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quarta-feira, 7 de junho de 2023

O deserto das águias

 

    Era uma vez uma águia gigante, quase do tamanho de um adulto quando pousada.        Uma espécie rara, num mundo estranho, muito seco, um deserto onde pensar em vida seria praticamente impossível.

    Nesse lugar não havia qualquer vestígio de água. e sombra só existia numas grutas misteriosas, fundas, cavadas nas rochas igualmente secas. 

    Só elas e a areia poderiam resistir, mas será que tinha visto água alguma vez? Ou seriam árvores árvores que não precisavam de água? Todas precisam, quem as regaria? Estava no segredo de algures naquele sítio. 

   Entretanto...alguma coisa de mágico aconteceu, totalmente inesperado! A águia, num dos seu voos viu esse deserto e quis senti-lo. 

   Pousou na areia, em silêncio, com os olhos a girar, um ar quente que quase não conseguia respirar, a areia fervia, o sol parecia um vulcão em ebulição. 

   Não se ouvia um único som, estava um silêncio que até arrepiava. 

- Nem um sinal de vida! - comenta a águia 

   Levantou voo novamente, pensativa, a voar devagar e a observar aquele espaço que não era muito grande, mas nunca devia ter sido explorado. 

   Apanhou algumas sementes, espalhadas no chão, não sabia de quê, levou-as no bico e largou-as no deserto. 

- Não sei se vai vingar...mas farei de tudo para que sim! Vou trazer água a seguir. 

     Tapou as sementes com as patas, deixando a marca para saber onde estavam. Voou novamente, pegou num cântaro meio partido que estava à beira de um caixote do lixo. 

    Segurou-o no seu bico, foi a uma fonte de um jardim da cidade, encheu o cântaro até onde foi possível, e levou-o, seguro pelas patas até ao deserto.

      Despejou a água em cima das sementes, sorriu e disse: 

- Vamos ver que surpresas isto trará! 

    Passaram-se vários dias, a águia levava lá água todos os dias, e até teve companhia de outras águias, tão grandes como ela, que quiseram ajudá-la por acharem o que gesto tão bonito. 

    Tudo continuava na mesma: seco, com as mesmas cores, silencioso, mesmo assim as águias não desistiram. Outra águia acrescentou sementes que não sabia se eram as mesmas que já lá estavam ou se eram outras. 

     Todos os dias, várias vezes ao dia, as águias encheram os cântaros e outros recipientes que encontraram, despejaram a água e esperaram.

   Ao fim de algum tempo sem sinais, algumas águias estavam quase a desistir de achar que ia nascer alguma coisa naquele espaço. Mesmo assim, continuaram o seu trabalho com dedicação. 

    Um dia em que foram regar, ouviram uma voz que soou como um grito vindo das profundezas da gruta ou da terra: 

- Continuem...a vossa recompensa está a chegar! 

    As águias estremeceram, ficaram quietas no mesmo sítio, olharam umas para as outras: 

- Ouviram alguma coisa? - pergunta uma águia, a medo 

- Sim! - respondem todas 

- Ouvi uma voz. 

- Eu também. 

- Boa! Achei que estava a imaginar, ou que era do calor! - disse outra 

- O que ouviste da voz? 

- Para continuarmos que a nossa recompensa está a chegar. 

- Isso! - Disseram todas 

- Eu já estava a começar a pensar que aqui não iria nascer nada. 

- Olha que eu também! 

- Mas de onde veio esta voz?! Não está aqui ninguém. 

- Pois, também não vejo ninguém! 

- Parecia uma voz das gruta, ou das profundezas da terra. 

- Sugiro que demos por aqui uma volta para ver se vemos alguém. 

- Boa. 

    As águias caminham levemente, sem pressa, por cima da areia, atentas a tudo o que as rodeava. Nem sinal. Tudo silencioso, ficaram intrigadas com aquela voz. 

    Mais uns dias passaram e quando iam regar, veem umas cabecinhas verdes, umas agulhinhas de fora muito finas, que pareciam ser pequeninos pinheirinhos, uns botõezinhos de flores, ainda fechados, e outras pequeninas futuras árvores. 

    Todas as águias regaram e aplaudiram, tocaram com as patas nas sementes. Continuaram a sua dedicação até que chega a recompensa. 

     Numa noite, a voz que tinham ouvido, vai em forma de raio de trovoada, e transforma-se numa mulher transparente com estrelas. 

   Percorre todo o deserto, e ao passar por cima das sementes, todas começam a abrir. Uma por uma, sai da terra a cantar, a rir, a esticar as pétalas como se estivessem a espreguiçar-se, sacodem-se. 

      Nascem dezenas de flores com cores de uma beleza rara, nunca antes vista. Arbustos, árvores de frutos, palmeiras crescem rapidamente, e até um rio de água vem à superfície. 

      Tudo isto só é visível com o nascer do sol, e a misteriosa voz não cabe em si de encanto. Cumprimenta e acaricia flor por flor, elogia-as, solta exclamações de surpresa, delicia-se com as árvores e a sombra que elas provocam. 

  Chegam as águias, e soltam grandes exclamações, encantados. 

- Áh! Como é que tudo isto nasceu aqui? 

- Ainda ontem não acreditava que fosse possível nascer aqui o que quer que fosse e hoje está repleto de flores tão bonitas, árvores. 

- Maravilhoso, não é? É a recompensa da vossa dedicação e amor! Plantaram-nas, regaram e o carinho com  que as trataram deu nisto! - diz a voz 

- Nunca pensamos que tal ia acontecer...neste espaço. 

- Nem sabíamos de que eram as sementes. 

- Mas...espera aí...quem és tu? 

- Sou aquela que vos disse para continuarem e a vossa recompensa estava a chegar. Eis a recompensa. Agora...por favor não as abandonem! Continuem a cuidar delas, a dar-lhes atenção e carinho. Existe água debaixo delas, a que vocês ofereceram, mas elas gostam de sentir a vossa presença. 

- Obrigada! - dizem as águias 

- Voltaremos. - garante outra 

- Também estarei aqui, mas o principal trabalho é vosso. Conto convosco! - diz a voz 

     As águias cumprem o prometido, voltam todos os dias para o que antes era um deserto, levando água, regando as flores e as árvores como antes. 

  Ficam lá a descansar, deliciadas com aquele espaço, deitam-se na areia à sombra das árvores e das palmeiras, apreciam a beleza das flores, tocam nas pétalas, conversam com as flores, e levam para lá recipientes com água para beberem, refrescar-se. 

    A misteriosa voz também marca presença e fazem festas. As flores merecem ser bem tratadas com carinho, dedicação, regadas com água e com amor. Este deserto foi transformado num jardim. 

    Imaginem que vocês são águias, ou como meninos(as) e adultos, em que transformavam este lugar? O que plantavam? Acham que a voz misteriosa tem razão na mensagem que transmitiu às águias? Porquê? 

    Vocês cuidam bem das flores e das árvores? Regam-nas? Falam com elas? E os adultos que vos acompanham cuidam bem das flores? Como? 

    Podem deixar as vossas respostas nos comentários. 

                                          FIM 

                          Lara Rocha 

                         6/Junho/2023 


    

            

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