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sábado, 15 de junho de 2013

A aldeia ao contrário

NARRADORA - Era uma vez uma aldeia muito verde e florida, com muitas casas de pedra, laguinhos, rios, árvores, animais e pessoas. Mas havia uma coisa muito diferente nessa aldeia, como viram a Mariana, a Susana, a Neusa e a Filipa, umas meninas que passeavam com a mãe. Elas olham atentamente, e reparam.
SUSANA – Meninas…já viram uma coisa muito estranha…?
NEUSA – Esta aldeia é estranha.
SUSANA – Há muitas coisas estranhas nesta aldeia…ora olhem…!
TODAS – Sim, é verdade!
NEUSA – Onde será esta aldeia tão…estranha?
TODAS – Não sei.
MARIANA - Esperem aí…estes rios…saíram do sítio?
TODAS – O quê?
SUSANA – É o que vejo…os rios fora do sítio.
TODAS – Ááááhhh…pois é!
FILIPA - Não é possível pois não?
TODAS – Não!
MARIANA - Sempre nos ensinaram que os rios andam no chão, e não saem no sítio.
TODAS – Pois foi!
FILIPA - Mas acho que saíram mesmo do sítio, porque deviam estar no chão, mas estão em cima: onde deviam estar o sol, as nuvens, as estrelas e a chuva.
TODAS – Não pode ser!
SUSANA - Os rios estão no chão, não estão por cima de nós.
FILIPA - Mas estes rios estão por cima de nós.
TODAS – Pois estão!
NEUSA – Esta aldeia não deve ser cá!
TODAS – Não!
MARIANA – A nossa aldeia não tem nada disto assim…nada de rios onde devia estar o sol…nem outras coisas estranhas.
SUSANA – Isto parece uma aldeia extra-terrestre…espacial, em que tudo anda a flutuar.
TODAS (sorriem) – Sim!
MARIANA – Será que alguém pegou neles e levou-os lá para cima, num balão…?
NEUSA – Achas mesmo que um balão ia conseguir aguentar tanta água até lá cima?
MARIANA – Sim, pode haver balões só para levar água.
NEUSA – É muita água…não me parece que tenha sido um balão.
SUSANA – Também acho que não.
FILIPA - Ou será que foi um aspirador de extra-terrestres que abriu as portas na nave gigantesca, e aspirou a água toda?
MARIANA - E depois…abriu o aspirador e pôs a água lá em cima…e agora…os rios vão andar lá cima…!
SUSANA - Ou será que os rios ganharam asas e voaram? Se calhar foi para fugir à poluição…!
NEUSA - Nunca vi os rios nas nuvens…
TODAS – Nem eu!
MARIANA - Mas estão mesmo nas nuvens e não cai água nas casas, nem nas pessoas?
FILIPA - Huummm…será que o rio tem um vidro a segurar a água…?
TODAS – Acho que não.  
MARIANA - Como pode ser? Não é possível pôr vidros nos rios, muito menos nas nuvens.
FILIPA – Mas este está lá em cima, e a água não cai, por isso deve ter um vidro transparente a segurar a água.
SUSANA – Realmente…pode ser um vidro transparente…mas não há vidros nas nuvens…
NEUSA – Ai, que eu não estou a perceber nada.
TODAS – Nem eu.
MARIANA – Olhem…E…o sol…está ali, mas está a olhar para onde…? Para cima…?
SUSANA – Em cima já está ele, Mariana, e nós estamos em baixo.
MARIANA – Mas olha para os olhos dele?
FILIPA – Pois é, eu acho que ele está no chão…onde devia estar o rio.
TODAS – Sim.
FILIPA – Olhem a boca do sol está no sítio da testa…?
TODAS – Ááááhhh…pois é!
SUSANA – Que medo!
NEUSA – Que coisa estranha.
MARIANA – Pois está!
FILIPA – Mas ninguém tem a boca na testa…eu pelo menos nunca vi.
MARIANA – Claro que não.
SUSANA – Eu também nunca vi nenhuma de nós, nem pessoas à nossa volta com a boca na testa.
TODAS – Nem eu!
FILIPA - Não está certo!
NEUSA - Óh sol…porque é que a tua boca está na testa?
TODAS – Pois é!
SUSANA - Boa pergunta!  
