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sábado, 7 de dezembro de 2013

BONECOS DE NEVE

Era uma vez uma aldeia, onde viviam pessoas, que ficava nos arredores de uma cidade muito poluída. O príncipe Inverno tinha acabado de chegar, e estava muito frio, mas…não havia neve, nem estava frio.
Os habitantes estavam a ficar preocupados com o atraso da neve e do frio, mas não eram só eles. os bonecos de neve começavam a sentir-se muito abandonados, e tristes porque ainda não podiam aparecer.
Passado uns dias, os bonecos de neve, já desanimados, decidem em grupo sair daquela aldeia, e procurar um sítio onde pudessem ser vistos.
Mas…surpresa…! Quando iam a passar na aldeia onde costumava ficar…sentem uma aragem muito fria.
- Esperem! – Grita um boneco de neve.
         A voz vinha de perto, mas não se via nada, estava muito escuro. Era uma raposa que se tinha escondido numa toca. Os bonecos estremecem e param.
- Quem está aí? – Perguntam todos em coro.
- Sou eu! – Responde a raposa.
- Quem? – Perguntam os bonecos em coro.
- Aqui na toca… - Responde a raposa.
- Uma raposa! – Dizem os bonecos em coro.
- Sim, sou uma raposa.
- Vamos embora…não temos tempo a perder. – Diz o boneco de neve que ia à frente.
- Óh, não…por favor…esperem.
- Não lhe dêem ouvidos. Ela é matreira. – Grita um lobo.
- Olha quem fala…! – Diz a raposa irónica.
- Vamos, amigos!
- Sim, vão…fujam enquanto podem. – Diz o lobo.
- Tenham cuidado com esse! – Grita a raposa.
- Mas que chatice! – Suspira o boneco de neve que ia à frente.
- O que é que queres raposa?
- Óh…que tom de voz estranho…calma…não vos quero fazer mal.
- Não acreditem nela! – Recomenda o lobo.
- Importas-te de te calar, por favor, óh peludo?
- Olha só para ela…a careca, queres ver? – Goza o lobo, a rir.
- Não vou estar aqui a discutir contigo, pêlos…
- Ainda querias mais pêlos?
- Estou com demasiado frio, para discutir contigo, óh grosso!
- Grosso? Eu…? Coitadinha!
- Não, eu!
- Não percebes nada de estilo!
- Tu ainda menos!
- Está a falar o roto do esfarrapado.
- O meu pêlo é muito mais bonito que o teu.
- Já te viste ao espelho?
- Sim, porquê?
- Parece que apanhaste um choque eléctrico.
- Estou arrepiada, com tanto frio.
- Com essa camisola e tens frio? És mesmo farpelas.
- Tens a mania que és muito forte, não?
- E sou!
- Muito…lá porque tens tamanho, não quer dizer que tenhas força.
- Mas tenho as duas coisas, enquanto tu…só tens palermice nessa cabeça.
- Ai…! Já estás a baixar de nível. Tu no fundo, gostas de mim.
- Ui, muito! – Diz o lobo a rir.
- Falas de inveja! – Diz a raposa.
- És tão jeitosa, e estás metida na toca…nem apareces para cumprimentar os visitantes.
- Que visitantes?
- Ora, ora…estes! A quem tu disseste para esperarem…!
- Áh! Já me esquecia deles…desculpem amigos!
- Ai…Dai-me Santa Paciência! Óh bichos peludos, com licença…fiquem para aí a discutir um com o outro, que nós temos muito caminho pela frente.
- Mas, mas…esperem! Onde vão a esta hora? – Pergunta a raposa
- Não tens nada a ver com isso. – Responde o boneco de neve.
- Desculpa, não queria ofender! – Diz a raposa.
- Deixa-nos em paz. – Diz outro boneco de neve.
- Óh, por favor…fiquem! – Implora a raposa.
- Para quê? – Perguntam todos.
- Não fiquem…ela vai usar-vos para matar a sede, e a fome. – Avisa o lobo.
