Número total de visualizações de páginas

sábado, 29 de novembro de 2014

Dona Preguiça, os vizinhos e o Tempo

                                             
   









   Era uma vez uma Preguiça, muito gorda que vivia quase sempre deitada numa árvore, pouco se mexia e só dormia. 
  Fazia tudo muito devagar. Era muito caladaPor cima do seu tronco, vivia um casal, misterioso, silencioso, discreto, que praticamente só eram vistos de noite
   Durante o dia, dormiam e estavam quase sempre dentro do tronco, na sua toca.
     Por baixo, aos pés da árvore, viviam muitas famílias de muitos cogumelos, que a Preguiça mal conhecia. Eram mal-encarados, antipáticos, coscuvilheiros, venenosos, por isso não tinham amigos.  
      Tinha ao lado, uns vizinhos muito mexidos, traquinas, que não paravam quietos. Subiam e desciam os troncos das árvores mais de cem vezes por dia, muito rápido…pareciam foguetes e muito barulhentos: guinchavam, gritavam, faziam muitos ruídos. Alguns muito irritantes.
        No meio da árvore da Preguiça, e da árvore dos macacos, havia outra pequena árvore, onde habitada por morcegos que se metiam dentro do tronco, numa toca pequenina e escura
      Nos troncos viviam e pousavam dezenas de passarinhos de todas as espécies. Dentro das tocas não chovia, mas fora delas chovia muito, e quando chovia, a preguiça nem sequer saía.
    Todos os dias, passa por esse sítio um ser muito misterioso, demasiado rápido, quase não lhe vêem o rosto nem o corpo de tão rápido que ele anda. 
      Dizem que se chama Tempo e anda sempre de um lado para o outro. É mais rápido que os coelhos e que todos os animais que correm.
- Não percebo quem é este ser…! – Comenta um macaco
- Nem eu! Não sei porque anda com tanta pressa… - Responde outro macaco
- Até fico cansada…só…de…o ver… (boceja) passar… (espreguiça-se) Ai…ele anda tão…rápido! – Acrescenta a Preguiça
- Pois é! – Respondem todos
- Espera… (boceja outra vez) Este deve ser…- Diz a Preguiça
- Eu sou o Tempo, de quem toda a gente fala! É por isso que todos dizem que o tempo passa a correr. Eu sou o tempo e passo mesmo sempre a correr! – Grita o tempo a correr
- E não ficas…cansado? – Pergunta a Preguiça
- Às vezes. Mas não posso parar. Às vezes ando um pouco mais devagar, quer dizer…eu ando sempre igual…mas as pessoas dizem que às vezes ando devagar. – Explica o Tempo
- Ai…estou atrasada para a festa! – Grita uma bailarina que passa
- Lá vou eu… - Grita o tempo
- Está na hora de ir almoçar! – Comenta um lobo esfomeado que vai à procura de comida
- Já vou. – Diz o tempo
- Já é tão tarde! – Suspira um lavrador que passa depressa
- Óh não…Já estamos no fim da manhã… resmunga uma coelhinha
- Ufa…estou cansado…mas não posso parar. – Confessa o tempo
- Vai mais devagar. – Sugere uma tartaruga
- Não posso. Este mundo anda cheio de pressa…não sei para quê! – Diz o tempo
- Mas para quê…? Tanta pressa…! Com tanta pressa…não vêem nada. – Diz um mocho
        O tempo já desapareceu da beira deles, sem darem por isso. O tempo é mesmo assim. Não o vemos, mas sentimos bem a sua passagem, mas já a preguiça é muitas vezes nossa amiga, ou inimiga, mas conseguimos vê-la e senti-la.

FIM
Lara Rocha 
(29/Novembro/2014)




