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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O elefante, as borboletas, a savana e a cidade

          

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foto de Lara Rocha 

        Era uma vez um elefante enorme, muito pesado, de andar vagaroso que vivia numa savana, mas um dia quis experimentar passear pela cidade. Saiu da savana sem pressa, a apreciar a paisagem, e viu uma borboleta tão bonita a esvoaçar rapidamente à frente dos seus olhos. 

        Ele seguiu-a atentamente com os seus olhos enormes, enquanto a borboleta estava cheia de medo do elefante, e voava aos solavancos, como se estivesse a tremer. Pousou muito próximo dos olhos do elefante, e viu o seu reflexo. O elefante parece que ficou congelado, não se mexeu e ficou a ver o que é que a borboleta ia fazer. 

- Áh...! Já percebi. Olá elefante! - diz a simpática borboleta 

- Olá! - diz o elefante

- O que fazes por aqui? 

- Vou visitar a cidade! 

- Mas tu és gigante, toda a gente da cidade vai assustar-se contigo. 

- Óh, a sério...? O que estavas a ver em mim? 

- É que...eu também tinha muito medo de elefantes, mas quando olhei para os teus olhos, vi que não és mau, como eu pensava. 

- Achas que não? 

- Não. Só és... gigante, mas eu sou pequena, e daí...? Podemos ser amigos na mesma, certo? 

- Áhhhh....ahhh... acho que sim! 

- Mas vejo que estás triste, o que se passa? 

- Óh...deixa lá, não te preocupes comigo. 

- Está bem, não queres partilhar comigo, não faz mal. Anda, vamos passear, queres vir? 

- Sim, vamos. 

            Pelo caminho, os dois conversam, até à cidade. Quando chegam à cidade, o elefante torna-se o centro das atenções de toda a gente, gritam, fogem, fotografam, tentam prendê-lo, ele fica tão nervoso que corre desorientado. 

            A borboleta transforma-o num elefante muito leve, tão leve como se fosse um balão, e voa com a borboleta para se livrar da perseguição das pessoas da cidade. 

- Áaaahhhhh... estou a voar! Não acredito...Mas como é possível? Se sou tão grande, tão pesado...- suspira o elefante 

- Eu soprei-te uma magia, que te pôs muito leve, tão leve como um balão, para poderes sair dali de baixo. Viste como eles são...? Aproveita agora para ver a cidade em segurança. 

- Eles são...muito... estranhos. 

- São, mas já estás a salvo. Agora, olha para ali que bonito..

A borboleta mostra a cidade toda ao elefante, do ar, que fica encantado, enquanto conversa com a sua nova amiga.

Depois de ver toda a cidade, o elefante vê na sua savana, uma enorme correria, gritos, guinchos, saltos.

Todos os animais parecem muito agitados. Muito assustado, pediu à borboleta que o pusesse outra vez como elefante,

e que o deixasse no solo. A borboleta assim fez, e ele aterra no solo. Ao ver todos agitados pergunta:

- O que se passa?

- Áh! Estás aqui!? - diz outro elefante aliviado

- Que susto que nos pregaste... - acrescenta a sua mãe

- Onde estavas? - ralha o pai

- Ficamos muito preocupados contigo, andamos à tua procura. - acrescenta uma tia elefante

- Óh, desculpem. É que fui passear pela cidade! - explica o elefante

- Pela cidade...? Seu irresponsável. - ralha um macaco aos saltinhos, nervoso

- Filho, mas que teimoso. Sempre te dissemos que o nosso lugar não é na cidade, é aqui, na savana.

- A cidade é um perigo para nós.

- Eu sei, desculpem, Pensei que não era assim tão perigosa!

            Os seus pais e outros animais ralham com o elefante, ele soluça, e fica triste. Olhou para cima, e em volta, à procura da sua amiga borboleta. Ela estava a olhar para ele, pousada numa flor bem à frente da sua pata. Ele não a viu. Quando todos os animais voltaram aos seus lugares, e o elefante deitou-se à sombra, olhou para a flor onde estava a borboleta. 

