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quarta-feira, 20 de março de 2013

O BAILE DA PRIMAVERA


NARRADORA – Era uma vez um jardim adormecido pelo Inverno, onde não há flores, os animais estão nas tocas, há meses, e os passarinhos estão noutros sítios. Todo o jardim está em silêncio, à sombra e frio. O único ser vivo que passeia pelo jardim, é a linda Fada da Floresta, que toca a sua harpa, e por onde passa, começam a acontecer coisas mágicas. Isso mesmo…! A Natureza começa a acordar…De repente…há qualquer coisa estranha debaixo do solo…uma grande agitação…ouvem-se apenas vozes e sons agudos…Xiuuu…surpresa! O que será esta agitação toda? Nas tocas ecoam gritos e todos os animais que lá vivem agitam-se, correm de um lado para o outro, guincham, chiam, gritam…dão encontrões uns aos outros e pedem desculpa…parece uma cidade enorme em hora de ponta! E debaixo da terra, parece um tremor de terra gigante! Que barulho! De repente…parece que há um vulcão. Finalmente…os animais das tocas encontram a saída…era por isso que eles estavam agitados! Queriam encontrar a saída, pois a Fada da Floresta tinha acabado de tocar a sua harpa junto das tocas, para anunciar a chegada de alguém muito especial, por quem todos esperavam ansiosamente.
FADA DA FLORESTA (sorridente e numa grande alegria) – Bom Dia, Bom Dia Natureza. Bom Dia coelhinhos…Bom Dia Gatinhos…Bom Dia Florinhas. Bom Dia lindas e leves borboletas…Bom Dia simpáticas Joaninhas…Bom Dia passarinhos que cantam lindas melodias…Bom Dia sol…Bom Dia Árvores… (abraça uma árvore) Bom Dia…! Bom Dia…!
NARRADORA – Os passarinhos que sobrevoam esse jardim, gritam em coro felizes, pousados.
PASSARINHOS (em coro, felizes) – Primavera!
NARRADORA – E passam a boa notícia aos outros passarinhos de outros jardins. Pouco depois, juntam-se todos a chilrear alegremente, em coro. Que lindo! As borboletas que acabaram de acordar, ainda estão a desentorpecer as asinhas, com voos pequeninos e as asinhas a bater devagarinho, espreguiçam-se, estremecem, e quatro borboletas comentam ainda ensonadas.
BORBOLETA 1 – Mas isto está muito agitado hoje…o que é que está a acontecer…?
PASSARINHO 1 (ri) – Ainda não acordaram!
BORBOLETA 2 – Pois está…também não sei, será que…vai haver alguma tempestade?
BORBLETA 3 – Que tempestade…? Olhem bem para o céu…!
BORBOLETA 4 – Espera aí…estou a sentir muito espaço…
BORBOLETAS – Eu também!
BORBOLETA 1 – E…está muita luz…!
BORBOLETAS – Pois está.
BORBOLETA 2 – Acabamos de acordar, lembram-se?
BORBOLETAS – Sim!
BORBOLETA 3 – Esperem aí…se estamos acordadas, e temos muita luz…muito espaço…então…é porque estamos na…
CORO DE BORBOLETAS (gritam felizes) – Primavera!
JOANINHA 1 (ri) – Olhem…estas só acordaram agora.
JOANINHA 2 (ri) – Sim, estamos na Primavera.
CORO DE JOANINHAS (felizes) – Finalmente!
CORO DE BORBOLETAS (felizes) – Primavera!
CORO DE JOANINHAS (felizes) – Primavera!
(Abraçam-se felizes)
BORBOLETA 1 – Há tanto tempo que não nos víamos…!
JOANINHAS – Pois é!
BORBOLETA 2 – Desde o Inverno.
JOANINHAS – Pois é!
BORBOLETA 3 (feliz) – Ai, que sol bom…
JOANINHA 2 (sorri) – Que bom…
BORBOLETA 4 – Mas onde estão as flores…?
JOANINHA 3 – Ainda não as vi, mas não demorará muito a aparecerem, acho eu.
