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segunda-feira, 6 de abril de 2015

A LIÇÃO DAS TULIPAS PROTECTORAS

foto de Lara Rocha 

  Era uma vez um jardim enorme com muitas outras tulipas, de muitas cores diferentes. Abriam com o sol, e fechavam com a noite ou quando havia mais sombra.
   Um dia, um menino cismou que queria apanhar borboletas, e que as ia pregar num placard pelas asas com pioneses. 
    Os pais não estavam de acordo com essa maldade, e tentavam de todas as maneiras contrariá-lo, distrai-lo com outras coisas, mas ele era muito mimado, teimoso e rebelde.
    Conseguia tudo o que queria com as suas birras ouvidas por todo o bairro, ainda por cima, mentia…quando vinham ver o que se passava, e a razão daquela gritaria, ele dizia que os pais lhe tinham batido. 
      Felizmente, muitos vizinhos já sabiam que ele era assim, não acreditavam. Cismou tanto, que saiu de casa sem os pais perceberem, e levou uma rede para as apanhar, com um saco de pioneses, preparado para pregar as borboletas. 
   Correu de um lado para o outro, mas as borboletas escapavam, e uma delas avisou as outras, muito assustada:
- Meninas…fujam! Anda aí um estouvado, uma criatura maldosa que nos quer apanhar com aquelas redes, e prender com pioneses. Tenham cuidado.
  As borboletas ficam muito nervosas e assustadas.
- Como é possível? – Diz uma borboleta nervosa
- É um adulto? – Pergunta outra
- Não. É uma criatura pequena. – Responde a outra borboleta
- Tão pequena e já com essa carga de maldade? – Comenta outra
- Faltam-lhe umas palmadas para aprender a respeitar. – Diz outra
- É bem verdade…é isso mesmo! – Concorda outra
- Mas não percam mais tempo…escondam-se onde puderem e assim que puderem. – Recomenda a borboleta
- Obrigada por avisares, amiga! – Diz uma borboleta
- De nada…escondam-se como puderem e onde puderem.
    Elas voam rápido, e procuram abrigo, mas são tantas que os espaços não chegam para todos, pelo menos aqueles lugares que podem ser mais seguros para as borboletas.
- Está ali… - Grita outra borboleta
- Maldito! – Gritam todas
- Qual é a piada nisto?
- É nestas alturas que eu gostava de ser um animal diferente…uma fera com garras.
- Eu também.
- Dava cabo dele…
- E agora…? Para onde vamos?
- Boa pergunta…já está tudo cheio!
- Que nervos!
- Em último caso, damos-lhe um par de estaladões.
- Isso mesmo.
- Que palerma.
- Eu?
- Aquele…
    As tulipas apercebem-se da preocupação e agitação das borboletas e abrem, excepcionalmente:
- Escondam-se aqui! – Gritam as tulipas
   E entram às centenas para as simpáticas tulipas que se abriram. Logo que elas entram, as tulipas fecham-se. 
Não se vê mais uma única borboleta a voar.
- Onde foram todas? – Pergunta a criança
    Silêncio absoluto. De uma árvore sai um tronco fininho que lhe bate no rabo. Ele grita.
- Vai-te embora criatura horrível. – Diz uma voz
- Que voz é esta?
- Vai-te embora! – Grita outra voz mais forte
- Palerma! – Diz outra voz
- Eu quero borboletas. – Grita o pequeno
- Elas não aparecem enquanto as quiseres prender… - avisa a voz mais forte
- Mas eu queroooo… - grita o pequeno
- Estás habituado a que te façam todas as vontades…não pode ser. – Ralha outra voz
- Vai para a tua casa, e não voltes a perseguir as borboletas… – Grita outra voz mais forte
- Elas são bonitas em voo. – Grita outra voz
- Não vais ter essa sorte enquanto as perseguires… - Diz uma voz
- Elas não foram feitas para estar pregadas nas paredes.
- Foram feitas para estar livres.
    O pequeno insiste, mas as vozes não se deixam levar por ele, e dão-lhe uma bela lição. As tulipas abrem e todas as borboletas voam. 
  O pequeno fica tão encantado que perde a vontade de as apanhar e prender, e também as vê a dançar com todas as suas cores.
- Ááááááhhhh…! – Diz o pequeno espantado
     Até aplaude. Desde esse dia, o pequeno nunca mais apanhou borboletas. Gostou tanto de as ver, e de ver as tulipas a abrir e a fechar, que levou os pais a esse jardim para eles verem. Aprendeu a apreciar o que é bonito, sem prender e sem ficar com elas.
    É isso mesmo…há muitas coisas bonitas na natureza que são só para ser vistas, só assim é que se consegue ver a sua verdadeira beleza. 
    O mesmo acontece com as pessoas, e com os sentimentos. Presos, não mostram a sua beleza. 
    O Mundo precisa de pessoas que mostrem a sua verdadeira beleza, não a física, mas aquela que nem todos os olhos vêem à superfície. 
     Há belezas que só se descobrem no abraço, na amizade, no carinho, e na liberdade. O mundo precisa de liberdade, para ser mais bonito, e nós também.

                               FIM
                               Lara Rocha 
                        (6/Abril/2015)

   


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