- Áh, estás aqui. - abre um grande sorriso 

- Sim, estou. 

- Pensei que não ia voltar a ver-te. Obrigada, por tudo de há bocado! Como és bonita... que pena não seres um elefante! 

- Áh! Pena porquê? Cada um é como é. 

- Se fosses como eu, poderia casar contigo, ter uma segunda família contigo. 

- Talvez...(ri) se eu fosse um elefante fêmea nem reparasses em mim. 

- Claro que ia reparar...és tão bonita. 

- Sou bonita como borboleta, mas há tantos iguais a ti, e iguais a mim...que...seria igual a ti. 

- Pois...e agora o que vou fazer? 

- Ora... tu ficas aqui, com os teus, e eu vou para os meus. 

- Mas já vais deixar-me? 

- Não...só vou para a minha casa. Mas volto, se quiseres. 

- Claro que quero. Da próxima vez que vieres, vou mostrar-te as coisas bonitas que há aqui. Tu és leve, podes ir a qualquer sítio. 

- Não gostas de ser como és? 

- Não. E sinto-me muito sozinho. Sou um bocado envergonhado, acho que é por isso que não gostam de mim. Eu tento falar com os da minha espécie, mas parece que não me ligam nenhuma. Fico triste, e só me apetece desaparecer. 

- Então foi por causa disso que foste para a cidade? 

- Queria conhecer a cidade, mas sim, também foi para ver se davam pela minha ausência. 

- Óh! Entendo, mas não devias ter feito isso! 

- Achas que fiz mal? 

- Acho! Principalmente porque deixaste os teus pais e todos os teus amigos, muito preocupados. Tenta abrir-te mais um bocadinho, aprende a gostar deles. Talvez eles gostem de ti, mas como és envergonhado, não te obrigam a falar. Se calhar achas que por não gostares de ti, eles também não gostam, mas não é isso. Os teus pais e familiares fizeram-te com amor, tu és parte deles. Eu sou borboleta, mas podia ser outro animal qualquer. É melhor gostares de ti assim como és, porque se não, vais ficar triste. Eu gosto de ti, como elefante, vi nos teus olhos que posso confiar em ti, e que és generoso, posso ser tua amiga.

- Como viste isso? 

- Vi.  Eu tenho amigos de muitas espécies, e diferentes de mim, por isso, eu e tu podemos ser amigos, é muito divertido, e podemos brincar, aprender um com o outro, sorrir, e quando estiveres triste, eu trago outros amigos para brincarmos todos. Agora, tenho de voltar para a minha casa. Em breve voltamos a ver-nos, está bem? 

- Está bem! Obrigada. 

- Até já. 

            A borboleta pousa na bochecha do elefante e dá uns sonoros e repenicados beijos no elefante. O elefante ri, com vontade, e fica tão feliz que até salta, dança sem ter música, corre até ao lago, refresca-se, e convive alegremente com os outros, contando a sua aventura pela cidade com a borboleta. 

Todos ficaram muito surpresos com aquela mudança no comportamento do elefante, mas ao mesmo tempo, muito felizes. Foi uma tarde muito divertida, passada com os amigos. A borboleta ri às gargalhadas, e voa para casa. 

No dia seguinte, foi à savana com mais amigas borboletas, e o elefante sentiu-se tão feliz que aprendeu a gostar dele como era, grande, pesado. Mostra os lugares e recantos mais bonitos às borboletas que gostam tanto e prometeram voltar. 

O elefante percebeu que não era pelo seu tamanho e por ser de uma espécie diferente, que não tinha amigos e que na realidade os outros até gostavam da sua companhia. Viu como os da sua espécie adoravam ser como eram, e os seus amiguinhos sentiam orgulho na espécie, neles próprios. Nunca mais se separou das borboletas. 

                                                                            FIM 

                                                                        Lara Rocha 

                                                                         29/Janeiro/2021 

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