Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 1 de março de 2021

Meu netinho...







Uma Avó escreve uma carta num caderno, para aliviar a sua dor... 
        Meu netinho, meu amor, minha estrelinha, minha alegria de viver! Que saudades que tenho tuas, é por isso que olho centenas de vezes por dia, para as centenas de fotografias desde que te vi a primeira vez! 
        Uma maravilha, uma perfeição, um ser inocente! Lindo, perfeito! Pagava milhões, se tivesse, para te ter outra vez nos meus braços, esse teu corpinho tão pequenino, delicado, perfumado! Que delícia. Como eu era feliz, desde o dia que nasceste, trouxeste um novo brilho ao meu olhar e ao meu sorriso.
        Este inferno há-de passar, rezo todos os dias para isso, por ti, para ter saúde e poder voltar a abraçar-te, poder beijar-te novamente, sentir a tua paz enquanto dormes nos meus braços, e a tua energia, alegria, risinhos que iluminam a minha casa toda, quando ficas comigo. 
        Nunca pensei termos de nos separar assim, só nos podermos ver à distância, estamos tão perto, e não nos podemos abraçar, nem beijar. Como dói saber que estás tão perto, e que também gostavas de estar comigo, mas um maldito assombrou a vida de toda a gente. 
        Não merecíamos! Nem eu, que já não sou assim tão nova, nem tu que és tão pequenino, e queres amor de toda a gente que te rodeia. Mereces amor, e mesmo não nos podendo tocar, sabes que esta tua Avó adora-te, ama-te! 
        Ai, meu amor, para os próximos tempos, só quero que tudo isto passe, e que tenha saúde para voltar a tocar-te, a sentir-te, a cheirar-te, a abraçar-te, a embalar-te, a contar-te histórias e a brincar contigo. 
        Ainda quero mostrar-te tanta coisa bonita que existe à tua volta, ensinar-te muito, e a tua mãe também, claro que sim, dela também tenho saudades, mesmo falando-nos todos os dias, não há tecnologia que pague a presença, o calor da proximidade, o toque, o abraço, o beijo, os sorrisos...como tenho saudades dos sorrisos, do teu, de todos, até do meu, porque como só nos vemos nas câmaras e telefones, os sorrisos são mais incompletos, falta a outra parte, a melhor de todas! 
        O toque, o abraço, ter-te no meu colo. Que saudades, meu anjinho...também rezo ao teu anjinho da guarda, ao meu, ao teu, ao da tua mãe, ao de todos os que amo, para que nos protejam e que logo, logo, possamos voltar a estar perto, no melhor do mundo, que são os abraços, os afetos. 
        Aguenta, meu amor, às vezes fico sem forças para aguentar tantas saudades e a dor da falta que a tua presença me faz. Sinto saudades daquela Avó orgulhosa, vaidosa, feliz, toda luminosa que mostra às amigas, a obra perfeita que tem, além da filha. 
        Nunca nenhum de nós pensou que um maldito vírus que nem se vê, nos tirasse tanta coisa boa, que tínhamos como certa, para toda a nossa existência. Mas este demónio já cá anda há um ano...e roubou-nos tanta coisa...para quê? Porquê? Como foi capaz...levou tantas vidas que ainda tinham tanto para viver, separou todas as famílias, os avós dos netos, que são saúde para eles, os pais dos filhos, que são o melhor que eles sempre tiveram, e amigos, não menos importantes. 
        Roubou-nos a liberdade, a capacidade de sorrir, e o que todos precisamos....maldito! Além de milhares de vidas, está a transformar-nos cada vez mais em extraterrestres, que eu achava não existirem, mas existem, somos todos nós, com aquela porcaria na cara, que só se vê olhos, que horror... gosto de olhos, mas não desta maneira, forçada, faz muita impressão, ver caras incompletas, gente a fugir de gente, quando era esperado que nos aproximássemos! 
        Meu amor...acho que para já ainda não compreendes bem como é mau não te poder abraçar, não te poder sentir nos meus braços, nem poder sentir a tua pele, o teu cheiro, os teus cabelos. Estou a escrever, para não chorar quando falar contigo ao telefone daqui a bocado...porque há dias em que a saudade é tanta, misturada com raiva por nos tirarem o que mais amamos, que só dá vontade de desaparecer, mas quero continuar a ter saúde e a ver-te! 
        Quero acreditar que daqui a uns dias, tudo vai passar, e que em breve vamos poder abraçar-nos outra vez! Quem inventou os abraços, o amor, os pais, os filhos, os avós e os netos, merecia um  prémio, não este castigo de estar longe de quem mais amamos. 
        Que saudades de brincar contigo, meu anjinho mais lindo, que saudades de te alimentar, e de me rir contigo! Continua a rezar ao teu anjinho, a pôr essas mãozinhas puras, lindas, perfeitas, como a Avó te ensinou, e pede-lhe para tudo isto passar rápido, sei que também tens muitas saudades da Avó, como tu dizes, nem imaginas o esforço que faço para não desabar e chorar como se não houvesse amanhã.
     Mas choro, quando não estás a ver, quando revejo as tuas fotos, e sinto que já há tanto tempo não podemos abraçar-nos, não podemos beijar-nos, nem estar juntos fisicamente. Mas isso vai acontecer! 
A Avó promete, só não sabe quando, infelizmente, mas sim, vai acontecer! 
        Quando as saudades me sufocam, escrevo, para poder falar contigo daqui a bocado, sem me veres chorar, porque mereces é ver-me feliz, como quando sou contigo, e como sou feliz e grata por existires, e fazeres parte da minha vida. 
        Tu mereces ver-me tão feliz, como nós os dois ficamos, e a tua mãe. quando nos vemos todos os dias, as várias vezes por dia. Como vos amo! Meus anjos, meus amores, minhas partes de mim que estão separadas mas juntas no meu coração. 
        Bem, amor, as coisas vão melhorar, e oxalá eu tenha saúde para aguentar, para poder voltar a abraçar-se, a beijar-te, a sentir-se, e a ser feliz contigo. Chega de chorar! Daqui a pouco estás a ligar-me...! Até já! Beijos infinitos da tua Avó, que está perto e longe, longe e perto.   







                                                                        Lara Rocha 
                                                                        1/3/2021 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras