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sexta-feira, 12 de junho de 2015

As casinhas à beira do rio

Desenhado por Lara Rocha 


Era uma vez um pequeno bairro de casinhas construídas quase na berma de um rio com muita água e cascatas. 
Cada casinha era feita de pedra, com janelinhas pequenas, pintadas de cores diferentes, portas, e jardins pequeninos, cheios de flores. 
As casinhas estavam desabitadas, e vazias, mas ninguém sabia quem as tinha construído, nem quem tinha plantado as flores. 
Num dia de chuva torrencial numa montanha muito alta, um pobre urso caiu na água gelada do lago, depois do gelo onde ele tinha pousado, ter partido. Como a água corria muito forte, o urso foi levado para esse cantinho da floresta.
Depois de muitos trambolhões, e tentativas de se agarrar para sair da água, o urso só parou quando chocou com uma rocha. Não sabia onde estava, mas achava que já tinha andado muito. Olhou à sua volta e gostou do sítio. Saiu da água cansado, e viu as casinhas. Espreitou. Estava tudo vazio.

- Acho que não está habitada…vou instalar-me aqui para descansar. Se aparecer o dono, peço desculpa, explico o que aconteceu e saio.

Instalou-se e dormiu o resto do dia, e de noite. Sentiu-se tão bem naquela casinha que decidiu ficar por lá. Foi à procura de coisas para a sua casa e encontrou, inventou, construiu e montou troncos de árvores, raminhos, rolinhos e tudo o que encontrou.

- Está ótimo!

O urso era grande em tamanho mas muito bondoso e às vezes preguiçoso. Adorava estar sentado ou deitado à sombra num barco de madeira que encontrou abandonado. Só quando a fome apertava é que ele despertava e ia pescar no rio.
Uns dias depois o urso ganhou novos vizinhos: uma família enorme de macacos que faziam muito barulho, principalmente quando se zangavam uns com os outros, e ocuparam quatro casas que estavam vazias.
Foram logo simpáticos com o urso, pois sabiam que era melhor para eles serem amigos de um urso, apesar do seu tamanho assustador. Tão simpáticos que quando encontraram fruta, guardaram para si e dividiram com o urso… Para agradecer, o urso em troca, ofereceu-lhes mel.
Fizeram várias festas de convívio e tornaram-se grandes amigos. Uns dias depois, apareceram na floresta duas panteras artistas, cantoras de ópera, à procura de uma casa. Perguntaram aos animais onde poderiam encontrar, e eles disseram que a casa ao lado dos macacos estava livre, ou as outras.
O urso e os macacos ajudaram como puderam as duas panteras a mobilar a casa, ofereceram algumas coisas, e elas foram buscar outras. Para agradecer, as duas cantaram e encantaram todos com a sua voz, e durante várias noites seguintes, elas cantaram.
Depois apareceram quatro casais de chitas e leopardos que se instalaram nas casas ao lado das panteras. Para agradecer aos vizinhos que os ajudaram as chitas e os leopardos foram à caça e dividiram-na com todos…até os macacos comeram e gostaram.
Nas outras casas, instalaram-se lobos e lobas, loucos por festas e músicos que se juntavam com as panteras cantoras. Eram todos amigos, gostavam de partilhar, e conviver uns com os outros.
Um dia, esse bairro onde já todos se davam como família, ganhou novos habitantes que chegaram com um atrelado, puxado por cavalos. Todos os animais ficaram a olhar para eles, um pouco assustados a olhar para eles.

- O que trazem aí? – Pergunta o urso
- A nossa casa! – Respondem todos
- Como?
- Aqui neste atrelado.