JOANINHA 4 – Elas são tão vaidosas…que com certeza demoraram a escolher o fato!
(Todas riem)
BORBOLETA 1 – Elas são vaidosas, mas têm razões para o ser…são mesmo bonitas.
JOANINHAS (sorriem) – Sim!
JOANINHA 2 (sorri) – Vocês também são muito bonitas.
BORBOLETAS (riem) – Vocês também.
JOANINHAS (felizes) – Obrigada.
BORBOLETAS (sorriem) – Obrigada.
NARRADORA – Voam felizes em conjunto, dão as mãos, riem, e esperam pelas flores. Que lindo vê-las todas juntas, e a mexer as asinhas, misturadas com as pintinhas dos casacos das Joaninhas, quando dão as mãos, e quando cruzam os voos. Parece um bailado, ou uma chuva de cores…! Todos saem das tocas, numa grande correria, e alegria. Todos gritam, felizes.
TODOS – Bom Dia, Natureza!
FADA DA FLORESTA (sorridente) – Bom Dia…É Primavera!
TODOS (sorridente) – Primavera!
NARRADORA – Os animais que estavam nas tocas espreguiçam-se, sorridentes, esticam as patas, mexem-se, saltitam, cumprimentam-se todos. Festejam numa grande alegria.  
COELHINHO (sorridente) – Áhhh…que sol maravilhoso!
COELHINHA (feliz) – Lindo!
FADA DA FLORESTA – Bom Dia, lindas flores…está na hora de acordar…
NARRADORA – Todas as sementes de flores saltam da Terra, as raízes esticam-se, as flores parece que crescem, espreguiçam-se felizes, viradas para o sol. Os animais cheiram tudo, e cumprimentam-se alegremente. As borboletas e as Joaninhas dirigem-se para as flores, abraçam-nas, felizes, beijam-nas, acariciam as pétalas. As flores sorriem, felizes com aquela recepção.
FLORES (sorridentes) – Olá amigas!
BORBOLETAS E JOANINHAS (sorridentes) – Olá!
BORBOLETA 1 (sorri) – Ai, já estávamos com muitas saudades…
BORBOLETA 2 – Deste sol, e de vocês!
FLORES (sorridentes) – Nós também.
BORBOLETA 3 (feliz) – Que frescas, que estão…!
JOANINHA 4 (sorridente) – Parece que estão cada vez mais bonitas.
FLORES (sorridentes) – Obrigada.
NARRADORA – Os coelhinhos passam e gritam felizes.
COELHINHOS – Primavera!
(Dão outra volta e gritam)
COELHINHOS – Bom Dia, amigas!
FLORES E JOANINHAS (a rir) – Bom Dia!
NARRADORA – As flores, as borboletas e as joaninhas põem a conversa em dia, e esticam os corpos, ao sabor do sol. A Fada da Floresta desperta as cigarras, os grilos, os sapos e as rãs, e todos começam numa linda sinfonia, com sons muito agradáveis, acompanhando a harpa da Fada da Floresta e do coro dos passarinhos. As águas das fontes que estavam quase congeladas, e dos laguinhos, onde quase se podia patinar, abrem-se, derretem o seu gelo, e deixam sair jactos de água fortes…água pura e fresca, que bom que é o som da água a cair, quando passa a Fada da Floresta. As Borboletas e as Joaninhas vão às fontes, bailam sobre a água, e tocam na água com as asinhas, para cumprimentar as águas que elas tanto gostam, e onde se refrescam no Verão, e onde bebem água. Esta é uma forma de elas agradecerem às fontes, a água, e voltam para as flores, levando umas gotinhas dela, que deitam em cada uma das flores. As flores estremecem a rir, quando sentem a gotinha na sua pétala, mas estão felizes. Todos ficam maravilhados.
TODOS (gritam, alegres) – Primavera!
NARRADORA – Já estavam cheios de saudades uns dos outros, e do sol! Como estão felizes. Sacodem-se, esticam-se, espreguiçam-se, beijam-se, tocam-se, abraçam-se…O jardim que estava adormecido do Inverno, ganha uma nova vida, cheio de movimento, alegria, muitas cores, e aromas. Todos dançam ao som das músicas da harpa da Fada da Floresta, para esticar o corpo. Está tudo tão bonito!
