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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

UM CORAÇÃO BOM!


NARRADORA – Era uma vez uma menina que vivia num barracão, com a mãe, que nunca viveu com o pai da menina. Viviam as duas, a mãe ganhava pouco dinheiro, mas não faltava amor e carinho, nem comida, nem bebida, nem roupa necessária, e havia higiene. A menina era muito simpática, meiga, educada e brincava sozinha. Um dia, passeava-se pela aldeia onde vivia, e viu uma loja nova, de animais. Na montra tinha uma gaiola com cãezinhos bebés, lindos, fofinhos, pequeninos, pareciam peluches. A menina encantou-se com os bichinhos, e ficou maravilhada a olhar para a montra, sorridente, a sonhar acordada que tinha um cãozinho daqueles. Foi a casa a correr contar à mãe.
MENINA – Mamã, vi uns cãezinhos tão fofinhos, tão bonitos, numa loja que abriu…!
MÃE – Uma loja nova? Aqui na aldeia?
MENINA – Sim, eu ainda não tinha visto, mas há. Os cãezinhos eram tão lindos.
MÃE – Sim, sim…deixa-os estar.
MENINA – Anda vê-los, Mamã.
MÃE – Depois eu vejo.
MENINA – Anda agora.
MÃE – Não sejas chata. Vejo depois.
MENINA – Vá lá. São tão lindos.
MÃE – Está bem, podem ser, mas não vão fazer o serviço por mim, nem vão buscar o dinheiro para nós.
MENINA – Vá lá, Mamã…
MÃE (grita) – Que chata!
NARRADORA – A menina consegue convencer a mãe, e vão as duas ver os cãezinhos.
MENINA (enternecida) – Olha, Mãe…não são lindos?
MÃE – São.
MENINA – Vamos buscar um…!
MÃE – O quê?
MENINA – Sim, por favor…
MÃE – Nem penses.
MENINA – Por favor, Mamã…eu queria tanto um.
MÃE – Eu também queria muita coisa e não tenho.
MENINA – Vá lá, Mamã…quando eu ganhar dinheiro, vou dar-te tudo o que tu querias.
MÃE – Não!
MENINA – Por favor, vamos buscar um. São tão lindos, tão pequeninos, tão fofinhos…!
MÃE – São, mas é só para ser vistos. Não temos dinheiro!
MENINA – Eu vou perguntar quanto custa.
MÃE – Vai…mas não o vamos levar. (p.c) Mal temos dinheiro para comer…vivemos naquele barracão, e ainda queres ter um bicho…?! (p.c) Nem pensar. Não temos dinheiro para ele. Precisamos do dinheiro para outras coisas.
MENINA – Óh…podes vender os meus brinquedos, e assim já temos dinheiro para o cãozinho.
MÃE (ri) – E tu achas que as coisas são assim.
(Entram na loja, e perguntam ao senhor o preço do cãozinho)
MÃE – O quê? (p.c) Nunca terás este cão.
MENINA – Porquê, Mamã?
MÃE – Já te disse que não temos dinheiro.
MENINA (triste) – Óóóhhhh…!
MÃE – E não adianta ficares de trombas…não levamos e pronto. O dinheiro não estica, filha…não podemos comprar tudo o que queremos. Nem temos onde o meter.
NARRADORA – A menina fica numa tristeza sem fim, cortante, mete pena olhar para ela, e chora ao olhar para os cãezinhos.
MÃE – Vamos embora.
SENHORA – Toca neles, querida.
MÃE – Não…se não custa mais a esquecer.
(A senhora pega num cãozinho, e a menina faz uma festinha, maravilhada ao cãozinho. Ela fica cheia de pena da menina.)
MENINA (a chorar) – Queria tanto que viesses comigo! Mas não posso, desculpa.
MÃE – Vamos…! Deixa o bicho em paz.
SENHORA – Passas aqui quando quiseres vê-lo, está bem, querida? E pede às estrelas esse desejo!
