, o gelo, a chuva, os trovões, os furacões, de que ela gostava particularmente nos seus momentos mais baixos, de maior raiva, dor ou tristeza.  
       Como foi lindo ver a sua expressão com um sorriso luminoso, de orgulho, terno, sereno, e a felicidade por tantas coisas boas que ainda tinha.
       Pensei que tudo aquilo já era suficiente para a fazer feliz, mas… surpresa das surpresas… ela mostrou algo que também adoro, no ser humano…
     um bebé, a sorrir, uma mãe com um rebento ao colo, uma criança a sorrir para a sua mãe, um sorriso apaixonado, de gratidão de um  filho pela mãe, e a mãe pelo filho. 
  Uma criança pequena que brinca, feliz e animada, uma criança a dar os seus primeiros passinhos, e uma mãe orgulhosa por isso. Pessoas felizes e sorridentes com gestos de carinho.
      A Terra disse-me que é tudo isto que a faz acreditar que amanhã é um novo dia, com novos começos, que no meio de tanta podridão, tanto filho que não presta, maldoso, ainda há pessoas com bons corações, que a amam, e que amam os outros. 
      São esses, a quem a Terra chama de filhos, pedaços dela, que a fazem sorrir mesmo depois de tanta dor, e acreditar que ainda existe o bem.
      Ela sentiu que eu era filha dela, agradeceu e sem dizer mais nada…desapareceu na imensidão do espaço. 
     Eu, recolhi à minha insignificância, sim, à beira das obras que a Terra faz por nós, qualquer um de nós, é maioritariamente, insignificante. 
     Recolhi à minha paz, fui dormir. Já deitada, relembrei todas aquelas imagens, e pensei que realmente não damos valor nenhum a esta maravilhosa mãe, à nossa casa...Terra! 
     Agradeci, todos os tesouros que ela nos dá, e alguns de nós, nem repara. Ela gosta de atenção. É mulher. 
      E vocês, agradecem à Natureza e à Terra tudo o que elas nos oferece de bom, e a paz que nos traz? Ela merece ser amada, respeitada e muito bem tratada, tal como ela faz connosco.

                                                                      FIM
                                                                 Lara Rocha
                                                             31/Março/2'020

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