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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Chuvada!



        








        


foto de Lara Rocha 


        Era uma vez, na chegada do Outono, uma linda borboleta, chamada Mára, que se esqueceu desta chegada! O dia estava cinzento, sentia-se cheiro a fumo das chaminés, e das castanhas assadas, e a lareiras.
O vento estava muito zangado com alguma coisa…! Se calhar tinha dormido mal, ou estava mal disposto, porque era um bocadinho frio mas forte, pois por onde passava arrancava sem dó nem piedade as folhas das árvores. Sacudia-as e batia-lhes, e era só folhas pelo ar, a rodar e a cair no chão. Elas gritavam e tentavam agarrar-se, mas não conseguiam!
Umas caiam sobre a terra, outras na erva, não se magoavam muito, mesmo assim, não gostavam das grandes cambalhotas que davam pelo caminho até aterrar, e das cabeçadas nas janelas, nos telhados, nas portas, nos vidros, na parede e em cima de carros.
Outras folhas, não tinham a mesma sorte: umas caiam em cima de troncos e raminhos que estavam no chão, outras caiam nos bancos duros de pedra e de madeira do jardim, e outras caiam directamente no chão duro das ruas, dos pátios.
Mára ainda não se tinha apercebido da ventania, porque quando começou…a borboleta ainda passeava pelo mundo dos sonhos, e nem ouviu, ou se ouviu não ligou.
Devia ter tanto sono, que não quis perder tempo a ver o que era, mas de certeza que fazia barulho, a não ser que a sua casa fosse à prova de som, o que não acontecia.
Quando abriu os olhos, pensou que ainda podia dormir mais…embora tivesse acordado muito cedo, como quase sempre fazia, espreguiçou-se, bocejou, e viu muito escuro.

