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quinta-feira, 14 de março de 2013

AS OBRAS DOS VENTOS


NARRADORA - Era uma vez o vento bom, e o vento bom que era mau por ordem da rainha da Inveja. Na verdade, o vento não era mau, mas a rainha da Inveja pagava-lhe muito bem para ele fazer tudo o que ela mandasse, mas tudo o que ela mandava fazer…era mau! O vento bom ficava triste por ser mau, mas acabava sempre por obedecer, quando se lembrava que tinha uma família para sustentar. Ninguém sabia que era ela…quer dizer…só sabia pelos estragos que encontravam. A rainha da inveja vigia a sua bola de cristal, que mostra um lindo jardim, cheio de flores de todas as cores…umas sementes novas de legumes, e grita nervosa.
RAÍNHA DA INVEJA (muito zangada) – Ááááááhhhh…Que nojo…lhec! Um jardim todo florido…cheio de cores…que coisa horrorosa.
PAPAGAIO – Flores…coloridas…flores coloridas…
RAINHA DA INVEJA – Cala-te! Daqui a pouco quem vira flor és tu.
PAPAGAIO – Flor…
RAINHA DA INVEJA – Xiu.
GATO – Miau!
RAÍNHA DA INVEJA – Miau, o quê? Calem-se todos…não me desconcentrem.
CORVO (tosse) – Madame da escuridão…
RAINHA DA INVEJA – Tu também?
PAPAGAIO – Interrompida…Ááááhhh…vassoura, vassouraa…Ááááááhhhh…!
RAINHA DA INVEJA – É…cala-te, ou voa já para aí uma vassoura.
PAPAGAIO – Vassoura…voaaa…Ááááhhh…!
CORVO – Que agitação.
GATO – Amigo…não fales agora.
CORVO – Madame…posso dar a minha opinião…?
RAÍNHA DA INVEJA (olha de canto) – Não vês que eu estou ocupada…meu criado diabólico negro… (grita) Agora não.
CORVO – Mas…Madame…eu vou dizer…se não…começo já aqui aos voos contra a parede…!
PAPAGAIO – Ááááhhh…parede…parede…voo…ááááááhhhh…!
GATO – Que chato…!
RAINHA DA INVEJA - O que é que tu queres…?
CORVO – Acho muito bonito um jardim cheio de flores e cores…!
(Ela atira com uma maçã para a gaiola, nervosa e grita)
RAINHA DA INVEJA – Calem-se todos…nem mais um pio…quero tudo em silêncio…preciso de ver o que vou destruir…áh, áh, áh, áh….
CORVO – Uuiii…Isto hoje não está fácil.
CORVO 2 – Que mau feitio.
CORVO – Papagaio…nada de dizeres o que acabaste de ouvir…cala-te.
RAINHA DA INVEJA (grita) – Calem-se…! Que chatos…daqui a pouco ponho-vos lá fora.
ANIMAIS – Cruzes…!
PAPAGAIO – Cruzes…!
RAINHA DA INVEJA (grita) – Não volto a avisar…
GATO – Ela está pior que uma barata…!
PAPAGAIO – Barata…!
RAINHA DA INVEJA – Onde…?
GATO – Lá está este…vais levar já uma vassourada, queres ver…? Ih, Ih, Ih…
RAINHA DA INVEJA – Cala-te! Lá para fora.
PAPAGAIO – Lá para fora…ih, ih, ih…Gato…barata…ááááááhhhh…
GATO – Tinhas que falar…peludo irritante.
PAPAGAIO – Peludo…
RAINHA DA INVEJA – Quem?
GATO – Madame…o com penas não pode ouvir nada.
NARRADORA - Pega na vassoura, preparada para atirar ao Corvo, mas este voa mesmo a tempo para a casota e encolhe-se, murmurando:
CORVO – Cruzes…que mau feitio…
CORVO 2 – Livraste-te de boa…!
CORVO – Ela hoje está fora dela.
CORVO 2 – Só hoje?! Está todos os dias.