MARIANA – Sim…pois é! O que é que te aconteceu, para estares assim com a boca na testa, e…ainda por cima no rio!
NEUSA – Não responde.
SUSANA – Acho que nem ele sabe.
MARIANA – Olha que faz-te mal estares virado de cabeça para baixo tanto tempo…
NEUSA – E essa tua boca na testa…Huummm…!  
FILIPA - Mas, também não és o único a estar diferente…o rio também não está no sítio certo…! Foste tu que o puseste aí em cima? Para beberes água, e para tomares banho quando tiveres calor é?
MARIANA – Mas não podes fazer isso…!
TODAS – Pois não!
SUSANA - Mas parece que foi isso que aconteceu.
NEUSA - És muito egoísta se queres o rio só para ti…
MARIANA – Pois és, sol!
SUSANA – Nós adoramos-te, mas também adoramos rio e água.
TODAS – Sim, pois é.  
FILIPA - Porque todos precisamos de água e de rio lá em baixo…não o podes ter para ti.  
NEUSA – Óh sol…foste tu que tiraste as nuvens?
FILIPA – Pois é…elas estão no chão.
NEUSA - Porque é que as atiraste?
SUSANA – Elas fizeram-te mal?
MARIANA – Foste muito mauzinho.
TODAS – Isso não se faz.
MARIANA – Outra coisa…os passarinhos estão a cair das árvores!
TODAS – Coitadinhos!
FILIPA – Vão-se magoar.
SUSANA – Estão quase no chão…ou…os troncos é que estão virados para baixo?
FILIPA – Também mudaram de posição. Foste tu, sol?
NEUSA – Assim os passarinhos não se seguram!
FILIPA – O quê? Os passarinhos a cair, o rio no sítio das nuvens, as nuvens onde devia estar o rio…a árvore para baixo…e agora…as pessoas e os animais andam de cabeça no chão, e pernas para o ar, e as patas…umas penduradas, outras para os lados…
TODAS – Que estranho…!
MARIANA – Parecem monstros defeituosos.
TODAS – Sim, é mesmo.
FILIPA – E as casas…parece que estão pousadas em picos enormes…o que é que lhes aconteceu?
NEUSA – Quem é que as construiu assim?
SUSANA – E as portas estão em cima.
MARIANA – As pessoas estão por cima, com a cabeça no chão!
TODAS – Como conseguem?
FILIPA – Só se trabalharem todas no circo.
NEUSA – As portas não estão em cima, nem as pessoas entram de cabeça para baixo, com as pernas para o ar.
SUSANA – Para onde é que eles vão assim?
MARIANA – Ei...as flores também são muito diferentes das que temos em casa…
FILIPA – E das que conhecemos.
NEUSA – Pois é! O pé delas está virado para cima, e as pétalas para baixo…?
SUSANA – As pétalas deviam estar para cima.
FILIPA – Pois, assim as borboletas, as abelhas e as joaninhas…não podem pousar nas flores!
TODAS – Pois não!
MARIANA – Como é que isto aconteceu?
TODAS – Não sei.
SUSANA – E…os carros também não parecem carros…as rodas estão para cima, e…andam com as capotas? Como?
NEUSA – Não conheço carros que andem com as rodas para cima, e as capotas para baixo.
TODAS – Nem eu.
FILIPA – As coisas nesta aldeia são muito estranhas…é muito diferente da nossa! Parece que tudo está…
MÃE – O que se passa, filhas?
SUSANA – Mãe…esta aldeia é muito estranha.
NEUSA – É muito diferente da nossa.
FILIPA – Parece uma aldeia de extra-terrestres…
MARIANA – Sim, ou de uma nave espacial, onde tudo anda a flutuar.
SUSANA – Aparece tudo ao contrário…
MÃE (gargalhadas) – Pois é…é mesmo muito diferente da nossa, e sabem porquê? Porque este quadro está pendurado ao contrário! Virado para baixo…e quem o pendurou nem reparou que o pôs ao contrário.
TODAS (surpresas) – Ááááááhhhh…!
(Todas riem)
MÃE (a rir) – Agora já é uma aldeia igual à nossa. Querem ver? Peguem daí…
(Todas ajudam a virar o quadro para a posição certa).
