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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Macaquinhos noturnos

 - A fase dos exames do 12º Ano -, ajuda a compreender melhor e a identificar sinais de stress nos adolescentes            

     Chamo-me Dália, tenho 17 anos, estou no 12º ano. Ainda dizem que a vida de estudante é a melhor de toda. Não sei, tenho dúvidas que seja a melhor. Tem coisas boas, e tem outras que nunca deviam existir. 

     Claro, essas outras, vocês sabem muito bem do que falo, com certeza, sim, vocês da minha idade, e os nossos pais que estudaram também passaram pelo mesmo. Parece que esta fase dita o nosso fim, é uma sentença de uma coisa má! 

     E às vezes é. Quer dizer, às vezes não, acho que a maior parte das vezes. Vejam lá se não tenho razão. Acabaram as aulas, duas semanas antes do primeiro exame. Estamos no Verão, apetece o quê? Estudar…? Com este calor? 

    Sejamos francos e realistas...Além do sono, tudo menos isso, obviamente. Apetece é estar com a malta, na piscina, na praia, na montanha, em qualquer sítio menos enfiados em casa a estudar. 

    Mas está em jogo o nosso futuro, e é daquelas decisões tipo os nossos pais, e avós, tios, quando eram pedidos em casamento, ou quando casavam. Se estavam preparados, se queriam, o que é que isso implica, os que pensaram nisso, porque outros, disseram logo que sim, e se fosse hoje dizem que não se casavam. 

    Às vezes nem sabemos para que cena vamos, gostamos de várias coisas, mas uns dizem para ir para o curso tal porque tem saída, mas gostamos mais de outro, que dizem que não tem saída...se não tem saída, vamos para o que dizem ter saída, mesmo que esteja no fundo da tabela das nossas preferências. 

    O que interessa é entrar, depois lá dentro, podemos mudar para uma série de cursos, caso não gostemos, desde que os nossos pais paguem. Que confusão nas nossas mentes! 

    Mesmo que não nos apeteça, temos de estudar, a matéria desde o início do ano, folhear os livros, consultar os materiais anexos, apontamentos e outro suporte extra partilhado entre os colegas, comprado nas livrarias para treino de exames.

    Já estamos a estudar há alguns dias, eu pelo menos, e quem conheço, com poucas horas de sono, quase hibernação diurna e noturna. Não sei se vos acontece isso, mas comigo...De repente, a minha concentração é interrompida por pensamentos como: «não, isto não sai...mas...se falamos nisto, pode sair...ou...não...acho que não! Mas...e se sai? Eu não sei responder! É melhor ver.»

    Levantamo-nos algumas vezes, e parece que já perdemos meia dúzia de horas, esquecemos tudo. Volta a reler, volta a escrever, volta a fazer esquemas...ahhhh...ufa...parece que as coisas estão a voltar à cabeça. 

    Comer? Perda de tempo. Dormir, nem se fala, tantas horas de olhos fechados, os macaquinhos tagarelas à minha volta, as folhas, os livros, as matérias, os esquemas, as lapiseiras, os livros, tudo a passar à frente da nossa vista, mesmo quando estamos deitados. 

    Estamos quase no limite das nossas forças, físicas e mentais, de tanto estudar, naquele dia, de estudar vários dias seguidos, e muito poucas horas de sono, ou nenhumas, quando os macaquinhos insistem em manter os nossos abertos. 

    É cada ataque de choro e nervos! Estamos deitados, e o raio dos macacos a saltar, a tagarelar, a dizer que não sabemos isto, que não sabemos aquilo, alimentamo-nos mal, parece que temos um nó ou qualquer coisa na garganta que não deixa a comida passar.

    Petiscamos, e comemos depressa, não podemos perder tempo a comer, há coisas mais importantes, como decorar a matéria que ainda não sabemos. Eu estou um tubarão, mas a minha mãe diz que estou um esqueleto, e manda-me comer, manda-me parar, manda-me dormir, manda-me sair de casa. 

    Suspeito que as vossas sejam iguais. Entendo a preocupação delas, mas como é que vamos fazer isso tudo, se temos toneladas de matéria para estudar em tão pouco tempo?! 

    Essa incerteza do que pode ou vai sair, do que não vai sair, mas se saem coisas que não estudamos, claro que não vai sair tudo, se não os testes demoravam vários dias, no meio de tanta coisa, sabemos lá o que vai sair. 