(A menina não para de chorar)
MÃE (também a chorar) – É muito triste não poder realizar os desejos dos nossos filhos…mas não podemos! E ela sabe que não temos dinheiro, mal temos para comer…vivemos num barracão…temos as condições mínimas, mas não para muito mais. E não podemos levar o cão.
SENHORA – Eu faço-lhe um desconto.
MÃE (a chorar) – Não…não, pode ser, não pode ser…ela tem de se habituar à ideia de que não temos dinheiro, e não podemos ter tudo o que queremos. Isto passa-lhe…não se preocupe. (p.c) Boa tarde, obrigada.
NARRADORA – A mãe quase leva a filha a rastos, as duas a chorar. Entretanto, ela para de chorar, mas continua muito triste e muito calada. À noite, quase não come. A mãe entende que ela esteja triste, mas não diz nada. Quando se vai deitar, a menina pede um desejo às estrelas. A mãe ouve da porta, atrás do armário:
MENINA – Estrelas...estão a ouvir-me? (p.c) Eu quero muito aquele cãozinho. (A mãe chora em silêncio) Por favor, imploro-vos…realizem o meu desejo. A minha mãe não tem dinheiro para comprar um cãozinho, mas então…façam-na ganhar mais dinheiro nos próximos dias…para me poder comprar aquele cãozinho. Por favor…! Eu gostei tanto dele, e acho que ia ser muito bom para mim, e para a minha mamã, já que somos só nós as duas…e eu amo a minha mamã, mas queria mais uma companhia, para brincar comigo…a minha mamã, dá-me muito carinho, e brinca muito comigo…mas eu queria mais alguém…o cãozinho! Eu acho que ela também ia gostar muito. Eu sei que vocês são boazinhas…e que vão ouvir o meu desejo! Façam-me companhia esta noite, e guardem o cãozinho.
(A mãe está igualmente destroçada. Limpa as lágrimas, respira fundo, e entra no quarto da filha, com um sorriso).
MÃE – Ainda não estás deitada…?
MENINA – Estava à tua espera, para me cobrires, e para me aqueceres. (p.c) Deita-te aqui, mamã! (p.c) Só um bocadinho.
MÃE – Está bem, filha…!
(A mãe abraça a filha, deita-a, enche-a de beijos, cobre-a)
MENINA – Pedi um desejo às estrelas.
MÃE (sorri) – Está bem…! Tu falas muito com elas.
MENINA – Só não te posso dizer qual é, se não…não se realiza.
MÃE (ri) – Está bem, então não digas.
MENINA – Eu acho que elas vão realizar o meu desejo.
MÃE (sorri) – Também acredito que sim!
MENINA – Eu sei que também querias que esse desejo se realizasse.
MÃE (sorri) – Se dizes isso, eu acredito.
MENINA – Amo-te, Mamã…! (p.c) Um dia ainda vamos viver num sítio melhor, numa casa melhor, e vamos ter cãezinhos…
MÃE (sorri) – Sim, está bem…vamos fazer por isso. (p.c) Também te amo, filha, muito!
MENINA – Eu sei.
MÃE (sorri) – Agora…fecha os olhinhos, e dorme…sonha com esses sonhos todos.
MENINA – Tu também vais sonhar com esses todos?
MÃE – Sim.
MENINA – Assim podem realizar-se mais depressa.
MÃE (sorri) – Sim, pois é.
MENINA – Boa Noite, mamã…!
MÃE – Boa Noite, meu amor.
MENINA – Olha…o cãozinho não está ao frio, pois não?
MÃE – Não! Fica descansada.
NARRADORA – A mãe acaricia a filha, e chora em silêncio. A menina adormece. A mãe sai do quarto da filha, e vai para o dela, a chorar.
MÃE (baixinho) – Como eu queria dar-te tudo o que desejas, minha filha! (p.c) Mas, como é que eu vou fazer isso…? O cãozinho é carote…! (p.c) Vou trabalhar horas extras…não sei onde, nem como…mas tenho de fazer alguma coisa além disto…para ter dinheiro…ainda se o teu pai financiasse…mas aquele desgraçado…Aaaaaiiii…onde te meteste…malvado…?!