PAPAGAIO – Mulher das trevas…
RAINHA DA INVEJA (grita) – Veeeennnnttttoooooooooo…
PAPAGAIO – Ventoooo…Ááááááhhhh…!
VENTO MAU – Sim, Madame da escuridão.
RAINHA DA INVEJA – Vais destruir este jardim…anda cá ver… (Os dois olham para a bola de cristal) E ai de ti que deixes uma única flor de pé. Quero tudo arrancado, tudo deitado abaixo, tudo remexido, entendeste?
VENTO MAU – Sim, Madame.
RAINHA DA INVEJA – Olha que eu estou a ver-te!
VENTO MAU – Sim, Madame…
RAINHA DA INVEJA – Vai…
NARRADORA – O pobre vento mau lá vai cumprir as ordens da rainha, e pelo caminho as lágrimas caem – lhe dos olhos, triste por estar a fazer uma coisa que não queria, pois ele no fundo tem bom coração. Fica com pena das flores, mas como tem de cumprir ordens da sua malvada patroa…enche-se de força e de coragem e transforma-se num redemoinho forte, violento, levantando tudo da terra, arrancando as flores, e atirando-as contra as árvores. Ouvem-se todos a gritar. As sementinhas que estavam plantadas, foram destapadas e projectadas contra a casa. A confusão é total. A rainha da inveja, ri e aplaude feliz, saltita, bate palmas, os animais também festejam com ela ao ver a destruição. Aparece o vento bom à janela da rainha da inveja.
VENTO BOM – Então és tu, sua monstruosa, que fazes aqueles disparates…que mandas destruir tudo…! Espera aí que já vais ver.
(Sopra à janela e bate forte. Ela dá um grito)
RAINHA DA INVEJA (assustada) – Ai…o que foi isto?
VENTO BOM – Sua maldita!
GATO (assustado) – O Castelo vai arder.
PAPAGAIO – Fogo!
CORVOS – Cala-te.
GATO – Intruso.
PAPAGAIO – Intruso! Vento, vento…
GATO – Conheces?
PAPAGAIO – Vento…Ááááááhhhh…!
RAINHA DA INVEJA – Quem és tu…? Não estou a ver ninguém.
VENTO BOM – Não precisas de me ver…sua maldita…
PAPAGAIO – Ventoooo…
RAINHA DA INVEJA (sorri) – És um admirador meu?
VENTO BOM (ri) – Nunca seria um admirador teu.
RAINHA DA INVEJA – Porquê? Se eu sou a mais bonita do mundo…?
(Gargalhada do vento)
VENTO BOM (ri) – O mundo inteiro anda a ver muito mal!
RAINHA DA INVEJA – Estás a dizer que não sou bonita?
VENTO BOM (ri) – Não podes ser mais feia.
RAINHA DA INVEJA – Porque é que não te vejo?
VENTO BOM – Porque eu não quero que tu me vejas, só quero que me ouças!
RAINHA DA INVEJA – Ou apareces, ou vai-te embora.
VENTO BOM (aparece) – Já apareci, agora ouve-me calada.
RAINHA DA INVEJA (grita) – Quem és tu para me mandar calar?
(O vento dá-lhe uma fustigada e ela dá várias voltas aos gritos, e senta-se)
VENTO BOM – Já sabes quem sou, agora.
RAINHA DA INVEJA – Maldito…desgraçado!
