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quinta-feira, 25 de abril de 2024

As flores que subiam e desciam as escadas

foto de Lara Rocha 

                                Era uma vez umas flores muito irrequietas.   Estavam contrariadas numa casa onde não recebiam atenção, e sentiam-se tristes porque não reparavam nelas. 

    Além disso, não as regavam, nem falavam com elas, estavam num vaso com outras flores que já estavam habituadas. Como ficavam nervosas, saiam dos vasos, subiam e desciam as escadas da casa, centenas de vezes por dia, e de noite. 

    Não gostavam de nenhum vaso, tentavam fugir, mas não conheciam o sítio onde estavam, por isso também não sabiam para onde ir. 

    As outras flores riam à gargalhada ao vê-las subir e
descer as escadas da casa, voltar para o vaso, recuperavam o fôlego, voltavam a sair do vaso, subiam e desciam as escadas. 

    Um dia, uma outra flor, cansada de ver toda aquela agitação de subir e descer as escadas da casa, perguntou porque faziam isso. 

    Elas não sabiam explicar. Perguntou se elas gostavam de estar ali. Responderam que não. E se sentiam nervosas, elas disseram que sim. Era por isso que subiam e desciam as escadas da casa, centenas de vezes por dia e de noite. 

    Perguntou porque não gostavam de estar ali, e porque estavam sempre nervosas. Elas responderam que não recebiam atenção, ninguém reparava nelas, nem cuidava delas. 

    O subir e o descer as escadas ajudava-as a acalmar a tristeza e a raiva, mesmo que elas não soubessem, mas ficavam cansadas. 

    A outra flor, compreendeu a tristeza delas, e perguntou se pensavam fugir. Disseram que sim, mas não conheciam o sítio, por isso não sabiam para onde. 

    A flor teve uma ideia: 

- Vou levar-vos a conhecer outros sítios, mas prometem que não fogem? 

- Prometemos! 

    A flor sai com elas, mostra-lhes um jardim lindíssimo, da casa, muito bem tratado, cheio de flores, com a relva muito verde, bem aparada, onde viram o sol nascer. Nunca tinham visto, ficaram encantadas. 

- Áh! Que coisa linda. Já tinhas visto? - perguntou uma das flores 

- Sim, vejo praticamente todos os dias. 

- Aqui neste jardim? - pergunta outra 

- Sim, outras vezes, vejo o sol já quase no nosso vaso. 

- Que lindo que é! - suspira outra flor 

- Olhem agora o jardim ao amanhecer! 

- Ainda é mais bonito! - diz uma das flores 

- Uau! Aquela relva, parece dourada…

- E as flores, que lindas! Cada cor mais bonita que a outra. 

- Porque é que elas são tão bem tratadas, e nós somos esquecidas? 

- Porque nós somos flores bravas, livres, silvestres, independentes, podemos andar por aí, por onde quisermos, mudar de lugares. Viver nos campos, nas bermas das estradas, no meio de outras flores, em vasos, entrar e sair quando queremos, que os donos da casa nem reparam. Estas são de jardim, podem parecer maus sortudas, mas não são. Não são tão livres como nós! Precisam de cuidados, dedicação, rega, poda, troca de terra e muitas outras coisas, para ficarem assim tão lindas. Se saem deste pedacinho de terra não duram muito tempo, e nós podemos pegar, resistir noutros sítios, se nos tirarem dali.  

    Faz-se silêncio. As flores que subiam e desciam as escadas não sabiam que eram flores bravas, nasciam espontaneamente, por sementes largadas pelos passarinhos.       Já eram regadas com a chuva, e com a rega dos campos à volta, apanhavam sol, cresciam, não precisavam de cuidados. 

- Mas...então o que estamos aqui a fazer? - pergunta outra flor 

- Estão a fazer-nos companhia. 

- Devíamos estar nos campos, não era? Ou nas bermas das estradas…!

- Podemos estar em qualquer lado. 

- Gostas de estar aqui? E as tuas amigas, naquele vaso? 

- Sim. 

- Mostra-nos mais deste sítio. 

- Venham! 

    A flor mostra um tanque, uma fonte com uma estátua, o céu azul, as árvores, os passarinhos a cantar, os cães a ladrar, o vento, as pessoas da casa a falar, e a andar de um lado para o outro. Casas à volta, casas em frente, tudo era novo para elas.