SUSANA (sorri) – Sim, agora é uma aldeia…
NEUSA (sorri) – Agora sim…tudo é igual ao que conhecemos.
MARIANA (sorri) – Agora já está tudo no sítio certo…o sol, os rios, as casas, as pessoas… tudo está direito…como conhecemos.
SUSANA (ri) – Parecia que estávamos num mundo ao contrário…!
NEUSA (sorri) – Que bom, vivermos num mundo onde tudo está no seu lugar, tudo anda como dever ser…nada está ao contrário.
MÃE (sorri) – Queridas…o que os nossos olhos vêem agora, está tudo direito…para vocês é um mundo direito, mas sabem uma coisa…? Infelizmente, hoje também vivemos num mundo onde muita coisa está ao contrário. Todos nós, às vezes viramo-nos ao contrário…temos verdadeiras cidades com coisas viradas ao contrário.
TODAS (surpresas) – Estão? Onde?
MÃE – Onde…? Por baixo das peles, e das caras que vemos na rua.
SUSANA – Nos ossos?
MÃE (sorri) – Não…na cabeça e nos corações de muitas pessoas. Apesar de elas andarem como nós, e viverem em casas direitas, como nós…as suas cabeças e os seus corações estão ao contrário…com tanta maldade, com tanta asneira que se faz…ao ser humano e à natureza…o ser humano está cheio de sentimentos maus.
TODAS – A sério?
MÃE – Sim.
NEUSA – E porque não se viram ao contrário, para ficarem direitas, como fizemos com o quadro?
(A mãe ri)
MÃE – Isso não é possível, filhas…infelizmente…não depende de nós…às vezes nem das próprias pessoas que sofrem com esses desequilíbrios…e a qualquer momento, cada uma de nós, e dos outros que vemos, pode ficar virado ao contrário…na cabeça e no coração.
SUSANA – Foi o que aconteceu ao nosso Pai, Mãe?
MÃE (suspira, triste) – Sim, filhas. Infelizmente sim.  
NEUSA – E nós não podemos virá-lo ao contrário, para ele voltar para casa, sem te magoar?
MÃE – Infelizmente não, filhas…mas vamos ter esperança que isso vai acontecer…!
FILIPA – O que é que o pai tem virado ao contrário?
MÃE – A cabeça, e o coração!
MARIANA – Porque é que o pai se virou ao contrário?
MÃE – Um dia mais tarde, vão perceber! Ele ama-nos, e vai ficar bem…está a lutar por isso.
SUSANA – Mãe…ele não te ama, nem a nós…sempre nos ensinaste isso. Porque ele bateu-te muito, e a nós também…e isso não é amor.
MÃE – Ele também nunca teve amor…até eu aparecer.
TODAS – Como?
MÃE – Um dia vão entender. Vamos rezar por ele…
SUSANA – Eu vou pedir que ele vire o coração e a cabeça ao contrário, como fizemos hoje aqui com o quadro.
TODAS – Eu também!
NEUSA – Pelo menos nós temos o coração e a cabeça no sítio certo…não é mãe?
MÃE (sorri) – Sim, meus amores…Faço todos os dias para que isso aconteça.
SUSANA – Estamos sempre do teu lado, Mãe.
MÃE (sorri) – Eu sei, minhas luzes…! Vocês são tudo para mim. Temos de ser fortes e lutar para que tenhamos sempre a cabeça e o coração no sítio certo, a funcionar direito.  
TODAS (sorriem) – Sim.
MÃE (sorri) – Vamos, filhas…vamos para a nossa casa direita.
NEUSA (sorri) – Onde vivem pessoas direitas.
MÃE (ri) – Isso mesmo.
NARRADORA – É verdade, Mãe! E lá vão as meninas com a mãe, numa conversa muito animada, de regresso a casa. A mãe tem toda a razão!

FIM
Lálá
(12/Junho/2013)
           

4 comentários:

  1. Surpresa a hora que se apercebe era um quadro que as meninas estavam experienciando... Muito bom Tia Lalá!!

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  2. Gostei.A surpresa no fim é engraçada!Beijinho tia a Lalá

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