domingo, 23 de novembro de 2014

A LENDA DO INVERNO



     Era uma vez um Avô que estava sentado à lareira, numa sala muito confortável, num dia de pleno Inverno, muito chuvoso e frio com os seus netos. De repente suspira e comenta com a esposa:
- Querida…está um dia de pleno Inverno, não está?
- Está!
- Não estás com frio?
- Não. Estou muito confortável e tu?
- Eu também. E muito bem acompanhado pelos meus netos.
- Avô, também somos netos da Avó! – Reclama uma menina
- Pois somos! – Acrescenta um menino
- Claro que somos…somos dos dois. – Responde outra menina
- Não sejas egoísta. Nossos netos…- Diz a Avó.
            Todos desatam a rir.
- Avô…ou Avó…conte-nos uma história… - Sugere outra menina
- Uma história? Não sei nenhuma história. A tua Avó é que sabe. – Pergunta o Avô
- Sim, sei muitas… e tu também sabes. – Responde a Avó.
- Não…tu é que sabes… - Diz o Avô
- Vá lá…
- Contem! – Pedem os 4 netos em coro
- Está bem. Eu conto. – Diz a Avó. Era uma vez…
      Era uma vez, num país muito longe da Terra, numa outra galáxia, onde tudo era encantado. Havia sol, calor, praias, lagos, rios, mares, sereias, fadas, anjos, duendes, unicórnios e muitos outros seres maravilhosos. 
         Não havia poluição e tudo era perfeito. Mas um dia…tudo mudou. Uma coisa muito terrível aconteceu! 
      O que era perfeito, transformou-se. Tudo por culpa de uma bruxa invejosa, malvada, que vivia num sítio escuro, feio, cheio de criaturas nojentas e más. 
        Essa bruxa gostava de um príncipe que vivia nas redondezas do seu mundo assustador. Quer dizer…ela não tinha sentimentos…só queria o príncipe para contrariar a princesa, e depois transformá-lo num mauzão ao seu serviço. 
      Felizmente, o príncipe não gostava dela, tinha medo dela, e não caía na sua conversa muito agradável. 
        Como a bruxa não queria que o príncipe ficasse com ela, fez um feitiço, e preparou uma armadilha monstruosa como ela. 
     Primeiro deixou que os dois apaixonados fossem para uma das muitas lindas florestas, e quando se abraçaram…a paisagem transformou-se completamente. 
      O sol escureceu, o céu ficou cheio de nuvens pesadas, e do céu voaram pássaros horrendos, feios, que lançavam dos seus bicos, fogo. 
      O casal ficou muito assustado e tentou fugir, mas quanto mais fugia mais fogo crescia á sua volta. 
    Depois…a terrível bruxa, enviou fadas muito atraentes, mas sopravam gelo. Elas voavam e sopravam…e tudo ficou congelado, cheio de neve.
    Um dragão de gelo atravessou as nuvens, e transformou as gotas de chuva em flocos de neve. Caiu com tanta intensidade que tudo ficou gelado, até o pobre casal apaixonado. 
   A maldita bruxa riu às gargalhadas, ficou orgulhosa e feliz, porque o seu feitiço tinha funcionado. 
     Quando regressou à floresta, para levar o príncipe para o seu castelo escuro, um bebé de gelo, criado por uma fada boa arrotou e congelou a bruxa, sem ela contar. 
       Nessa altura, o sol voltou a brilhar, o céu voltou a ficar azul, e voltaram a voar pássaros lindos. Tudo voltou a ser como era antes. a bruxa ficou transformada num boneco de neve, mas com o sol derreteu. 
      Como derreteu, tentou arranjar outra vez maneira de prender o príncipe. Voltaram as lindas fadas e dragões de gelo, que tudo congelaram, menos a bruxa. 
     O casal ficou outra vez petrificado. A bruxa tentou pegar no príncipe ao colo, mas estava colado ao chão, agarrado à sua princesa. 
    A bruxa puxou, puxou, puxou…bateu no gelo, atirou fogo e nada descongelou. Ela ficou possuída, ainda mais maldosa e raivosa. Inventou muitos feitiços, mas não conseguiu o que queria. 
O casal continuava intacto debaixo do gelo, e o gelo sem derreter. 
     Reza a lenda que foi assim que o Inverno nasceu. Do amor do casal que ficou protegido pelo gelo, para que a bruxa não conseguisse destrui-lo.                   Embora estivessem congelados, o amor dos dois debaixo do gelo, continuava bem ardente, verdadeiro…e dizem que os dois escaparam por um túnel subterrâneo…só os bonecos de gelo continuavam lá. 
      Uns anos depois, a bruxa encontrou o amor…ou o horror da sua vida…por quem se apaixonou loucamente…um ser asqueroso e horrível como ela, mau, que fazia tudo o que ela queria…assim, ela nunca mais perseguiu o bondoso príncipe da princesa. 
     Diziam os antigos, que muitos anos depois, sempre que havia neve e frio, era a bruxa a tentar apanhar o príncipe, mas nunca conseguia porque só os bonecos de gelo, dos dois estava lá. 
         Os dois, estavam num lugar seguro e quente. A bruxa pensava que os bonecos de gelo eram eles, mas sempre que tentava tirá-los de lá, nunca conseguia. 
       Dizem ainda hoje, que as fadas e o dragão de gelo aparecem por lá todos os anos, várias vezes…não para fazer mal, ou fazer o que a bruxa mandava, mas apenas porque querem. 
       Para passear e transformar a paisagem…só por brincadeira! E tudo fica cheio de neve. Dizem também que foi assim que nasceu o Inverno…para proteger os amores.
- Áhhh…que lindo! – Suspiram e sorriem os netos
- Está a nevar lá fora! – Repara a Avó
- São os príncipes debaixo dos bonecos de neve, ou serão as fadas e o dragão que vieram para cá brincar? – Pergunta outra menina
- Podia ter sido verdade…! – Suspira uma das meninas a sorrir
- Pois era! – Concordam todos
- Para mim…sempre foi verdade! – Diz a Avó a sorrir
- Sempre te contaram essa verdade… - Diz o Avô a sorrir
- Pois foi…
- A mim também!
- E eu vi o casal congelado, as fadas e o dragão a congelar tudo… - Garante a Avó.
- Viste? – Perguntam todos
- Vi. Quando era da vossa idade…e depois…vivi o amor do príncipe e da princesa…com o vosso Avô…
- Ááááhhh…que lindo! – Suspiram e sorriem os netos
- Então tu e o Avô também foram transformados em bonecos de neve? – Pergunta um menino
- Fomos! – Responde o casal
- Havia bruxas invejosas, apaixonadas pelo vosso avô, que bem tentaram…mas os feitiços delas, foram quebrados pelo nosso amor que nem o gelo do Inverno quebrou. – Diz a Avó
     O Avô ri-se, beija a mão à Avó, e abraçam-se. Os netos ficam deliciados e sorriem encantados. Conversam e riem uns com os outros, até que chega a hora de jantar, e todos se levantam. A neve fica lá fora…e o Inverno também. A lenda…bom…fica nos ouvidos e na imaginação de cada um de nós.

