Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Onde está o Gonçalo?



NARRADORA – Era uma vez um menino que andava sempre muito triste. Ele tinha tudo o que se pode desejar, e pedir para se ser feliz…tinha pais, tinha irmãos, casa, alimento, roupa, conforto, amor, carinho e brinquedos…mas faltava-lhe qualquer coisa, para se sentir completo. Tinha tudo, mas não tinha muitos amigos, porque era um menino mais pequenino que os outros da sua idade, e todos os se afastavam dele, gozavam-no, humilhavam-no, e faziam-lhe maldades. Ele, como era muito bom menino, não se defendia, embora ficasse muito triste, e chorasse muito, tinha dias que não queria ir para a escola. Mas sabem uma coisa? Ele era pequenino no tamanho, mas tinha um grande coração, só que não lhe davam oportunidade de o mostrar…sim, é verdade, toda a gente precisa de oportunidades para mostrar o seu coração, porque só vemos o que está por fora…aquilo que os olhos vêem, e não damos importância ao que está dentro, porque dá muito trabalho, conhecer uma pessoa por dentro, principalmente aquelas que se mostram mais devagarinho. O Gonçalo não gostava de ir para a escola porque tinha muita vergonha de ser tão pequenino, mas não tinha outra solução: ia mesmo, pois os pais obrigavam-no a isso…não era por mal, pois eles sabiam que o menino tinha vergonha, e obrigavam-no a ir para ver se perdia a vergonha, e se começava a gostar de ser pequenino. Os seus pais sabiam que ele era pequenino, mas era muito bom menino, e queriam que ele fosse para a escola para mostrar isso aos outros que o gozavam. O menino passava os intervalos sozinho, triste, outras vezes, a falar com os professores. Sempre que o Gonçalo fazia queixa dos colegas, os professores diziam para ele não ligar, pois nada do que os outros diziam sobre si, era verdade…mesmo assim, o menino não gostava e sofria. Um dia, na sua escola, num intervalo encontrou um jardim, onde havia um túnel de flores formado por uma rede que as segurava. As flores eram lindas, grandes, e cheias de cor. Por baixo da rede havia areia da praia. O Gonçalo empurrou a rede e abriu uma portinha pequenina feita de rede, que ninguém conhecia…a não ser o jardineiro que cuidava daquele espaço. O que haverá para lá daquela portinha?
GONÇALO – Uma portinha aqui? Nunca tinha visto, e já passeio por aqui muitas vezes…!
CORO DE FLORES – Olá menino!
GONÇALO (estremece) – As flores falam?
CORO DE FLORES (riem) – Sim!
FLOR 1 – Falamos para quem nos consegue ouvir!
GONÇALO – Não sabia que as flores falavam.
CORO DE FLORES (sorriem) – Sim, falamos!
FLOR 2 – Mas nem toda a gente nos ouve!
GONÇALO (surpreso) – Porquê?
FLOR 3 – Porque falamos baixinho…
FLOR 4 – Porque somos delicadas…
FLOR 5 – Porque toda a gente acha que as flores só falam nas histórias.
FLOR 6 – Pois…ou que somos da imaginação das crianças.
FLOR 7 – É um perfeito disparate!
CORO DE FLORES – Pois é!
FLOR 8 – Nós falamos…e muito…somos seres vivos. 
GONÇALO – E porque é que nem toda a gente vos ouve?
CORO DE FLORES – Sensibilidade!
FLOR 1 – Isso mesmo!
FLOR 2 – Nem toda a gente tem sensibilidade para lidar connosco.
FLOR 3 – Nem delicadeza!
FLOR 4 – Acham que só existimos para enfeitar os jardins, e as jarras ou janelas.
CORES DE FLORES – Pois é!
FLOR 5 – Somos muito mais do que flores.
CORO DE FLORES – Muito mais!
GONÇALO – Como assim?
FLOR 6 – Olha, antes de sermos assim como nos estás a ver, como umas bolinhas…que ficamos lá em baixo…
GONÇALO – Umas bolinhas?
CORO DE FLORES – Sim…umas bolinhas.
GONÇALO – De que tamanho?
CORO DE FLORES – Pequeninas.