(Outra fustigada)
VENTO BOM (nervoso) – Cala-te e ouve-me…mulher terror. O que tu fazes é muito feio. Sua monstra…! Onde já se viu? Destróis tudo o que é bonito…tudo o que está de pé…destróis o trabalho duro de pessoas simples, da terra, que sofrem, e que se dedicam com amor a cuidar da terra, do que tem…! Destróis os alimentos e as frutas de que eles se alimentam, e alimentam os que mais amam, e os que mais precisam…és horrível…! Deixas pessoas sem tecto…e ainda te ris e festejas…sua maldita…o nome está mesmo bem posto…rainha da inveja…! Tens inveja de não ter coisas tão bonitas, e de viveres neste palácio escuro, preto…não é…? Claro…! A tua maldade não tem limites, é por isso que tudo isto é escuro, e feio. Como não és feliz por viver no meio da cor, e das coisas bonitas…também não aceitas que os outros tenham coisas bonitas, e cores, que as tornam todas felizes…! Sua horrorosa! Não tens luz…e não permites que os outros tenham…porquê…? Também podes ter isso tudo, se amares…! Mas não sabes o que é isso. Nunca soubeste…só sabes o que é mau…! Nunca conheceste o bem! O bonito…que coisa mais feia…! O que tu fazes a toda a gente é muito mau.
RAINHA DA INVEJA – Mas o que é que estás para aí a dizer?
VENTO BOM – Não te faças de desentendida…sabes muito bem, que só fazes maldades.
RAINHA DA INVEJA – Amor…amor…luz...cor…Ááááhhh….lhec…que nojo!
VENTO BOM – Cala-te…vou arrastar-te, e vais conhecer finalmente a luz e a cor…e vais pedir desculpa a toda a gente a quem fizeste mal…a quem destruíste as coisas que elas tinham de melhor, e de bonito! Os jardins, as flores, as árvores, as sementes…tudo!
RAINHA DA INVEJA (ri) – Deves achar que eu não tenho mais o que fazer, se não…ser boazinha…que pesadelo!
VENTO BOM (grita) – Tu vais ver o que é o sonho…!
NARRADORA - Agarra nela, enrosca-a, e leva-a a passear. Ela grita e tenta libertar-se mas não consegue, e grita. Sempre que ela grita, o vento sacode-a. Por cada jardim destruído que passa, o Vento Bom obriga a Rainha da Inveja a reconstruir tudo, com a sua ajuda. A rainha fica nervosa, chora e grita, mas faz tudo o que o vento manda. E a eles junta-se o vento mau, que é afinal um vento bom. Num instante, com os dois ventos juntos, e a rainha da inveja, tudo fica reconstruído, novamente lindo…as sementes, plantadas, regadas, as flores também postas na terra, regadas, sacudidas delicadamente, a erva no sítio. E em cada sítio reconstruído, a Rainha da Inveja pede desculpa à Terra e aos habitantes. Os ventos estão felizes, e a Rainha da Inveja, depois de muitos gritos, e muito choro, transforma-se misteriosamente numa linda fada, sorridente, bondosa, delicada. Todo o seu castelo ganhou luz, e cor, toda a decoração está maravilhosa, é nova, com cores alegres. O jardim dela que era cinzento, sem luz, sem cor, transformou-se num espaço aberto, cheio de flores, de vida, com passarinhos a chilrear, borboletas a voar alegremente. A rainha da inveja, desde este dia, nunca mais fez maldades…muito pelo contrário, passou a ajudar todos os habitantes da aldeia à volta do castelo, com os seus poderes bons, de proteger a Natureza, ajudar nas plantações e nas colheitas, a cuidar dos animais, e das flores, e até ajudar na cozinha. Toda a gente passou a gostar muito dela, e ela nunca mais teve inveja, por isso tornou-se muito mais feliz. É isso mesmo, meninos e Adultos…a Inveja uns dos outros, pelas coisas que uns têm e outros não, não nos traz o que queremos, ou que gostaríamos de ter, e o outro tem…e os nossos dias, quando temos inveja do outro, tornam-se mais escuros, mais feios, mais frios, e sem cor. Não ganhamos nada com inveja, só sofrimento, rugas, e infelicidade! Podemos ser muito felizes com o que cada um de nós tem, se soubermos estimar, dar valor e cuidar do que temos. Não podemos ter tudo, mas se tivermos o principal: saúde, alimentos, roupa, tecto e amor, não precisamos de muito mais para sermos felizes…e não precisamos de ser as rainhas e os reis da inveja.

FIM
Lálá
(13/Março/2013)

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