FIM
Lara Rocha 
(23/Novembro/2014)


ÁRVORE DE ESTRELAS


Era uma vez num jardim de uma grade cidade, uma árvore quase igual às outras: tinha tronco, ramos e estava despida como todas as árvores no Outono. Uma noite, uma fada que vivia numa árvore longe da cidade, passeou por outros jardins, e não soube dizer a razão, mas uma dessas árvores despidas, chamou-lhe a atenção. A fada parou em frente à árvore e olhou-a fixamente:  
- O que é que tu tens que não me deixa sair daqui?
            A árvore não respondeu. A fada tinha a certeza que aquela árvore era especial, mesmo igual às outras. Ela continuou a passear, mas sempre a pensar naquela árvore, para ver se descobria o que é que tinha de especial e de diferente em relação às outras…todas estavam sem folhas…mas aquela…parecia querer falar com ela.
            Muito intrigada, volta ao mesmo sítio e lá estava a árvore. Igual às outras, no escuro e no silêncio da noite. Como não descobriu, foi para a sua casa. No dia seguinte, à noite, a Fada volta ao mesmo jardim e lá estava a mesma árvore que lhe chamava à atenção.
- Tu tens alguma coisa de muito misterioso, que não sei o que é!
- Não tenho nada de misterioso! Sou igual às outras. – Reponde a árvore
- Pareces igual às outras, mas tens alguma coisa que me prende a ti.
- Não entendo o que dizes.
- Tu és especial.
- Não vejo o que possa haver de especial em mim.
- Já alguma vez tiveste folhas ou flores?
- Não.
- Como não?
- Não. Nunca tive flores nem folhas…estive sempre assim, desde que me conheço, sem folhas, sem flores.
- Porquê?
- Não sei.
- Huummm…isso é muito estranho.
- Porquê?
- Porque se és igual às outras árvores, tinhas de ter folhas e flores.
- Sou igual às outras, mas nunca tive isso.
- Então é aí que está a tua diferença.
- Onde?
- No não ter folhas, nem flores.
- Mas qual é o problema disso? Somos todas diferentes…
- Isso é verdade…
- E gosto muito de ser assim.
- Alguém repara em ti?
- Reparam, claro que sim…por eu não ter flores nem folhas.
- Pois! Reparam porque és diferente…todas têm flores e folhas, menos tu.
- Isso é mau?
- Bem…não sei.
- Para mim, não!
- Mas gostavas de ser igual às outras?
- Não!
- Não?
- Não!
- Porque não?
- Porque nem elas são iguais…
- Não são iguais?
- Não. Só parecem iguais.
- Huummm… Todas têm troncos, ramos, folhas, flores…
- Umas são mais largas, outras mais estreitas, os troncos…uns têm mais curvas, outras menos curvas, uns têm mais saliências, outros menos…uns troncos são castanhos mais claros, outros troncos são castanhos mais escuros…outros troncos têm mistura de cores…
- Sim, isso é verdade…olhando bem!
- Todas têm folhas, mas umas são mais verdes, outras mais amarelas, outras vermelhas, outras roxas…outras cores misturadas.
- Sim. Pois é!
- É. E eu não tenho folhas, nem flores, mas sou uma árvore.
- Sim, e eu sou uma fada.
- Já reparei.
- Vou tornar-te ainda mais diferente…
- Não podes.
- Como não?
- Não me perguntaste se eu queria que me tornasses diferente.
- Desculpa, tens razão! Queres ser ainda mais diferente?
- Não.
- Não?
- Não. Estou muito bem assim.
            A fada segreda à árvore.
- Está bem! – Diz a árvore
            A fada dança e das suas lindas asas, saem milhares de estrelas brilhantes, leves, coloridas, pequeninas, que enchem toda a árvore. Depois, abana os seus cabelos, e deles soltam-se milhares de folhas verdes que caem sobre os ramos, onde estão as estrelas. A fada aplaude feliz.
- Mas que linda que estás agora.
