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domingo, 17 de janeiro de 2021

A lenda do casal de dançarinos

          
 
 



















               
             Era uma vez uma jovem menina que vivia com a sua família, numa pequena vila, com poucos habitantes, onde todos se conheciam, e onde às vezes aconteciam coisas misteriosas. A vila estava repleta de lendas. Uma delas tinha a ver com um casal de dançarinos, que nem todos conseguiam ver, e traziam uma mensagem de amor. 
          Quem visse esse casal de dançarinos, poderia ter a certeza que seria amado de verdade, não aquele amor sexual, que também fazia parte, mas mais do que isso, um sinal de amor puro, amizade, companheirismo, compreensão, simpatia, apoio. Só apareciam quando estivessem preparados e preparadas para saber o que ia acontecer com os seus corações. 
          Com os seus pais, os seus Avós e tios, a lenda estava certa. Uns casaram, outros ficaram solteiros, outros tiveram desilusões e depois foram correspondidos, mas todos conseguiram ver o casal e percebiam a sua mensagem. 
          Mas o casal de dançarinos nem sempre trazia boas novidades. Se este se separasse, ou se transformasse em pedra, saberiam que encontrariam um amor não correspondido, se o casal fosse de gelo, era um aviso de ilusão, tanto para homens como mulheres. E outros, os que não viam, segundo a lenda, ficariam solteiros. 
          Ninguém sabia a origem desse lenda, uns achavam que era verdade, outros não acreditavam. 
A jovem conhecia a lenda, e como estavam na adolescência, ela e as amigas quando passeavam pela vila estavam sempre atentas para ver se encontravam o casal. Quando estavam apaixonadas, lá iam elas procurar. 
          Algumas das suas amigas depois de tanto entusiasmo, desatavam num pranto, quando viam o casal de pedra, e o casal de gelo, consolavam-se umas às outras, e faziam por esquecer essa paixoneta. Outras não viam o casal, e estavam entretidas com outras coisas, porque eram mais tímidas. 
          Esta jovem, era das que tinha medo de encontrar o casal. Ainda não tinha sido correspondida, e já conhecia três amores não correspondidos, e uma ilusão. No seu caso, aconteceu mesmo, e no caso das amigas também. 
          Num dos dias, viu o casal de dançarinos imóvel e não sabia o que era aquilo. Viu várias vezes o casal imóvel, enquanto as amigas festejavam porque tinham visto o casal a dançar, e souberam que iam ser correspondidas. 
          Ela não disse às amigas que tinha visto o casal imóvel, e perguntou à sua avó. A avó disse-lhe que se o casal estava imóvel, é porque ela ainda não estava preparada para amar, mas haveria algum rapaz interessado nela. Só iria mostrar-se, e ela só saberia quem era, quando estivesse preparada para esse amor. 
          A jovem sorriu, e perguntou o que tinha de fazer. A Avó respondeu que tinha de curar as feridas do coração partido, e dançar, livre, como o casal. Ela veria o casal quando deixasse de ter medo de amar, logo, quando não tivesse medo de ver o casal. 
         Ainda disse à sua neta que não se esquecem os amores, porque existe a memória, e fizeram parte da nossa vida, de nós, mudaram-nos, ensinaram-nos, fizeram-nos sentir, mas podem ficar apenas aí! Nas recordações de momentos felizes, ternurentos, românticos, eróticos, ciumentos, e a dor do fim desse amor, o ódio, a raiva, a vontade de vingança, ou...fogo de vista, alguma coisa parecida com amor. 
         Pensou que já estava curada, mas se ainda não tinha aparecido, era porque ainda não estava. Então, deixou sair a dor das desilusões, através da música, da poesia, da dança, do desenho, fazendo obras fantásticas, chorando algumas vezes, e sorrindo pelas boas lembranças. 
         Demorou muito tempo a libertar-se, a esquecer cada um dos amores, a quem ela se tinha entregado, mas quando viu o casal a dançar, finalmente, soube nesse momento que estava pronta para amar. Não fazia ideia quem seria o seu pretendente, nem como iria aparecer, mas a certeza que ia acontecer, fê-la abrir um grande sorriso, enquanto se deliciava com a dança do casal. 
         Uns dias depois, naquele mesmo sítio, estava um rapaz, desconhecido para a jovem, bonito, a apreciar o casal a dançar, os dois ficaram lado a lado, e trocaram olhares. Os olhos um do outro, pararam, e um luminoso sorriso saiu dos lábios de ambos. 
- Estás a ver o casal a dançar? - pergunta ele 
- Sim! E tu? - pergunta ela 
- Também! 
- Como são lindos, e que bem que dançam! - diz ela 
         Os dois ficam em silêncio, a ver o casal a dançar. Olham-se fixamente. Ela sentiu algo que nunca tinha sentido... e ele também. Os dois souberam naquele momento, em silêncio, que estavam ali um para o outro, que a lenda estava a acontecer! 
         Sorriem, e conversam um com o outro, longas horas, com muita gargalhada, enquanto caminhavam pela vila. Falaram dos amores não correspondidos, das desilusões, e os dois acreditavam que iria aparecer alguém, porque tinham visto o casal a dançar. 
         Desde esse dia, falavam-se todos os dias, saiam juntos, e ele pediu-a em namoro. Continuaram a ver o casal a dançar, por isso estavam seguros do amor que os unia...para sempre! Aquele amor mais espiritual, amor de amizade, companheirismo, compreensão, simpatia, apoio, e liberdade. Tinham os seus amigos, e amigas, saiam na mesma com eles, saiam só um com o outro, conviviam, brincavam, namoravam, conversavam e ás vezes zangavam-se, mas logo estava tudo bem. 
         Esta era a lenda do casal de dançarinos, mas na vida real, existem os dançarinos em diferentes formatos, de acordo com  o que cada um de nós sente, no acreditar, ou não, no conseguir voltar a amar ou não, conforme as ilusões e desilusões, que nos vão tornando pessoas diferentes.  E o amor tem muitas formas, não tem raça, nem cor, nem género. 
        E vocês, que casal de dançarinos já viram? 
        Qual gostavam de ver? 

                                                                    Fim 
                                                                Lara Rocha 
                                                                16/Janeiro/2021

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