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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O refúgio do elfo



NARRADORA - Era uma vez um pequenino elfo que foi passear, pela floresta, num dia muito quente de Verão. Saiu de manhã bem cedo, com uma aragem fresca. Estava tão encantado com tudo o que viu pelo caminho que foi andando e…perdeu-se.
ELFO – Ai! Está tanto calor! Como é que saí tão cedo com a fresca, e agora está um calor…ufa! Como é que eu andei tanto? Mas…onde é que eu estou? Andei tanto que não sei onde estou! Óh! Onde vim parar? Será que estou muito longe de casa? Nada me é familiar. Óh…e agora? Ai, ai, ai…! Acho que vou perguntar a alguém. Eiii…alguém…! Será que não vive aqui ninguém? Onde estão todos? Devem estar recolhidos por causa do calor.
(Um macaco malandreco, faz uma careta barulhenta ao Elfo e ri-se, pendurado na árvore)
MACACO (a rir) – Olha, olha…um orelhudo, de orelhas em bico, com medo! Ih, ih, ih…
ELFO – Estás a falar comigo?
MACACO (a rir) – Há mais alguém aqui orelhudo, de orelhas em bico?
ELFO – Acho que te referes a mim.
MACACO – Pois claro.
ELFO – Mas que atrevido…não estás a ser muito simpático.
MACACO – Ora essa…não tenho que ser simpático com toda a gente…muito menos, com quem não conheço. Tu és novo aqui, não és?
ELFO – Sim, sou.
MACACO – Huummm…fazes-me lembrar alguém…! Assim de repente…Huummm…umas miúdas jeitosa que às vezes aparecem por aqui. Umas com asas…
ELFO – Acho que estás a falar das minhas primas fadas.
(O macaco endireita-se, e desce)
MACACO (espantado) – Óh, isso mesmo…as fadas. Espera aí…tu conhece-las?
ELFO – Claro que conheço. E tu?
MACACO (sorri) – Óh, sim, com muito gosto. Mas…tu és uma fada?
ELFO – Não…sou um elfo. Sou homem.
MACACO – Homem?
ELFO – Sim, homem.
MACACO – Estou a ver…
(Passa um coelho a correr e grita)
COELHO – Bom dia!
OS DOIS – Bom dia!
MACACO – (grita) Força…Vai amigo! Enquanto está fresco!
COELHO (sempre a correr) – Sim, hoje o dia promete. (e acelera)
MACACO - Lá vai o pé de speed fazer a maratona dele de manhã como sempre… (ri) É um grande desportista este coelho.
ELFO – Sabes dizer-me onde estou?
MACACO – Estás no vale das palmeiras.
ELFO – Vale das palmeiras?
MACACO – Sim.
ELFO – Mas eu não conheço este sítio!
MACACO – Tens a certeza?
ELFO – Tenho.
MACACO – Disseste que te perdeste, não foi?
ELFO – Acho que sim.
MACACO – E porque é que te perdeste?
ELFO – Acho que me distraí com tantas coisas bonitas que vi pelo caminho!
MACACO – Mas não sabias onde vinhas?
ELFO – Não…eu não tinha pensado para onde vinha…apenas…vinha por aqui! Mas parece que andei demais.
MACACO – Mas onde moras?
ELFO – No vale dos cristais.
MACACO – Huummm…esse nome não me é estranho, mas acho que nunca lá fui.
ELFO – Podia ter perguntado ao coelho.
MACACO – Pois era, de certeza que ele sabia.
ELFO – Achas?
MACACO – Sim…anda sempre por aí…parece que está ligado à electricidade…até faz impressão. Fico cansado só de o ver passar a correr. Detesto correr, e tu?
ELFO – Eu também…quer dizer…às vezes também corro, mas geralmente ando ou voo.
MACACO – Áh…pois…tu tens asas, eu não. Onde as arranjaste?
ELFO – Já nasci com elas…
MACACO – Áh!
(O coelho pára mais adiante, de repente. Volta para trás muito intrigado e vai ter com o elfo)
MACACO – Então…? Hoje o teu motor não dá mais? Acabou a gasolina?
(O coelho ri)
COELHO – Não. Voltei para trás porque…tens um novo amigo é?
MACACO (sorri) – Este é amigo das fadas…! Aquelas miúdas sexys que passam por aqui.
COELHO (sorri) – Óh, mas que sorte a tua, rapaz…mas, e quem és tu? Nunca te vi por aqui, mas acho que a tua cara não me é estranha.
ELFO – Sou um elfo. Vivo no vale dos cristais. Sabes onde fica?
COELHO – Óh…sim, sei muito bem, vou lá quase todos os dias, e hoje já vinha de lá.