GONÇALO – Do tamanho de bolas de futebol?
CORO DE FLORES – Não!
FLOR 1 – Nem cabíamos lá debaixo se fossemos do tamanho de bolas de futebol.
FLOR 2 – Somos muito mais pequeninas do que uma bola de futebol…!
GONÇALO – Vocês sabem o que é uma bola de futebol?
CORO DE FLORES Sim.
FLOR 3 – Já levamos com algumas em cima.
GONÇALO – Ai, deve ter doido.
CORO DE FLORES – Sim, muito.
FLOR 4 – Ficamos todas de lado, mas somos fortes, e voltamos a levantar-nos.
FLOR 5 – O Quico dá uma ajuda.
FLOR 6 – E não somos tão redondas como estás a pensar…não somos como bolas de futebol…!
GONÇALO – Então…? São do tamanho de berlindes?
CORO DE FLORES – Sim.
GONÇALO – E estão lá em baixo?
CORO DE FLORES – Sim!
GONÇALO – Onde?
CORO DE FLORES – No solo…
FLOR 7 – Aqui, debaixo.
FLOR 8 – Mais ou menos perto da terra.  
GONÇALO – É muito escuro não é?
CORO DE FLORES – É.
FLOR 1 – Mas rapidamente vimos para a luz.
GONÇALO – E não têm medo?
CORO DE FLORES – Não!
GONÇALO – Eu tenho muito medo do escuro!
CORO DE FLORES – Nós não!
GONÇALO – E depois?
FLOR 7 - Depois…somos tapadas com terra…
FLOR 8 - Depois…levamos com água…
FLOR 1 – Com vento…
FLOR 2 – Com chuva…
FLOR 3 – E às vezes com bichos irritantes…!
FLOR 4 – Depois…com coisas que põem na terra…para crescermos.
FLOR 5 – Depois…começamos a crescer e aí sim…saímos cá para fora.
FLOR 6 – Como nós demoramos um bocadinho a sair…muita gente desiste, e abandona-nos!
FLOR 7 – Mas nós continuamos a lutar, e procuramos alimento.
CORO DE FLORES – Pois.
FLOR 8 – Depois às vezes, temos a sorte de encontrar bons corações que sabem esperar por nós, que nos dão atenção, que falam connosco…!
GONÇALO – Quem?
CORO DE FLORES – Jardineiros!
GONÇALO – E quem é esse?
FLOR 1 – É aquele senhor…o Quico.
GONÇALO – Áh! E ele fala convosco?
CORO DE FLORES – Fala.
GONÇALO – E vocês respondem-lhe?
CORO DE FLORES – Quase sempre.
GONÇALO – Porque é que não respondem sempre?
CORO DE FLORES Porque…
FLOR 2 – Porque às vezes ele não quer respostas…!
CORO DE FLORES – Pois!
FLOR 3 – Só quer ser ouvido.
FLOR 4 – E só quer falar.
GONÇALO – E o que é que ele fala convosco?
CORO DE FLORES – Muitas coisas!
GONÇALO – Que coisas?
FLOR 5 – Coisas da vida dele…aqui da escola, e de casa.
GONÇALO – Mas a mim sempre me disseram que devemos sempre responder a quem nos pergunta alguma coisa!
CORO DE FLORES – Está mal.
FLOR 6 – Às vezes só se fala para o coração não doer tanto. Não precisamos que nos respondam sempre.
FLOR 7 – É como vocês…quando falam com os bonecos, ou com o anjo da guarda…pelo menos foi o que o Quico disse!
CORO DE FLORES – Sim!
GONÇALO – Estou a perceber. Vocês sempre estiveram aqui?
CORO DE FLORES (riem) – Sim.
FLOR 8 – Não chegamos há muito, mas já estiveram aqui outras…!
GONÇALO – Eu não vos vi aqui antes.
FLOR 1 – Devias ir distraído…há muita gente que não nos vê.
FLOR 2 – Ou se nos vêem é para nos fazer mal.
CORO DE FLORES – Pois é!
GONÇALO – Tem aqui uma portinha!
CORO DE FLORES – Tem.
GONÇALO – Será que eu consigo passar por aqui?
