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terça-feira, 12 de abril de 2022

A música que fazia crescer plantas

 


     
Era uma vez um jovem que estava desempregado, era músico, e saia de casa todos os dias, com um instrumento musical diferente para conhecer outros lugares, em busca de inspiração. 

    Numa tarde entrou numa estufa que estava com a porta aberta. Não havia ninguém, mas também se aparecesse alguém, ele explicaria que não ia fazer mal às plantas, e o que estava lá a fazer. 

    A estufa não parecia abandonada, mas as plantas quase não se viam. Talvez tivessem sido lançadas à terra há pouco tempo. 

    Sentou-se numa cadeira de ferro, bonita, cheia de rendilhados, e ficou em silêncio a observar, à espera de algum som. Nada. Nem um gemido do vento, nem um olá de um raio de sol. Estava tudo silencioso. 

     Hoje tinha saído com uma flauta e um violino. Começa a tocar a flauta, uns sons soltos, esperou por algum som de volta, mas nem um. 

     Tocou mais umas notas soltas, e...surpresa...recebeu de volta um passarinho pequenino, com penas muito coloridas, e um piar tão doce que ele quase não o via. 

- Olá! - diz o jovem 

- Olá. - diz o passarinho

- Esta estufa é tua? - pergunta o jovem

- Não...venho só aqui de vez em quando, porquê? És o novo dono? - responde e pergunta o passarinho 

- Não. Tem dono? 

- Tem. 

- Eu só vim à procura de inspiração, estou sem trabalho, aproveito para passear, e trago alguns instrumentos. 

- Ins...quê? O que é isso? Estás doente? - pergunta o passarinho

- Não… felizmente não! - ri o jovem - desempregado. Quer dizer que como não tenho trabalho, saio de casa e venho à procura de coisas que me façam criar ideias para músicas. 

- E o que fazes com esses…? 

- Instrumentos? 

- Sim, isso. 

- Fazem parte do meu trabalho. 

- Áh! E o que é que eles fazem? 

- Música. Não conheces? 

- Não. 

          O passarinho voa para a mesa, e olha para o jovem. Este sorri. 

- Que bonito que tu és! 

- Obrigado. 

- Queres ver como toca? 

- Sim…

          O jovem toca uma música inteira, que o passarinho, sem saber, conhecia, e acompanhou com o seu canto. No fim da música, o rapaz aplaude o passarinho, e o passarinho aplaude o rapaz. 

- Que momento tão bonito! Obrigado, passarinho. Adorei. - diz o rapaz a sorrir 

- Obrigado, eu. Também gostei muito. Eu já conhecia essa música, mas não sabia que a tocavas. 

- Bem, não sou só eu que toca. Muita gente, que gosta desta música, toca-a. 

- Áh! E como se chama esse instrumento? 

- Flauta. 

- E este? 

- Violino! 

- Qual é o som dele? 

      O rapaz exemplifica. O passarinho arrepia-se. 

- Uau! É forte. Mas parece bonito. Fiquei com as penas todas arrepiadas. 

      O rapaz ri. 

- É porque gostaste. 

      O rapaz toca uma música completa com o violino, e o passarinho dança, canta com ele. O passarinho quer experimentar a flauta. 

      O músico explica-lhe, como se faz, e diz-lhe para tapar os buraquinhos com as patinhas conforme ele aponte. Os dois divertem-se tanto, riem tanto, que nem se aperceberam das cabecinhas de plantas que se tornaram visíveis. 

      Quando olham para o chão: 

- Ei, o que é que aconteceu aqui? 

- Não sei. 

- Isto não estava aqui. 

- Pois não. 

      Entra uma senhora com mais idade, e dá um grito: 

- Áhhhh… mas o que é isto? Quem és tu? Como é que entraste aqui…? Para roubar ou destruir a estufa, não? 

- Óh, não, querida Senhora. É a dona da estufa? 

- Sim. 

- Mil perdões, não queria assustá-la. 

      O jovem dá-lhe o lugar da cadeira, e conta-lhe a sua história. A senhora sorri aliviada, e diz: 

- Olha que engraçado, as cabecinhas estão a aparecer… será que foi com a tua música? Que lindo passarinho. É teu? 

- Não, entrou aqui há bocadinho, já nos rimos muitos, conversamos, tocamos… será que acordei as sementes? 

      Os dois conversam mais um pouco, e ficou prometido voltar no dia seguinte. O rapaz é muito delicado, e no dia seguinte, a senhora gostou tanto dele, que o esperava na estufa. 

      Abriu um grande sorriso quando o viu. 

- Olá. Já está aqui? - diz o rapaz 

- Sim, eu sabia que estavas para chegar. O teu amigo avisou-me. 

- Olá. - diz o passarinho 

- Olá, também já estás aqui? Boa! 

- O que vais tocar hoje? - pergunta a senhora 

- O que quiser...tem assim alguma música que goste mesmo? 

          A senhora identifica uma música de que sempre gostou, e o músico toca, acompanhado por instrumentos, com o passarinho. A senhora canta, com um sorriso luminoso e brilho nos olhos. 

        O músico fica deliciado. As cabecinhas crescem mais uns quantos centímetros. A senhora aplaude no final. 

- Obrigado por este momento. Que lindo que é o seu sorriso, e o brilho dos seus olhos! - diz o jovem feliz por ver a Sra. a brilhar com a sua música 

- Obrigada eu. A tua música deixa-me muito feliz, e tu tens uma luz muito bonita, és um ser especial. 

- Acha? Hummm… não sei. 

- Claro que sim! Não é qualquer um que me põe com um sorriso e um brilho nos olhos de felicidade. 

- A sério? 

- Sim. 

- Que maravilha! Então venho cá mais vezes, só para ver a sua felicidade, de ouvir a minha música. 

- Óh, filho, mas claro que sim, tenho todo o gosto que venhas. Vem sim, por favor. 

- Sem favor! 

- Olha como estão a crescer as minhas plantas, e flores. A tua música é especial, até as plantas gostam. Que lindo! 

     O jovem sorri, os dois decidem ir passear pelo resto do quintal e da casa, ele de braço dado com a senhora, e ela a contar histórias sobre os espaços, as árvores, a casa, a família. 

      Ela convida-o para lanchar, e conhecer a família. É muito bem recebido, e toca algumas músicas, que todos conhecem, acompanham alegremente, a cantar e a dançar. 

      Nos dias seguintes, o jovem lá estava, numa conversa animada com a senhora, com instrumentos diferentes, a tocar e a divertir toda a família. Todas as plantas cresceram de forma gigante e rápida. 

- Que bonitas! - diz o rapaz 

- Olha como cresceram. Foi a tua música! - diz a senhora surpresa 

- Eu acho que foi mais o seu sorriso, e o que tem de bom como pessoa. - diz o jovem 

      A senhora ri. 

- Obrigada, filho, és um amor. Mas eu acho que foi a tua música, porque elas também são sensíveis à  música, e à voz, ao carinho humano. 

- Com certeza, não tenho dúvidas disso! 

     Todas as histórias que o jovem ouviu da senhora, inspiraram-no para criar músicas, e todos os dias ele tocava para ele, dizendo que foi inspirada na história de uma árvore, ou na história sobre o que aconteceu à volta de outra, na história do convívio à luz da lua, na eira. 

      A senhora e a família adoravam todas as músicas novas que ele trazia. Sempre que o rapaz vai lá tocar, e cantam, as plantas e as flores crescem mais um bocado, ficam tão grandes que o rapaz não pôde entrar mais na estufa.

      Mesmo assim, continuou a visitar a senhora todos os dias, a tocar para ela, todos se deliciavam com o tamanho das flores, até no exterior. 

      Flores, e não só, porque tudo o que foi plantado, legumes, cresceu para surpresa de todos. Tornaram-se uma verdadeira segunda família para o músico, que até arranjou emprego, graças à senhora que divulgou o trabalho do jovem, e este começou a dar aulas de música, a ensinar todos os que queriam aprender a tocar muitos instrumentos diferentes.

      Mas só alguns conseguiam fazer as plantas e legumes crescer como ele. Muitas pessoas acreditavam que fossem aqueles que tinham um bom coração, mais puros,  ou os que faziam os outros felizes, como o jovem fazia a senhora.       

                                                            FIM 

                                                         Lara Rocha 

                                                        (12/Abril/2022)

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