- Ááááhhh… (boceja) Acho que ainda é muito cedo, vou dormir mais um bocadinho…ainda está a amanhecer, de certeza, pela cor que estou a ver ali nas frinchas!
            Vira para um lado e para o outro, na sua cama fofa, mas ouve muita agitação.
- Estes vizinhos acordaram muito cedo hoje…! Onde irão com tanta pressa…? Hoje não é dia de trabalho! Ou será que estou confusa? Não…não é mesmo! Bem…estou cheia de sono, vou dormir mais um bocadinho.  
            A borboleta Mára queria dormir, mas a sua amiga Jú, já estava acordada e cheia de energia, com muita vontade de passear, e não queria ir sozinha! Bate na janela de casa da amiga Mára, e grita:
- Bom Dia, amiga…!
            Ela salta da cama, abre as persianas da sua casa. Mára e Jú conversam da janela. Mára está um pouco confusa.
- Olá, bom dia…! Caíste da cama? – Pergunta Mára.
- Eu não…felizmente não…também se caísse, a queda era pequena! Já aconteceu de acordar no chão, mas porque rebolei…nem me magoei…mas porquê? Tu caíste?
- (sorri) Não! Também não caí abaixo da cama… só estou a dizer isto, porque ainda é muito cedo! – Diz a borboleta Mára.
- Cedo? Não! Já é tarde…já amanheceu há muito, tu é que dormiste demais. – Responde Jú a rir.
- Ai…! Não pode ser!
- Mas é!
- Está tão escuro! O sol já nasceu?
- Claro que já nasceu…! Está escuro, porque o céu está cheio de nuvens. É que hoje começa o Outono.
- Ááááhhh…! É?
- É!
- Nem me lembrei disso…! Vi tão escuro, pelas frinchas das persianas que pensei que ainda estava a amanhecer.
- Não. Já são horas de estar fora da cama…!
- Já tomaste o pequeno-almoço?
- Já, claro! Nunca sairia de casa sem tomar o pequeno-almoço. Se não tomasse, nem conseguia voar.
- Pois! Nem eu. Entra!
- Está bem. Vamos dar uma volta?
- Sim, pode ser…só espero é que não chova!
            Jú entra, e Mára toma o pequeno-almoço enquanto conversam e riem alegremente uma com a outra. Veste-se, e as duas amigas saem. Estão com muita dificuldade em voar.
- Acho que não foi grande ideia termos vindo passear, hoje! – Diz Mára.
- Pois…! Acho que tens razão…eu é que pensei que não ia estar tão mau! Muitas vezes está um céu cheio de nuvens e conseguimos voar…! Hoje…estou muito presa! – Diz Jú.
- Eu também! Isto hoje não está fácil…! – Diz Mára a arfar.
- Pois não! O céu está cheio de nuvens e humidade.
- Acho que é melhor voltarmos para trás, não? – Sugere Mára.
- Não…vamos continuar…não vai chover, tenho a certeza! – Assegura Jú.
            E nesse mesmo instante, começam a cair as primeiras pingas de chuva, e o vento a soprar mais forte.
- Ui…vou-me embora! – Diz Mára.
- Sim, acho que também vou! – Diz Jú.
            E as duas borboletas tentam a muito custo voar mais depressa, para um sítio abrigado, mas não encontram, e o vento brinca com elas…sem elas quererem.
Elas gritam, mas o vento empurra-as, vira-as no ar, sopra tão forte que vira as suas asas ao contrário. Coitadinhas. Ficam muito cansadas, e o vento atira-as para o chão. Arrastam-se rasteiras ao chão, e o vento empurra-as para trás, quando elas tentam ir para a frente. Quase não conseguem respirar, mas fazem de tudo para escapar à chuva que agora é mais forte.
- Vento…pára! Por favor! – Gritam as duas.
            O vento ri-se, e sopra ainda mais forte.
- Porque é que estás a fazer isto connosco? – Pergunta Jú.
- Deixa-nos chegar a casa…vá lá! – Implora Mára.
- Só estou a fazer o que me mandam…lembrem-se que hoje começa o Outono…devem estar a contar com vários dias de chuva e vento, e não arriscar, como fizeram hoje! O céu escuro e cheio de nuvens indica que vai chover. – Explica o vento.
- Nem sempre! Há dias que apenas estão cheios de nuvens, mas não chove! – Defende Mára.
            O vento leva-as a casa. Pelo caminho, as duas apanham uma grande chuvada, fria, com gotas pesadas. As suas asinhas ficam ensopadas…e as duas desatam a espirrar, a tossir e a tremer. Ao chegar a casa, ansiosas por entrar, torcem as asas, e molham os cogumelos que estão em baixo do tronco ao lado.
- Ei, está a chover tanto que até chega aqui! – Comenta um cogumelo.
- Não…esta água vem das asas delas…olha para aquilo…! – Diz o outro cogumelo.
- Desculpem! – Dizem as duas borboletas.
- Abriguem-se! Está a carregar… - Grita um passarinho, também já com as penas todas coladas.
- Queres abrigar-te na minha casa? – Pergunta Mára.
- Não…tenho os meus filhos à espera… - Responde o passarinho.
- Trá-los também! – Sugere Mára.
- Não…obrigado, nós temos o nosso tronco! – Diz o passarinho sorridente.
- E a nós quem nos abriga? – Pergunta um cogumelo.
- Nós! – Grita um casal de folhas gigantes que acabam de ser atiradas da árvore.
            As duas folhas abraçam-se e protegem os cogumelos.
- Muito obrigado! – Respondem os cogumelos em coro.
- Mas e a vocês quem vos abriga? – Pergunta a borboleta Jú, preocupada.
- Nós somos impermeáveis. – Responde uma folha.
- Entrem meninas, não apanhem mais frio…não se preocupem mais connosco. – Diz a outra folha.
            As duas grandes folhas abrigam também as flores, e chove cada vez mais, com cada vez mais vento. As borboletas entram, completamente encharcadas, e secam-se, a espirrar, a tossir e a tremer.
- Mas que grande chuvada! – Suspira Mára, a tremer.
- Que horror! Nunca apanhei uma assim! – Diz Jú, a espirrar e a tremer.
- Pensei que ia ficar sem asas. – Lamenta Mára.
- Eu também! – Diz Jú, a tremer e a tossir.
- Ai! Acho que vou ficar doente. – Diz Jú.
- Eu também! – Diz Mára.
- Vou para a minha casa! – Diz Jú.
- Espera que a chuva pare, se não ainda ficas pior. – Diz Mára preocupada.
- Quem vai cuidar de nós? – Pergunta Mára.
- Cuidamos nós uma da outra! – Sugere Jú.
- Mas estamos as duas doentes! – Suspira Mára.
- Sim, por isso mesmo…temos de estar mais unidas que nunca…lembras-te do juramento que fizemos uma à outra quando nos conhecemos? – Lembra Jú.
- Sim, claro que me lembro! Tens razão…nunca rompemos esse juramento…e não vai ser hoje! – Sorri.
- Pois não! Vamos mas é tomar já um chá…
- Boa!
            Mára faz um chá, e as duas quase fazem a sinfonia das constipações…espirros, tosse, tremores…tomam um belo chá quente, e de repente batem à porta. É um gatinho, que está doente, e quase não consegue falar, com o pêlo todo colado. Mára abre a porta.
- Óóóhhh…! Coitadinho…! – Dizem as duas.
- Entra, bichaninho.
- Boa! E agora…ele também está doente…?
- Não…pode ser que esteja só com frio.
            Secam-no, mas o bicho está mesmo doente. Dão-lhe também um chá, e como estão os três doentes, assim que passa a chuva, cada um vai para a sua casa, com a promessa de se falarem ao telefone, se precisarem. Que grande chuvada! Mas essa tempestade foi boa porque regou a terra que estava muito seca, e juntou os animais, que se tornaram grandes amigos. Todos ficaram doentes, mas conseguiram ajudar-se uns aos outros, à medida que iam melhorando.
            Com a chuva não se brinca, e no Outono/Inverno é preciso protegermo-nos, estarmos preparados para mudanças rápidas de tempo…pois de repente, pode começar a chover.
            E vocês já apanharam uma grande chuvada? Como ficou o vosso corpo? Seriam capazes de abrigar um amigo vosso, que estivesse à chuva? Já o fizeram? Ficaram felizes de o fazer? E o vosso amigo como se sentiu?
FIM.
Lálá

(19/ Setembro/ 2013) 

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