CORO DE FLORES – Tenta!
GONÇALO – Eu sou tão pequeno…de certeza que passo!
CORO DE FLORES – Experimenta!
GONÇALO – O que há para além desta portinha?
CORO DE FLORES – Verás!
GONÇALO – O que é isso?
FLOR 3 – Entra e vais ver o que há.
GONÇALO (sorri) – Áh!
NARRADORA – Gonçalo entra, e fica feliz por conseguir entrar numa porta tão pequena…parece que foi feita à medida dele, só para passar. Do outro lado da porta há um sítio muito bonito...é uma autêntica sala de estar, com livros, luz natural, e as árvores que se vêem ao longe. Toca a campainha a anunciar que o intervalo acabou. Gonçalo ficou tão encantado com aquele sítio que nem se lembrou que tinha acabado de ser chamado para as aulas.
GONÇALO – Tantos livros! Adoro estar rodeado de livros!
CORO DE FLORES – Menino…
FLOR 1 – Eu sei que é um sítio onde apetece mesmo estar, mas tens de ir para a sala, não?
GONÇALO – Não quero ir!
CORO DE FLORES – Mas…tens de ir…
GONÇALO – Não! Eu detesto aqueles meninos…
CORO DE FLORES – Então…?
GONÇALO – Eles são maus comigo! Eu não quero vir para a escola, os meus pais é que me obrigam! Mas eu não gosto deles. São muito maus comigo…
CORO DE FLORES – Porquê?
GONÇALO – Por eu ser tão pequeno.
CORO DE FLORES – Que maldade.
FLOR 2 – Mas o que é que tem seres tão pequeno?
FLOR 3 – Ainda vais crescer mais, certamente…!
FLOR 4 – E se não cresceres, o importante é que sejas boa pessoa.
CORO DE FLORES – Claro!
FLOR 5 – De que é que vale seres tão grande, se não tens nada para os outros…?
GONÇALO – Eles gozam-me, deixam-me muito envergonhado.
CORO DE FLORES – Não entendo!
GONÇALO – É. Eles estão sempre a dizer que sou pequeno, a chamar-me nomes, e a dizer que sou um bebé…e coisas ainda mais feias.
CORO DE FLORES – Que feios.
FLOR 6 – Mas são mesmo más estas criaturas.
GONÇALO – Eu não quero ir…
FLOR 7 – Mas vai, e enfrenta-os…mostra-lhes que não lhes ligas, e que o que eles dizem é mentira.
GONÇALO – Eu sei que sou muito pequeno.
FLOR 8 – Mas tens um coração grande, de certeza!
GONÇALO – Não…
CORO DE FLORES – Tens.
FLOR 1 – És grande, porque és um bom menino, e isso é que interessa.
FLOR 2 – Não te incomodes com o que eles dizem.
FLOR 3 – Tu podes ser pequenino, mas chegas onde todos chegam!
FLOR 4 – Olha que é bom ser-se pequenino…!
GONÇALO – Não. É muito mau ser-se tão pequeno.
CORO DE FLORES – Olha que é bom.
GONÇALO 5 – És gozado por todos.
FLOR 5 – Mas tu passas nesta portinha, e eles não…!
FLOR 6 – Tu podes ver as coisas bonitas que há por trás desta redinha, e eles não!
FLOR 7 – Tu és pequenino, mas não gozas com ninguém, nem fazes maldades aos outros…e eles são mais altos, mas fazem mal a muita gente! Já pensaste nisso?
CORO DE FLORES – Pois é!
FLOR 8 – Além disso…podem pegar em ti ao colo, mas neles não…e o colo é sempre bom, não é?
CORO DE FLORES (sorriem) – Pois é!
GONÇALO (sorri) – Sim, é verdade.
FLOR 1 – Tu podes chegar onde há entradas mais baixas para ir buscar qualquer coisa, mas eles não…certo?
CORO DE FLORES – Certo…pois é!
(Aparece Quico)
QUICO – O que estás aqui a fazer, rapaz? Já devias estar na aula.
GONÇALO – Eu não quero ir para a aula.
QUICO – Ora essa…eu também não queria muita coisa, e tenho…e faço…coisas que não queria nada fazer, mas não tenho outra saída…! Vá…põe-te a andar…aliás…tu não devias estar aqui, devias estar na primeira classe, não? Xôôô…para a sala…deixa as flores em paz.
NARRADORA – Gonçalo vira as costas, muito triste e vai para a sala, envergonhado, a correr.
CORO DE FLORES – Coitadinho!
FLOR 1 – Não devias ter falado assim com ele.
FLOR 2 – Ele tem muita vergonha de ser assim tão pequenino.
FLOR 3 – O menino diz que toda a gente o gozo, e lhe chama nomes feios, por ele ser assim tão pequenino….
FLOR 4 – É um bom menino.
QUICO – Óh, ele deve estar é estragadinho com o mimo.
FLOR 5 – Que maldade….
NARRADORA – O menino entra na sala, e as flores ficam a falar com o Quico. No intervalo seguinte, o Gonçalo volta ao mesmo sítio, e entra pela portinha. Fica lá a ver os livros, e a conversar com as flores. O menino gosta tanto daquele espaço e da companhia das flores, que nem dá pelas horas passarem, e falta á aula. A professora pergunta pelo menino, muito preocupada, e ninguém sabe dele. Procura pela escola toda, e não encontra, até que o Quico vê a portinha aberta, e espreita.
QUICO – Está aqui, senhora professora. Anda cá para fora, moço….a tua professora está à tua procura.
GONÇALO (muito aflito) – Óh não…
PROFESSORA – Gonçalo…sai daí…!
NARRADORA – Gonçalo sai contrariado, e triste. A professora tem uma longa conversa com ele, e ele conta-lhe que todos os meninos o gozam por ser tão pequenino, e que fica muito triste por isso. Ainda por cima, no recreio, ninguém quer jogar com ele. A professora compreende a tristeza do menino, promete ajudá-lo, e dá a aula só para ele. No jardim da sua casa, encontra outro espaço pequeno, onde adora estar, sempre rodeado de livros, quando não quer brincar com os irmãos. No dia seguinte, a professora faz de propósito: põe uma capa atrás do armário da sala, debaixo do armário, um sítio onde ela chega, mas tem a certeza que os meninos não chegam, apenas o Gonçalo chegará, antes dos meninos chegarem. Quando eles chegam, a professor faz de conta que está á procura da capa muito importante, e pede ajuda aos alunos. Todos se oferecem, mas nenhum aluno chega à capa.
PROFESSORA – Gonçalo…tenta tu…se faz favor…que chatice, como é que a capa caiu lá para trás…
NARRADORA - Todos se começam a rir, e a gozar com Gonçalo, mas de repente todos se calam, quando Gonçalo sai de trás do móvel com a capa na mão, sorridente.
GONÇALO (sorridente) – Está aqui, professora!
PROFESSORA (sorridente) – Áhhh…Muito bem. Muito obrigada, Gonçalo. Vá…vamos todos bater palmas ao Gonçalo.
NARRADORA – Todos batem palmas, surpresos.
PROFESSORA – Estão a ver, meninos…? Afinal foi o minorca que lá chegou…! Não foi? De que é que vos vale ser grandes…? Seus malvados…! Só têm tamanho e muita palermice…! Que coisa mais feia…acharem que um menino, lá porque é mais baixo que vocês, não tem valor! Tem muito mais valor que vocês, porque o seu coração é grande, e lindo. Ele é um menino bom…ao contrário de todos vocês que são mais altos…! Ele é pequenino no tamanho, mas chega onde vocês chegam, e chega muito mais longe por ser mais pequeno…porque chega a sítios, onde vocês não chegam. Ele é pequenino e daí…? Vocês nunca foram pequeninos…? Já nasceram assim dessa altura, querem ver…? Ajuda as funcionárias, é delicado, educado, simpático, com toda a gente…prestável… responsável, interessado, atento, muito inteligente…até defende as meninas…nunca vi nenhum de vocês a fazer isso!
MENINAS – É verdade!
