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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A lenda da mulher dos corais


        
















pintado por Lara Rocha, no Livro de pintar para adultos 

    Era uma vez uma praia, de sonho, daquelas maravilhosas, que só parecem existir na nossa imaginação. Mas esta existia mesmo, e tinha uma lenda. 

     Além das suas areias limpas e águas transparentes, onde se viam milhares de corais, peixes, pedras, algas, rochas, a lenda com centenas de anos contava que havia uma criatura marinha, diziam parecer mulher, outrora com uma beleza hipnotizante. 

     Mas não era de carne e osso como nós, o seu corpo era feito de belos corais, estrelas do mar e algas nos cabelos muito compridos, um búzio gigante como boca, conchas enormes na cara, e algumas coladas nos corais do seu corpo, pérolas nos olhos. 

     Muitas vezes vestia belos vestidos de peixes que se encostavam a ela, outras vezes, quando se mexia debaixo de água e nadava, enchia o fundo do mar com bolinhas de ar, e tudo à sua volta ficava mágico. 

     Dizia que aparecia à noite, aos pescadores, mas era perigosa, mesmo sem querer: às vezes brincava com os barcos de pesca, empurrando-os, outras vezes virava-os, e levava os pescadores a ver o fundo do mar, trazendo-os novamente à superfície. 

      As esposas dos pescadores, ficavam muito ciumentas quando ouviam falar dela, e um dia quiseram afastá-la dos maridos, para eles não correrem riscos, nem se apaixonarem por ela. 

      Uniram-se, e construíram um homem parecido com um pescador, mas era um boneco. Tão bonito, que parecia real, mas o seu enchimento era tóxico, perigoso para os corais. 

      Lançaram-no ao mar, e a mulher dos corais foi logo ter com ele, agarrou-o, dançou com ele, conversaram os dois, alegremente, ela seduziu-o, ele era igualmente encantador. 

      E sem se aperceber o corpo do ser marinho estava a desfazer-se, os corais separaram-se, e caíram no fundo do mar. O boneco marinheiro disse que queria casar com ela nessa noite, pois era o amor da sua vida, mentiroso! 

      Mas ela acreditou, ele disse que ia buscar uma prenda para ela, e já voltava. A mulher entusiasmada, nem reparou no seu corpo a desfazer, e esperou, esperou, esperou...o homem nunca mais aparecia, e no dia seguinte, ela ficou despedaçada, totalmente destruída de tanta desilusão e tristeza. 

      Todos os seus pedaços ficaram no fundo do mar, separados, uns mais próximos outros mais distantes, o búzio que era a sua boca ficou pousado na areia, as estrelas do mar e as algas espalharam-se por vários sítios dos corais do seu corpo, tal como as conchas e as pérolas dos olhos. 

      Um dos marinheiros soube do que as mulheres fizeram, ficou muito zangado, e não achou piada nenhuma. Foi o fim do seu namoro, e mergulhou até ao fundo do mar, com muitos outros que também quase se separavam das suas esposas. 

      Ralharam com elas, e proibiram-nas de serem ciumentas, possessivas, ainda mais de fazerem maldades contra um ser que nem sabiam se era humano.

      Eles relembraram que elas também tinham amigos homens, e eles não ficavam ciumentos, nem as proibiam de os ter, tal como eles tinham amigas, e nem por isso deviam ficar ciumentas. 

      Eram casados ou namorados, confiavam um no outro, ou então ia cada um para o seu lado! Elas ficaram magoadas com eles, mas compreenderam e acharam que na verdade eles tinham razão, porque realmente nunca tinham regressado com sinais de ataque dessa criatura. 

      Elas próprias ficavam na dúvida se existia ou não, nunca a tinham visto, mesmo assim quiseram jogar pelo seguro, e avisar os maridos que estavam a tomar conta deles, que se preocupavam com eles, que queriam protegê-los.          

     Eles não gostaram, e proibiram-nas de os controlar, disseram que não precisavam que tomassem conta deles, que já eram grandinhos, e esse ser até já os tinha ajudado. 

      As mulheres arrependeram-se, ficaram a pensar no que tinham feito, e no que podiam fazer para que os maridos não ficassem tão zangados.

      Eles disseram que não podiam fazer nada, tinham ficado magoados com essa atitude delas, mas só o tempo iria ajudar a esquecer o que elas tinham feito. 

      Como não a tinham esquecido, viram que todos os seus pedaços formaram um gigantesco espaço de corais marinhos, cheios de surpresas, as conchas maravilhosas, os búzios. 

      Os homens adoraram aquele espaço, mas deram as mãos e pediram um desejo: voltar a ver aquela mulher marinha. Então, foram ouvidos, e quando abriram os olhos, a mulher dos corais, estava novamente construída como antes a conheceram. 

      Eles pediram desculpa pelo que as mulheres fizeram, e prometeram ao ser marinho que não iam falar mais dela às suas esposas, e namoradas. 

      Ela agradeceu-lhes e prometeu que não lhes ia aparecer, porque o seu coração estava partido, a não ser quando eles precisassem de ajuda, ela estaria lá. 

      Enquanto ela não aparecia, debaixo de água era um belo conjunto de corais, cheio de coisas maravilhosas para descobrir, ver, tocar, e muita gente mergulhava para a ver. 

      Quando sentia segurança, aparecia à superfície, em festas de jovens na praia, mas achavam que era efeito do excesso de álcool, nunca pensaram que ela fosse verdadeira, divertia-se com eles. 

      Tirava alguns da água quando se atiravam, e no fim, já que ficavam todos a dormir na areia, era quem limpava todo o lixo que deixavam. Essa era a parte que ela não gostava, mas alguém tinha de o fazer. 

      Com a raiva, espalhava ouriços do mar pela praia à volta deles, e pedras grandes. Quando acordavam, os jovens não se lembravam de nada, e assustavam-se quando viam os ouriços e pedras. 

      Ainda hoje fazem longas caminhadas, e visitas para ver se encontram essa mulher tão bonita, mas apenas veem os fantásticos corais, embora antes de chegar a eles, se perceba que tem formato de corpo de uma mulher. 

      Uma lenda, talvez para ensinar as mulheres, namoradas ou esposas a confiar nos maridos, namorados, e mesmo em amigos, a não serem possessivas, e possessivos, a serem verdadeiros e verdadeiras quando não gostam de ser demasiado controlados e controladas, dizerem-no, e que não vale a pena ser ciumentas, ou ciumentos. 

       Isso não é amor! Nem a vingança, porque o amor quando tem de acontecer, acontece naturalmente, começa pela amizade, tem confiança, não é posse, nem controlo excessivo!

                                                FIM 

                                           Lara Rocha 

                                           18/11/2022

E para vocês? O que é que esta lenda ensina? (Podem deixar nos comentários, se quiserem) 

                                                            

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