Era um bando de morcegos, que tinham encontrado uma casca de caracol abandonada, e aproveitaram-na para ser a sua casa. Quando a tiraram do atrelado, os animais ficaram todos surpresos, e os morcegos todos juntos conseguiram pôr a casinha no sítio muito bem escolhido, à beira do rio. Aí estavam frescos, no escuro e tinham humidade garantida, por isso também não lhes ia faltar alimento.
Os cavalos que transportaram a casa dos morcegos, iam embora, mas chegou um pónei e fez logo amizade com eles, depois de uma tarde cheia de brincadeira, o pónei arranjou uma casinha para os cavalos, na quinta onde vivia, que também ficava à beira do rio.
Ainda ficaram casinhas livres, mas entretanto chegou outro habitante: um palhacinho tristonho, a arrastar os pés, com a trouxa às costas a lamentar-se. Todos os animais ficaram preocupados, e perguntaram ao palhacinho se estava tudo bem, ou se precisava de alguma coisa.
O palhacinho respondeu que estava à procura de uma casinha, e todos se lembraram que essa estava vazia. Levaram-no lá, ele abriu um lindo e luminoso sorriso que encantou todos os animais, e retribuíram o sorriso.
Cada vizinho ofereceu o que podia ao palhacinho que não tinha quase nada, e num instante rechearam a casa com móveis, candeeiros, sofá, cama, mesas, cadeiras, televisão, panelas, fogão, copos, pratos…tudo o que é preciso numa casa, e roupas para ele, toalhas, almofadas, roupas de cama e comida à farta.
O palhacinho ficou tão feliz que brilhava, e não sabia como retribuir todas aquelas coisas boas. Nessa noite, foi a casa de cada um dos vizinhos e ofereceu um abraço, um por um, que deixou todos com as lágrimas nos olhos de felicidade, pelo carinho e sinceridade que sentiram naquele abraço. Gostaram tanto daquele abraço que quiseram repetir, e o palhacinho abriu sempre grandes sorrisos.
     As panteras começaram a cantar docemente, os lobos e as lobas completaram, entraram na festa e tocaram muitos dos seus instrumentos. O palhacinho gostou tanto que entrou na brincadeira com eles, e fez nascer muitas gargalhadas.
Aquele espaço encheu-se de música e alegria, todos trocaram aplausos, carinhos e gargalhadas, todos dançaram e brincaram uns com os outros…até o urso perdeu a preguiça dançou, saltou, rebolou e os morcegos também se juntaram.  
Já se deitaram quase com o nascer do sol, cansados, mas muito felizes, com os olhos brilhantes…parecia que todas as estrelas do céu nessa noite tinham entrado nos seus olhos, e sorrisos, sentiam o coração preenchido, e vão repousar.
Antes de dormir, o palhacinho sentou-se na beira do rio, e ficou em silêncio a ouvir o que ele dizia. O rio usou uma linguagem que só o palhacinho entendeu…mas com certeza disse-lhe coisas boas, porque até o rio estava mais bonito!
O palhacinho agradeceu, sorriu e num gesto de magia, fez aparecer das suas mãos, lindas e grandes flores, fechadas mas com uma surpresa lá dentro…e deixou na beira do rio, com o nome de cada vizinho.
Foi-se deitar. Quando os vizinhos acordaram, viram que aquilo era para cada um eles. Quando pegaram na flor, esta abriu-se e saiu de lá uma borboleta cheia de cor e de luz, que envolveu cada habitante e fez sentir neles um delicioso abraço caloroso, depois, das suas asas saltaram beijinhos, e as borboletas todas juntas, deram as mãozinhas, formando a palavra «obrigado». Outras tantas, formaram um sorriso…
Todos sentiram que foi o palhacinho, e encheram-se de alegria. Para retribuir, prepararam-lhe um piquenique surpresa, com as atuações das panteras e dos lobos e lobas. O palhacinho não saiu mais de lá.
O tempo passou e uns meses depois chega á floresta uma jovem rapariga com um bebé muito pequenino de colo. Vinha com frio, e fome…fraca. O palhacinho ficou cheio de pena dela e do bebé. Acolheu-os na sua casa, deu-lhes de comer, deixou-os tomar banho, e deu-lhes roupa para vestir.
Enquanto os novos habitantes se acomodavam, o palhacinho foi falar com os seus amigos, preocupado, sem saber o que fazer. Decidiram em conjunto mobilar a outra casa ao lado que ainda estava livre, à beira do rio, graciosa, mimosa, pequena, mas muito confortável. Todos ajudaram, cada um naquilo que podia e no que sabia, e num instante a casa fica completa. Até para o bebé arranjaram.
A jovem passou para essa casa com o seu bebé, mesmo ao lado da casa do palhacinho, feliz, e sempre acompanhada, os vizinhos nunca a deixaram sozinha, estavam sempre preocupados, e ajudaram-na muito.
Os dois palhacinhos foram trabalhar para os arredores da grande cidade de onde tinham saído. Lá foram sempre muito bem recebidos, muito aplaudidos, e valorizados, e o bebé ficou algumas vezes com os vizinhos.
Todos eram uma verdadeira família, faziam muitas festas e sempre muito bondosos uns com os outros. As casas que começaram por estar vazias, ficaram todas habitadas, e este sítio á beira do rio era amado, respeitado e protegido, cuidado, tal como os seus habitantes entre si.

E vocês? Se tivessem uma casinha à beira do rio, como é que ela seria?
Que outras casas haveriam, ou como seriam?
Quem gostariam de ter como vossos vizinhos?

FIM
Lálá
(11/Junho/2015)


  

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