- Obrigada. – Diz a árvore a sorrir
            As duas conversam mais um pouco. A fada volta para sua casa, e a árvore fica no mesmo sítio, agora linda, cheia de folhas e estrelas. No dia seguinte, toda a gente repara na árvore, na sua beleza.
- Onde está aquela árvore despida? A minha amiga…filha e neta…? Óh, não pode ser! Destruíram-na? – Pergunta uma velhinha
- Estou aqui. – Diz a árvore
            Deixa cair uma folha com uma estrelinha na bochecha da senhora velhinha. A senhora sorri, olha para a árvore.
- És tu?
- Sim.
- Mas que linda! Estás tão diferente! Como é que ganhaste tanta folha e tanta estrela da noite para o dia?
- Foi magia.
- Que linda! Estava a ficar muito preocupada…pensei que te tinham destruído.
- Não! Como vê…estou aqui.
- É. Estás muito diferente, mas a tua simpatia, voz e bondade, continuam na mesma.
- Sim, é verdade…posso estar muito diferente, por fora, mas o meu coração não a esqueceu.
- É. Estou a ver que não…
- O meu coração não esquece as pessoas boas, que cuidam de mim, que me fazem companhia, que me abraçam…
- O meu também não.
            A senhora abraça a árvore. A árvore fica tão feliz, e tão deliciada com aquele abraço carinhoso, cheio de ruguinhas, que chora de alegria. Por isso, milhares de folhas com estrelinhas caem dos ramos para o chão.
- Quem me dera ter braços para retribuir este abraço tão bom…querida Avó. – Suspira a Árvore a sorrir
            O seu desejo foi tornado realidade. A fada que lhe deu as folhas e as estrelas, gostou tanto daquela troca de carinho que transformou dois troncos da árvore em grandes braços de madeira, que abraçaram a senhora velhinha. A senhora ficou surpresa e muito feliz.
- Áh! Acho que estou a sonhar…
- Não. Está bem acordada. – Responde a árvore
- Óh, minha querida…
            E do abraço delas, sai um grande raio de luz, que transforma a senhora velhinha numa linda jovem. A fada transforma a árvore noutra jovem de carne e osso, e as duas tornam-se amigas inseparáveis, como mãe e filha, ou avó e neta. Passeiam todos os dias, brincam, riem, falam…mas todos os que passam, só vêem a velhinha e a árvore, porque não sabem ver para além da diferença, nem sabem viver com ela, ou aceitá-la e respeitá-la.
A fada viu na árvore que parecia igual às outras, algo muito especial, e era mesmo. Era muito mais do que um tronco, primeiro sem folhas, depois com folhas e estrelas, e por fim, a árvore transformou-se numa bela jovem que se tornou o consolo e o carinho para a senhora velhinha, que já tinha reparado nela, e gostava dela, mesmo sem folhas e sem flores.
Era uma árvore de estrelas, e a senhora velhinha recebeu-as, porque as conseguiu ver, na diferença. No meio de tantas árvores que pareciam iguais, aquela era diferente…e muito diferente!
Era uma árvore que fez nascer estrelas, em alguém que conseguiu ver a jovem que habitava num corpo de madeira, sem folhas… há ligações com a natureza que não se explicam. Apenas…sentem-se. E a diferença também pode ser vivida, sentida…como dizia a árvore sem folhas e sem flores…sou diferente, e daí? Não vejo problema nenhum nisso, nem quero ser igual às outras. Somos todas diferentes…parecemos apenas todas iguais.
Nós também somos todos diferentes…e parecemos todos iguais, só porque somos da mesma raça, somos feitos da mesma matéria…carne…e osso. Todos conseguimos ser árvores com folhas e estrelas, fazer nascer estrelas, pelo menos nos olhos e nos sorrisos de alguém, com um simples abraço.

