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quarta-feira, 26 de abril de 2017

A casa das gotinhas flutuantes

             
desenhado e pintado por Lara Rocha 


         Era uma vez um grupo de amigas fadas que foram passear e encontraram uma casa muito bonita mas misteriosa, em forma de gota de água. Olharam, e voltaram a olhar, e não lhes pareceu que vivesse lá alguém. Bateram nas janelas e na porta, e não se ouviu nada.
- Acho que é uma casa abandonada. – Repara uma fada
- Também acho! – Confirmam todas
- Vamos entrar? – Pergunta outra fada
- Por onde? – Perguntam todas
- Está ali uma janela com o vidro partido, acho que passamos por lá!
- Boa! – Dizem todas
- Estou curiosa para saber o que há ali. – Comenta outra fada
- OU não haverá nada! – Diz outra
            Entram pela janela que tinha os vidros partidos, olham para todo o lado, com algum medo que aparecesse alguém. Não havia ninguém à vista.
- Olá! – Dizem todas
            Esperaram uma resposta, mas não se ouviu nada. Era uma casa abandonada, onde estavam livros.
- Áh! Afinal parece que vive aqui alguém! – Repara uma fada
- Os habitantes da casa devem ser os livros! – Diz outra
- Quem esteve aqui levou tudo, menos os livros.
- Tantos livros! – Diz outra
        Ficaram muito surpresas ao ver tantos livros numa casa onde parecia não viver ninguém, pois estava tudo cheio de pó, cheirava a mofo, e não havia louças, nem roupas, nem alimentos, só os livros.
            Elas adoravam livros, por isso mal os viram, ficaram logo muito curiosas e soltaram o pó. Quando o pó saiu, elas perceberam que alguns livros falavam da natureza, outros de seres como elas, outros de animais. Uns tinham lindas imagens, outros, só letras. As fadas começaram a folhear, a pegar nas palavras pondo-as a flutuar e a brincar, trocando a ordem das letras e criando novas palavras com quem dançaram.
Depois, pegaram nas imagens dos livros, tiraram-nas dos livros e animaram-nas; puderam entrar em muitas imagens e passear por espaços tão bonitos como aquele onde viviam, conheceram novos animais, e muitas personagens misteriosas, fantásticas, umas simpáticas outras nem tanto.
No fim, devolveram as palavras e as imagens aos livros, soltaram e espalharam milhares de bolas de sabão e gotinhas de água flutuantes que acariciaram os livros sem os molhar e navegaram com as personagens numa grande brincadeira, alegria e gargalhadas.
            De repente, chegam as donas da casa…uma enorme família de gotas de água também flutuantes, leves e muito simpáticas. As fadas ficaram muito envergonhadas, geladas, sem cor e assustadas.
- Ah! São vocês que vivem nesta casa? – Pergunta uma fada
- Sim. – Respondem as gotas
- Óh! Desculpem… - Dizem as fadas nervosas
- Nos…pensamos que não vivia aqui ninguém! – Explica outra fada
- Foi por isso que tentamos...
- É. Como batemos à porta e às janelas, e não respondeu ninguém!
- Desculpem!
- Vimos livros…e…gostamos tanto de livros que quisemos saber como eram.
- É.
- Mas se calhar não devíamos ter entrado…
- Não…
- Mas a nossa curiosidade foi maior.
- Acho melhor irmos embora meninas, já fizemos asneiras.
- Até deixamos aqui umas gotas que também quiseram conhecer e para fazer companhia aos livros.
- Que pensávamos que estavam abandonados.
            As gotinhas desatam às gargalhadas.
- Já acabaram? – Perguntou uma gota
- Sim. – Respondem as fadas
- Ninguém vos perguntou nada. – Diz outra gota
- Mas nós achamos que devíamos dar uma justificação para a nossa malandrice.
- Nada disso! Não precisam de se explicar. Nós compreendemos. – Diz outra gota
- Estejam à vontade! – Diz outra gota
- São muito bem-vindas.
- Nós vivemos aqui, encontrámos esta casa abandonada, e cheia de livros, pareceu-nos um lugar seguro, e é! Aqui estamos abrigados, protegidos, não passamos frio, e os livros fazem parte da nossa família, dão-nos tudo o que tem uma casa, e tudo o que precisamos. É só abri-los onde queremos.
- Entraram e fizeram muito bem. Nós também teríamos entrado, e entramos.
            Uma gotinha abre um livro que fala de jardins e dele salta uma mesa de ferro, cadeiras e muitas coisas apetitosas para lanchar em cima da mesa. Juntam mais cadeiras, abrem a página das flores e enchem o espaço com elas.
- Sentem-se! Fiquem à vontade. Façam de conta que estão na vossa casa. – Convida outra gota
            As fadas estão muito surpresas, sentam-se a medo, um pouco envergonhadas e com sorrisos tímidos. As gotinhas estão ruídas de curiosidade e outra gotinha pergunta-lhes:
- De onde são? 
- Daqui de perto! – Respondem as fadas
            E as gotinhas têm uma longa conversa com as fadas, lancham e riem, e num instante parece que já são todos da mesma família, ou amigos de longa data. No fim vão todos juntos passear pelo resto da imagem do jardim, tão bonito, com flores enormes e cheias de cores.
As fadas ficam rendidas, sopram bolas de sabão e mais gotinhas, e as outras aplaudem, até dançam e fazem um pequeno espetáculo de grande beleza, que deixa as gotinhas encantada com o que vêem.
            As gotinhas brincam nas bolas de sabão de todos os tamanhos, rebolam em cima delas, enrolam-se nelas, deixam-se voar juntamente com as bolas de sabão, até se juntam lindas, gigantescas e raras borboletas que todos adoram.
            Depois, as bolas de sabão e as gotinhas são levadas pelas fadas até uma fonte, desse jardim, as borboletas seguem-nas, dançam com as fadas sobre a água, deixando-a com brilhantes de todas as cores, fazem mais bolas de sabão e brincam na água do lago.
            Esta magia toda, desperta muita curiosidade nos grilos e cigarras que apesar de não se mostrarem, tocam nas suas tocas, os seus instrumentos musicais, que acordam os passarinhos das árvores e começam também a cantar.
            Que lindo! De repente, o que era um jardim numa imagem, ganha vida, cor, alegria, magia e música. O vento que era uma brisa muito suave, no jardim, e parecia estar embalado por todo aquele ambiente, é levado por um vento de fora, muito irritado, as fadas, as gotinhas e as borboletas são sopradas para fora do livro, em redemoinho, às cambalhotas e piruetas. Não se conseguiam segurar, gritavam e tentavam agarrar-se uns aos outros, mas não conseguiam…o vento era mais forte do que todos juntos.  
Fecha o livro, com toda a força, e todos caem no chão da casa, muito tontos, sem se conseguirem levantar, ainda a respirar muito depressa, e a olhar para todo o lado. Era um vento ciclónico, a mando de um bando de corujas mal-humoradas que queriam dormir na árvore ao lado da casa e todos voltam para casa, sem perceber o que tinha realmente acontecido, e em silêncio.
De repente parecia que todos tinham ficado mudos. Ninguém dizia nada, não sabiam o que tinha acontecido. As fadas não conseguiam falar, nem as gotas, por muito que tentassem. Estavam tristes.
O livro abriu-se outra vez, todos sorriram e o vento voltou a fechar; voltaram a ficar tristes e mudos.
- Obrigada! – Diz a coruja lá de fora.
            As gotas perceberam a mensagem…era para não fazerem barulho e as corujas estavam cheias de inveja com certeza. As fadas voltaram para a sua floresta, as gotas lá ficaram, e à noite, convidaram as corujas para conhecerem aquele jardim. Abriram o livro, e passearam com as gotas.
- Uau! – Suspiram todas as corujas  
- Que sítio maravilhoso. – Comenta uma coruja
- Não fazíamos ideia que existiam jardins assim… - Diz outra coruja
- É mesmo bonito! – Suspira uma coruja
- Obrigada, amigas. – Diz outra coruja
- Desculpem termos mandado o vento fechar o livro, mas é que queríamos dormir. – Explica outra coruja
- Como sabem trabalhamos de noite, e de dia precisamos de descansar. – Diz outra coruja
- Estava muito barulho! – Acrescenta outra coruja
- Eram as cigarras e os grilos a cantar…deixaram-se levar pela nossa magia e começaram a tocar, mesmo dentro das tocas, para nos acompanhar. – Diz outra gotinha
- A música era bonita, mas estava-nos a perturbar o sono. – Explica outra coruja
- Se tivesse sido de noite, nós também teríamos entrado na festa, e cantávamos. – Acrescenta outra coruja
- Nós entendemos. – Diz uma gotinha
- Percebemos logo que vos ouvimos agradecer ao vento. – Diz outra gotinha
- Mas assustamo-nos. – Comenta outra gotinha
- Claro! Desculpem. – Dizem as corujas
          Depois dessa noite, as gotinhas levaram as corujas a conhecer outros lugares, abrindo os livros. Todos eram diferentes, especiais, mágicos. Os livros têm essa função para nós: levar-nos a viajar, a conhecer outros mundos, lugares, povos, jardins, lendas, florestas e seres. E fazem parte da nossa família.
            E os vossos livros, o que significam para vocês?

                                                           FIM
                                                           Lálá
                                               (24/Abril/2017)




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