- Então…? Ainda querem mudar de sítio? 

- Ahhh...acho que não. 

- Podemos vir aqui sempre que quisermos, certo? 

- A este jardim? 

- Sim. 

- Claro que sim, em vez de andarem  a subir e a descer as escadas da casa, centenas de vezes. 

    Todas riem.

- Mais daqui a bocado, levo-vos a ver lá fora. 

- Está bem! 

- Agora vamos descansar um bocadinho, pode ser? 

- Pode. 

- Obrigada por tanta coisa bonita que nos mostraste.

- De nada! 

    As flores descansam no grande vaso, as outras já não sobem e descem as escadas centenas de vezes, e passado algum tempo, depois de descansarem, vão ver mais coisas bonitas fora de casa. Voltam para o vaso, quase como se estivessem hipnotizadas, com tanta coisa bonita que viram. 

    Desde esse dia, deixaram de subir e descer escadas, compreenderam que eram diferentes, mas não deixavam de ser flores, livres. 

    Podiam andar por onde queriam, entrar e sair do vaso sempre que lhes apetecesse e passear por lugares diferentes, tendo sempre ali o seu recanto para descansar, que os donos da casa nem reparavam se elas estavam ou não. 

    Isso deixou-as muito felizes, e tornaram-se grandes amigas das outras, com quem saiam, conheciam novos lugares, novos campos, novos jardins que espreitavam e passavam um dia ou uma noite, sem serem vistas, para apreciar as coisas bonitas. 

                                        FIM 

                                   Lara Rocha

                                   25/Abril/2024  

Será que as rosas e outras flores bonitas, gostavam de estar sempre naquele sítio? 

E se elas pudessem ser mais livres, acham que as flores bonitas, ficaram sempre nos jardins? 

Se pudessem sair, onde acham que iriam? 

O que veriam? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem :I 


2 comentários:

  1. Boa tarde
    Sinto-me como essas flores de casa, ignorada, triste, sozinha e com vontade de viajar. Conhecer novos lugares, acho que todas as flores de vaso gostavam de passear um pouco. Eu solto o meu passarinho Átila no quarto do meu irmão para ele poder voar à vontade, sendo que a gaiola que comprei é pequena. Deixo-o lá umas horas e depois volto a colocá-lo na cozinha.
    De vez em quando podo as orquídeas da minha mãe, as de dentro de casa. Uma tem flor e outra está para dar. Dizem que as flores são mais saudáveis, quando falamos ou cantamos para elas. Agora têm a companhia do Átila, que canta bastante.

    Acho que gostava de ser um animal meu, porque dou atenção a todos, são todos muito bem cuidados. Se não lhes dou atenção a algum num dia, dou no outro.

    Faço muita companhia aos meus coelhinhos, ao Átila e à Ally que agora está na casa nova também, é a mãe daqueles gatinhos, 2 morreram e um está a tomar antibiótico. As outras 2 estão bem, as fezes da Ally ainda não voltaram totalmente ao normal, mas vão voltar, tenho a certeza. Está grávida novamente e vai ser castrada no dia 6, vou ver se castro também a KiKi no mesmo dia.

    A Megumi também teve 5 gatinhos, são muito lindos. Vou comprar a Athena, uma porquinha da Índia, que está sozinha na loja de animais à muito tempo. Infelizmente vou ter de comprar uma gaiola para ela. Não tenho espaço para colocar um cercado, vou deixá-la no quarto da Artémis, que descobri recentemente que é um macho.

    Fico feliz a cuidar dos bichinhos.

    Beijinhos,
    Mariana.

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  2. Olá Mariana,
    Obrigada pela visita e pelas novidades! 🙂 é "giro" identificar-se com as flores da história e compreendo o porquê! Mas as coisas vão melhorar, é bom que encontre atividades que a preencham, como cuidar dos animais e das plantas.
    É muito terapêutico, embora seja importante ter algumas condições para que cresçam bonitas e saudáveis, tanto as flores como os animais!
    Continue a cuidar deles e delas 🙂💗 muita saúde.
    Beijinhos e volte sempre.
    Até já
    Lara Rocha

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