FIM
Lálá

(23/Novembro/2014) 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O SININHO DE PRATA E O SININHO DE OURO


   
         Era uma vez uma aldeia onde todos eram muito pobres. As casas: umas eram de pedra, outras de palha, outras de tijolo. As famílias tinham muitos filhos, e dormiam no chão, em cima de roupas e cobertores que algumas pessoas generosas da cidade davam.
         Tinham água, e luz, mas acima de tudo, não faltava amor, carinho e respeito. Nunca exigiam nada, e agradeciam tudo o que tinha: era muito pouco, mas tinham e era valioso para eles.
Numa noite gelada, no mês de Dezembro, umas crianças receberam a visita de um duende do pai natal. Eles não acreditavam no que estavam a ver. Enquanto o duende falou com elas, os outros duendes foram visitar a terra e as casas, em forma de luzinhas.
Ficaram tão tristes, com tanta pobreza, que não seguram as lágrimas, e puseram logo pés ao caminho. Foram falar com o Pai Natal e contaram-lhe tudo o que viram. O próprio Pai Natal ficou emocionado e triste. Chegou o outro duende também complemente destroçado e contou a conversa que tinha tido com os meninos.
Então, o bondoso barrigudinho limpou as lágrimas e teve uma ideia. Pegou num sininho de prata, rendilhado, e outro sininho de ouro, deu-lhes uma série de instruções e os dois sininhos foram a essa aldeia.
Quando lá chegaram…o sininho de prata sacudiu-se e encheu todo o espaço de neve. Plantou um pinheiro grande, cheio de lindos enfeites, muitas luzes a piscar de todas as cores. Os dois sininhos dançaram, brincaram e deram cambalhotas, juntos, e o que era uma aldeia escura, ficou cheia de luz, e cor por todo o lado, com os candeeiros que espalharam.
Os dois sininhos em conjunto reconstruíram as casas, tornando-as uns verdadeiros palacetes, com todo o conforto, mobiliário como camas, cadeiras, mesas, prateleiras, roupas e tudo o que fazia falta. Até lareira.
Encheram os frigoríficos de comida e bebida, puseram animais num curral, legumes e frutas nas hortas, flores diferentes, e muitas outras coisas. Os sininhos deixaram tudo maravilhoso.
Na manhã seguinte…que grande surpresa! Todos acordaram num espaço completamente diferente daquele onde viviam, mas continuam a viver como antes…numa grande paz, e união. Agora muito mais felizes.
Nunca souberam que foram os sininhos que fizeram essa transformação, porque eles não gostam de se mostrar…gostam de fazer o bem, e ficar no seu canto…só por fazerem o bem já ficam felizes.
         Mas nós também podemos ser um sininho de prata ou de ouro para alguém, dando alguma coisa, nem que seja…um abraço, um sorriso, uma mão amiga…algo que já não precisamos, mas muita gente ainda precisa.

