Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

GAIOLAS E GUARDA-CHUVAS


NARRADORA – Era uma vez uma menina que tinha muito jeito para construir coisas. Numa tarde muito chuvosa, a menina olha pela janela e comenta aborrecida.
MENINA – Óh, não acredito! Está a chover! (p.c) Queria tanto ir lá para fora! (p.c) Onde é que os passarinhos e as borboletas estarão abrigados? (p.c) Passarinhos…abriguem-se!
NARRADORA – Um passarinho bate com o biquinho na janela muito desnorteado e bate outra vez com o bico, bate as asinhas e tenta voar, mas cai. A menina abre a janela para chegar ao passarinho, e ele deixa-se agarrar. Pega nele e mete-o na beirada coberta.
PASSARINHO – Obrigado, menina carinhosa!
MENINA (sorri) – De nada! Andavas à chuva? Isso faz-te muito mal!
PASSARINHO – Sim, a vocês humanos, pode fazer-vos mal, mas a nós…seres com penas…não faz mal. Ficamos encharcados, mas não doentes.
MENINA – Mas está a chover muito. Deviam estar abrigados!
PASSARINHO – Sim, tens razão, e tentamos, mas nem sempre temos onde!
MENINA – Mas há aí muitos sítios que são cobertos! Nos prédios, ou nas árvores…não?
PASSARINHO – É. Há, mas esses abraços são ao mesmo tempo, um perigo para nós…às vezes são armadilhas para nos apanharem e fazerem de nós…almoço!
MENINA – Mas isso não se faz!
PASSARINHO – E as borboletas e joaninhas também!
MENINA – Mas essas não se abrigam nas flores?
PASSARINHO – Nem sempre tem essa sorte!
MENINA – Coitadinho! Deste ali umas cabeçadas…não viste a janela?
PASSARINHO – Ai, vi…mas estou muito tonto da cabeça! Não consigo voar.
MENINA – Não consegues voar, porquê? Estás doente, ou ferido?
PASSARINHO – Não sei…acho que estou doente…e esta chuva não me deixa voar!
MENINA – Queres beber água ou comer umas migalhas?
PASSARINHO – Aceito!
MENINA – Vou levar-te à minha cozinha!
NARRADORA – A menina leva o passarinho na mão e faz-lhe festinhas. O pai da menina assusta-se e grita.
PAI – O que é essa porcaria que tens na mão?
MENINA – Não é porcaria, é um passarinho!
PASSARINHO – Óh, não!
PAI (grita) – Que nojo…deita já isso fora! E vai já lavar muito bem essas mãos.
PASSARINHO – Óh, sorte maldita!
MENINA – Mas pai, é só um passarinho!
PAI (enojado) – Isso transmite doenças sem fim…larga isso! Põe isso lá fora.
PASSARINHO – Doenças…? (p.c) Eu…que doenças…? Tu é que és doente, com certeza!
MENINA – Pai, isto não é um rato, nem um bicho qualquer…é um passarinho que está à procura de comida, bebida, e abrigo!
PAI (enojado) – É na mesma um transmissor de doenças. Põe-no lá fora…ele safa-se!
PASSARINHO – Que ignorância.
(Entra a Avó)
PASSARINHO – Ai, agora é que é mesmo o meu fim!
AVÓ – Estás a gritar outra vez com a tua filha!
PAI – Ela trouxe esta porcaria para dentro de casa!
MENINA (triste) – Avó, é só um passarinho que bateu com a cabeça duas vezes na janela do meu quarto…eu quis ajudá-lo…vou dar-lhe de beber e de comer, mas o pai diz que é porcaria…que só transmite doenças…e para o pôr lá fora.
PAI (chateado) – Já vai fazer as vontadinhas à menina.
MENINA – Olha, Avó…! Coitadinho!
AVÓ – Isto é inofensivo…fizeste bem tê-lo acolhido! Vou dar-lhe umas migalhas e água…e quando ele estiver bom…vai!
PASSARINHO (sorri) – Afinal era um anjo!
PAI – Não acredito! É sempre a mesma! Depois não se queixe.
AVÓ – Tu também trouxeste muitas vezes grilos e outros bichos aqui para casa, e eu nunca os pus para fora.
PAI – Eu…?
