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quarta-feira, 24 de abril de 2013

CAROLINA E OS LIVROS


NARRADORA – Era uma vez uma menina que vivia numa grande cidade, onde tudo era a correr…Até o sol parecia que corria…aparecia e logo a seguir desaparecia. Os pais entravam em casa, e não paravam o dia todo…nem em casa, nem na rua…o movimento de carros era de loucos…a alta velocidade, tudo a buzinar, estavam capazes de se passarem a ferro…as pessoas mal se olhavam, e discutiam por tudo e por nada. Que barafunda. Carolina ficava nervosa com todo aquele movimento, e barulhos irritantes…quando achava que finalmente tinha os pais para si, nem que fosse por uns minutos, estes gritavam com ela, e diziam que tinham muito que fazer, não podiam brincar com ela…nas refeições falavam aos gritos uns com os outros, conversas estranhas, que ela não entendia, mas deviam ser sérias, pois eles gritavam e barafustavam…prometiam sempre que amanhã brincavam com a menina, mas esse amanhã nunca chegava. Só ficava feliz quando ia para os Avós, pois pelo menos eles ouviam todas as novidades que ela tinha para contar, e brincavam com ela. Um dia, Carolina estava com a Avó a passear no jardim da cidade, e as duas conversaram:
CAROLINA – Óh Avó…onde é que estes grandes vão com tanta pressa?
AVÓ – Olha…não sei…devem ir para casa, ou para o trabalho, ou para as compras…! Porquê?
CAROLINA – Eles vão com tanta pressa…! Não vêem nada do que está à volta deles pois não?
AVÓ – Infelizmente não. Mas tu vês não vês?
CAROLINA – Só quando vou contigo, porque os meus pais também andam sempre a correr. Porque é que eles correm tanto, Avó?
AVÓ – Têm sempre muitas coisas a fazer.
CAROLINA – E o tempo quem é?
AVÓ – O tempo…não é uma pessoa…é…o relógio…as horas…os minutos, os segundos…a noite…o dia…o mês…o dia de semana…
CAROLINA – Porque é que estão sempre a falar nele?
AVÓ – Porque todos correm contra ele…
CAROLINA – Mas se ele não é uma pessoa…porque é que correm contra ele?
AVÓ – Os adultos têm sempre muitas coisas para fazer.
CAROLINA – E porque é que fazem tantas coisas? Podiam fazer menos.
AVÓ – Pois…devia ser…mas…é muito complicado…
CAROLINA – E eu… não faço parte dessas coisas que eles têm para fazer?
AVÓ – Tu não és uma coisa, és uma menina…
CAROLINA – Sim, Avó, mas os meus pais tratam-me como se eu fosse uma coisa.
AVÓ – Como assim…?
CAROLINA – Sim…estão sempre a correr…dentro de casa, e fora de casa…eu peço-lhes para brincar comigo, dizem sempre…amanhã…amanhã…mas esse amanhã nunca é amanhã! Nunca podem. E estão sempre aos gritos um com o outro, e comigo…fazem de conta que não estou à mesa, nem em casa.
AVÓ – Óh, querida…não é possível, eles tratarem-te como uma coisa. Eles são muito ocupados, mas amam-te.
CAROLINA – Não acredito nisso, Avó.
AVÓ – É verdade!
CAROLINA – Tu, sim…tu amas-me! Tu tens tempo para mim…brincas comigo…não dizes…amanhã…e esse amanhã nunca chega. Fico muito triste quando eles fazem isso.
AVÓ – Os teus pais trabalham muito, para te dar tudo o que precisas, e amam-te muito, mesmo não tendo tempo. Não é que eles queiram…é porque não podem mesmo.
CAROLINA – Não entendo, Avó. Vocês, grandes, são muito estranhos…! Não se compreendem. Os meus amigos dizem o mesmo. É muito triste, Avó, os pais não terem tempo para nós…eu acho que tinham, ou podiam ter.
AVÓ – Tens razão, mas não penses que eles não te amam! Lembra-te que estão a trabalhar muito, para te dar boas condições de vida!
CAROLINA – Mas Avó…eu já tenho tudo. Só quero o carinho e a presença deles…só quero que brinquem comigo, um bocadinho por dia, porque passamos muitos minutos separados, depois…eu tenho saudades deles.