FIM
Lara Rocha 
(21/Novembro/2014)


BRILHO NOS OLHOS

Era uma vez uma menina que vivia com a sua mãe num apartamento pequenino. O seu pai não vivia com elas porque não se entendia com a mãe, e esta estava sempre muito ocupada com o trabalho…tão ocupada que não tinha tempo para estar e brincar com a menina.
            Sempre a menina lhe pedia para brincar, a mãe respondia-lhe que não podia, que estava muito ocupada, e às vezes até resmungava e ralhava com ela. Dizia-lhe para ir para o pai. Mas é claro que tudo era da boca para fora, porque a mãe sabia que a menina nunca iria para o pai.
            Para tentar compensar, e manter a pequena ocupada, enchia a filha de coisas materiais, que embora ela gostasse, cansava rápido. Isso não a preenchia. O que ela queria mesmo, pedia todos os dias nas suas orações: o carinho da mãe, o colo, os beijos, os abraços, o seu calor.
            A mãe não a ouvia rezar, e a menina fingia que estava feliz, só para a mãe não ficar triste…percebia que a mãe tinha muito trabalho. Quando o Natal se aproximou, a mãe perguntou à filha o que queria de prenda. A filha respondeu com o que pedia na oração.
A mãe não deu importância à resposta da menina, mas à noite, isso veio à sua mente…reflectiu e percebeu que realmente era muito desligada da filha, e que já tinha muitos brinquedos, mas o que a pequena queria mesmo, a mãe não dava. Só pensava em trabalhar, e nunca tinha tempo para ela.
Nesse momento, a mãe chorou e na sua oração pediu perdão por abandonar a filha e só querer saber de trabalho, e jurou mudar. Prometeu a si mesma que ia ser uma mãe mais presente, e que não ia pensar tanto no trabalho.
Desde essa noite, tudo foi diferente, entre mãe e filha. A mãe queria devolver o sorriso alegre e o brilho do olhar à filha. Sem lhe dizer nada, quis compensar todo o tempo perdido até aquele momento. Então, logo de manhã surpreendeu a filha…acordou mais cedo e foi para a beira dela, abraçou-a e encheu-a de beijos. A menina ficou muito surpresa e muito feliz. trocam carinhos, tomam o pequeno-almoço juntas, conversam, riem, e como eram férias foram juntas às compras de prendas, sempre de mão dada, a rir, a brincar e a conversar.
Quando chegaram a casa brincaram juntas. E todos os dias seguintes a mãe dedicou-se à filha, tornaram-se inseparáveis. Na noite de Natal, alem de estarem em família, com avós, tios e primos, e dos presentes, a mãe viu como a filha estava e andava tão feliz…e os seus olhos brilhavam muito mais que antes.
Para a mãe a felicidade e o brilho nos olhos da filha, foram o seu melhor presente de Natal. Para a filha, a presença da mãe todos os dias, todas as conversas, gargalhadas e mimos que a mãe lhe dera de um momento para o outro, foram o melhor presente de Natal para ela.
Às vezes a mãe não brincava muito tempo com ela, mas todos os dias tirava uns momentos para estar com ela, brincar, conversar, trocar carinhos, e isso era suficiente para deixar as duas muito felizes.
A mãe percebeu que tinha uma filha com um coração muito bom, porque uma coisa tão simples, vale muito mais do que mil brinquedos. às vezes não são precisos muitos brinquedos pois o que eles querem, e gostam realmente é de amor, carinho e atenção…a presença da mãe, pai, ambos ou outros que os amam.
Valores como estes, são prendas que os pais podem e devem dar todo o ano, são gratuitas, simples, não ocupam espaço, não se estragam e fazem muito bem à saúde.

FIM
Lálá

(21/Novembro/2014) 