- Ai, ai, ai…francamente! Lobo metido! – Resmunga a raposa.
- Temos mais o que fazer… - Diz outro boneco de neve.
- Esperem, por favor! – Volta a implorar a raposa.
- O que queres? – Pergunta o boneco da frente, chateado.
- Fiquem!
- Não tens nada a ver com isso.
- Porque vão embora?
- Porque não há neve! – Suspiram os bonecos de neve.
- Aqui já começou a cair. E vai cair ainda mais! – Diz a raposa.
- Isso é verdade! – Diz o lobo, a uivar.
- Vêem?
- Os meus ossos parecem uns canhotos no lume! Credo! – Suspira o lobo.
- Claro, a idade passa para todos…velhote, de pêlo branco. – Diz a raposa a rir.
- Olha lá o respeito…! Arranco-te já esse casaco. – Diz o lobo zangado.
         Os bonecos riem.
- Estes dois adoram-se! – Comenta um boneco a rir.
- Ui…! Muito. – Dizem o lobo e a raposa a rir.
- Até nos damos bem…as nossas discussões são a brincar! – Diz o lobo.
- É. São trocas de carinho! – Diz a raposa a rir.
- Pois! – Dizem os bonecos em coro.
- Mas continuando…fiquem, que aqui vai cair muita neve. – Insiste a raposa.
- A sério? – Pergunta um boneco de neve.
- Sim, é verdade. Eu já a sinto no chão. Esperem que vai valer a pena! – Diz a raposa.
- Huummm… - Dizem os bonecos em coro.
- Sim, fiquem! – Diz o lobo.
         Os bonecos de neve olham-se.
- Bem…se vai nevar…é disso que precisamos. – Diz um boneco de neve.
- Mas olha que se estiverem a mentir, vamos embora…e ficamos muito tristes. – Diz outro boneco de neve.
- Sim, porque é muito triste, não termos trabalho! – Diz outro boneco, triste.
- Aqui, garanto-vos que não vos vai faltar trabalho. – Diz a raposa.
- Instalem-se, e esperem pelo sol. – Diz a raposa.
- Está bem, ficamos. – Dizem os bonecos.
         E os bonecos passam a noite na conversa com a raposa e com o lobo. Os dois tinham razão…sem darem por isso, acumula-se uma camada de neve com alguns sítios, onde foram metros de altura.
Com os primeiros raios de sol, os bonecos de neve vêem tudo cheio de neve, e fazem uma grande festa…escorregam na neve, andam pelas grossas camadas, atiram neve uns aos outros, entre muitas gargalhadas, e brincadeiras com a raposa e com o lobo.
Quando as crianças acordam, fazem uma grande algazarra e vão a correr brincar com a neve, brincam com os bonecos já feitos, e fazem outros, escorregam, riem, atiram neve uns aos outros, tiram fotografias, enfeitam os bonecos, destroem-nos e constroem-nos de outra maneira, e nem sequer vão à escola porque a neve não deixa entrar.
         Mas no meio de tanta alegria, acontece uma coisa muito estranha. Aparecem várias marionetes de madeira, aos gritos, envolvidas em chamas, e deitam-se na neve para apagar as chamas. Todos ficam a olhar para elas.
- O que é isto? – Pergunta uma criança.
- Fósforos gigantes! – Responde outra criança.
- Fósforos gigantes? – Perguntam todas em coro.
- Sim! – Responde a criança.
- Estão a arder! – Repara outra criança.
- Nunca vi nada assim…! – Dizem todas em coro.
- De onde vêem? – Pergunta outra criança.
- Não está nada a arder! – Diz outra criança.
- Pois não! – Dizem todas.
         As chamas apagam-se, e ficam pedaços de madeira queimados, e cinzas na neve. As crianças vão ter com elas, e perguntam-lhes o que aconteceu.
- O nosso dono queria acabar connosco…por causa de uma vingança. – Diz uma marioneta a respirar muito depressa.
- O quê? – Perguntam as crianças horrorizadas.
- Sim! – Respondem em coro.