MACACO (ri) – Eu não te disse que ele sabia? Eu disse…!
COELHO (ri) – Claro que sim…eu ando sempre por aí. Tenho de fazer a minha ginástica. E tu, rapaz…o que fazes por aqui?
ELFO – Vim passear, e acho que estou perdido.
MACACO – Os seus olhos ficaram presos na paisagem!
ELFO – Como assim? Os meus olhos estão no sítio.
MACACO (ri) – O que eu quero dizer é que ficaste tão encantado com a paisagem que viste pelo caminho, que te distraíste…e os teus olhos queriam ficar naqueles sítios.
ELFO (sorri) – Áh, sim! É verdade. Mas, então podes-me indicar o caminho de volta para casa.
COELHO – Claro que sim, mas porque não descansas um pouco, refrescas-te e vais quando estiveres retemperado?
ELFO – Sim, acho que tens toda a razão! Sabes onde posso fazer isso?
COELHO – Sei. Ali, no morangal.
ELFO – Huummm…no morangal?
COELHO – Sim, é onde as tuas primas se refugiam.
ELFO – Áh! É?
COELHO – Sim, é…às vezes estão lá às centenas.
ELFO – E o que fazem lá?
COELHO – Ai, isso é com elas! Sei que já as vi a descansar, a tomar chás e refrescos de morango, sempre às gargalhadas, descansam, dançam, brincam…e não sei o que mais!
ELFO – No morangal?
COELHO – Sim. É um sítio fabuloso. Está-se lá que é uma maravilha.
ELFO – Estou a ver os morangos.
COELHO – São deliciosos, e lá é um local fresco. Quando quiseres ir para casa, chama-me e eu levo-te.
ELFO (sorri) – Muito obrigada.
COELHO – Até já.
ELFO – Até já.
COELHO – Descansa.
NARRADORA – E o elfo vai para o morangal. Quando entra, fica deliciado com o que vê…morangos enormes, cheios de sumo, com folhas gigantes, frescas que fazem sombra, uma fonte de água. Ele dá uma trinca num morango apetitoso e come maravilhado. O morango grita:
MORANGO - Ai, que bruto!
ELFO – Huummm…que delícia. Óh…desculpa. Estou cheio de fome e sede, e és tão delicioso, apetitoso…
MORANGO – Eu sei que sim, e já estou habituado às dentadas, mas podias ser mais delicado a dar a dentada! Se fosses uma fada, tudo era diferente.
ELFO – Era diferente porquê? Elas são fadas, eu sou elfo!
MORANGO – São da tua família, não são?
ELFO – Sim. Mas o que é que isso quer dizer?
MORANGO – Quer dizer que devias ser mais delicado como elas a dar as trincas em mim e nos outros.
ELFO – Elas dão-te trincas?
MORANGO – Dão. Bem carinhosas.
ELFO – São meninas.
MORANGO – Pois, faz toda a diferença, mas podes aprender com elas.
ELFO – Não. Não quero aprender com elas, nem tenho nada que ser como elas.
MORANGOS – Não sabes o que perdes. Se fosses mais como elas, conquistavas todas as meninas que querias!
ELFO – Achas?
MORANGO – Tenho a certeza.
ELFO – Huummm…vou pensar nisso! Depois de descansar, está bem?
MORANGO – Está bem.
NARRADORA – Que rica soneca que ele dormiu! Quando acordou, o coelho já lá estava e foram juntos para o vale dos cristais, a conversar alegremente e a rir. Finalmente o Elfo regressa à sua casa, com a família já preocupada, e convidam o coelho para entrar. O coelho entra e é apresentado a toda a família. Depois de lanchar, volta para casa. A partir deste dia, o Elfo vai todos os dias para o seu refúgio no morangal, onde se encontra com as suas primas e amigas, onde descansa e refresca-se em paz, relaxa, e dorme a sesta na relva fofa debaixo dos morangos. Às vezes também vai para lá pensar, reflectir, tomar decisões importantes e difíceis, e escrever. Todos juntos, fazem serões neste refúgio, muito divertidos, poéticos, artísticos, e musicais. Todos temos necessidade de nos refugiarmos um pouco…desligarmo-nos da agitação do dia-a-dia, e passearmos um pouco, em paz, sem pressa, pelo nosso refúgio secreto, umas vezes verdadeiro, e acessível, outras vezes…mais distante ou criado por nós, ditado pela nossa criança interior. E o vosso refúgio, como é?

FIM
Lálá
(19/Dezembro/2013)



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