NARRADORA – A mãe fica na sua cama a dar voltas à cabeça, e não consegue dormir. A senhora da loja, ficou tanta pena da menina que também não prega olho, e toma uma decisão. No dia seguinte, a mãe da menina vai trabalhar bem cedo, e nesse dia faz outros trabalhos para ganhar mais. A menina vai almoçar à Avó, e fala-lhe do cãozinho. Mas a Avó também não tem muito dinheiro. A menina fica desolada, e a Avó também. Mas dá-lhe todas as economias que tinha de lado para a menina. Mas não chega para o cãozinho. A Avó e o Avô não sabem o que fazer. Vão com a menina à loja, ver o cãozinho, e perguntar quanto custa. Para grande tristeza deles, não chega. A menina chora. A senhora da loja, pega no cãozinho ao colo, e diz.
SENHORA – Pega, querida, o cãozinho é para ti…eu ofereço-te!
(A menina abre um enorme sorriso, e pega no cãozinho ao colo, feliz)
MENINA (sorridente) – Muito obrigada.
AVÓ (um pouco envergonhada) – Por favor, não faça isso…!
SENHORA – Sou eu que quero oferecer. Esta menina ontem já esteve aqui com a mãe, e não tinha dinheiro para o cãozinho que gostou tanto. Hoje vem com os Avós, e as economias também não chegam…a menina está outra vez desconsolada…! (p.c) Não preguei olho, a pensar nisto…é muito triste a situação dela. (p.c) Não vai ser dar um cãozinho que me vai levar ao prejuízo.
AVÔ – A senhora é maravilhosa…mas por favor, não queremos ficar em dívida consigo…!
SENHORA – E não ficam…eu é que quero oferecer.
AVÓ – Então…levamos um bichinho também.
AVÔ – Boa ideia.
SENHORA – Por favor, não se sintam na obrigação de levar um animal, só porque eu ofereci um à menina.
AVÓS – Não.
AVÔ – Nós também queremos levar um. (p.c) Quer dizer…se tiver algum dentro daquele saldo que podemos disponibilizar.
AVÓ – Isso mesmo.
SENHORA – Sim, temos estes cãezinhos…temos gatinhos…que são mais baratos…temos…peixinhos…aves…!
NARRADORA - Os Avós dão uma volta pela loja, e acabam por levar dois gatos, um cãozinho de outra raça, igualmente bonito e meigo, e uns peixinhos. A menina está feliz, abraçada ao cãozinho, a fazer-lhes festas, e mais festas, dá-lhe beijinhos. O cãozinho também está feliz no colo da menina.
MENINA (sorridente) – Boa…obrigada, estrelinhas…obrigada, senhora boa!
SENHORA (sorridente) – De nada, minha querida. Tu és a minha netinha, que nunca tive.
MENINA (feliz) – Então posso chamá-la de Avó?
SENHORA (sorridente) – Sim, filha…o que quiseres. (p.c) Sempre que quiseres ou precisares de alguma coisa, para o cãozinho, passas por aqui, está bem?
MENINA (sorridente) – Está bem! A minha mamã também vai ficar muito feliz.
SENHORA (sorridente) – Tenho a certeza que sim.
AVÓS (sorridentes) – Muito obrigada.
NARRADORA – A senhora fala mais um pouco com o casal, e com a menina. A menina não larga mais o cãozinho, e vai para casa dos Avós, com os outros bichos, feliz. Brinca com o cãozinho, dá-lhe comida e bebida, abraça-o, faz-lhe carinhos, brinca com os outros animais. Chega a mãe, e nem quer acreditar.
AVÓ – A senhora de loja, teve tanta pena dela, que lhe ofereceu o cãozinho, e nós compramos estes para nós.
MÃE – Não…!
AVÔ (sorridente) – Olha como ela está feliz!
MÃE (sorri) – E eu, que estava a fazer horas extras, hoje, para juntar dinheiro e comprar-lhe o cão um dia destes…!