AVÓ – Não. Eu…! (p.c) Vai à tua vida. Eu sei o que estou a fazer!
PAI – Põe essa porcaria daqui para fora. Bem longe.
AVÓ – Ele não fica em cima de ti.
(A menina e o passarinho riem. O pai sai da cozinha, a Avó dá as migalhas e água ao passarinho)
PASSARINHO (suspira) – Ufa! (sorri) Que alívio!
MENINA – O pai está zangado.
AVÓ – Não ligues. Aquilo passa-lhe.
MENINA – Nunca gosta de nada.
AVÓ – Deixa-o lá…azar o dele! Eu gosto de muita coisa.
MENINA – Eu também. (p.c) Obrigada Avó.
(A Avó sorri)
AVÓ – Não custa nada…! Mas depois não vens para aqui fazer sujeira, está bem, bichinho? (p.c) Eu deixo-vos a comida lá fora.
PASSARINHO – Fique descansada.
MENINA – Avó, eu só o trouxe porque ele está doente…mas não vai sujar nada.
PASSARINHO – Que sufoco! Pensei que o teu pai ia transformar-me em carne picada!
MENINA – Avó…o pai foi mau com o passarinho! Não foi?
PASSARINHO – Ainda o dizes devagar. Pobre menina.
AVÓ – Não lhe ligues, filha.
MENINA – Avó, podes ajudar-me a construir umas gaiolas, e uns guarda-chuvas para os passarinhos que vierem parar aqui? (p.c) Para pôr ali debaixo! Porque este passarinho diz que é difícil arranjar abrigo quando está a chover. Até debaixo de prédios e disse que muitos destes abrigos são armadilhas para os homens os apanharem e comerem. (p.c) Que maldade! (p.c) Para que é que eles fazem isso? Também não gostavam de ser passarinhos e ser apanhados em armadilhas, pois não?
AVÓ – Não, mas se calhar alguns só aprendiam a respeitar os bichinhos se ficassem presos um dia.
PASSARINHO (a rir) – Ai, ainda gostava de ver!  
MENINA (a rir) – Pois era. E disse que também fazem isso às borboletas e às joaninhas… por isso, elas também podem vir abrigar-se aqui, e assim já as vemos. Mas não as prendemos, porque eu gosto mesmo é de vê-los a voar.
AVÓ (sorri) – E assim é que são mesmo bonitos. (p.c) Está bem, eu ajudo-te! Mas não sei como vais fazê-las!
MENINA – Podemos fazer em cartão…com madeira por cima, ou ninhos de pano…em cestinhas…mas as gaiolas sem porta para eles não se sentirem presos e saírem e entrarem quando quiserem.
AVÓ – Está bem! Vamos ali ver o que tenho!
NARRADORA – O passarinho saltita de alegria, e a menina leva – o na mão. A Avó remexe nas coisas, em restos de pano, e pedacinhos de madeira, arame, cartão e com a ajuda da neta fazem um ninho grande de pano e arame, várias gaiolas de cartão e de madeira, as duas numa conversa muito animada, riem e quando têm pronto levam as gaiolas e os ninhos para o terraço, debaixo de pequenas árvores, debaixo de grandes flores e de folhas de palmeiras, pousados em vasos, e espalhados pelo jardim, em zonas protegidas por plantas. A menina não cabe em si de felicidade, abraça a Avó e dá-lhe beijos carinhosos.
MENINA (sorridente) - Obrigada, Avó! (p.c) Adoro-te! com todo o meu coração!
MENINA (sorridente) – És a melhor Avó do mundo!
(As duas abraçam-se outra vez carinhosas e felizes).
PASSARINHO (feliz, deliciada) – Óh, que lindo! Parecem os meus filhotes e eu e a minha esposa… (nervoso) Ai, os meus filhos e a minha mulher…onde estarão…? Tenho de os procurar…!  
MENINA – Não sabes deles…?
PASSARINHO (nervoso) – Não…eu já volto.
MENINA – Não te preocupes…vai estar tudo bem com eles…depois volta com eles.
PASSARINHO – Sim, voltarei.
(Sai)
AVÓ – Olha, foi-se embora!
MENINA – Foi procurar a família dele…espero que encontre. Ele disse que voltava.
