Número total de visualizações de páginas

domingo, 23 de novembro de 2014

ÁRVORE DE ESTRELAS


Era uma vez num jardim de uma grade cidade, uma árvore quase igual às outras: tinha tronco, ramos e estava despida como todas as árvores no Outono. Uma noite, uma fada que vivia numa árvore longe da cidade, passeou por outros jardins, e não soube dizer a razão, mas uma dessas árvores despidas, chamou-lhe a atenção. A fada parou em frente à árvore e olhou-a fixamente:  
- O que é que tu tens que não me deixa sair daqui?
            A árvore não respondeu. A fada tinha a certeza que aquela árvore era especial, mesmo igual às outras. Ela continuou a passear, mas sempre a pensar naquela árvore, para ver se descobria o que é que tinha de especial e de diferente em relação às outras…todas estavam sem folhas…mas aquela…parecia querer falar com ela.
            Muito intrigada, volta ao mesmo sítio e lá estava a árvore. Igual às outras, no escuro e no silêncio da noite. Como não descobriu, foi para a sua casa. No dia seguinte, à noite, a Fada volta ao mesmo jardim e lá estava a mesma árvore que lhe chamava à atenção.
- Tu tens alguma coisa de muito misterioso, que não sei o que é!
- Não tenho nada de misterioso! Sou igual às outras. – Reponde a árvore
- Pareces igual às outras, mas tens alguma coisa que me prende a ti.
- Não entendo o que dizes.
- Tu és especial.
- Não vejo o que possa haver de especial em mim.
- Já alguma vez tiveste folhas ou flores?
- Não.
- Como não?
- Não. Nunca tive flores nem folhas…estive sempre assim, desde que me conheço, sem folhas, sem flores.
- Porquê?
- Não sei.
- Huummm…isso é muito estranho.
- Porquê?
- Porque se és igual às outras árvores, tinhas de ter folhas e flores.
- Sou igual às outras, mas nunca tive isso.
- Então é aí que está a tua diferença.
- Onde?
- No não ter folhas, nem flores.
- Mas qual é o problema disso? Somos todas diferentes…
- Isso é verdade…
- E gosto muito de ser assim.
- Alguém repara em ti?
- Reparam, claro que sim…por eu não ter flores nem folhas.
- Pois! Reparam porque és diferente…todas têm flores e folhas, menos tu.
- Isso é mau?
- Bem…não sei.
- Para mim, não!
- Mas gostavas de ser igual às outras?
- Não!
- Não?
- Não!
- Porque não?
- Porque nem elas são iguais…
- Não são iguais?
- Não. Só parecem iguais.
- Huummm… Todas têm troncos, ramos, folhas, flores…
- Umas são mais largas, outras mais estreitas, os troncos…uns têm mais curvas, outras menos curvas, uns têm mais saliências, outros menos…uns troncos são castanhos mais claros, outros troncos são castanhos mais escuros…outros troncos têm mistura de cores…
- Sim, isso é verdade…olhando bem!
- Todas têm folhas, mas umas são mais verdes, outras mais amarelas, outras vermelhas, outras roxas…outras cores misturadas.
- Sim. Pois é!
- É. E eu não tenho folhas, nem flores, mas sou uma árvore.
- Sim, e eu sou uma fada.
- Já reparei.
- Vou tornar-te ainda mais diferente…
- Não podes.
- Como não?
- Não me perguntaste se eu queria que me tornasses diferente.
- Desculpa, tens razão! Queres ser ainda mais diferente?
- Não.
- Não?
- Não. Estou muito bem assim.
            A fada segreda à árvore.
- Está bem! – Diz a árvore
            A fada dança e das suas lindas asas, saem milhares de estrelas brilhantes, leves, coloridas, pequeninas, que enchem toda a árvore. Depois, abana os seus cabelos, e deles soltam-se milhares de folhas verdes que caem sobre os ramos, onde estão as estrelas. A fada aplaude feliz.
- Mas que linda que estás agora.
- Obrigada. – Diz a árvore a sorrir
