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domingo, 31 de julho de 2022

A coruja Girassol Rosa

  



         Era uma vez uma coruja que se chamava Girassol Rosa, vivia numa árvore de uma casa, com a vista da cidade ao longe, uma ponte, luzes e aviões a sobrevoar a todas as horas

    Às vezes ficava em silêncio, imóvel, de dia dormia, outras vezes quando tinha insónias de noite, ou estava mais nervosa, saía da sua toca para ver as diferenças das paisagens, entre o dia e a noite. 

     Se estava muito calor, de dia dormia fora da toca, dois andares a cima da sua casa, onde havia ainda mais sombra, com as folhas frondosas. 

    Ela gostava do sítio onde vivia, mas no Outono, e Inverno, sentia-se mais triste, só que não se deixava dominar por esse estado. Sabia que todos sentiam essa mudança. 

      Como não podia sair tantas vezes por causa do frio gelado, do vento e da chuva, enquanto estava recolhida no seu cantinho, quente e confortável, escrevia poemas, poesia, pensamentos, lia, e declamava o que escrevia. 

        Já tinha uma lista que nunca mais acabava. Animava  e encantava as noites com as suas declamações, na aldeia e na cidade. Todos a ouviam deliciados, encantados, suspiravam, sorriam, riam, emocionavam-se, deixavam cair algumas lágrimas, de felicidade, outras de tristeza e saudade. 

        Aplaudiam, e sonhavam com a voz e as palavras da Girassol Rosa que vagueava por ruas noturnas, onde havia gente para a ouvir. Alguns músicos que tocavam de noite, na cidade, para ganhar algum dinheiro, desafiavam a Girassol a declamar as suas poesias, e poemas, acompanhadas pelas suas músicas, e pediam-lhe autorização para as transformar em canções que os próprios compunham, outros cantavam. 

        A Girassol Rosa sentia-se vaidosa e orgulhosa, feliz por ter tantas pessoas a ouvi-la, a apreciar os seus poemas e ainda ajudava quem usava a arte para transmitir mensagens, fazer disso vida. 

        Era uma grande amiga de todos e todas, fotografavam-na, filmavam, gravavam os seus poemas. Um dia, uma senhora que pintava quadros na rua, perguntou se podia pintá-la. Girassol disse que sim, com muito gosto, e enquanto isso, as duas conversaram, e dessa conversa surgiram vários poemas da Girassol Rosa, deixando a pintora com um sorriso de orelha a orelha, e disse: 

- Mas é isso mesmo. Conseguiste transmitir melhor com as tuas palavras os meus sentimentos e emoções, da nossa conversa, do que eu a falar contigo! 

- A sério? Que bom! Sim, na verdade foi o que eu senti que querias dizer! 

- Tens poemas tão bonitos...! Onde vais buscar tanta inspiração? Se é que posso saber. 

- Boa pergunta, sim claro que podes saber. Olha...vou buscar inspiração a tudo o que aparece, tudo o que vejo, tudo o que oiço, tudo o que sinto, tudo o que outros sentem. O amor, o dia, a noite, a natureza, as estações do ano, as cores, os sons, o sol, a lua, a chuva, o vento...o mundo, os animais, o mar...os meus pensamentos quando olho para a paisagem, o que a cidade me comunica, as caras de quem passa por mim, os olhos, as palmas, os risos, os choros, os abraços, os carinhos, os beijinhos, a solidão, as aves, a tristeza, a saudade...as crianças, a música, o movimento, a família, as brincadeiras, os barcos, as luzes, até as pedras, as pessoas solitárias...muita coisa. E a ti? 

- Óh, és uma coruja muito especial. 

- Chamo-me Girassol Rosa, e tu? 

- Eu chamo-me Aguarela! 

- Áh! Que nome tão bonito, e raro. 

- É. O teu também. 

- Obrigada. 

- Também há muita coisa que me inspira. É por isso que quando estou mais feliz, pinto quadros mais alegres, bonitos, coloridos, quando estou mais triste, os quadros são de cores escuras e paisagens mais  despidas. 

        E enquanto conversam mais um pouco, a Aguarela termina o quadro com a coruja numa cena a declamar. 

- Áh! Mas que bonita que fiquei...óh! Estou tal e qual. Que maravilha, estou orgulhosa. Sem palavras para te agradecer. 

- Obrigada, que bom que gostaste. Eu também adorei pintar-te! Podes levá-lo, e pões a secar uns dias, ou se quiseres voltas daqui a uns dias, e levas. 

- Deixa secar, eu volto e levo daqui a uns dias. Está tão bonito. Bem, desculpa, vou regressar a casa, está quase de manhã. 

- Claro, à vontade. Eu também vou para a minha. 

- Adorei este bocadinho contigo, Aguarela. 

- Óh, eu também adorei pintar-se, Girassol, e conversar contigo. 

- Voltaremos a encontrar-nos em breve! - garante a coruja 

- Com certeza, estou sempre aqui. 

- Está bem. Bom descanso. 

- Obrigada, igualmente. Até já. 

- Até já. 

           Cada uma vai para sua casa, a coruja muito feliz, e a Aguarela ainda mais. Depois de dormir, a coruja Girassol escreve todos os poemas que declamou inspirados na conversa que teve com  a Aguarela. 

         A Aguarela, recebe a partir dessa noite, dezenas de pedidos de quadros iguais aos da Coruja, iguais ao que ela pintou, e noutras posições, porque toda a gente conhecia a Girassol, e mostravam fotografias para os quadros. 

         Uns dias depois, a Girassol volta, declama os seus poemas, e vai buscar o seu quadro à Aguarela. A Aguarela contou-lhe o que aconteceu, desde que conversaram, e a Girassol fica muito orgulhosa, não cabe em si de felicidade. 

        Desse dia em diante, as duas tornam-se grandes amigas, e a Coruja serve de inspiração para a Aguarela, que a pinta para muitas gente, com poemas da Girassol. Ela também ajuda os músicos, e continua a encantar com as suas declamações, ainda mais feliz por ajudar aqueles artistas. 


                                                   FIM 
                                                Lara Rocha 

                                                31/Julho/2022 

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