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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Brincar com o tempo

       


        O tempo… como passa rápido e não volta atrás! É um sopro. Não o vemos propriamente, como vemos objetos ou pessoas. Como passa! Tudo passa rápido, só nos lembramos quando pensamos que...parece que foi ontem, e já vai há tantos anos. Vemos o tempo nas fotos, nas rugas, nas mudanças do corpo, nas mudanças do pensamento, mas não podemos vê-lo, como vemos coisas.

        O tempo brinca connosco como quem brinca com marionetas, o tempo...serve de desculpa para muitas fugas à realidade. O tempo justifica muitas atitudes, o tempo...tudo faz, tudo supera, tudo destrói, tudo constrói. O tempo tem o valor que cada um lhe dá. 

        Na verdade...será que existe mesmo tempo? Acreditamos que ele existe, mas nunca o vemos de verdade… passa tão rápido! O tempo corre connosco, faz-nos correr, e às vezes parar. O tempo existe na atmosfera: tempo de sol, tempo de chuva, tempo de neve, tempo de vento, tempo de trovoada, tempo de frio, tempo de calor, tempo de tudo junto, tempo de nuvens, tempo de geadas, tempo de granizo, tempo de mar bravo. 

        Tempo...é sempre tempo de passear, rir, brincar. saltar, abraçar, beijar, acariciar, conquistar, fazer amigos, conviver, conversar, fazer atividades diferentes, ouvir música, cantar, dançar, apaixonar-se. Ter medo, vencê-lo, sofrer, lutar, ganhar, planear, construir, destruir. 

        Há tempo de se apaixonar pelas pessoas, pela natureza, por tudo...é sempre tempo para sonhar, desejar, tentar de novo, corrigir, fazer de novo, aprender, viver, relaxar, descobrir coisas novas, conhecer, inventar, criar, recriar. 

        É sempre tempo de adormecer e renascer, ser forte, não se deixar vencer...sentir-se jovem, ser sempre criança, ser feliz. É sempre tempo de agradecer, todos os dias, a mim  a muita gente, ao mundo, à terra, a tudo! 

     O tempo brinca connosco, como quem brinca com marionetes, mas nós também podemos brincar com ele! E os tempos modernos...que loucura! Nós os dois, eu e a minha mulher, temos o tempo muito ocupado. 

        Depois de nos reformarmos, o tempo ainda ficou mais recheado de atividades, principalmente, quando os nossos 4 filhos se casaram e saíram de casa, para nós foi difícil, no início, mas rapidamente ficamos contentes porque percebemos que tínhamos mais tempo, um para o outro! 

        Porque não, aproveitar para compensar o tempo perdido, dos tempos em que trabalhávamos, chegávamos a casa, mal tínhamos tempo para ir à casa de banho, quanto mais olhar um para o outro. Foi inesquecível quando recomeçamos a ter tempo para nós, quando olhamos outra vez um para o outro, sem pressa, com todo o tempo por nossa conta! 

        Depois de tanta correria, esse reencontro e recomeço, foi quase uma primeira vez, que romântico! Percebemos o quanto era e é importante termos tempos só para nós os dois, para percorrermos o corpo um do outro, brincarmos, redescobrirmos novas formas de sabermos do que somos feitos, partes do corpo que parecia que nem sabíamos que existiam, por termos pressa. 

        Quando voltámos a ter tempo um para o outro, revelamo-nos, facetas desconhecidas, ou que já existiam, mas não sabíamos. O tempo deixou de existir, e éramos só nós os dois...como dois adolescentes a descobrir o sexo, debaixo de rugas e gordurinhas, ossos salientes, mais ou menos arqueados... o que importa? 

        As emoções, o amor, o carinho, o respeito, o desejo, a vontade de sentir! Se das outras vezes, em que não tínhamos tempo, tivéssemos feito dessa maneira, bem... não sei, mas talvez agora seja melhor, temos mais maturidade, e a nossa descoberta um do outro, continua! 

        Ela é uma revelação diária, e prova-me que valeu a pena tê-la conhecido. Em lugar de outras mais jeitosas...aventuritas. Ela nunca soube, e provavelmente também as teve, mas nunca lhe perguntei, nem ela a mim. O mais importante é o agora, em que somos um do outro, e tudo melhorou quando voltámos a ter tempo só para nós. 

        Amámos os nossos filhos e os nossos netos, passamos tempos maravilhosos com eles, mas continuamos a ter momentos só para nós. É especial. Eu brinco, enquanto tenho saúde, brinco com a minha esposa desde a adolescência, apaixonámo-nos muitas vezes um pelo outro, ao longo destes anos, e voltamo-nos a apaixonar, eu volto a pedi-la em namoro, ela emociona-se tanto como na primeira vez, e eu choro de felicidade com ela! 

        Nós esquecemos o tempo e a idade, principalmente quando voltamos a ter noites quentes, eróticas. Não, não é como a primeira vez, porque os nossos corpos mudaram, mas o desejo acorda constantemente. Ela é uma velhota atraente e eu também. 

        Tentamos sempre reacender a paixão, todos os dias, como fizemos ao longo do nosso casamento. Às vezes elas mandava-me dormir com o cão, quando estava virada ao contrário, mas eu lá lhe fazia o frete, dormia no sofá, e de manhã estava tudo bem! 

        Isso faz-nos sentir vivos, mais novos, o tempo deixa de existir nesses momentos. Gostamos um do outro, ao fim de tanto tempo, mas é possível sim. Não é fácil, é preciso ter imaginação, isso também nos faz bem aos miolos, não deixa queimar os fusíveis. 

        Até descobrimos uns brinquedos....(ri) que são um mimo! (gargalhada) Aproveitem o vosso tempo com as vossas companheiras, ou com outras, mas tenham tempo. Elas são exigentes, e merecem que lhes dêmos os nossos tempos com qualidade, independentemente do nosso físico. 

        Os jovens agora, não têm tempo para nada, só dão rapidinhas, e perdem o melhor...o percorrer o corpo, a descoberta, as sensações, a beleza da comunicação silenciosa. Experimentem! O tempo corre, mas eu, e a minha mulher fazemo-lo andar mais devagar. 

        Aproveitem! Muita imaginação, paciência, vontade, carinho, respeito, companhia...e... tempo!!


                                                                              FIM 

                                                                            Lara Rocha 

                                                                           13/Novembro/2020 

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