AVÓ (sorri) – As nossas economias não chegavam…mas a senhora foi tão bondosa que ofereceu o cãozinho. Disse que ela já tinha estado lá ontem, e a senhora ficou muito sensibilizada…disse que não conseguiu dormir…e decidiu oferecer.
MÃE (sorridente) – Óh, que senhora tão querida…eu ontem disse-lhe que era muito triste não poder dar tudo aos nossos filhos, que mal tínhamos dinheiro para comer… (p.c) Óh, nem sei como lhe agradecer. Vou ter de ir lá falar com ela.
AVÔ (feliz) – Ainda há bons corações.
AVÓ (feliz) – Sim. Eu no lugar dela acho que faria o mesmo! (p.c) Ela diz que tem vendido muitíssimo, desde que se mudou para cá. (p.c) É uma senhora adorável. (p.c) Gostei muito dela.
MÃE (sorridente) – Que bom!
MENINA (feliz) – Olha, mamã…que lindo que é, este bichinho. As estrelinhas ouviram o meu desejo.
MÃE (sorri) – Sim, claro que sim. (p.c) E tu mereces…!
MENINA (feliz) – Faz-lhe festinhas.
NARRADORA – A mãe faz festinhas ao bichinho, e também fica deliciada com os cães, os gatos, e os peixinhos. A mãe da menina passa na loja de animais para agradecer à senhora, e fala com ela. Ela arranja-lhe um emprego extra, para que a mãe possa comprar uma casa em condições, e roupa e comida para a menina. As duas ficam instaladas na casa da Avó da menina no Inverno. Os cãezinhos fazem uma companhia maravilhosa, e todos os adoram, brincam com eles, dão-lhes mimos, alimentam-nos…e quando finalmente a mãe da menina consegue juntar dinheiro, com trabalhos e horas extras, compram um pequenino apartamento, no prédio ao lado dos pais, e instalam-se lá, com o cão, e todas as condições. E vocês? Fariam o mesmo? Se fossem donos de uma loja de animais, e se vos aparecesse uma menina pobre, que não tivesse dinheiro para o cãozinho, mas quisesse muito, ofereceriam o cãozinho? Ainda há almas boas, pessoas com grandes corações, com sentimentos. Vocês já deram alguma coisa a alguém que precisava? O quê? Ou já fizeram alguma coisa boa para ajudar alguém que precisava? Quando? O quê? Se o fizeram, como se sentiram? Como ficou o vosso coração? E o vosso sorriso? Acham que essa pessoa ficou feliz? Sabem, hoje em dia, não podemos ter tudo o que queremos…por isso, em vez de ficarem zangados com os papás ou avós que não vos dão alguma coisa que queriam, não fiquem tristes. Em vez disso, ajudem-nos a juntar dinheiro, com as economias que vos dão, as moedinhas, e quando tiverem já um bom dinheiro, aí sim, podem comprar o que querem. Mas se os papás e os avós dizem que não podem, é porque não podem mesmo, mas mesmo assim, eles amam-vos muito! E acreditem, que se eles tivessem dinheiro, dar-vos-iam tudo com todo o gosto, por isso, respeitem os vossos papás e Avós, quando não vos dão alguma coisa…lembrem-se, não é por não gostarem de vocês, é porque não podem mesmo. Mais tarde, poderão vir a dar. Em vez de brinquedos e outras coisas, o mais importante, e o mais bonito que eles vos dão, é o carinho, o amor, os abraços, os beijos, os pitéus que vocês adoram comer, e os docinhos…as coisas que vos ensinam e a sua presença nas vossas vidas. Agradeçam aos vossos papás e avós, tudo o que eles vos dão, de bom…oferecendo-lhes um desenho por exemplo, ou uma pequenina oferta. Peçam ajuda à vossa professora ou a outro adulto, e podem oferecer a mais quem quiserem. Dêem valor, e agradeçam tudo o que têm, pois ainda há quem tenha muito menos.

FIM
Lálá
(23/Janeiro/2013)

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