- É verdade! – Confirma outra marionete.
         As crianças ouvem atentamente a história das marionetes, e ficam tristes. Como estão um pouco destruídas, as crianças decidem levá-las ao Avô Nónó, um senhor muito querido da aldeia, carpinteiro, e pedem-lhe para concertá-las.
O Nónó põe mãos à obra, e reconstrói todos os pedaços que as marionetas perderam. Estão mais lindas do que antes, e novas. Elas ficam a descansar na casa do velho Nónó, juntamente com muitas outras marionetas.
No dia seguinte, acontece outra coisa muito estranha…a neve tinha derretido, e tudo estava cheio de água. Ninguém se tinha apercebido, mas durante a noite choveu muito, e a neve foi juntamente com a água.
A neve e os bonecos de neve, que foram parar a um sítio onde havia muita humidade concentrada, misturada com fumos e maus cheiros, nuvens negras, e ruídos de todo o tipo. Mesmo com muito frio, não havia neve.
Os bonecos não se sentiram nada bem…havia muita poluição, por isso, deixaram-se ir com a água, e foram parar a um lago completamente congelado. Com uma grossa camada.
Não sabiam onde estavam, mas pelo menos aí sentiam-se bem! Tinham neve por todo o lado, e conheceram outros bonecos de neve que lhes falaram maravilhas daquele sítio…principalmente das lindas meninas que gostavam muito de os vestir e acariciar.
A raposa e o lobo ficaram muito tristes, quando perceberam que os amigos tão recentes, já não estavam lá…
- Óh…o que aconteceu? – Pergunta o lobo.
- Não sei. A neve desapareceu!
- Óh…não pode ser…ainda ontem tínhamos aqui tanta neve, e hoje não temos nada? – Pergunta-se o lobo muito surpreso.
- Não sei…será que sonhamos que havia neve? – Pergunta a raposa pensativa.
- Mas…então eu e tu, tivemos o mesmo sonho?
- Sim…pode ter sido!
- Mas não pode ser…como é que tivemos os dois o mesmo sonho?
- Não sei…se calhar, porque era uma coisa que nós os dois queríamos que nos acontecesse!
- Tu querias que tivesse nevado?
- Sim, claro. E tu?
- Eu também, mas não me lembro de ter dormido…! E tu dormiste?
- Ah…não sei. Estou confusa! Eu…achava que não tinha dormido…mas…agora já não sei.
- Mas…e se tu sonhaste com neve, eu também…tu sonhaste que tínhamos conhecido uns bonecos de neve?
- Sim!
- Eu também!
- Não…acho que não íamos sonhar os dois a mesma coisa! Nem na mesma noite.
- Achas que não?
- Não!
- Mas desapareceu tudo tão rápido…
- Pois foi…! Óh…pareceu mesmo um sonho!
- Onde estão os bonecos…?
- Não sei! Devem estar noutro sítio.
- Ou foram levados pela água?
- Foram levados pela água, para outro sítio!
- Achas?
- Sim.
- E aqueles fósforos gigantes que apareceram aqui a arder?
- Áh! Não sei. Também os viste?
- Vi.
- Eu também.
- No sonho?
- Não sei se foi no sonho, ou se foi mesmo real…mas eu acho que foi mesmo real!
- Eu também acho que sim.
- Olha os fósforos grandes ali…com o Nónó.
- Áh! Pois é!
- Será que ele sabe dos bonecos de neve?
- Vamos perguntar-lhe!
         Chamam o Avô Nónó, e perguntam-lhe. Contam-lhe as suas preocupações.
- Não…não foi um sonho que tiveram. Aconteceu mesmo! – Diz o Avô.
- A sério? – Perguntam os dois.
- Sim. Foi mesmo verdadeiro.
- Você também viu?
- Vi.
- Mas onde está a neve?
- Desapareceu!
- Tão rápido?
- Sim, porque choveu!
- Áhhh! – Respondem em coro, surpresos.
- E a neve?
- A neve foi com a chuva.
- Para onde? – Pergunta o lobo.