AVÓ – Está bem. Também espero.
MENINA – Avó, quando tiveres migalhas, trazemos para aqui numa tacinha, e outra de água, está bem?
AVÓ – Sim, está bem. Agora vamos para casa, a chuva vai cair outra vez!
MENINA – Espero que o passarinho encontre a família dele, e que se venham abrigar aqui, antes de chover outra vez!
AVÓ – Sim, vai encontrar…não te preocupes.
MENINA (sorridente) – Ai, ficaram tão bonitos…!
AVÓ (ri) – Sim, mesmo bonitos.
NARRADORA – As duas voltam a entrar em casa, e durante a noite, em que chove torrencialmente, os passarinhos, as borboletas e as joaninhas amigas do passarinho abrigam-se nos ninhos e gaiolas construídos pela menina e pela Avó. Na manhã seguinte, a menina vai lá, já não chove. Ela leva uma taça com água e outra taça com migalhas. Fica muito surpresa e feliz, com um grande sorriso ao ver a quantidade de bichinhos que se abrigaram em todas as gaiolas e ninhos disponíveis. Eles voam livres e felizes, pousam nas flores, fazem bailados em voo e nas plantas para a menina, ela está encantada e segue todos os movimentos deles. Bate palmas. Estende as mãos, e as borboletas pousam nas palmas das mãos…cada qual a mais bonita. Sorriem à menina e abanam as asinhas finas, delicadas e coloridas. Depois, as borboletas acariciam a carinha da menina, delicadamente com as asinhas, como se estivessem a dar beijinhos. A menina sorri feliz e deliciada. De seguida, as borboletas pousam nos cabelos da menina e brincam, as joaninhas pousam nas mãos da menina e nas roupas, uma pousa na ponta do nariz e levanta as patinhas como que a cumprimentá-la. A menina brinca com todas elas, e elas fazem coisas lindíssimas nas flores, nas folhas e no chão. Os passarinhos chilreiam alegremente, e as borboletas e joaninhas acompanham-nos, com coreografias de sonho. A menina aprecia-os e dança também. A Avó aprecia da janela e vai ter com ela, com a máquina fotográfica.
MENINA (feliz) – Olha, Avó! Os ninhos e as gaiolas ficaram todos cheios de borboletas, joaninhas e passarinhos!
AVÓ (sorridente) – Áááhh…que bom!
MENINA (feliz) – E olha, que lindas, que elas são todas!
AVÓ (maravilhada) – Sim…são mesmo!
MENINA (feliz) – Tira fotos, Avó! (p.c) Elas também dançam, e estiveram a brincar com o meu cabelo…e deram-me beijinhos…queres vê-las a dançar…? (p.c) Não se importam amigas? Se faz favor.
NARRADORA – As borboletas e as joaninhas repetem todas as danças, coreografias e brincadeiras que tinham feito. A Avó nunca tinha visto uma coisa tão bonita, tão harmoniosa, e tão perfeita como as danças delas. Tira fotos, e elas pousam outra vez no cabelo, nas mãos e na cara da menina. Os passarinhos chilreiam novamente e as borboletas e joaninhas acompanham-nos outra vez.
MENINA (sorri) – Ááááhhh…eles são tão lindos! Fantásticos.
AVÓ (maravilhada) – Sim, são mesmo! (p.c) Nunca tinha visto nada assim de tão espectacular.
MENINA (sorri) – A mãe natureza faz mesmo coisas bonitas, não faz, Avó?
AVÓ (sorridente) – Sim, querida! Faz verdadeiras obras de arte! Sem instrumentos…sem prejudicar um único ser vivo!
MENINA – O homem devia ser como ela, não achas Avó?
AVÓ – Sim, tens toda a razão! (p.c) Era mesmo bom se fossemos todos como ela!
MENINA – E porque é que não somos?
AVÓ – Há muita gente que é muito má com ela!
MENINA – Pois é! Estão sempre a polui-la, a queimá-la, a destrui-la… a maltratar os animais…!
AVÓ – Pois é! Infelizmente.
MENINA – Mas porque é que eles fazem isso?
AVÓ – Não sei, filha.
MENINA – Eu não faço isso…!
AVÓ – Eu também não.
MENINA – São maus.
AVÓ – Pois são.
MENINA – Nós somos boas com a Natureza…é por isso que temos aqui muitos passarinhos, joaninhas e borboletinhas.
AVÓ – Pois é. Eles são como as pessoas. Gostam de ser bem tratados, de estar em sítios agradáveis…
MENINA (sorri) – Sim. Eu também gosto.
PASSARINHO – Muito obrigado, menina boa!
MENINA (sorri) – De nada. Podem vir para aqui sempre que quiserem e precisarem de abrigo! (p.c) Eu também vos agradeço por tornarem o jardim muito mais bonito.
AVÓ (sorri) – Obrigada, bichinhos. Sejam muito bem-vindos ao nosso jardim.
MENINA (sorri) – Eles fizeram tudo para nos agradar.
PASSARINHO (sorri) – Para agradar, e para retribuir o carinho, e o abrigo, a simpatia, alimentação, a bebida…! Muito obrigado.
MENINA (sorri) – De nada. Nós também agradecemos a vossa presença aqui.
AVÓ (sorri) – Muito obrigada. (p.c) Fiquem à vontade. Convosco, os jardins e as flores ficam muito mais bonitos, ganham mais vida, mais cor, mais música! (p.c) Transmitem mais paz!
MENINA (sorri) – Sim, é verdade!
NARRADORA – E todos os dias, a Avó e a Neta passam bons momentos no jardim, a conversar com os passarinhos, as borboletas e as joaninhas, a alimentá-los e a acariciá-los. Tiram fotos e deliciam-se com as danças e brincadeiras que fazem, como forma de agradecer à menina e à Avó todo o carinho delas. E vocês? Agradecem aos outros, quando vos ajudam? Ou quando vos dão alguma coisa? Faziam o mesmo que a menina? Já construíram gaiolas para passarinhos, borboletas e joaninhas? Se construíssem, como fariam essas gaiolas, com que materiais? Se quiserem construam uma todos juntos, ou cada um de vocês, e coloquem-nas onde quiserem, vejam o que acontece! Imaginem que vocês são o passarinho da história…se fossem um passarinho, uma borboleta ou uma joaninha…gostariam de ter encontrado um sítio como esta casa? Como seria esse sítio? Se quiserem podem desenhá-lo. Gostariam de ter encontrado uma menina e uma senhora como esta da história? De que forma lhes agradeceriam? Sabem…às vezes não precisamos de fazer grandes ofertas, nem de gastar muito dinheiro para retribuir ou agradecer alguma coisa que outra pessoa nos deu, ou uma ajuda que recebemos de outra pessoa…! Basta um «obrigada, ou obrigado», um beijinho, um abraço, um desenho, uma flor, um chocolate…pequeninas coisas, só para a outra pessoa saber que foi importante para nós, e que foi boa, e que nos ajudou…e que poderá contar também connosco quando precisar! Às vezes é mesmo bom, fazermos pequenos agradecimentos, uns aos outros…e à natureza, que nos dá sempre coisas tão boas, tão bonitas, e perfeitas que muitas vezes nos passam ao lado porque andamos sempre demasiado ocupados com maldades, ou com trabalho…que não vemos. Procurem tirar cinco minutos, ou mais, por dia, pelo menos, para pensarem na terra, na natureza, e em tudo o que ela nos dá, mesmo sem merecermos...Agradeçam-lhe, tratando-a com respeito e carinho! Não a poluindo, não a estragando, não a queimando nem a destruindo. Nesses minutos que pararem a apreciá-la, pensem em tudo o que já viram, que ela vos ofereceu, de bonito e de especial. Agradeçam à Natureza o oxigénio, as árvores, pois sem elas não existíamos, a água, a terra dos solos, os produtos que nos alimentam, o mar, o céu…o sol, as nuvens, as estrelas…tudo! Tudo o que conhecem dela. Façam desenhos sobre isso. Respeitem-na para vivermos com mais saúde!
FIM
(Lálá)
16/Janeiro/2013


1 comentário:

  1. Gostei muito! mais uma história com uma mensagem muito bonita! Parabéns tia LÁLÁ, continua a escrever, histórias que fazem sonhar os miudos e os graúdos.Beijinho. Obrigada!R.M.Cruz

    ResponderEliminar

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras