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domingo, 9 de março de 2014

CONCENTRAÇÃO DE PENAS


            Era uma vez um lugar longínquo…muito diferente daquele onde vivemos, sem poluição, sem guerras, sem casas e com uma pequena tribo de índios. Nesse lugar, durante vários dias do ano, os Índios fazem uma festa para cumprir a tradição antiga dos seus antepassados.
Esta tradição dizia que todos os índios deviam festejar com as penas, que chegavam aos milhares, trazidas ao sabor do vento. Penas de pássaros, penas de pato, galinha, galos, gansos, cisnes, gaivotas, penas de pavão, de águias, de falcões, de corvos, e de muitos outros animais que se juntavam.
A festa das penas era aguardada com grande felicidade, e preparada com muito cuidado. Não podia faltar nada. Quando as penas começassem a chegar, os índios ficavam apenas a olhar para elas, pois a tradição mandava que as penas não fossem agarradas. Todas deviam voar livremente, leves, soltas.
Umas penas eram brancas e deixavam passar os raios de sol, entre os espacinhos…era lindo! Muitas penas voavam e pousavam numa grande bola de vidro, preparada para a hora da magia, outras tantas caíam sobre os índios e as suas casas, eram recolhidas e guardadas com muito carinho, pois eram sinal de boa saúde, e de serenidade, boas produções, e fartura, boas relações e felicidade nos casamentos, nascimentos.
As índias faziam lindos vestidos para esta festa, arcos de flores naturais, e de motivos marinhos, e neste dia, usavam as melhores jóias, faziam-se as melhores comidas, os penteados mais bonitos, usava-se a melhor louça…era como se fossem começar um novo ano, ou uma nova vida. Os homens também aprimoravam os fatos que já tinham, até as crianças vestiam roupas novas e recebiam brinquedos novos.
Olhavam constantemente para o céu e apreciavam cada pena que viam. Eram momentos de grande paz, que os fazia sorrir e quase voar com as penas…pelo menos voavam com elas no olhar e no pensamento.
Com a mudança de Lua, a azáfama aumentava, e à medida que as horas passavam. O grande dia estava mesmo a chegar, e todos ajudavam uns aos outros. Tantas penas, de tantas cores e tantos tamanhos, de tantos animais…todas leves e lindas.
No dia da festa, verificam a bola de vidro, põem as mesas, enfeitam tudo, e há muita música no ar, e alegria. As penas estão paradas, mas todos os índios dançam e cantam, trocam elogios e carinhos, comem e bebem á farta, e de repente faz-se um silêncio arrepiante! Começa a soar uns doces acordes de uma harpa.
Tudo fica em silêncio com uma enorme lua cheia a brilhar e iluminar todo o espaço, desligam a música, desligam o som, e quase desligam os cérebros. Os corações batem mais forte, de emoção, e todos os corpos vibram de ansiedade. Dão as mãos e formam um grande cordão humano à volta da bola.
A grande bola de vidro, fica toda iluminada. Todos olham encantados e sorridentes para a luz deliciosa e linda da bola. Cada um pede os seus desejos para si mesmo, sem partilhar com os outros.
Fazem em coro a contagem decrescente…10…9…8…7…6…5…4…3…2…1…0… A bola explode e acontece uma grande chuva de penas. Todas as penas que foram lá parar, acariciam e tocam os índios, eles abrem as mãos, e as penas caem, os índios oferecem penas às suas apaixonadas, e a outras pessoas que amam, como a família. Dançam uns com os outros, ao som da orquestra das fadas. Outros índios usam penas para se declararem às meninas por quem estão apaixonados, e pedi-las em namoro.
As penas que esperavam pousadas no lago e na praia, acordam e dão um espectáculo de dança, todos se deixam levar pela música e acompanham-nas lentamente, flutuam, rodopiando no ar, e a festa dura até ao amanhecer.
Todos se sentem muito livres e leves, com muita paz por todo o lado. Mas para que esta sensação dure todo o ano, na noite seguinte, mandava a tradição que tomassem banho no grande lago, com as penas.
É mais uma noite linda e divertidíssima de lua cheia no lago, onde parecia que voltavam a ser crianças, a brincar na água, com muita dança e amizade, e alegria. Sentiam-se mesmo bem!
No fim da festa, cada um levava uma pena de cada espécie para alcançar todos os seus desejos. E era mesmo assim! Até á nova chegada de milhares de penas, sem dia certo! Quando chegavam, tudo voltava ao mesmo.
Mas atenção: a liberdade deles tinha regras bem definidas que não podiam escapar. Eram mesmo para ser cumpridas. Não podiam fazer tudo o que desejavam.
A única liberdade total existe apenas na mente de cada um de nós, nos sonhos e na imaginação, onde na verdade não existem barreiras, nem perigos reais para nós e para os outros, ao contrário da nossa sociedade, onde tudo são barreiras à nossa liberdade.

                                   FIM
                                   Lálá
                                   (27/Fevereiro/2014)  

            

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