PROFESSORA - Acham que ganham alguma coisa em ser altos…? Há adultos mais pequenos que vocês, mas que são enormes…como pessoas…são bons com os outros, não põem os outros de lado só porque são mais altos, ou mais baixos, ou mais gordinhos ou mais magrinhos…! E porquê? Porque sabem que o valor delas não está no tamanho físico, mas sim, no coração! Lembram-se de termos falado nisso? É provável que não, porque estavam distraídos, a reparar no que os outros têm, e vocês não…em vez de se preocuparem em ser amigos uns dos outros, e em dar coisas boas uns aos outros. Meninos…a escola é de todos…somos todos diferentes uns dos outros…já viram que feios que éramos todos, se fossemos todos altos, ou gordos…ou palitos…? Ainda bem que há variedade…e que somos todos diferentes, porque é assim que aprendemos a ser pessoas, a viver com os outros, a falar uns com os outros, e a aprendermos uns com os outros…cada um com as suas experiências diferentes! Imaginem…já viram o que era, se eu em todas as aulas, apontasse os defeitos de cada um de vocês…? Aquilo que eu não gosto em vocês….se dissesse por exemplo…em vez do vosso nome…aquele…dos óculos, ou dos dentes saídos, ou aquele das orelhas grandes…ou aquele do nariz batatudo, ou…aquele das pernas magras…?! Gostavam de ouvir isso, e que eu vos tratasse assim? (Faz-se silêncio) respondam…! Gostavam? É que se gostarem, eu passo a tratar-vos assim!
TODOS – Não!
PROFESSORA – Bem me parecia. Vocês são todos iguais?
TODOS – Não.
PROFESSORA - E gostavam de ser todos iguais?
TODOS – Não!
PROFESSORA – Pois claro! Então porque é que tratam assim o vosso colega?
MENINO 1 – Porque ele é calado!
PROFESSORA – É calado? Isso não é desculpa! Ele fala quando é preciso… e fala acertadamente! Sabe muito bem quando pode falar e quando não pode!
MENINO 2 – Mas ele não se junta.
PROFESSORA – Que desculpa mais esfarrapada…! Vocês é que o mandam embora…! Não vos ensinaram a juntar todos?
TODOS – Sim, mas…
PROFESSORA – Mas, o quê? Não existe mas…é preciso envolver todos os meninos e meninas…todos! Entenderam?
TODOS – Sim.
PROFESSORA – E sabem o que é todos?
TODOS – Sim!
PROFESSORA – Então não quero ver outra vez o Gonçalo afastado dos meninos. Entendido?
TODOS – Sim, professora.
PROFESSORA - Peçam já desculpa ao vosso amigo…!
TODOS (envergonhados) – Desculpa…
PROFESSORA – Não ouvi nada!
TODOS (envergonhado) – Desculpa…
PROFESSORA – Outra vez! Mais alto.
TODOS (alto) – Desculpa…
PROFESSORA – E agora…vão sentar-se calados…e ai de quem volte a gozar com o Gonçalo pela sua altura, ou outro menino, pelo que quer que seja. Estamos entendidos?
TODOS – Sim, professora.
PROFESSORA – Gonçalo…quadro!
GONÇALO – Mas professora…eu não chego.
PROFESSORA – Pões uma cadeira, ou escreves até onde chegas.
GONÇALO – Mas…assim os meninos não vêem!
PROFESSORA – Não te preocupes com os meninos…vêem…e se não vêem…ouvem, estando calados e atentos, em vez de estarem a olhar para o lado.
NARRADORA – A partir desta aula, o Gonçalo passou a ser respeitado e admirado por todos, que até começaram a achá-lo engraçado, pelo seu despacho, mesmo pequenino. Por ser pequenino, chegava a sítios onde os outros não chegavam, por exemplo, quando a bola ia para sebes ou para sítios onde os mais altos não conseguiam chegar. E assim, todos viram que realmente, o tamanho de fora, que os olhos dos outros vêem não mostra o tamanho da bondade da pessoa, nem as suas qualidades. Pequeninos ou grandes, somos como somos, e todos temos qualidades e defeitos, todos temos valor, e todos precisamos de amigos. Todos temos direito a mostrar o que somos, debaixo da nossa pele, onde está o nosso coração, e todos temos direito a ser respeitados, integrados e valorizados.

FIM
Lálá
(17/Abril/2013)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras