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domingo, 24 de novembro de 2013

A menina da paz

Era uma vez uma cidade onde havia Guerra. As manhãs nasciam com tiros, com sirenes de polícia e ambulâncias, gritos, fugas, e medo constante.
Um dia, uma menina recebeu poderes especiais, enquanto dormia, de um ser muito especial. Um Anjo que a iluminou. Ela abre os olhos, e vê o anjo assustada.
- Quem és tu?
- Calma, não te assustes. Sou do bem!
- Que bem?
- Da bondade…da paz.
- Isso é o que falta nesta cidade, infelizmente.
- Sou um anjo.
- Então estás aqui para me proteger?
- Também, mas não é só!
- Então?
- Vim trazer-te uma missão muito especial.
- Uma missão? Mas…
- Sim, és tu! Esta missão é para ti.
- Ai…! Estou a ficar assustada.
- Não te preocupes. É para algo que já desejas há muito.
- Paz!
- Isso mesmo. Tu vais ser a menina da Paz.
- Como?
- Tu serás o símbolo da paz.
- Mas o símbolo da paz não é uma pomba?
- Sim, é…mas aqui, serás tu.
- Ai!
- Não tenhas medo.
- Mas porque é que me escolheram a mim…? Eu sempre quis fazer alguma coisa pela paz, mas nunca posso.
- Podes, sim. É por isso mesmo que vim até ti, porque tu sempre quiseste paz, e sempre fizeste por ela.
- Certo, mas de que adiantou eu fazer pela paz, e desejá-la, se tudo à minha volta explode, e ouvem-se tiros a toda a hora, gente a fugir…? O que posso fazer?
- Deixa-me explicar-te.
- Está bem. Estou a ouvir.
- Recebeste uns poderes especiais, de coragem, de luz e bondade.
- A sério? (sorri) E o que é que eu vou fazer com eles?
- Tu vais ser a menina da paz, porque vais acabar com a guerra.
- Eu?
- Sim! Tu!
- Como? Vou matar todos os criminosos?
(O anjo ri)
- Não, querida…não precisas de chegar tão longe.
O anjo explica tudo. A menina ouve atentamente, e dorme. Na manhã seguinte, a guerra do costume recomeça. A menina acorda sobressaltada. Toma o pequeno-almoço, veste-se e vai para a rua.
Quando vê um batalhão de soldados armados até aos pés, e com caras de maus, a dirigirem-se para os canhões, prontos a disparar…a mando de um todo-poderoso, para acabar com bairros de lata…as pessoas em pânico, a gritar e a fugir, a rezar, com os filhos ao colo e a rastos, a chorar…Dirige-se para eles e grita-lhes:
- Parem imediatamente!
        Os soldados olham-na.
- Olha a pimpolha…sai daqui, criatura, senão és a primeira a ir pelos ares…tu e os teus papás… - Grita o soldado da frente.
- Vai para a tua casa…sai da nossa frente, temos mais o que fazer. – Grita outro soldado.
- Ninguém vai disparar nada…! – Grita a menina.
- Mas quem é que manda? – Pergunta outro soldado zangado.
- Primeiro vais ouvir o que eu tenho a dizer!
- O quê? Vais contar-me uma historinha ou pedir-me algum brinquedo? – Diz o soldado a rir
- Ri-te…! Goza à vontade! – Diz a menina.
- Sai mas é da frente, pirralha. – Diz o soldado.
- Nem pensem que vão dar mais um passo com essa porcaria dessas armas. – Grita a menina
- O quê? – Gritam os soldados em coro.
- Da próxima vez que gritarem será…PAZ…! Ou…palavras de amor.
- Não faltava mais nada…Uma freira em miniatura. – Diz um soldado.
- Descansa…o teu lugar está guardado no Inferno para a tua alma, não tarda muito. E até aqui na terra, ela já está no Inferno.
- O que é que tu queres…? – Pergunta outro soldado.
- Quero que atirem as armas todas ao chão, e que acabem com a porcaria dos tiros, e da destruição.
- Deves estar a brincar! – Grita um soldado.
- Vai brincar para o parque! – Grita outro soldado.
- Esse é um direito nosso, que vocês fizeram o favor de nos tirar, suas bestas. Tiraram-nos o direito de brincar, o direito de andar em paz e em segurança na rua, sem nos arriscarmos a levar com uma bala vossa…estão a roubar agora o direito de todos termos uma casa, mesmo pobre…é uma casa, um tecto, construído com amor…!
        Ela anda em frente deles todos, a olhá-los nos olhos. Um olhar tão profundo e penetrante, que todos os soldados começam a chorar.