FADA DA FLORESTA (sorri) – Aproveitem muito bem o sol, e não se esqueçam que ainda pode chover ou estar vento. Hoje há o baile da Primavera!
TODOS (gritam, felizes) – Viva!
FADA DA FLORESTA – Até mais tarde, meus amores…
TODOS (sorridentes) – Até mais tarde.
NARRADORA – Todos passam uma tarde feliz, sorridentes, a brincar, a saltar, a rir, e à noite aparecem mais fadas, com os instrumentos musicais, animais de outros jardins à volta, flores de outros jardins, e dançam divertidos. O baile mais bonito do ano, mais colorido, mais visitado e mais musical de sempre. Tudo para dar as boas vindas à Primavera! Esta alegria durará até 21 de Junho, dia em que chega outra Princesa. Por enquanto, todos devemos apreciar este baile maravilhoso, em que tudo na Natureza volta a acordar, depois de um longo sono…e é tão bonito! Vamos todos gritar: Olá Primavera! Bem-Vinda! Áh: meninos, papás, mamãs, avós…não se esqueçam de agradecer à Natureza este baile de cores, e de festa e alegria…! Tratem bem esta princesa, e ela fica muito feliz, quando reparam nela, por isso…quando forem passear, digam-lhe coisas bonitas…elogiem as suas filhas flores, a sua sobrinha chuva, o seu cunhado vento, a sua prima trovoada…todos são precisos para nós, e fazem bem à nossa Terra. Vamos todos gritar: Viva a Primavera! Não a estraguem. Portem-se bem com ela. Pintem um quadro para ela, ela vai gostar muito, ou um desenho…o que quiserem. O que gostarem mais! Vamos todos dizer...Olá Primavera…! Viva a Primavera! Obrigada Primavera! És linda, Primavera! Bem-Vinda, Primavera!

FIM
Lálá
(20/Março/2013)


sábado, 16 de março de 2013

O POETA QUE ANDAVA ATRÁS DAS PALAVRAS




NARRADORA – Era uma vez um poeta jovem que estava muito triste, porque queria escrever e não conseguia. Anda, nervoso, de um lado para o outro. Olha para um lado, e para o outro, olha para o tecto, pede inspiração às estrelas, aos rios, às fontes, aos lagos, aos animais, às montanhas…e nada! O pobre rapaz não conseguia. Já não sabia mais o que fazer para escrever coisas tão bonitas como sempre tinha escrito…e de repente…perdeu a inspiração. Ficou muito triste, e tão nervoso que tentou deitar-se e dormir, para ver se pelo menos nos sonhos encontrava palavras perdidas…mas não pregou o olho a noite toda. A tristeza do rapaz aumentava cada vez mais, porque ele queria muito escrever, e as palavras teimavam em não aparecer na sua cabeça. Vê-se ao espelho, em busca das palavras…e só se vê a ele. Mas de repente, passa uma borboleta em voo…ele olha fixamente para a borboleta, que pousa na sua almofada. O rapaz olha para ela.
RAPAZ – Olá…! Talvez tu sejas a minha salvação…borboleta. Borboleta, borboleta…óh não…não me sai nada…
BORBOLETA – O que é que estás para aí a dizer…?
RAPAZ – Não consigo escrever...quero…mas não me sai nada. Parece que as palavras fugiram todas…não sei para onde! Já as procurei em tudo quanto é sítio, onde costumava encontrá-las…mas voltei a esses sítios, e não aparece uma única.
BORBOLETA – Muda de sítios.
RAPAZ – Também já fiz isso, e não funciona. Tentei dormir, a ver se as encontrava nos sonhos, mas não consigo fechar os olhos. Por acaso não viste por aí umas palavras…?
BORBOLETA – Vi, sim…milhões e milhões por aí espalhadas a voar.
RAPAZ – Onde?
BORBOLETA – Por exemplo…agora estou a ver milhares nos teus olhos…!
