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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

AS BOLINHAS NA ÁGUA

(foto tirada por Lara Rocha) 

Era uma vez uma praia que tinha areia, e mar. No mar viviam muitas espécies de peixes e algas. Um dia, um ser muito estranho entrou no mar. Nunca ninguém o tinha visto por ali, nem sabiam quem era.
Era uma mistura de peixe, com elfo, tinha escamas nas enormes orelhas bicudas, e salpicos de cores brilhantes por toda a cauda. Os cabelos eram compridos e pareciam algas. Trazia alguma coisa às costas…um saco grande.
Nadou debaixo da água à procura de um espaço. Olhou para todo o lado, e cruzou-se com uma sereia. A sereia ficou assustada com o seu aspecto.
- Menina, desculpe… - Diz a criatura estranha
            A sereia responde a medo:
- Diz…
- Estou à procura de um espaço! Sabe dizer-me onde posso ficar?
- Um espaço, para quê?
- Para dormir, e tocar.
- Dormir e tocar? Mas, vai dormir ou vai tocar…?
- As duas coisas.
- Então quer um espaço para viver?
- Sim, isso mesmo!
- O que aqui não falta é espaço, agora depende do que quiser…dos seus gostos…
- Posso ficar em qualquer sítio destes?
- Sim, claro. Onde gostar mais.
- Áh! Que bom! Obrigada.
- De nada.
            Ela dá uns passos, e pára pensativa.
- Mas que criatura tão…estranha!
- Sim, sou estranho! – Responde o misterioso ser
            A sereia encolhe-se assustada
- Lê os meus pensamentos? – Pergunta a sereia
- Não. Sinto as tuas vibrações dos pensamentos que estás a ter. Eu sei que estás a pensar que sou uma criatura muito estranha. Não te preocupes… toda a gente pensa isso. Sim, sou estranho…eu sei. Mas podes ficar descansada, que não faço mal.
- (ela sorri embaraçada) É que… nunca o tinha visto por aqui antes.
- Claro que não. Nem eu a ti. Vim de outro sítio.
- Áh! Por isso é que não nos conhecemos.
- Exactamente. Mas olha, aproveito para te convidar, se gostas de música, para assistires ao meu concerto esta noite…na praia.
- És músico?
- Sim! Bem…não sei se sou, sei que vivo da música e adoro música. É assim que ganho a vida. Faço muitas coisas.
- Então se eu puder, apareço.
- Isso. Até logo.
- Até logo.
            A sereia volta atrás:
- Vais fazer-me uma pergunta…! – Diz a criatura
- Sim…se não se importar.
- Não, não me importo nada! Eu sei qual é, mas manda…
- Eu queria saber, de onde veio?
- Eu sabia! (ri) Vim de um mar onde já quase não se respirava. As bolinhas de água eram de cor branca e preta, e não subiam para a superfície. Por sinal, muito mal cheirosas.
- Lhec. Onde era?
- Longe daqui, não sei a quantos quilómetros, mas era muito longe! Aqui respira-se, lá não. Já não havia espaço com tanto lixo debaixo da água.
- Ui. Que filme de terror.
- Não era um filme, era a vida real.
- E que bolas eram essas de cor preta e branca…que não subiam para a superfície?
- Não eram coisa boa.
- Então?
- Era…petróleo, tintas, detergentes…
- Ai…acho que estou mal-disposta só de ouvir.
- Imagina se estivesses mesmo lá! Eu estava a ficar intoxicado, foi por isso que saí.
- Fez bem, aqui é tudo limpo.
- Para já!
- Acha que essa porcaria pode chegar cá?
- Bem…espero muito sinceramente que não! Mas nada é garantido!
- Aqui vai sentir-se muito bem.
- Tenho a certeza que sim!
- Bem…se precisar de alguma coisa de nós, estamos sempre por aqui. Passa sempre aqui algum ser bondoso.
- Muito obrigado.
- Até logo.
- Até logo.
            A sereia segue o seu caminho ainda um pouco assustada com aquele misterioso ser. Ele experimenta vários cantos, instala-se no que gosta mais, e onde se sente melhor.
            Tira do grande saco vários instrumentos musicais, e começa a ensaiar para o espectáculo da noite. Debaixo da água e à sua volta formam-se milhares de bolinhas de água, umas maiores outras mais pequenas, conforme a intensidade com que toca.
            De noite, o jovem vai para a superfície, e começa a tocar na água. Centenas de pessoas invadem a praia, e passado algum tempo, ele sai da água com pernas, em vez da cauda.
Fica sentado num palco que tem um grande tanque de água. Ele entra para o tanque, e ganha novamente cauda, sempre a tocar os instrumentos. A sua cauda brilhante dá luz, e todos aplaudem maravilhados.
Todas as sereias assistem ao concerto dentro da água. O jovem atira-se para o mar, e toca dentro da água. À volta dele formam-se milhares de bolinhas de água, que voam como bolas de sabão para o público, à medida que ele vai tocando. Os sons é que fazem as bolas.
O público aplaude, e vibra, agarram as bolinhas e sopram. O rapaz toca músicas de todo o tipo, o público salta, canta e dança com ele. Ele anda de um lado para o outro, em cima do palco, sempre a tocar e a cantar, depois salta para o tanque, e para o mar, tanto aparece com pernas, como com cauda.
No final do concerto, dá muitos autógrafos, e tira fotografias com os admiradores. E repousa feliz, adormecendo logo que se deita. Enquanto dorme, uns peixinhos pequeninos, quiseram experimentar os instrumentos, e tocam sem ele se aperceber. Formam-se mais centenas de bolinhas na água.
Uma sereia vê tantas bolinhas na água que se aproxima e vê que são os marotos dos peixinhos a tocar sem autorização. Ela chuta-os, e eles desatam a fugir.
O ser estranho acorda.
- Quem mexeu nos meus instrumentos? – Pergunta ele
- Desculpe…foram uns peixinhos traquinas. Mas já os mandei embora. Fizeram barulho para si? – Responde e pergunta a sereia
- Não! Não te preocupes.
- Estava a dormir?
- Sim, mas senti a vibração deles a mexer nos meus instrumentos…mas sabia que não estavam a estragá-los, e que não era por mal. São curiosos, é normal. Foi por isso que também não lhes disse nada.
- Áh!
- A água ainda está cheia de bolinhas…tocaram forte!
- É.
- Não, não leio pensamentos…sinto vibrações. Sou um ser estranho não sou? 
            A sereia sorri.
- Não. É diferente.
- Somos todos.
            Os dois conversam alegremente, e nos dias seguintes, sempre que viam bolinhas na água, já sabiam que era ele que estava a tocar. Sentia-se tão bem naquele sítio, que nunca mais foi para outro.
Todos os habitantes se conheciam e ajudavam-se sempre que precisavam, faziam muitas festas e bailes, eram amigos, e cuidavam muito bem do seu espaço. Não se via um único sinal de poluição de águas, nem lixo. Era por isso que as bolinhas na água, dos instrumentos, flutuavam. Toda a gente gostava muito dele e das suas músicas.
            A sereia e o ser misterioso tinham toda a razão! Ali naquele mar, respirava-se bem, a água era limpa, e todos eram saudáveis. Muito diferente do sítio de onde ele tinha vindo.
E vocês? Já viram algum ser estranho como este? Se vivessem no mar, esse mar era limpo ou cheio de lixo como o nosso? Limpavam-no? Como? E as praias perto de vocês, como são?
                                                          
                                                           FIM
                                                           Lálá

                                               (23/Fevereiro/2015) 

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