    Os profs dizem para não estudarmos só nas semanas antes dos exames, mas durante o ano, nem sequer nos lembramos que vamos ter exames, existem outros compromissos, e não há stresse a não ser antes dos testes ao longo do ano. 

    Esses chegavam para avaliação, e já esses provocam dor, sofrimento, angústia, principalmente quando achamos que passamos, e respondemos tudo certo, de repente...nota negativa, ou muito abaixo do que esperávamos. 

      Temos excesso de confiança durante esses testes, e cada barrete que enfiamos... nossa! Só depois desses acidentes de percurso é que tomamos consciência de3 que é melhor estudarmos mais, e com mais antecedência. 

      Claro que sim! Esquecemos rápido. No teste seguinte, lá estamos nós a estudar e a ler a correr, uns dias ou umas horas antes, páginas e páginas. Achamos que decoramos, pois sim, é que somos computadores ou scanners. 

    Branca total. Que terror, que sufoco, e agora...esquecemos tudo! Lá vem mais outra negativa. Não estudamos mais. Ou tentamos não dar tanto valor à nota negativa, e esforçamo-nos, às vezes corre bem, outras vezes corre mal. 

      Lá vamos levando o ano, aos tropeções, com vitórias e derrotas, mas deixamos andar, existe muito mais vida para além da escola. Mas quando chega esta fase...a minha mãe tem razão...Estou mais magra, não sei como, enfio-me em casa, dia e noite, tenho sentido náuseas, perdi o apetite, estou com dores de estômago, e de cabeça. 

        Mas não lhes ligo, porque não posso perder tempo a comer e a dormir, sequer, quanto mais a dar atenção às dores...elas fazem parte! Estou a estudar, ansiosa por parar um pouco, mas lembro-me: «não posso parar, ainda falta tanta matéria, como é que eu deixei atrasar tanto...parece que nunca vi isto à minha frente, mas se está aqui no caderno e nos livros é porque dei. 

      E agora? Que seca! Não, estou com sono, acho que vou deitar-me um bocadinho só para descansar a cabeça, como dizem os meus pais. Estou nada...é psicológico, é da minha imaginação. Calem-se, macaquinhos idiotas! Deixem-me estudar. Deixem-me concentrar. 

    Eu não estou com sono, nem posso estar, porque senão vou perder tempo! Tenho de sacar altas notas, porque quero ir para a Universidade, e não posso desiludir os meus pais!»

    Afirmo para mim mesma: «tenho de ser a melhor! É esse o objetivo dos meus pais e eu tenho que lhes fazer a vontade». «Estou tão cansada. Mas qual cansaço...(grita) estuda mas é!»

  Tomo vários cafés ao longo do dia, quando me sinto mais cansada, e uns estimulantes, aguento a noite toda e os macaquinhos calam-se. São espetaculares esses remédios! Uau! O que eu adiantei de estudo, sem ter de perder tempo a dormir. 

    Se não fossem esses estimulantes, e estudar a noite toda com cafés, nada de Universidade! Que desilusão, para os meus pais, e que vergonha para mim ver os meus colegas a entrar para a Universidade com altas notas, e eu ali a empatar. Nem pensar! Vou passar a tudo.»

    Sair com os amigos? Qual quê…? A vontade é muita, mas se sair com eles, não vou ter tempo de estudar, vou perder tempo, não vou conseguir ver tudo. Eles também estão como eu, de certeza que não pensam em sair, nem podem. 

    Deito-me, ao mesmo tempo que os meus pais, outras vezes fico a estudar até mais tarde, contra a minha vontade, porque vou perder tempo. Fecho os olhos, a pensar que vou descansar um bocadinho, só porque tem de ser. 

   Os olhos estão fechados, mas o raio dos macacos não me deixam em paz, a cabeça não para, continua a mostrar-me e a aterrorizar-me que não sei nada! Aqueles macacos...não os vejo, mas oiço-os. 

    Eles fazem-me começar a relembrar: «isto sei...isto já sei...isto…? Isto...não sei...Ui...aquilo acho que sei...aquilo não. Fico sufocada (suspende o ar) Não sei…? Tenho que saber!»

    Levanto-me, centenas de vezes, e vou ver novamente os livros, os materiais, os cadernos, das partes que não sei ou que acho que não sei. «Áh! Já sei...é isso!» Volto a deitar-me, confiante que sei. 