RAPAZ (surpreso) – Palavras nos meus olhos?
BORBOLETA – Sim.
RAPAZ – Mas eu vi-me ao espelho, e não vi uma única palavra.
BORBOLETA – Mas eu vejo. Todas muito feias.
RAPAZ – Claro…como queres que voem palavras bonitas se estou a ficar muito triste e nervoso?
BORBOLETA – Tu precisas é de descansar. Vais ver que a qualquer momento há por aí palavras, bem bonitas.
RAPAZ – Mas como vou descansar…? A minha cabeça não pára.
BORBOLETA – Ora…deita-te! Fecha os olhos, e pede ao João Pestana que te dê soninho.
RAPAZ – Não consigo.
BORBOLETA – Pára de resmungar e descansa…amanhã é outro dia! Amanhã terás outras ideias.
RAPAZ – Ai, que nerrvoooossss…!
BORBOLETA – Deita-te e conta até dez. Respira…e não penses nas palavras que não encontras. Não penses em nada.
NARRADORA – O rapaz tenta fazer o que a borboleta diz. No inicio não consegue, mas com a magia das asas da borboleta, ele adormece e sonha…Sonha que anda atrás das palavras para os seus poemas…elas aparecem em forma de borboletas. No seu sonho, aparecem milhares de palavras diferentes, lindas, a voar felizes, diante dos olhos dele, e ele tenta apanhá-las com a rede, com as mãos, corre atrás delas, mas elas não se deixam apanhar, e pousam na sua cabeça, e ele perde-lhes o rasto. Deixa de as ver. Ele não sabe, mas elas vão ter ao seu coração. Acorda sobressaltado e grita.
RAPAZ (nervoso) – Nem nos sonhos vos consigo apanhar. (De repente ouve uma criança a rir, ele estremece) Quem está aí? (Ele procura a criança, mas não a vê. Só se ouve a rir) Uma criança aqui sozinha…? Onde está…? Eu estou a ouvi-la.
CRIANÇA (a rir) – Estou aqui!
RAPAZ – Onde…? Não te vejo!
CRIANÇA – Pois não…se me visses, conseguias escrever.
RAPAZ – O quê?
CRIANÇA – Isso mesmo.
RAPAZ – Não estou a perceber…
CRIANÇA – Tu andas atrás das palavras, certo?
RAPAZ – Sim…parece que desapareceram todas do planeta terra. Procuro-as por todo o lado…nos rios, nas montanhas…nas fontes…nas árvores, nas flores, na erva…nos animais, no vento, na chuva…em todo o lado e não vejo uma única…nem sequer nos sonhos, porque não consigo dormir. Foste tu que mas roubaste?
CRIANÇA – Eu…roubar palavras…? Nunca!
RAPAZ – Então, onde é que elas estão…?
CRIANÇA – Estão comigo.
RAPAZ – Então, tenho razão…foste tu que mas roubaste.
CRIANÇA – Não, não roubei. Tu é que as estás a prender, com tanta vontade de escrever.
RAPAZ – Como assim?
CRIANÇA – Quanto mais procuras as palavras, mais as prendes.
RAPAZ – Mas, eu tenho de as procurar, para escrever as coisas mais bonitas.
CRIANÇA – Elas fugiram todas.
RAPAZ – Porquê?
CRIANÇA – Porque tu andas atrás delas.
RAPAZ – Mas já te disse porque é que ando atrás delas…é porque quero escrever as coisas mais bonitas, e não as encontro em lado nenhum, onde as encontrava.
CRIANÇA – Quanto mais andares atrás delas, mais elas te fogem. Já experimentaste palavras novas?
RAPAZ – Isso é o que estou a tentar fazer, mas nem palavras novas encontro.
CRIANÇA – Porque estás a pressioná-las.
RAPAZ – Mas as palavras não são pessoas, para estarem a ser pressionadas.
CRIANÇA – Não são pessoas, mas vivem nas pessoas, e se estiverem presas, não saem.
RAPAZ – Como assim?