AVÓ – Claro, filha…é natural…eles também têm muitas saudades tuas.
CAROLINA – Então porque é que eles não deixam o trabalho por um bocadinho para estarem comigo, a brincar, ou a ouvir o que eu quero contar-lhes, sobre o meu dia, sobre o que aprendi na escola, sobre o que vi…eu começo a contar-lhes, e eles não me ouvem…mandam-me calar, ou comer, aos gritos, só falam um com o outro…parece que estão sempre zangados…!
AVÓ – Não ligues, filha…são coisas dos adultos.
CAROLINA – Eu não quero que eles trabalhem tanto…só quero que estejam comigo, e que me dêem carinho, colo…que me leiam uma história.
AVÓ – Eles não fazem por mal…!
CAROLINA – Daqui a pouco mudo para a tua casa, Avó…tu tens sempre tempo para mim, para me contar histórias que adoro…e que me fazem rir…e tens tempo para me dar carinho…para ouvir o que eu conto. Os meus pais até dizem que eu sou muito chata, que não me calo. Mas eu faço isso, para eles me ouvirem, a para se lembrarem que estou ali…que sou filha deles, nascida do amor deles…mas eu não vejo amor nenhum neles.
AVÓ – Porque é que dizes isso?
CAROLINA – Eles dizem que quando se ama, não se grita, nem se zanga um com o outro…mas eles estão sempre a gritar e zangados um com o outro…!
AVÓ – Isso é impressão tua…! Eles só estão um bocadinho chateados com o trabalho deles…
CAROLINA – E sou eu que os faço ficar chateados?
AVÓ – Não. Claro que não.
CAROLINA – Eu gostava que eles fossem como os meus livros!
AVÓ (ri) – Gostavas que os teus pais fossem livros?
CAROLINA (sorri) – Sim, porque assim, tinham sempre tempo para mim, eu podia brincar com eles, sempre que quisesse, e podia levá-los comigo para a escola…e podia…fazer-lhes festinhas a toda a hora…e…assim…eles também já não me chamavam chata, e brincavam sempre comigo.
AVÓ (ri) – Sim, querida…podes imaginar o que quiseres.
CAROLINA – Tu não gostavas, Avó?
AVÓ (ri) – De quê?
CAROLINA – Que algumas pessoas fossem como os livros para ti.
AVÓ (ri) – Sim…até seria engraçado!
CAROLINA – A ti, não precisava de te transformar em livro, porque tu já és um livro…! Lindo…cheio de imagens bonitas, cheio de palavras que são músicas…e também és um livro cheio de personagens bondosas, carinhosas, simpáticas, meigas, divertidas…
AVÓ (ri, deliciada) – Ai, que linda princesa…! Obrigada, querida…só mesmo tu.
CAROLINA (sorri) – É verdade, Avó…tu és mesmo um livro muito bom, e muito bonito! (p.c) Só sei uma coisa…não quero crescer, nunca.
AVÓ (ri) – Mas vais crescer…e é bom sinal.
CAROLINA – Não quero!
AVÓ (sorri) – Podes ser sempre um livro de histórias infantis, no teu coração, mesmo em grande…
CAROLINA – Quero ser sempre uma biblioteca de livros lindos, como tu, Avó!
AVÓ (sorri, feliz e orgulhosa) – E podes ser. É muito bom!
CAROLINA – Tu ainda sonhas, Avó?
AVÓ (sorri) – Claro que sim. Porque não haveria de sonhar…? Sonho muito, e gosto muito…até de olhos abertos…! Sonho como tu sonhas…!
CAROLINA (sorridente) – A sério?
AVÓ (sorridente) – Claro…e quando te leio as histórias, também sonho.
CAROLINA (sorri surpresa) – Pensei que os grandes não sonhavam!
AVÓ (sorridente) – Sonham…alguns…
CAROLINA – Mas eles dizem sempre que nunca têm tempo para nada…e têm tempo para sonhar?
AVÓ (sorri) – Olha, para isso…acho que sim…pelo menos à noite.
CAROLINA – Mas eles não lêem…como é que podem sonhar?
AVÓ – Sim, é verdade…o ler faz-nos sonhar…mas eles também lêem…
CAROLINA – Os meus pais não lêem...por isso, acho que também não sonham.
AVÓ – Lêem coisas mais complicadas…dos trabalhos deles…
CAROLINA – Mas acho que não sonham…ou então…são sonhos maus, não?
AVÓ (ri) – É…não devem sonhos muito bonitos, não! Deixa-os lá.
CAROLINA – Achas que eles são felizes, Avó?