- Não sei…para sítios aí à frente.
- E os bonecos? – Pergunta a raposa.
- Também não sei…mas foram levados pela água, com certeza.
- Mas porque é que a água tinha de fazer isso?
- Não sei. – Responde o Avô.
- Que grande maldade! – Suspira a raposa.
- Maldade, porquê? – Pergunta o Avô?
- Porque tirou-nos os amigos que tínhamos conhecido há tão pouco tempo, mas já estávamos a gostar muito deles! – Diz a raposa.
- Queridos…isso faz parte da vida…!
- Como?
- Temos amigos, que estão connosco pouco tempo, mas ficam para sempre no nosso coração, e nas nossas recordações mais felizes!
- Mas não sei onde é isso? – Diz a raposa.
- Dentro de nós. – Responde o Avô.
- Dentro de nós? Mas…é alguma casa? – Pergunta a raposa.
- Não…é no nosso coração…na casa das emoções…! – Diz o Avô.
- Áh! – Respondem os dois.
- Mas isso não é a mesma coisa! Nós queríamos tê-los aqui, como está o Avô connosco…! – Suspira o lobo.
- Entendo a vossa tristeza, e a vossa vontade…talvez em breve se voltem a encontrar…e enquanto isso, fiquem felizes, ao lembrarem-se deles…isso aquece-vos, e dá-vos esperança para reencontrarem os vossos amigos. – Explica o Avô.
- Acha que eles gostaram de nós, Avô? – Pergunta o lobo.
- Claro que sim! – Diz o Avô.
- Acha que eles ainda se vão lembrar de nós? – Pergunta a raposa.
- Com certeza! Os amigos, mesmo longe, nunca se esquecem! – Diz o Avô.
- Óhhh…já tenho saudades deles…! – Suspira a raposa.
- Animem-se! Eles voltarão. – Promete o Avô – Bom…tenho de ir trabalhar. Até logo.
- Até logo…! – Respondem em coro.
E as crianças ficaram ainda mais tristes, porque já podiam voltar para a escola, e não havia mais neve para brincarem.
As marionetes ficaram a viver na casa do simpático Nónó, que lhes deu trabalho, e onde conheceram muitas outras marionetes. Todas fizeram muitos espectáculos com o Nónó que as tratava como filhas, com muito cuidado, carinho e delicadeza.
         O tempo passa, e volta a nevar intensamente. No sítio onde estão os bonecos de neve, chove torrencialmente, e derrete a neve toda. Os bonecos apanham a boleia da chuva e vão ter outra vez ao jardim onde conheceram o lobo e a raposa. Na manhã seguinte, o lobo e a raposa, recebem o melhor presente que jamais imaginavam receber…o regresso dos amigos bonecos de neve, que os abraçam fortemente, e beijam, rebolam na neve, e brincam juntos.
- Ai, que maravilha! Pensei que nunca mais nos íamos encontrar! – Diz a raposa feliz.
- Eu também! – Diz o lobo.
- Nós sabíamos que um dia destes viríamos outra vez aqui parar. – Responde um boneco.
- Tivemos muitas saudades vossas, amigos! – Diz a raposa a suspirar, e a sorrir.
- Nós também! – Dizem os bonecos em coro.
- Queríamos mesmo muito que voltassem! – Diz o lobo a sorrir.
         Abraçam-se outra vez, e beijam-se outra vez.
- Agora não vamos pensar mais nisso, vamos mas é aproveitar este momento de reencontro tão feliz, e tão bom! – Diz o lobo, sorridente.
- Isso mesmo! – Respondem todos.
- Vocês estiveram sempre no nosso coração, e no nosso pensamento! – Diz um boneco de neve.
- E vocês no nosso! – Responde o lobo e a raposa.
- Mas agora estamos aqui…em gelo…outra vez convosco, e isso é o que interessa! – Diz outro boneco.
         E a diversão continua. Os bonecos decidem não sair mais daquele jardim, e todos se tornam amigos inseparáveis.

FIM
Lálá
(7/Novembro/2013)


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