- Tiraram-nos o direito de ouvir o som dos pássaros a cantar com os primeiros raios de sol…! Há quanto tempo não os ouvem a cantar? Há muito…desde que os mataram…que culpa é que eles tiveram? - Olha-os outra vez nos olhos, um por um – Tiraram-nos o direito a termos um sono tranquilo, um dia a dia em paz…vocês…que deviam ser nossos amigos, são os nossos piores pesadelos…! Mas as vossas famílias, os que mais amam, também correrão perigo, não? Se os perderem, não há problema não é? O que importa é que vocês são valentes…têm pistolas…Uau…que poderosos…que prestigio! São felizes? Têm a consciência tranquila? Como? Depois de acabaram com a vida de cada um…de todos aqueles inocentes a quem vocês tiraram um direito…tão essencial e especial…à vida! À família, a uma casa, a um trabalho, ao respeito, à saúde, às actividades ao ar livre! Pensem…!
        Faz-se silêncio, e a menina olha outra vez, um por um, os soldados, nos olhos, e eles choram sem parar.
- Em vez de estarem com armas…usem as vossas mãos para reconstruir e construir as milhares de casas que destruíram…! E que continuam a querer destruir…não têm esse direito! Usem as vossas mãos para dar colo, e para abraçar ou acariciar as crianças, os doentes e os feridos que vocês causaram! Usem as vossas vozes para encorajar os que sofrem por vossa causa! – Acrescenta a menina.
        O soldado da frente, ajoelha-se cheio de lágrimas, pousa as armas, a olhar para o chão. Os outros todos seguem-lhe o exemplo, rendidos à emoção, e ao apelo da menina.
- Mas que grande desgosto para os vossos pais! Peçam-lhes desculpa…assim que os encontrarem, se ainda estão cá. Que tormenta para as vossas namoradas ou mulheres…filhos…ao saber que estão com umas bestas ao lado, em vez de estarem com homens! Em vez de estarem com homens de carne e osso, e coração, e sentimentos…têm robôs…de lata…secos…que tristeza! Peçam-lhes desculpa. E em vez de terem nas mãos essas pistolas…ofereçam-lhes flores, façam-lhes carinhos, abracem-nas…digam-lhes que as amam.
        Os soldados estão muito emocionados, e choram de verdade. Largam as armas todos, atiram-nas para o monte. Um soldado pega na menina ao colo, e todos formam um túnel de mãos dadas em cima. Quando a menina passa, cada soldado dá-lhe um beijo. Ela sorri orgulhosa, e no fim aplaude. Todos os soldados aplaudem e gritam pelas ruas, com a menina às cavalitas:
- Paz…paz…paz…acabou a guerra! Paz!
- Podem sair de casa…acabou a guerra…venham festejar. – Grita o soldado chefe.
        Todos os habitantes saem das casas, com muito medo, e quando vêem os soldados com uma menina ao colo gritam felizes:
- Milagre! Milagre! Milagre!
- Acabou a Guerra, minha gente! – Grita outro soldado.
- Milagre! Milagre! Milagre!
        Todos festejam juntos, com música, cantigas, abraços, beijos…
- A partir de agora, estamos em paz. – Diz um soldado.
- Seremos só vossos amigos, para tudo o que precisarem! – Diz outro soldado.
- Pedimos perdão por todos os estragos e desgostos que provocamos. – Acrescenta outro soldado.
- Esta é a nossa menina da paz.
        Todos aplaudem fortemente, gritam felizes, beijam, abraçam e acariciam a menina, e os soldados, e nesse mesmo dia, todos ajudam a reconstruir as casas, com os soldados, que fazem curativos a quem precisa. A menina também colabora e os seus pais não cabem neles de orgulho e de felicidade. O sonho da menina tornou-se realidade…conseguiu que houvesse paz, e que a Guerra acabasse. Ficou para sempre conhecida como a menina da Paz, pela sua força e luz.
FIM
Lálá
(23/Novembro/2013)


1 comentário:

  1. Só li esta e já estou rendida! Parabéns! Uma escrita muito fluida, muito sóbria, tão leve! Bem dizia, Lara, temos muito em comum! Tudo para continuar a escrever!

    Ana Gomes

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