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quarta-feira, 25 de maio de 2022

A voz da fonte

        


          Era uma vez um casal que foi passear de mão dada pela aldeia, numa noite quente de Verão, um céu cheio de estrelas e uma lua cheia que parecia quase dia. 

        Para eles era mágico, pareciam estar num mundo à parte, com um silêncio quase total, apenas interrompido pelas palavras deles, e pelos bichos noturnos que cantavam em coro. 

        Pelo caminho ouviram alguém a cantar. Não era uma canção qualquer, nem uma voz como a deles, muito diferente dos sons dos animais que ouviam. 

        Ficaram parados uns momentos, a olhar para todo o lado, em silêncio, para descobrir de onde viria a voz que soava tão bem. 

- É por ali. - diz ele 

        Os dois avançam devagar, sempre a ouvir aquela voz deliciosa. À medida que caminham a voz soa mais alto. 

- É da fonte? - diz ela 

- Parece que é. - diz ele 

         Aproximam-se da fonte e confirmam, a voz vem mesmo de lá. Mas...não está ninguém. 

- Cuidado, pode ser uma armadilha. 

- Qual armadilha. Aqui não há disso! 

- Mas não está aqui ninguém. 

- Pois não, mas não quer dizer que seja uma armadilha. 

         Aproximam-se ainda mais, e para surpresa deles, está um lindo ser pequenino, que eles nunca tinham visto antes, dentro da água, no laguinho a cantar para a fonte, com o reflexo branco da luz da lua a ondular da água a cair, parecia cor prateada ou feita de estrelas.  

- Uau, que lindo o reflexo da lua na água. - diz ela a sorrir 

- É mesmo. Parece prata! 

- Olha a voz..- repara ela 

- Estás a ver o mesmo que eu? - perguntou ele

- Sim, e tu? - perguntou ela 

- Acho que sim! 

- Nunca vi este ser por aqui. 

- Nem eu. 

- Mas que voz maravilhosa! 

- É mesmo. 

        Como era possível aquele ser que mal se via, cantar assim? Parecia um ser mágico, da mitologia. Tão bonito, e a voz dele nem se fala. Era limpa, pura, transparente e clara como a água, fina. A criatura cala-se, os dois aplaudem. 

- Óh, porque paraste de cantar pequeno ser? 

- Que voz tão mágica, maravilhosa. Quem és tu?

        O ser, sorri-lhes: 

- Obrigado. Eu sempre estive  aqui. 

- Mas nós nunca te ouvimos! - diz ela 

- Eu canto muitas vezes. 

- Deve depender da posição do vento. - diz ele 

- Sim, também não vimos para aqui todos os dias. 

- Estava a cantar para a fonte! 

- Porque cantas para a fonte? - pergunta ela 

- Para lhe agradecer a minha casa, a minha família, a minha saúde, tudo o que eu tenho de bom, incluindo o amor. E como falo de amor, ela enche-me de mais coisas maravilhosas, incluindo a vossa presença. 

- Áh! Que lindo.

       O ser volta a cantar para a fonte, de braços abertos, outra canção diferente, mas igualmente bonita. 

- A vossa presença traz amor. - diz o ser 

- Traz? - perguntam os dois 

- Sim, são namorados, não são? 

- Somos. 

- O vosso amor é puro, e lindo como esta água. 

- A sério ? - dizem os dois a sorrir 

- Sim, é transparente! 

- Áh! - exclamam os dois 

- Consegues ver? - pergunta ela

- Consigo. Também estou a cantar para a fonte, para ela vos iluminar. 

- Mas como é que nunca te ouvimos antes? 

- Não sei, talvez porque o vosso amor estivesse em crescimento, ou a tornar-se mais claro e puro. Eu senti-o quando se aproximaram e ainda mais aqui. 

- Vem aqui muita gente? 

- Não! Ninguém, ou...talvez...os vossos antepassados tivessem vindo aqui. 

- E tu cantas só aqui?

- Não. Canto noutras fontes também. Canto para os verdadeiros amigos, para o amor em todas as suas formas, que na verdade não tem forma, só se mostra com pessoas diferentes, que escolhem os seus amores, os seus amigos. Canto para as famílias onde ele está, canto para os namorados que o sentem de verdade. Eu canto quando sei que esse amor é puro, inocente, verdadeiro. Para os que não são amor, não canto. 

- Eles ouvem-te? - pergunta ela 

- Dizem que sim, os que têm amor. Os outros não. - diz o ser 

- Que lindo! - dizem os dois a sorrir 

        Os dois olham-se a sorrir, abraçam-se, e a voz volta a cantar a olhar para eles, feliz. Era um ser com sensibilidade para sentir o amor puro, de corações bons, de casais que se amavam de verdade. E quando sentia esse amor, ele gostava tanto, ficava tão feliz, que incluía no seu canto à fonte, o existir amor à sua volta. 

- Nunca percam essa sinceridade. Quando duvidarem do vosso amor, venham a esta fonte, e se me ouvirem cantar, não tenham dúvidas que ele é verdadeiro e sincero. Amem e sejam felizes! - diz o ser 

        O ser volta a cantar, e a encantar. O casal ouve deliciado, dança e sorri. O ser canta mais alto por sentir amor. E dessa noite em diante, o casal visitou mais vezes o ser da fonte, não que tivessem dúvidas sobre o amor que sentiam um pelo outro, mas por adorarem ouvir aquela voz que cantava sempre que os via. 

        Foi nessa fonte que decidiram casar, uma cerimónia simples, só os dois, os pais, os irmãos, os amigos mais chegados. O ser que cantava foi o padrinho de casamento, molhando as alianças que trocaram na água da fonte, e cantando canções, feliz, com a sua voz deliciosa, porque ele sentiu amor verdadeiro naquelas pessoas.

                                             FIM 

                                          Lara Rocha 

                                         25/Maio/2022 

        E vocês, se fossem o ser da fonte, como seriam? Cantavam para quem? 

Podem colocar as vossas respostas nos comentários. Crianças, adolescentes e adultos. 


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