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sábado, 21 de junho de 2014

Os pássaros da viola

Era uma vez uma rapariga jovem e bonita, que estava longe da família para estudar. Apesar de estar feliz, às vezes sentia-se triste, quando as saudades apertavam. Nessas alturas, ela libertava-se da tristeza, passeando pela praia e olhando para o mar.
            Muitas vezes nesses passeios, ela levava a viola, e tocava. As lágrimas dos seus olhos caiam nas cordas à medida que os seus dedos acariciavam as cordas.
As lágrimas que caiam, transformavam-se em gaivota de penas escuras, que iam voando, deixavam cair as lágrimas na areia da praia e as ondas do mar pegavam nelas ao colo, carinhosamente e embalavam-nas…levavam-nas para longe, e as gaivotas ficavam com as penas brancas. 
Umas fundiam-se nas nuvens e desapareciam, outras voavam sem rumo, leves e por onde lhes apetecesse, empurradas pelo vento.
Um dia, ela tocou tanto, que no céu da praia apareceu uma nuvem escura com centenas de pássaros que voavam juntos. Quem estava na praia ficou muito assustado.
- Uma nuvem negra! O que é isto?
- Uma tempestade?
- Um furacão?
- Acho que é melhor fugirmos.
            No meio do pânico havia um rapaz que adorava meditar e era muito sensível. Ficou a olhar para a nuvem preta.
- Uma nuvem preta? Que se move? Isso não é bom sinal.
            Levantou-se e caminhou pela praia. Sem dar por isso encontra-se com a rapariga da viola.
- És tu! – Comenta o rapaz
- Eu o quê? – Pergunta ela
- Que fizeste aparecer aquela nuvem preta?
- Não vejo nenhuma preta…
- Já se mexeu para outro lado.
- Áh, sim. Viste-a?
- Vi! Por isso é que vim ver o que se passava.
- O que se passa…não se passa nada! É só uma nuvem de pássaros negros…e não devem ser a primeira que aparecem.
- Pois não. Aparecem centenas aqui, todos os dias.
- A sério?
- Sim!
- Como é que sabes?
- Venho aqui todos os dias e vejo.
- Vens aqui todos os dias?
- Venho.
- Moras na praia?
- Não. Moro perto.
- Então não deves ter mais nada que fazer.
- Venho meditar e ajudar quem precisa.
- Ninguém te pediu ajuda. Pelo menos eu não pedi.
- Porque é que formaste essa nuvem?
- Porque são as melodias que estou a tocar hoje.
- Porque não fazes nuvens com pássaros às cores? São mais bonitas e agradáveis.
- Eu não faço estas nuvens…nem sei de onde vem.
- Não? Mas eu vejo-as.
- É sinal que tens olhos! Elas é que se constroem assim.
- Claro. São as notas das melodias. Mas porque são pretas?
- Porque estou triste.
- Pois. Foi o que eu pensei…e porque é que estás triste?
- Ora…não tenho nada que te dizer…não nos conhecemos.
- Ninguém se conhece assim…! Mudos.
- Isso é verdade.
- Mas conhecemo-nos mais do que tu possas pensar!
- Como assim? Andas a espiar-me é?
- Claro que não.
- Vocês acham todos que nos conhecem, mas nada sabem sobre nós. E quantas mais conhecem menos sabem!
- É. Deves ter toda a razão. Respeito a tua opinião e as tuas ideias.
- Tens alguma bola de cristal ?
- Não! Isso era bom, mas não tenho.
- Então porque dizes que me conheces? Ainda por cima, muito mais do que eu imagino?
- Recebo sinais, e sigo-os! Eu posso ajudar-te!
- Não, não podes.
- Porque é que estás a fechar a porta?
- Que porta? Estamos na praia…aqui não há portas.
- A porta do teu coração.
- Áh! Porque não a abro.
- Até aí, já percebi, por isso é que estou a perguntar.
- Tranquei-a e perdi o cadeado e as chaves!
- Eu ajudo-te a procurar.
- Não podes.
- Porque não?
- Porque nem eu sei onde, nem quando as perdi.
- Isso não é problema.
- Achas-te o máximo…! Porque é que me estás a fazer tantas perguntas?
- Porque quero ajudar-te!
- Mas não há nada que possas fazer por mim.
- Porque é que os pássaros são pretos?
- Outra vez? Já respondi a essa pergunta.
- Sei…porque estás triste. Mas porque é que estás triste?
- Olha, porque estou.
- Está bem…estás! Mas tem de haver algum motivo para essa tristeza.
- Há. Mas acho que não tens de saber!
- Está bem, não queres dizer, não diga. Os meus pais também estão longe! E eu também fico triste muitas vezes.
(A rapariga olha para ele assustada)
- Lês os pensamentos?
- Não! Leio os pássaros, e outros sinais.
- Que pássaros?
- Os que saíram da tua viola! Foram eles que formatam aquela nuvem negra!
- E eles falaram contigo?
- Não. Não disseram uma palavra!
- Então como é que sabes que eles saíram da minha viola?
- Eles tinham a cor da tristeza!
- Isso não quer dizer que esteja triste por causa de estar longe.
- Podes arranjar as desculpas todas que quiseres, mas não vale a pena…os pássaros pretos disseram!
- Disseram o quê?
- Que o motivo da tua tristeza é estar longe dos teus pais!
- E como é que sabes que eles saíram da minha viola?
- Foi o sinal que recebi.
- Sinal?
- Sim! Sempre que vejo um sinal na natureza de perigo, vou procurar o que é! A forma como eles voaram, disseram-me que a tristeza tinha a ver com a distância, e os teus pais.
(Os dois olham-se)
- Está bem…sim! É mesmo isso! Estou triste porque estou longe dos meus pais, e às vezes tenho muitas saudades!
- Eu sei o que sentes! Sabes, eu sinto o mesmo, e também crio pássaros negros quando toco com tristeza.
- Tu também tocas?
- Toco.
- Viola?
- Sim.
- E estás longe dos teus pais?
- Estou.
- Posso saber porquê?
- Podes! Vivem num local longe! Pobre! Eu vim estudar e trabalhar para aqui, para os ajudar a ter melhores condições!
- Uau! Isso é muito bonito.
- Sim, mas dói muito.
- E tens conseguido, alguma coisa?
- Sim! Ainda há gente boa que vai dando umas ajudas.
- Que bom!
- É.
- Sentes-te melhor, depois de tocar?
- Muito melhor! É libertador, ver a tristeza a voar para fora de nós, em forma de pássaros.
- Pois é! Ficamos aliviados. Mas os teus pássaros também são pretos?
- Também…quando toco a saudade! Mas tenho melodias com pássaros de muitas cores, quando toco a alegria e a felicidade.
- Eu também.
- Posso tocar um bocadinho, para tu veres!
- Sim! Toca à vontade.
            A rapariga empresta a viola ao rapaz e o rapaz toca uma melodia feliz. à medida que ele dedilha, voam pássaros lindos, enormes, cheios de cor brilhantes, que voam muito leves e bailam no ar. A rapariga sorri maravilhada.
- ÁH! Que lindos! Essa música é fantástica.
- É! (sorri) Estou feliz.
- (sorri) Eu agora também me sinto mais feliz.
- Vês a diferença?
- É verdade!
- Vamos tocar os dois…ao mesmo tempo, para ver o que sai!
- Está bem.
- Eu toco uma nota, e tu tocas outra.
- Começa!
            O rapaz começa, e a rapariga continua. De cada nota musical sai um belo pássaro leve e colorido. Como estão os dois felizes, em vez de se formar uma grande nuvem de pássaros negros, forma-se uma enorme nuvem de pássaros coloridos.
            Os dois ficam encantados. Desde este dia, ele e ela tornaram-se grandes amigos, trabalharam e encantaram em conjunto, ganharam fama e muito dinheiro.
            Depois de tanto trabalho e dedicação, os dois conseguem juntar dinheiro para ajudar os seus pais. Constroem-lhes casas novas, com excelentes condições. De toda esta bondade, partilha e amizade, nasceu uns anos mais tarde, um grande e verdadeiro amor entre os dois.
Muitas vezes para concretizarmos os nossos sonhos, precisamos de trabalhar muito, e em conjunto com amigos ou pessoas de bem que nos amam.
Até essa concretização há muitas batalhas que se perdem, e que se ganham. Às vezes, as que se perdem, não são para ser choradas, ou lamentadas pois podem ser sinais de que aquilo que tínhamos planeado e perdemos afinal não servia, e que melhor virá.
O importante é continuarmos sempre a lutar, a suportar as derrotas e a festejar as vitórias…e mudar o que for preciso, quantas vezes forem necessárias.
Sempre a acreditar que venceremos, e que depois das derrotas, virá algo bom.
Quanto aos pássaros…devemos deixar todos voar para fora de nós…os negros e os coloridos; porque tal como os pássaros…os nossos sentimentos gostam de liberdade! Não gostam de ficar aprisionados.

FIM
Lálá
(19/Junho/2014)
           


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