CRIANÇA – Quando as pessoas não conseguem dizer o que querem…as palavras ficam presas, é por isso que as pessoas não conseguem falar em certas alturas, nem escrever. As palavras não gostam que as prendam, ou que andem atrás delas a sufocá-las. As palavras são livres…gostam de voar soltas…gostam que toda a gente as veja, e que passeiem com elas, mas nunca que as prendam.
RAPAZ – Mas eu não estou a prendê-las.
CRIANÇA – Estás. A tua vontade de as procurar, e de as apanhar, é tão grande que elas não saem.
RAPAZ – E onde é que elas estão?
CRIANÇA – Estão comigo.
RAPAZ – Mas tu não apareceste no meu sonho onde eu corria atrás delas, e tentava apanhá-las….mas elas fugiam…e vi centenas ou milhares delas á minha frente, mas não consegui apanhar nenhuma!
CRIANÇA – Quando parares de as perseguir elas vão ter contigo. Não as prendas. Pára de falar, de resmungar, e de querer apanhá-las. Pega num bloco e numa caneta…e não penses em palavras…deixa que eu faça o resto.
RAPAZ – Mas onde estão essas palavras?
CRIANÇA – Pára de me fazer perguntas, e de querer saber onde estão as palavras novas. Cala-te e simplesmente…deixa-as livre…escreve-as apenas! Está calado e atento.
RAPAZ – Está bem.
NARRADORA – O rapaz faz o que a criança diz. Fica em silêncio, pega num bloco, e na caneta. A criança sai do seu coração, e atrás dela saem as milhares de palavras novas e lindas, que o rapaz poeta tanto procura. Os olhos do poeta brilham intensamente, e ele abre um grande sorriso, juntamente com a criança. Escreve alegremente todas as palavras que vê passar à sua frente, e sem pensar, e sem se aperceber, constrói muitos poemas lindos, diferentes dos que já tinha. Quando a criança fica cansada…
CRIANÇA – Desculpa, por agora chega. Vou descansar…mas da próxima vez que quiseres palavras novas e bonitas, diferentes…para escreveres os teus poemas…olha para o teu coração, e lá estou eu com as palavras. Só tens de as deixar sair, sem pensares nelas. Confia em mim.
RAPAZ – Está bem…obrigado. Mas quem és tu?
CRIANÇA – Sou o teu melhor lado. Sou a tua inocência, a tua simplicidade, a tua pureza, os teus sonhos, os teus medos, as tuas recordações boas e más…!  
RAPAZ – E onde vives?
CRIANÇA – No teu coração.
RAPAZ – Está bem.
CRIANÇA – Encontramo-nos por aqui…em breve.
RAPAZ (sorri) – Combinado.
NARRADORA – E desde esse dia, desse encontro com a criança, o jovem poeta voltou a escrever imensos poemas…todos lindos…como ele gostava. Sempre que precisava de palavras, olhava para o seu coração, e pedia-lhes que elas saíssem, não as prendia. A criança que ele viu, era ele próprio…em criança. Todos nós somos capazes de escrever coisas bonitas. Se não soubermos como, olhemos para o nosso coração, e peçamos à criança que fomos, para nos mostrar as palavras que nos faltam. Assim, saberemos sempre que o que escrevemos estará bem, pois vem do que temos de melhor.
FIM
Lálá
(15/Março/2013)






sexta-feira, 15 de março de 2013

OS CESTINHOS


NARRADORA – Era uma vez uma jovem adulta, que se chamava Diana. Tinha uns longos cabelos pretos, compridos, e encaracolados, a pele branca e os olhos verdes. Era simpática e todos os vizinhos gostavam muito dela. Vivia numa longe da sua terra para trabalhar, numa aldeia, numa casinha pequenina, ao rés-do-chão e tinha um jardim pequenino, onde Diana plantava flores e legumes. Ela vivia feliz, e embora falasse muitas vezes com a sua família, sentia-se muitas vezes sozinha. Suspirava e à noite pedia às estrelas que lhe dessem uma companhia, nem que fosse um bichinho, pois ela gostava muito de animais e sonhava com eles. Quando saia de casa, sempre muito cedo, pedia às fadas do lar que protegessem a sua casa, e com um sorriso aberto, ia trabalhar. Pelo caminho cumprimentava toda a gente e trocava algumas palavras, desejava bom dia, saúde, e até logo. Depois…olhava para a paisagem e ficava maravilhada! Isto dava-lhe mais força para o resto do dia, aquele ar puro…era tão bonito, tudo o que ela via à sua volta! Enquanto ela trabalhava, as Fadas tomavam conta da casinha. Um dia, em que Diana foi trabalhar, uma Fada deixou um cestinho à porta da sua casa, fechado. O que teria esse cestinho? Quando Diana chega a casa, vê o cestinho, fica muito surpresa.