AVÓ (ri) – Acho que…sim…talvez! E tu?
CAROLINA – Eu acho que eles não são felizes.
AVÓ – Porquê?
CAROLINA – Porque não sonham, e porque não lêem…e…porque…não têm tempo…e porque…não brincam comigo… (p.c) Acho que com tudo isso, não são felizes. Estão sempre com caras tristes…e zangados…é porque não estão felizes.
AVÓ (sorri) – És capaz de ter razão.
CAROLINA – E tu, Avó…és feliz?
AVÓ (sorri) – Sim, muito, e tu?
CAROLINA – Eu…umas vezes sim, outras vezes não. Queria ser sempre feliz…mas não sou sempre feliz.
AVÓ – Quando é que não és feliz?
CAROLINA – Quando os meus pais não me ligam. E sou feliz quando estou contigo, quando leio, quando ouço as tuas histórias…quando tenho o teu carinho e do Avô…
AVÓ (sorri) – Certo, mas não divides…os teus pais amam-te! Vais ver que daqui a uns tempos, as coisas melhoram.
CAROLINA – Espero bem que sim, Avó…eu peço sempre ao meu anjinho da guarda…mas acho que ele ainda não conseguiu fazer isso.
AVÓ (sorri) – O anjinho da guarda, não está na cabeça dos teus pais…! Mas ele vai dar um jeitinho, vais ver!
CAROLINA – Acho que sim…Olha Avó…o que está ali.
NARRADORA – As duas dirigem-se para um saco encostado a uma árvore.
CAROLINA – O que tem este saco?
AVÓ – Deve ter lixo…
CAROLINA – Espera…estou a ver aqui…uma folha colorida…
AVÓ – Deve ser um papel riscado.
(Carolina abre o saco)
CAROLINA – São livros…Avó!
AVÓ – Livros…?
CAROLINA – Sim. Olha quantos.
AVÓ – E vão para o lixo?
CAROLINA – Parece que sim.
AVÓ – Olha…vamos levá-los.
CAROLINA (feliz) – Siiiimmmm…vamos.
NARRADORA – A Carolina e a Avó levam o saco cheio de livros que iam para o lixo, para casa. Abrem o saco no terraço, e tiram os livros. As duas ficam espantadas e maravilhadas com as ilustrações, as cores, as palavras…limpam o pó, folha por folha, com cuidado e delicadamente.
CAROLINA – Porque é que iam para o lixo?
AVÓ – Não sei…
CAROLINA – Não estão estragados.
AVÓ – Pois não! E se estivessem estragados, também se arranjavam.
CAROLINA – Pois.
NARRADORA – A Avó e a Carolina lêem os pequenos livros, encantadas com as histórias, riem muito, lêem em diálogo, e divertem-se muito, juntas com os livros. Carolina, desde esse dia, tornou-se uma amiga inseparável dos livros, que lia em casa, e com a Avó. Enquanto lia, sentia-se acompanhada pelas personagens, interagia, dialogava e brincava com elas, e pelo menos aí, o tempo parava, ou andava mais devagar, as pessoas das histórias eram simpáticas, educadas, carinhosas, paravam e falavam umas com as outras…havia tempo para tudo!

Actividade:
E vocês? Gostam de ler?
O que gostam mais de ler?
Lêem muitas vezes?
Os vossos pais, avós ou irmãos e amigos lêem-vos histórias?
Muitas, ou poucas vezes?
Que outras pessoas vos lêem histórias?
Gostam mais de ler, ou de ouvir histórias? Porquê?
Acham que é bom ler? Porquê?
Acham que é importante ler? Porquê?
Acham que os livros podem mesmo ser nossos amigos? Porquê?
Gostavam de ser um livro? Porquê?
Se fossem um livro, como seriam? Que personagens existiria dentro de vocês?
O que fariam se encontrassem livros, como a Carolina?
Acham que na nossa sociedade poderia haver tempo para tudo? Principalmente…tempo para as amizades, para conviver…e para o carinho, e para o amor? E para o respeito por todos?
Acham que a nossa sociedade e o nosso mundo estão bem assim?
Gostavam de viver numa sociedade e num mundo diferente?
Como seria essa sociedade/ esse mundo? Escreve uma composição ou faz um desenho.
Gostavam de poder mandar na sociedade?
Se pudessem mandar, o que mudariam? O que fariam? Porquê? Escrevam ou façam um desenho.


FIM
Lálá
23/Abril/2013



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