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sexta-feira, 5 de abril de 2013

A GOTINHA E A FLOR

foto de Lara Rocha 



NARRADORA – Era uma vez uma gotinha que vivia numa linda e enorme flor, com pétalas de todas as cores, desde que ela se conhecia como gotinha. Gostava tanto da flor, que não queria largá-la nem por um minuto. A flor dava tudo à gotinha…tudo o que ela 
mais precisava…principalmente amor e carinho, proteção, amizade, 
alimento, atenção e abrigo. E a gotinha retribuía todas as coisas 
boas que a flor lhe dava, refrescando-a, acariciando-a, limpando-a 
dos parasitas que pousavam nas suas pétalas, muito delicadamente. 
Protegia-a, regava-a, e fazia-lhe companhia. As duas 
eram inseparáveis. Um dia, levaram para o jardim onde as duas 
viviam felizes, um girassol enorme, e a flor apaixonou-se por ele. 
Ele também a achava muito  bonita.  Os dois depressa construíram 
uma linda amizade. A gotinha começou a ficar muito triste, porque 
achava que a flor já não gostava dela, pois só falava com o girassol 
só tinha olhos para ele. Parecia que se tinha esquecido da sua 
companhia de sempre…e amiga gotinha. 
Ficou tão triste, que ficou um dia inteiro fechada na pétala, a chorar, 
mas nem assim a flor deu pela sua falta. 
A gotinha não sabia que a flor continuava a gostar muito dela, 
mesmo não lhe estando a dar atenção. No dia seguinte, a gotinha 
continuou fechada, e a sua amiga começa a desconfiar que alguma 
coisa não está bem.
FLOR – Gotinha…sai cá para fora…! Está um sol tão bom, tão bonito!
NARRADORA - A gotinha não lhe responde, e está muito triste.
FLOR – Gotinha…
NARRADORA - A flor tenta abrir a pétala, mas a gotinha não deixa.
FLOR – Gotinha…larga a minha pétala…sai cá para fora, e deixa-me apanhar sol em todas as minhas pétalas.
NARRADORA – A gotinha não responde.
FLOR – Estou a ficar preocupada…diz qualquer coisa gotinha…!
NARRADORA – A gotinha quer responder, mas não responde. A flor consegue abrir a pétala depois de muito esforço, e a gotinha esconde-se.
FLOR – Óh…óh gotinha, o que é que se estava a passar contigo…? Estavas ali fechada…!
GOTINHA (triste) – Estás preocupada comigo?
FLOR – Claro que sim…sempre me preocupei contigo…porque é que estás tão admirada por isso?
GOTINHA (zangada, triste) – Porque tu não gostas de mim, por isso é que também não acredito que estejas preocupada comigo!
FLOR – Como é que não gosto de ti…?
GOTINHA (zangada) – Não gostas…se gostasses de mim, não me abandonavas…!
FLOR – Mas eu não te abandonei. Tu continuas aqui.
GOTINHA (zangada) – Isso é porque não tens coragem de me pôr fora.
FLOR – E porque é que te poria fora? Nunca me fizeste mal…
GOTINHA (triste) – Já não gostas de mim.
FLOR – Claro que gosto…
GOTINHA (triste e zangada) – Abandonaste-me…se me abandonas é porque não gostas de mim.
FLOR – Não entendo porque é que estás a dizer que te abandono e que não gosto de ti. Fiz alguma coisa que não devia?
GOTINHA (triste) – Não…só me abandonaste, porque deixaste de gostar de mim.
FLOR – Mas isso não é possível.
GOTINHA (triste) – Eu também achava que não era possível, mas a realidade é que isso aconteceu…agora só tens olhos para esse…e ouvidos para esse…e…pétalas que abraçam…só para esse.
FLOR – Esse…? Quê?
GOTINHA (triste e zangada) – Esse enorme que está aí…com quem tu falas 24h por dia…e ris com ele…desde que esse enorme chegou aqui, eu deixei de existir…eu…que vivo aqui nas tuas pétalas, desde que sei que existo como gota…e pensava que eras a minha mãe…mas afinal…não podes ser a minha mãe, porque não gostas de mim, e as mães gostam dos filhos…se fosses minha mãe também não me abandonavas, porque as mães também não abandonam os filhos…mas tu…não gostas mais de mim, e abandonaste-me!
FLOR – Mas…o que é que estás a dizer…? Eu sou tua mãe do coração.
GOTINHA (triste) – Mesmo as mães do coração não deixam de gostar de nós, nem nos abandonam.
GIRASSOL – Desculpem meter-me…mas…menina gota…não concordo nada com o que estás a dizer.
GOTINHA (grita, zangada) – Cala-te…não percebes nada! A culpa é toda tua.
GIRASSOL – Mas eu vou continuar a falar, porque estás a ser muito injusta com a flor.
GOTINHA (zangada) – Claro…para ti…eu sou injusta…! Porque a flor gosta de ti, e não te abandonou como fez comigo.
FLOR – Eu não te abandonei.
GIRASSOL – Pois eu sei muito bem que ela não te abandonou, nem deixou de gostar de ti.
FLOR – Eu entendo o que ela está a dizer.
GIRASSOL – Está cheia de ciúmes.
FLOR – Sim, mas é porque estava habituada a ter-me só para ela…!
GIRASSOL – Mas isso não está certo.
GOTINHA – Não percebes mesmo nada.
GIRASSOL – Percebo muito mais do que tu imaginas. Ela é tua amiga…e pode muito bem ser minha amiga…mas não quer dizer que deixe de gostar de ti, só por gostar de mim.
FLOR – Claro que não. O meu coração é enorme.
GOTINHA (zangada) – Eu fiquei fechada, ontem o dia todo, e nem deste pela minha falta.
GIRASSOL – Querias que ela te obrigasse a sair? Não saíste porque não quiseste…foi tudo para chamar a atenção, sua pimpolha mimalha.
GOTINHA (zangada) – O quê?
FLOR – Eu fiquei preocupada contigo, sim…mas sempre nos respeitamos uma à outra, lembras-te? E às vezes ficamos tristes, lembras-te…? E o que é que acontece quando ficamos tristes…? Lembra-te lá…?
GOTINHA (zangada) – Sim, lembro-me que sempre nos respeitamos uma à outra!
GIRASSOL - Agora não estás a respeitá-la.
GOTINHA (grita zangada) – Estou sim…
FLOR – Não…desculpa mas não estás…mas não faz mal, eu entendo-te! E lembras-te que às vezes ficamos tristes?
GOTINHA – Sim, lembro-me que ficamos muitas vezes tristes, como todas as flores, e todas as gotas, e todos os animais…!
FLOR – E o que fazemos quando estamos tristes?
GOTINHA - Quando estamos tristes…umas vezes ficamos no nosso canto, outras vezes, contamos uma à outra as nossas tristezas…choramos juntas, e abraçamo-nos.
FLOR – Certo…foi o que eu fiz…respeitei-te, e deixei-te no teu canto.
GOTINHA – Mas como é que sabias que eu estava triste?
FLOR – Sei muito bem quando estás triste…nem precisas de falar.
GOTINHA – Tens uma bola de cristal?
FLOR – Não…mas tenho coração, e sinto as tuas energias…porque tu estás nele.
GOTINHA – Como assim?
FLOR – Quando amamos alguém, sentimos se a pessoa está bem, ou o que está a sentir.
GOTINHA – Mas tu amas-me?
FLOR – Claro que sim…nunca tenhas dúvidas disso.
GOTINHA – Mas…Não podes amar-me!
FLOR – Porque não…?
GOTINHA – Porque…eu sou uma gotinha, e tu és uma flor.
FLOR – Mas tenho sentimentos, e tu também.
GOTINHA – Mas somos muito diferentes.
FLOR – Somos diferentes por fora, mas ambas temos sentimentos…e os sentimentos podem ser iguais…aliás…são mesmo iguais! Gostamos muito uma da outra, somos as melhores amigas uma da outra…os nossos sentimentos uma pela outra são os mesmos…mesmo sendo…uma flor e uma gotinha…!
GOTINHA – Eu achava que sim…
FLOR – Achavas que sim, o quê?
GOTINHA – Que os nossos sentimentos eram iguais.
FLOR – E são. Não tenhas dúvidas disso! O amor que há na nossa amizade, é o mesmo.
GOTINHA – Ai é?
FLOR – É.
GOTINHA – Como é que ele é?
FLOR – É um amor…enorme…como de mãe para filha.
GOTINHA – A sério?
FLOR – Podes ter a certeza que sim.
GOTINHA – Eu gosto de ti como mãe...como amiga…como…tudo para mim.
FLOR – E eu de ti.
GIRASSOL – Sim, é verdade.
GOTINHA – Por acaso, tens uma bola de cristal para ver que é verdade óh gigantone?
GIRASSOL (sorri) – Não tenho bola de cristal, mas o vosso brilho mostra bem o vosso amor.
GOTINHA – Mas ela não me pode amar.
GIRASSOL – Desculpa…?
GOTINHA – É um amor impossível.
GIRASSOL – Porquê?
GOTINHA – Porque…não podemos namorar, como fazem os casais que passam por aqui, de mãos dadas e aos beijinhos.
FLOR (ri) – Não quer dizer que esses casais que vês aqui, de mãos dadas e aos beijinhos se amem…
GIRASSOL – Pois não!
FLOR – Não vês o coração deles, nem os fios dos sentimentos que os ligam!
GIRASSOL – Mas…se estão aos beijinhos…
FLOR – Há muitos amores…! Não é necessário namorar…andar de mãos dadas ou muitos beijinhos, para amar.
GOTINHA – Não?
FLOR – Não…! O amor é muito mais que isso que tu vês…é por isso que não acreditas que te amo, como se fosse tua mãe, não é?
GOTINHA – É…e também porque me abandonaste…e porque deixaste de gostar de mim.
FLOR – Eu sei que ontem não te dei atenção…desculpa...não foi por mal…nem foi porque deixei de gostar de ti.
GIRASSOL – Pois não…até porque ela falou-me de ti, muitas vezes. Eu também tive culpa…
FLOR – Não…aqui não há culpas.
GOTINHA – Então…
GIRASSOL – Tu ficaste com ciúmes de mim, não foi?
GOTINHA – Foi…é que…
FLOR – Que maldade, gotinha.
GOTINHA – Óh…!
GIRASSOL – A flor tem razão, gotinha…não tinhas de ficar com ciúmes.
FLOR – Pois não!
GOTINHA – Então…tu gostas de mim?
FLOR – Amo-te…como se fossemos mãe e filha. E não foi por não te ter dado atenção ontem, que não gosto de ti…só não quis interromper-te, porque pensei que estivesses fechada, para descansares…ou por estares ocupada…já não seria a primeira vez, pois não?  
GOTINHA (sorri) – Não…!
GIRASSOL – É verdade…a tua amiga falou-me muito de ti. E disse-me que te ia chamar, mas achava que estavas a descansar ou ocupada, porque não saíste.
GOTINHA – Pois…
GIRASSOL – Eu também tenho mais amigos, e não estou sempre em cima deles…a controlar tudo o que fazem, a querer saber o que estão a fazer, ou o que querem…cabem todos no meu coração…e eu amo todos…o fio dos sentimentos que nos unem é o mesmo. Mas eles sabem que os amo, mesmo quando não estou com eles, ou quando não falo todos os dias com eles todos…! E eu também sei que eles me amam. Não tenhas dúvidas que a tua amiga flor te ama…e mesmo estando a falar comigo, ela não te esquece, nem te abandona.
GOTINHA – A sério?
FLOR – Sim.
GOTINHA – Ai…que vergonha.
GIRASSOL (sorri) – Não precisas de ter vergonha…é normal os amigos ficarem com ciúmes.
GOTINHA (sorri) – Mas é feio.
FLOR – Quando gostamos muito de alguém que não nos liga, acontece ficarmos com ciúmes.
GIRASSOL – Olhem…porque não esqueces os ciúmes e ficas connosco cá fora, com este sol maravilhoso, a conversar e a rir?
FLOR (sorridente) – Claro que sim…é uma excelente ideia…eu ia mesmo dizer isso!
GIRASSOL (sorri) – Tu cabes no meu coração…! Caberei no teu coração, gotinha?
FLOR (sorri) – No meu já coubeste.
GOTINHA (sorri) – Acho que vais caber no meu…eu sou pequena no tamanho, mas tenho muito espaço no meu coração.
FLOR (sorri) – Eu também…e estão os dois no meu.
GOTINHA (sorri) – Desculpem…
FLOR e GIRASSOL (sorriem) – Não faz mal.
GIRASSOL (sorri) – Sim, estou a ver os fios dos sentimentos que nos unem…!
GOTINHA – Onde…?
GIRASSOL (sorri) – Aqui...à nossa volta.
FLOR (sorri) – Olhem…os fios dos nossos corações estão a encontrar-se, e a entrelaçar-se!
GIRASSOL E GOTINHA (sorriem) Sim…
GOTINHA (sorridente) – Ei…também estou a ver…estes fios de luzes todos…!
GIRASSOL E FLOR (sorridentes) – Sim!
FLOR (sorridente) – Olha, gotinha…vês este fio de luz…que não tem fim…?
GOTINHA (sorri) – Sim! É lindo.
FLOR (sorridente) – Olha Girassol…vem outro do teu coração...para o meu…e para o dela…
GIRASSOL (sorridente) – É tão bonito…
GOTINHA (sorridente) – Ááááááhhhh…de onde vem esta luz toda…e estes fios todos…?
FLOR (sorri) – Esta luz toda…e estes fios todos…vem dos nossos corações…são os fios dos sentimentos que nos unem…! Vês…como são lindos gotinha…?
GOTINHA (sorridente) – Sim…são mesmo.
GIRASSOL (sorridente) – Vês como são iguais…?
GOTINHA (feliz) – Sim…pois são…isso quer dizer que…
GIRASSOL (sorridente) – Que os três cabemos no coração uns dos outros…
FLOR (feliz) – E que os fios que unem os nossos corações são os mesmos…estamos unidos pelo amor…que existe entre amigos.
GOTINHA (sorridente) – Mesmo sendo diferentes por fora…os nossos sentimentos são iguais.
FLOR E GIRASSOL (sorridentes) – Isso mesmo!
GOTINHA (sorridente) – Que lindo! Lembrem-se…os sentimentos são iguais, mas nem todos vivem nos corações uns dos outros. Os fios podem ser diferentes, porque o amor também é diferente, mesmo assim…se são os fios do amor…eles existem. Imaginem as cores da luz dos fios que unem os vossos corações aos das pessoas mais importantes para vocês! Unam esses fios de luz…É lindo, não é? Se quiserem façam um desenho desses corações ligados pelas luzes e pelos fios dos sentimentos.

FIM
Lara Rocha 
(5/Abril/2013)



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