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terça-feira, 16 de agosto de 2022

O jardim das coisas estranhas

 O JARDIM DAS COISAS ESTRANHAS 


        Era uma vez um jardim, onde aconteciam coisas misteriosas. Logo à entrada, um grupo de pássaros de todas as cores, grandes e pequenos, soltava bolinhas de sabão de todos os tamanhos, enquanto chilreavam. 

Dentro dos troncos, algumas corujas cantavam ópera, conversavam umas com as outras a cantar e a gritar. Um sapo que achava que era acrobata e subia e descia milhares de vezes por dia, os troncos de todo o jardim. 

O sapo dava trambolhões e cambalhotas, escorregava, arranhava-se todo, e ria à gargalhada, outras vezes descia aos saltos a fingir de cavalo. Todos aplaudiam e ele ficava todo vaidoso. 

Uma preguiça resmungona que estava sempre a reclamar com o barulho, demorava muito tempo a descer o seu tronco preferido e procurava muito lentamente, parava muitas vezes, conversava com quem passava enquanto descansava. 

Havia muitas árvores que pareciam iguais às outras, mas os seus troncos mexiam como se fossem braços a espreguiçar-se, para um lado e para o outro. Os troncos suspiravam, as folhas bocejavam, os raminhos estremeciam e espirravam. 

Abraçavam-se umas às outras, batiam palmas, cantavam, dançavam, acariciavam a cara e os cabelos das pessoas que entravam e eram simpáticas, agarravam pelas camisolas, como se fossem mãos, ou puxavam cabelos. 

Riam à gargalhada, às vezes trocavam de lugar umas com as outras, para ver paisagens diferentes, as folhas pintavam-se de cores que não eram delas. Desfilavam, fotografavam-se, aplaudiam-se, faziam concursos com vestidos e saias a condizer, casacos feitos de musgo, construíam camas de penas que os pássaros largavam. 

Podiam ver-se cogumelos de todos os tamanhos e cores a andar de bicicleta, a correr, cogumelos com asas que voavam e pousavam, lutavam com gaivotas e pássaros para os escorraçar, guincharam como elas. 

Um golfinho muito generoso que saía da água, dava milhares de saltos, e construía na margem do lago, com cascas das árvores, musgo que se transformava em algodão, e penas, fazia camas, ninhos e abrigos para animais variados que passassem por lá: passarinhos, esquilos, borboletas e morcegos. 

         E por falar em morcegos, estes estavam espalhados pelos troncos, uns acordados de dia, e dormiam de noite. Uns a dormir em pé, sentados, de cabeça para cima, numa casinha confortável, outros a dormir deitados nesses ninhos fofos, outros de cabeça para baixo num tronco gigante, cheio de toquinhas, que parecia um condomínio fechado.  

      Havia rolas costureiras, borboletas tecedeiras, aranhas bailarinas, cogumelos que viviam aos pés das árvores, estavam muitas vezes constipados, tossiam, espirravam, fungavam e limpavam os narizes, grunhiam, os esquilos ofereciam-lhes uns chás quentes com mel, e cobriam-nos.

         Algumas gaivotas transformavam-se em lindos cisnes gigantes, brancos, pretos, amarelos, azuis, as rãs invejosas tentavam corrê-las mas elas riam e levavam-nas a passear pelos ares nos seus bicos. Primeiro as rãs gritavam assustadas, mas depois adoravam o passeio. 

         Outras gaivotas, transformavam-se em pequenos patinhos, que nadavam no lago, havia patos com medo da água que andavam em terra e gritavam quando tinham de entrar na água. 

         Havia frutos coloridos, com cores trocadas, maçãs roxas, bananas castanhas, azuis, verdes, amarelas, cinzentas, pretas, ameixas cor-de-laranja, laranjas brancas, limões com cheiro a limão, mas mas cores nunca antes vistas. 

      A erva crescia no chão entre grossos troncos de árvores com raízes tão fortes, tão grossas, tão grandes que saíram debaixo do solo, e estavam à superfície. Serviam de esconderijo, casa e abrigo para coelhos de todos os tamanhos, que tinham medo de sítios fechados, por isso não conseguiam construir tocas. Mas com a erva grande, estavam protegidos do frio, do calor, dos animais selvagens e de quem lhes queria fazer mal. 

     Quando os coelhos saiam, os esquilos tomavam conta das casas, trepavam às árvores, subiam e desciam dezenas de vezes por dia, corriam pelo jardim atrás de bolotas e a recolher comida, para eles, para os coelhos e outros alimentos para quem mais precisava. 

    Bebiam água, escorregavam, riam,  iam para a cidade, dormiam a soneca nas suas tocas, umas nos grandes troncos das árvores, outras nos ramos de cima, e outras nas raízes. A seguir estavam como novos, cheios de energia. 

     Era um jardim onde às vezes apareciam estrelas de dia, e sol à noite, o sol e a lua viam-se ao espelho, na água das fontes, para onde iam pessoas especiais. Existiam borboletas que se transformavam em beijos, e beijos que se transformavam em borboletas. 

   Flores que quando eram tocadas transformavam-se em bolas de sabão, umas desapareciam, outras rebentavam em seguida, outras espalhavam-se pelo céu, e caiam na relva. 

       Pedras que se riam, patos que choravam e cantavam, pássaros que gatinhavam, gatos que faziam habilidades de circo, cães que tanto andavam em duas patas, como com as quatro patas, e davam cambalhotas. 

      Lobos que andavam de patins, e faziam torneios de dança, futebol no gelo de patins, com outros animais e todos aplaudiam. Formigas que piavam como mochos, mochos que piavam, umas vezes riam à gargalhada, outras choravam sem saber porquê. 

       Este jardim era tão misterioso que se encontravam as quatro estações do ano, reunidas numa grande festa, misturavam-se todas, trocavam as suas características para se divertirem, cada uma experimentava ser as outras. 

      Mas outras vezes, ficava cada uma no seu canto, em silêncio, a descansar, a sonhar, a imaginar, a ler, a criar. 

    As pessoas raramente entravam neste jardim, mas quando isso acontecia, saiam de lá a pensar que aquilo era tudo imaginação deles, nada era real, era só o medo do que não conheciam a falar e a inventar o que não existia. Ou que estariam a dormir e a sonhar. 


E vocês, se entrassem neste jardim, que coisas estranhas viam?

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                                                           FIM 

                                                     Lara  Rocha 

                                                     16/Agosto/2022


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