PRENDA DE NATAL DA ESTRELA

Era uma vez uma estrelinha brilhante que vivia no Universo, lá muito em cima, com as outras milhares de estrelas que vemos da terra. No Universo também festejam o Natal. E as estrelas, como as crianças, pedem as suas prendas ao Pai Natal.
            Esta estrelinha pediu uma prenda diferente de todas as outras. Ela queria um baloiço e um escorrega para brincar com as outras estrelas. Um escorrega enorme…como uma ponte, que desse para ela chegar à Terra.
            As outras estrelas achavam que essa prenda era impossível, mas estavam muito enganadas. O Pai Natal das estrelas ouviu o seu pedido, e deu-lhe mesmo essa prenda.
            Pegou numa linda e gigante estrela cadente, lançou-a da Lua e no caminho para a terra, ela encheu tudo com a sua luz. Fez uma ponte que ligava o jardim da casa da estrela até ao Planeta Terra.
            No seu jardim, pôs um parque infantil, com vários baloiços, escorregas e insufláveis, casinhas de borracha, e muitos brinquedos musicais. Tudo o que as estrelinhas gostavam.
            No dia seguinte, quando a estrela acorda, tem uma grande surpresa. Vê um parque infantil cheio de diversões que ela gosta, e ao olhar para a frente, vê a ponte brilhante, feita de estrelas que a ligavam à terra, sempre que ela quisesse.
            A estrelinha caminha feliz sobre a ponte. Saltita, escorrega, e chama as amigas.
- Áh! Que lindo! – Suspiram todas as estrelinhas
- Era mesmo isto que tinhas pedido ao Pai Natal? – Pergunta outra estrelinha
- Sim, ele deu-me mesmo tudo…até me deu este parque infantil, que eu não tinha pedido.
- Óh, que Pai Natal tão querido! – Diz outra estrela a sorrir
- E a vocês, ele deu-vos o que pediram? – Pergunta a estrelinha
- Sim! – Respondem todas sorridentes
- Mas o teu pedido era muito estranho. – Comenta outra estrelinha
- Para o Pai Natal, não há pedidos estranhos. Desde que sejamos bons, o ano todo até ao Natal.
- Pois é! – Respondem em coro
- Vamos…venham experimentar o escorrega. – Convida a estrelinha
- O quê? – Perguntam todas
- Aquela ponte brilhante, cheia de estrelas, é uma ponte que me liga à terra. Posso ir lá quando quiser…ver tudo o que quiser, e voltar para a minha casa quando quiser. – Explica a estrelinha
- Foi outro pedido que fizeste ao Pai Natal? – Pergunta outra estrelinha
- Foi! – Diz a estrelinha
- Áh! Que lindo! – Suspiram todas
- É mesmo bonita. Onde viste uma ponte assim? – Pergunta outra estrelinha
- Uma noite, sonhei com uma ponte assim, que me levava ao planeta Terra…era mesmo assim…cheia de estrelinhas e de luz…gostei tanto dela, que pedi uma igual ao Pai Natal. – Responde a estrelinha
- Nunca pensei que o Pai Natal desse mesmo tudo o que queremos. – Comenta outra estrelinha
- Se formos bons…ele dá. – Diz a estrelinha
- Pois é! – Dizem todas
- Eu nunca me lembrei de pedir coisas estranhas, que queria…porque pensei que o Pai Natal não ia conseguir realizar esse desejo. – Diz outra estrelinha
- Porquê? Não cabiam no seu saco de prendas? – Pergunta outra estrelinha
- Cabiam, mas pensei que ele não conseguia fazer tudo… - Responde a estrelinha
- Para o Pai Natal…nada é impossível. – Diz a estrelinha
- É mesmo um homem bom. – Diz outra estrelinha
- Sim, é por isso que ele consegue tudo. – Diz outra estrelinha
- Pois. – Dizem todas
            Mostram as prendas umas às outras, conversam alegremente, brincam juntas, e com essa ponte, vão visitar a terra sempre que lhes apetece e podem voltar sempre que querem.
- Obrigada, Pai Natal! – Grita a estrelinha feliz
            E todas partilham os presentes. Nessa noite, há o jantar de Natal, onde se juntam todas as famílias de estrelas. E todas querem passar pela linda ponte que a estrelinha recebeu. Mas as estrelas grandes, viram tantas coisas feias na Terra, que não quiseram voltar a ver. As pequenas estrelas, como ainda não conheciam, achavam tudo bonito e por isso estavam sempre a espreitar.
            Enquanto somos pequeninos, o Mundo parece mesmo muito diferente. Quando crescemos, vemos a realidade, e tudo se transforma! Mesmo assim, devemos em adultos continuar a passar por lindas pontes feitas de estrelas, e ver o mundo com os olhos de criança, para sermos mais felizes. Nem que seja só por…uns minutos…no nosso Universo Imaginário.
            A magia torna o mundo mais habitável…quanto mais não seja, o mundo de cada um de nós, que pode ser uma estrela cadente para outro alguém.
            E que todos sejamos capazes de construir pontes de estrelas cadentes que nos liguem uns aos outros, em vez de crateras da lua, que nos separam.

FIM
Lálá
(20/Novembro/2014)