DIANA – Um cestinho à minha porta? O que é isto? (Olha em volta para ver se passa alguém) Quem é que deixou isto aqui? Eu não pedi nada! Áááhh…deve ter sido algum vizinho que veio trazer alguma sobremesa apetitosa, com frutos da terra, ou fruta fresca…ou legumes! Estes vizinhos são mesmo queridos! (pega no cestinho) É levezinho! (Abre o cestinho) Ááááááhhhh…um bebé? Mas…não…é um boneco…! (tira o boneco do cestinho, pousa o cestinho no chão, pega nele ao colo, sorri) Que lindo! Óóóhhhh…que coisa tão fofa…tão perfeitinho. E os olhinhos dele! Parece um bebé verdadeiro! Mas…quem é que terá deixado isto aqui? Será que é mesmo para mim?
(A Fada responde de uma flor a rir)
FADA – Sim, Diana…é para ti.
DIANA – Quem é que respondeu?
FADA (ri) – Eu!
DIANA – Mas…és uma menina…?
FADA – Sou…! Mais ou menos.
DIANA – Mais ou menos, o quê? Não há mais ou menos meninas…ou são meninas ou são meninos…
FADA (ri) – Não sei.
DIANA – Não sabes o quê?
FADA (ri) – Se sou menina, ou menino…!
DIANA – Como assim…? Aparece…para eu te ajudar a saber quem és!
FADA (ri) – Sou menina, mas sou uma Fada.
DIANA (sorri) – Ááááhhh! Entendi! Claro…só podia ser. És uma fada do Lar?
FADA – Sou fada de muitas coisas…
DIANA – Ãhhh…?
FADA – Sim…tomo conta das casas, e dos meninos, dos animais…das flores…de tudo!
DIANA – Deves ter muito trabalho…!
FADA (sorri) – É a minha vida, e eu gosto. Não é trabalho, faço com todo o meu coração!
DIANA (sorri) – Sim, é como eu faço o meu trabalho.
FADA (sorri) – Pois é.
DIANA – Mas onde estás…que eu não te vejo…?
FADA (ri) – Estou aqui.
DIANA – Onde…? Só estou a ouvir a tua voz.
FADA – Estou mesmo ao teu lado!
DIANA – Ao meu lado?
FADA – Sim. Aqui!
(Ela procura a Fada. A Fada ri)
FADA (ri) – Eu dava-te uns óculos, mas não tenho…! Aqui…numa flor…a mais brilhante! Segue o meu riso e o meu brilho.
DIANA – Obrigada pela tentativa de me ajudares a encontrar-te, mas na verdade não é grande ajuda, porque todas as flores estão a brilhar com a luz do sol.
FADA (ri) – Vocês humanos, são mesmo complicados. Segue a minha voz…
DIANA – Aparece logo, querida fadinha…
FADA – Pensas que é tudo fácil…? Não! Os teus desejos demoraram uns dias a concretizar-se, por isso…se não me encontras à primeira…continua a procurar…! Eu estou aqui. Segue a minha voz.
(Diana encontra a Fada, e esta acena)
DIANA – Ááááááhhhh…! Estás aqui! Desculpa. É que és tão pequenina…
FADA – Sou pequenina, mas chego onde todas chegam. Somos todas pequeninas…! É por isso que nem toda a gente nos vê…mas acreditam que existimos. E existimos, mas quando aparecemos, nem reparam em nós. Só reparam nas coisas boas e bonitas que recebem! E é aí que nós estamos.
DIANA (sorri) – Áh! Por isso é que te estou a ver.
FADA – Sim! Isso quer dizer que recebeste uma surpresa.
DIANA (sorri) – Eu sei que vocês tomam muito bem conta da minha casa. Por acaso sabes quem deixou esta fofura aqui para mim?
FADA – Fomos nós.
DIANA – Nós…quem?
FADA – Eu, e as outras…que tomamos conta da tua casa.
DIANA (sorri) – Óh…tão queridas! Muito obrigada…mas, eu não pedi nada.
FADA – Não?
DIANA – Não…pedi às estrelas.
FADA – Sim, mas achas que as estrelas iam mandar-te um boneco lá de cima, cá para baixo…? De pára-quedas não? Tu pediste uma companhia…elas disseram-nos o teu desejo, e nós tratamos do resto.
DIANA (sorri) – Ááááááhhhh…que queridas! Então o meu desejo realizou-se…
FADA (sorri) – Sim. É um boneco para te sentires mais acompanhada.
BONECO – Olá Mamã…!
DIANA (sorridente) – Ele fala…?
BONECO – Mamã…
FADA (sorri) – Sim, claro…se não, que companhia é que podia ser um boneco…que não falasse…?
DIANA (sorri) – Sim…mas se não falasse, pelo menos, a presença dele já me fazia companhia, e já tinha alguém para abraçar.
BONECO – Trata bem de mim, mamã!
DIANA (sorri) – Claro que vou tratar muito bem de ti.
FADA – Podes falar com ele.
DIANA (feliz) – Que surpresa maravilhosa. (Abraça o boneco, e dá-lhe um beijo). Olhem…vou ter de entrar, desculpem Fadas, vou ter de entrar…tenho coisas para fazer lá dentro.
FADA (sorri) – Vai à vontade! Nós estamos aqui. Queres ajuda?
DIANA (sorri) – Não, obrigada…Até já!
FADA (sorri) – Até já!
NARRADORA – Diana senta o boneco na mesa da cozinha, e os dois têm uma longa conversa, enquanto Diana faz o jantar. Janta na companhia dele, telefona aos pais, e fala com eles contente. No fim de jantar, Diana fala mais com o boneco, deita-o, e deita-se também, e agradece às estrelas. Diana dorme feliz. Na manhã seguinte, Diana leva o boneco para o trabalho, a pedido deste, e com a promessa que ia portar-se muito bem, ficar caladinho. Porta-se mesmo bem, e fica mesmo caladinho. De vez em quando Diana fala baixinho com ele, e acaricia-o. À saída de casa recomenda às Fadas que tomem conta da casinha. As Fadas têm mais uma surpresa para ela. Quando chega a casa, numa conversa muito animada com o boneco e muitos risos, vê outro cestinho à porta. A Diana fica muito surpresa. Ouve miar, mas não sabe de onde vem o som.
DIANA – Outro cestinho?
BONECO – Estou a ver que sim. Deve ser um carinho de algum vizinho, com uma coisa boa.
DIANA – Sim…estes vizinhos são muito boas pessoas…espera…estou a ouvir miar…
BONECO – Eu também.
DIANA – Mas…estás a ver algum gatinho…
BONECO – Não. Deve estar escondido atrás das flores…O que tem aquele cestinho?
DIANA – Não sei, vamos ver.
NARRADORA - O miar torna-se mais audível, à medida que Diana se aproxima do cesto. Pega no cestinho, abre-o, e lá dentro estão dois gatinhos bebés, pequeninos: um de pêlo preto, e outro de pêlo branco, com olhos muito verdes. Que lindos! Diana sorri, feliz, saltita.
BONECO – Gatinhos…!
DIANA (sorridente) – Que lindos…olha filho!
BONECO – Gostei. Mas não vais deixar de me dar carinho, nem de gostar de mim, pois não, Mamã?
DIANA (ri) – Claro que não, meu fofinho…nunca! Eu tenho amor e carinho que chegue para ti e para todos! São para mim, Fada?
FADA (sorri) – São! Tu pediste já há muito tempo um bichinho. Lembras-te?
DIANA (sorri) – Sim, claro que me lembro! São lindos! Muito obrigada. Agora tenho três companhias. Que bom…estou mesmo feliz! Vou cuidar muito bem de vocês!
BONECO – De mim também vais cuidar muito bem, não vais Mamã?
DIANA (ri) – Claro que sim, filho.
NARRADORA – Diana tira os gatinhos do cesto, carinhosamente, acaricia-os, e eles miam, sobem para o colo dela, e ela brinca com eles e com o boneco. Os gatinhos fazem gracinhas, Diana ri e aplaude, até à noite. À hora de jantar, Diana entra com os três novos membros da família, e faz o jantar. Os gatinhos bebem leite, e ficam instalados numa alcofa muito confortável; e o boneco está sentado à mesa. Diana fala com ele, ele responde. Jantam, e Diana deita o boneco, acaricia-o, canta para ele, e os gatinhos também adormecem com a sua cantiga. Faz carinhos a todos, deita-se, e dorme feliz até ao dia seguinte. Na manhã seguinte, Diana o pequeno-almoço aos gatinhos e ao Boneco, e também toma o dela. Distribui carinhos por todos e sai para trabalhar. As Fadas com eles, e os três brincam juntos, com elas, alimentam-nos e tomam conta da casa. Deixam mais um cestinho à porta de Diana, com mais uma surpresa. É mais um desejo de Diana. Quando regressa do trabalho, vê o cestinho.
DIANA – Outra surpresa? Meus amores…cheguei!
TODOS – Mamã…!
DIANA – Quem deixou este cestinho aqui?
BONECO – Não sei!
NARRADORA – Diana sorri, pega no cestinho, e tem lá dentro um lindo cãozinho bebé, pequenino, preto e castanho.
DIANA (feliz e sorridente) – Óóóhhhh…que maravilha! Um cãozinho! Óh! Que querido…tão fofinho.
FADA (sorridente) – É para te fazer companhia…trata muito bem dele.
DIANA (sorri) – Há tanto tempo que queria um cãozinho…é lindo…! Muito obrigada, Fadinhas e estrelas. Agora sim, estou muito feliz…e muito completa! Ganhei uma segunda família. Agora estou mesmo muito bem acompanhada. Filho…temos mais uma companhia…gatinhos, têm mais um amigo.
NARRADORA – O Boneco e os gatinhos recebem o cãozinho de forma carinhosa, acolhedora, e amigável. Todos brincam juntos, alegremente enquanto Diana faz o jantar, e fala com eles. Todos gostam muito uns dos outros, dão-se muito bem, brincam juntos, e com Diana, por quem têm um grande amor. Ela é para eles uma verdadeira mãe, carinhosa, dedicada, simpática, meiga, presente, e brincalhona. O Boneco e os animais têm por ela muito carinho, respeito, e amor. Tornam-se uma família feliz. Diana, nos seus tempos livres leva os novos elementos para os pais, e restante família, e todos os adoram e acolhem como se fizessem mesmo parte da família. Passeiam todos os dias com ela, pelo campo. Todos devemos tratar os animais como animais, não como pessoas, mas com carinho, com respeito, porque eles quando gostam, gostam mesmo…eles também têm sentimentos, e tal como as pessoas gostam de se sentir queridos, e gostam de fazer parte da família dos humanos. Os animais são excelentes amigos dos seres humanos, e se os temos, devemos tratá-los bem! E vocês leitores…? Se vos oferecessem três cestinhos, o que haveria neles para vocês? Quem é que vos teria oferecido? Imaginem…e podem desenhar, ou fazer uma composição sobre isto. E se vos pedissem para encher três cestinhos, e entregar a alguém: com o que é que encheriam os cestinhos? A quem ofereceriam? Desenhem ou façam uma composição sobre esses cestinhos. E lembrem-se…se têm animais…eles fazem parte da vossa família, por isso, tratem-nos bem.

FIM
Lálá
(15/Março/2013)