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domingo, 18 de abril de 2021

Achamos que somos de ferro -monólogo para adultos e adolescentes


 


Às vezes achamos que somos de ferro! Sim, de ferro, pois claro! Isso queríamos nós, quando fazemos planos para uma manhã, a pensar que a manhã vai render muito, tem muitas horas para tudo o que planeamos, ou achamos que somos capazes. 

      Isso mesmo, achamos que somos de ferro e que tudo se vai cumprir, com 50 mil tarefas ou textos de mais de 400 páginas, como achamos que somos de ferro, o que nos vai impedir? 

      É que não existem obstáculos nem contratempos que nos atrasam, como a falta de vontade em começar, o cansaço, a triateza, o mau ambiente de trabalho, as relações de rivalidade, competição, os conflitos, o trânsito, os prazos apertados, tudo é para o mês anterior ou com sorte, para o dia seguinte, mas vamos lá assumir: somos de ferro, vestimos uma armadura que não deixa passar nada porque é de ferro e nós também! 

     Que importância tem se estamos cansados? Qual cansaço qual quê? É preciso ganhar o nosso dinheiro, mesmo que pouco, e não interessa se a família fica para segundo lugar?! 

     Todos precisamos de dinheiro, a família incluída, e até agradecem porque assim podemos dar-lhes todos os luxos que eles querem. 

     Nada contra mas, eles começam a cobrar... nas notas, no comportamento, no stress. Não tem qualquer problema, nós somos de ferro e eles também, os medicamentos resolvem, reforçam o ferro! 

     Somos de ferro, não estamos cá com mariquices. A familia está assegurada, é um dado adquirido, eles compreendem que não lhes podemos dar atenção, porque estamos a trabalhar, para termos uma vida boa! 

     Uns comprimidinhos para crianças, adolescentes e pais resolvem, e os professores também são de ferro, são eles que têm de assumir a responsabilidade pelo comportamento de stress,  pela baixa nas notas e desinteresse. 

      Os professores são de ferro, eles é que passam mais tempo com os pequenos, eles é que têm de substituir os pais, porque estes são de ferro, estão a trabalhar para poder ter os meninos eme1500 atividades por dia, desde manhã até dormir, porque têm de ser os melhores em tudo, têm que ter as notas mais altas que o do lado. 

     Mas como não sobem as notas com tantaa explicações, apoios, centros de estudo, escolas de tudo e mais alguma coisa? 

      Eles são de ferro, tem de ser de ferro, eles aguentam, são jovens, estão cheios de vida, energia e saúde, se for preciso uns comprimidos ajudam, nem que seja pior que droga e tenha mais efeitos secundários do que droga, mas é para bem deles e eles agradecem! 

     Somos de ferro e estamos a trabalhar para eles. Brincar, descansar, parar uns minutos, relaxar, pintar, desenhar, observar a natureza, conversar com eles, contar-lhes histórias, dar-lhes colo, eatar com eles sem mais nada, só nem que seja 30 minutos depois do trabalho. 

      Qual quê? Tudo isso é perda de tempo para todos! Os pais levam trabalho de casa, os filhos levam tanto ou mais trabalho de casa depois de 1 dia inteiro de escola em escola, de supostas aprendizagens que os vão tornar os melhores. 

      É preciso trabalhar, o resto são fantochadas. Os filhos têm tudo, só precisam de aproveitar esse apoio, para serem os melhores, terem altas notas. 

       Nem que não sejam humanos, e uns joguinhos eletrónicos que não ensinam absolutamente nada, deixa-os sossegadinhos, porque os pais têm de trabalhar. 

     Eles sao de ferro, aguentam, são novinhos, cheios de energia. Não levantam as notas, não é pelo cansaço coisa nenhuma, nem por não brincarem, ou andarem o dia todo com tantas tarefas quanto os adultos... Claro que não! 

      Eles são de ferro, aguentam! Os grandes também aguentam. A culpa é dos professores que não sabem ensinar. 

      Os maus comportamentos na escola, são culpa da escola, a escola é que tem de saber educar e ensinar como se devem comportar, claro! 

     Todos aguentamos! Pois, somos de ferro, enquanto o ferro dura, mas ele enferruja, e o corpo cobra. Problema dele. 

       Achamos que somos de ferro e que conseguimos com toda a certeza alcançar os nossos objetivos, além daqueles de sermos sempre perfeitos em tudo, nunca falhar, nunca errar porque o outro passa à frente se revelamos a mais pequena falha. 

       Somos de ferro, e de certeza que aguentamos quando nos fecham as portas, quando nos criticam, quando alguém passa à nossa frente só porque teve mais umas décimas. 

       Somos de ferro porque lutamos até não podermos mais, mas temos de conseguir, dê por onde der, porque temos que agradar aos nossos pais, eles investem tanto em nós, financiam-nos tudo, a nossa obrigação é sermos os melhores em tudo, nem que para isso a nossa saúde fique em risco. 

       Que chechada... nem pensar em falhar, errar ou termos notas tão baixas. Porque somos de ferro, aguentamos, e eles merecem. Somos de ferro?! 

       Somos de ferro, quando usamos máscaras, quando disfarçamos emoções para os outros não verem, quando frustram as nossas expectativas seja de que tipo forem. 

       Somos de ferro? Não. Somos feitos de carne e osso, somos humanos com sentimentos, emoções, cansaços, desilusões, frustrações, inquietações, medos, irritações, responsabilidades, formulamos expetativas e planos, propostas, sonhos que não se realizam, quando perdemos as nossas batalhas, quando cedemos ao cansaço, à desilusão, ao sem sentido das coisas que nos acontecem, às injustiças!

       Somos metade ferro, enquanto conseguinos lidar mais ou menos bem com os acontecimentos, e metade humanos quando reconhecemos que afinal não somos de ferro, e sim, de carne e osso com fracassos. 

        As crianças são de ferro? Não, nem de próximo! Elas precisam de ser humanas, de pais, de brincar, de serem melhores pessoas e seres humanos, do que os melhores na escola. 

      As crianças não são de ferro, são humanos, frágeis, não querem remédios, nem mil atividades ou apoios de estudo. 

      Querem os pais, querem a sua atenção, a sua presença, a sua interação com eles e brincar, tempo para respirar, relaxar! 

      Não somos de ferro, embora às vezes tenhamos de ser ou parecer mas não somos! Em algum momento tudo o que somos vai atravessar o ferro de que parecemos ser, independentemente da nossa vontade! 

      Não há como negar, não há como esconder, nem como não sair debaixo dos ferros. Todos, desde bebés aos Avós, podem parecer de ferro mas mais cedo ou mais tarde o ferro derrete, enferruja. 

        Não vale a pena fingir que somos o que não somos, e sermos o que somos, com aceitação. A aceitação dói muito no início e às vezes dura vários dias a passar, mas não somos de ferro, por isso mais vale vive-lo! 

        Gostaríamos de ser feitos de ferro, pelo menos não sofriamos tanto, porque lidar com outros seres humanos é difícil, provoca desilusão, e é difil aceitar que falhamos muitas vezes, que poucas vezes conseguimos cumprir os nossos planos  e a nossa vontade de agradar, de sermos perfeitos, de sermos sempre os melhores.

       De que vale sermos os melhores na escola, se depois falha a saúde e o humanismo no trato com os outros? 

       Vale a pena sermos de ferro? Vale a pena usarmos máscaras de ferro com medo de não agradar aos outros? Vale a pena quererem transformar os vossos filhos em ferro? Não somos de ferro, somos humanos! 

Fim 

Lara Rocha 

18/Abril/2021 

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