    A meio da noite, acordo num pânico total, quase a sufocar, sem conseguir respirar, a pulsação parece um bando de cavalos à solta. Sinto tonturas, mas não sei o que é. «Óh, não, estou doente! Não posso! Vai dar-me uma coisa...é desta que eu vou...e nem sequer vou fazer os exames…!

    Podia ter saído com os meus amigos...se eu sabia que me ia dar uma coisa má. Ai...ai...ai...socorro!! A minha cabeça vai explodir. Óh sorte maldita! Levanto-me a correr, e vou à casa de banho, de gatas com as tonturas, despejar todo o jantar, e se calhar o almoço, e os jantares dos dias anteriores; transpiro por todos os poros, e mais alguns, que eu nem imaginava ter.

  Os meus pais, preocupados, fazem-me um chá, tentam acalmar-me, eles suspeitam que é nervoso, medo e ansiedade antes dos exames, porque também passaram por lá.

    Entretanto, a respiração voltou, os cavalos foram para a cela, e fico em estado de exaustão, para ajudar. Com dores por todo o lado, começo a pensar: «será que esta dor no peito é sinal de algum ataque? Será que esta falta de ar é alguma coisa grave?»

    Consigo voltar a dormir algum tempo, e acalmar. Volto à carga no dia seguinte, sinto muito medo de ter brancas, de chumbar, de não saber...voltam os pensamentos e os sintomas físicos: a assustadora falta de ar, as dores de cabeça explosivas; as tonturas; a taquicardia; os suores; as dores de estômago; as náuseas, os vómitos, a diarreia; o cansaço, os tremores, as dores musculares e no peito.

É o pânico total: Eu, com tanta coisa para estudar, a não saber nada, parece que me esqueci de tudo de um minuto para o outro, tenho a sensação de desmaio, parece que vou ter um ataque de loucura. 

    Será que estou com algum problema de saúde. Vou ao centro de saúde, disse os sintomas, fui auscultada, disse que estou quase na época dos exames, medem-me as tensões, e diagnosticam-me com stress, ansiedade, pânico. 

    Medicam-me, com calmantes, ansiolíticos, e dizem que as crises podem voltar, mas para não se assustar, porque pouco tempo depois passam. Não são perigosas para nós! 

    Mandaram alimentar-me bem, descansar...como nos vamos alimentar bem se parece que temos um bolo na garganta? Ou qualquer coisa a apertá-la? Os médicos garantem que não tem nada, está tudo bem, é tudo ansiedade, stress típico dos exames. E vai passar. Confiamos neles, mesmo assim, até custa a acreditar.

    Mas...e não é que eles tinham razão? Ufa! Logo que tomo os medicamentos, volto ao normal. Deixei de ter aqueles sintomas, fico mais calma, descanso mais, organizo-me melhor, já não tenho os pensamentos acelerados e por isso posso raciocinar, memorizar melhor.

    Estou pronta para ter notas altas, como é o meu objetivo. Mas uma coisa aprendi, com  os próprios médicos, e com os profs...eles têm razão, o estudo é para ser feito gradualmente, desde o início do ano, e ir revendo, fazendo esquemas, ao longo do ano, várias vezes para refrescar a memória e associar à seguinte, se não, nada faz sentido! 

    Tudo se encadeia, mas quando estamos sob stresse, tudo fica confuso, baralhado, nublado, não sentimos segurança, temos medo de falhar, de desiludir os nossos pais, e amigos, mas isso deve passar para segundo plano, porque na verdade, acho que os nossos pais querem é que estejamos bem, e que tenhamos saúde. 

     Claro que ficam contentes com os nossos resultados, mas se temos notas baixas, eles estão aí para nos ajudar, e podemos pedir ajuda a explicadores, aos professores, aos colegas, não é vergonha nenhuma. 

  E até um psicólogo ou psicóloga pode ajudar, com antecedência, porque a psicologia não funciona tão rápido como os medicamentos, só que os seus efeitos são mais duradouros e fazem melhor à nossa saúde. 

    E vocês como estudam? (na véspera, não estudam, uns dias antes...)

    Como se sentem antes dos exames e testes? 

    Ficam assustados com o que sentem? 

    Vão ao médico? 

    O que fazem para acalmar?

Podem deixar nos comentários, ou partilhar na turma, e encontrar juntamente com os professores, alternativas mais saudáveis. 

                                                    Fim 

                                                Lara Rocha

                                                10/Novembro/2022





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