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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

OS GATINHOS E AS LUZINHAS

      pintado a aguarela por Lara Rocha 


      Era uma vez um gatinho que vivia numa a com uma grande família. Era muito bem tratado e também tratava muito bem dos seres humanos. 
    Uma noite de Verão, quando todos já dormiam, o gatinho ficou na sala, e acordou com um reflexo de luz no seu focinho. Ele acorda assustado:
- O quê? Já é dia? Não pode ser…passou tão rápido a noite…
             Espreguiça-se, boceja, mastiga em seco, e olha para a sua frente.
- Afinal…acho que estava a sonhar.
             Levanta-se e gatinha com as suas patinhas levemente pela sala. Quando olha para a varanda vê uma luz forte redonda. Aproxima-se dos vidros.
- Áh! Será que os donos se esqueceram da luz acesa…? Não! o candeeiro está apagado. Mas…há uma coisa muito estranha a acontecer aqui. Aquela bola de luz está a…pairar? Só pode…como é que eles conseguiam segurar aquela bola? Que luz tão linda…! Áh!
              Ele sai para a varanda e está outro gato deitado no muro.
- Mas que calor! Ufa! Éh lá…um visitante indesejado? Olha aquele a fazer-se de convidado…! Mas que atrevido. Ei…óh…o que é que estás aí a fazer. Esta casa não é tua.
- Desculpa! És tu o dono da casa?
- Sou.
- Isso querias tu. Eu sei quem mora aqui. Eles já me alimentaram muitas vezes, porque eu sou vadio…e às vezes passo muita fome. Dão-me mimos.
- A sério, ou era o que tu querias?
- A sério! Eles deixam-me estar aqui.
- Vê lá o que fazes.
- Eu estou sossegado. Respeito os donos.
- Eu também.
- Eu sou da paz! Já moras aqui há muito tempo?
- Sim.
- Como é que eu nunca te vi antes.
- Não sei. Deverias andar a dormir ou a vaguear por aí.
- Olha, que luz é aquela?
- São todas as luzes da cidade, das casas, das ruas…
- Sim, está bem, mas…aquela ali…redonda, enorme… que está a pairar.
                O gato vadio dá uma gargalhada.
- O que foi? Disse alguma piada?
- Sim! – Ri outra vez – Essa luz não está a pairar, nem é uma lâmpada. É a Lua cheia. Está muito longe.
- Áh! Como é que sabes?
- Ora…eu sou vadio mas estudo, e convivo com seres humanos e outros gatos…toda a gente sabe que é a Lua.
- Olha, eu não sabia, e sou gato.
- És um gato chique…de casa…nunca ouviste os teus donos a falar dela?
- Não. Por esse nome, não me lembro.
- Tu deves ser muito distraído. Ninguém resiste a esta luz! Nem seres humanos, nem gatos…todos se rendem aos seus encantos. Ainda és muito novo. E os teus donos quase não abrem as portas nem as janelas…por isso nunca viste esta luz.
- Uau! É mesmo bonita.
- Sim! As pessoas dizem que essa luz inspira…
- Tem pulmões?
- (ri) Que disparate…claro que não tem pulmões. Mas a sua luz é tão especial que as pessoas ficam com mais ideias. Os artistas que pintam e escrevem…! Ela às vezes tem formatos diferentes.
- Áh! E…aquelas luzinhas todas, tão pequeninas a piscarem perto, e à volta dela, naquele espaço todo, o que são?
- Mosquitos, queres ver? – Desata a rir – São as estrelas.
- Áh! Estrelas já ouvi falar.
- Pois. Os meninos pedem-lhes desejos.
- Sim, é isso mesmo…é daí que conheço.
- Mas também estão muito longe.
- Áhhh…!
- Ninguém lhes pode tocar.
- Então?
- São só para ver.
- E quem é que as pôs lá?
- Isso…ouvi dizer que ainda é um grande mistério para ser descoberto. Eu, não fui de certeza!
- Nem eu.
- Mas gostava de ter uma luzinha daquelas só para mim.
- Para quê?
- Porque sou um gato solitário. Pelo menos se eu tivesse uma luzinha daquelas sempre comigo, estava mais acompanhado, e ela aquecia-me.
- Elas aquecem?
- Dizem que sim.
 - Os meus donos tinham uma luz pequena no quarto, quando eram pequenotes, e diziam que era para não ter medo.
- Pois.
- Mas não acredito muito que elas tirem o medo.
- Claro que tiram.
- Tu nunca tens medo?
- Tenho muitas vezes medo…claro, sou vadio…mas sei que as estrelas, e a Lua olham por mim.
- Quem te disse?
- A minha experiência e já conheço mais pessoas a dizer o mesmo.
- E tu acreditas nisso?
- Acredito.
                Os dois ficam um pouco a olhar para a luz da enorme lua, e para as estrelas, a sorrir.
- Gostava de ir lá mais perto.
- Eu também.
- E gostava de andar de baloiço na lua.
- Eu fazia da lua uma rede…
                Os dois gatos começam a imaginar, e a sonhar acordados. Têm uma longa e divertida conversa, passeiam juntos, e vêem que o céu onde estava a enorme bola de luz, a Lua, tinha mudado de cor. Estava a clarear, e os tons eram em roxo, rosa, amarelo, azul escuro, e azul claro noutros pontos. A Lua ficou mais clara e mais distante.
- Olha…está a nascer o dia.
- Já?
- Sim.
- Como passou tão depressa…!
- Pois foi.
- Que lindas cores! Onde está o sol?
- Vem aí…daqui a pouquinho a Lua desaparece, e aparece o sol.
- Áh. E para onde vai a Lua?
- Para…não sei…outros sítios onde é noite. Aqui está a começar o dia, mas noutros sítios a começar a noite.
- Ela aparece todos os dias?
- Sim. Aparece e desaparece…
- E o sol e as estrelas, a mesma coisa.
- Áh! Que lindo!
- É.
                E quase sem darem por isso, aparece o sol e desaparece a Lua. Nessa noite, o gato da casa, aprendeu muitas coisas com o gato vadio. Viu o que nem imaginava existir, as luzes que tanto o intrigaram, afinal já estavam lá desde sempre, ele é que nunca tinha reparado…as cores do céu, as estrelas e o nascer do sol. Além disso, arranjou mais um amigo para o resto da vida.  
                Desde essa noite, os dois nunca mais se separaram, passearam felizes e aprenderam muito um com o outro.

FIM
Lálá

(23/Janeiro/2015)

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