            As duas conversam mais um pouco. A fada volta para sua casa, e a árvore fica no mesmo sítio, agora linda, cheia de folhas e estrelas. No dia seguinte, toda a gente repara na árvore, na sua beleza.
- Onde está aquela árvore despida? A minha amiga…filha e neta…? Óh, não pode ser! Destruíram-na? – Pergunta uma velhinha
- Estou aqui. – Diz a árvore
            Deixa cair uma folha com uma estrelinha na bochecha da senhora velhinha. A senhora sorri, olha para a árvore.
- És tu?
- Sim.
- Mas que linda! Estás tão diferente! Como é que ganhaste tanta folha e tanta estrela da noite para o dia?
- Foi magia.
- Que linda! Estava a ficar muito preocupada…pensei que te tinham destruído.
- Não! Como vê…estou aqui.
- É. Estás muito diferente, mas a tua simpatia, voz e bondade, continuam na mesma.
- Sim, é verdade…posso estar muito diferente, por fora, mas o meu coração não a esqueceu.
- É. Estou a ver que não…
- O meu coração não esquece as pessoas boas, que cuidam de mim, que me fazem companhia, que me abraçam…
- O meu também não.
            A senhora abraça a árvore. A árvore fica tão feliz, e tão deliciada com aquele abraço carinhoso, cheio de ruguinhas, que chora de alegria. Por isso, milhares de folhas com estrelinhas caem dos ramos para o chão.
- Quem me dera ter braços para retribuir este abraço tão bom…querida Avó. – Suspira a Árvore a sorrir
            O seu desejo foi tornado realidade. A fada que lhe deu as folhas e as estrelas, gostou tanto daquela troca de carinho que transformou dois troncos da árvore em grandes braços de madeira, que abraçaram a senhora velhinha. A senhora ficou surpresa e muito feliz.
- Áh! Acho que estou a sonhar…
- Não. Está bem acordada. – Responde a árvore
- Óh, minha querida…
            E do abraço delas, sai um grande raio de luz, que transforma a senhora velhinha numa linda jovem. A fada transforma a árvore noutra jovem de carne e osso, e as duas tornam-se amigas inseparáveis, como mãe e filha, ou avó e neta. Passeiam todos os dias, brincam, riem, falam…mas todos os que passam, só vêem a velhinha e a árvore, porque não sabem ver para além da diferença, nem sabem viver com ela, ou aceitá-la e respeitá-la.
A fada viu na árvore que parecia igual às outras, algo muito especial, e era mesmo. Era muito mais do que um tronco, primeiro sem folhas, depois com folhas e estrelas, e por fim, a árvore transformou-se numa bela jovem que se tornou o consolo e o carinho para a senhora velhinha, que já tinha reparado nela, e gostava dela, mesmo sem folhas e sem flores.
Era uma árvore de estrelas, e a senhora velhinha recebeu-as, porque as conseguiu ver, na diferença. No meio de tantas árvores que pareciam iguais, aquela era diferente…e muito diferente!
Era uma árvore que fez nascer estrelas, em alguém que conseguiu ver a jovem que habitava num corpo de madeira, sem folhas… há ligações com a natureza que não se explicam. Apenas…sentem-se. E a diferença também pode ser vivida, sentida…como dizia a árvore sem folhas e sem flores…sou diferente, e daí? Não vejo problema nenhum nisso, nem quero ser igual às outras. Somos todas diferentes…parecemos apenas todas iguais.
Nós também somos todos diferentes…e parecemos todos iguais, só porque somos da mesma raça, somos feitos da mesma matéria…carne…e osso. Todos conseguimos ser árvores com folhas e estrelas, fazer nascer estrelas, pelo menos nos olhos e nos sorrisos de alguém, com um simples abraço.

FIM
Lálá

(23/Novembro/2014) 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras