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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Monólogo Porque foges de mim

    Porque foges de mim? Porque não tentas olhar para o meu coração? Onde está o que sou realmente! A minha cara não me define, a não ser quando ela expressa alguma emoção, como a tristeza, ou a raiva, os ciúmes e qualquer outra. 

      É uma cara como outra qualquer, só se vê por fora, agrada a uns mas não agrada a todos, tal como tu, não agradas a toda a gente, a tua aparência, mas talvez se olharem para ti, com olhos de ver, para o que está debaixo da tua cara, para o teu coração, talvez fiquem surpresos, porque, podem ficar desiludidos. 

     Vão pelo que agrada aos olhos, a fachada, mas o que diz a fachada, da pessoa, com tudo o que ela é? Vão pela imaginação, pelo desejo, pelo bonito, que se virem com olhos de ver, percebem que a fachada e o que diz, é apenas o socialmente desejável...tens ou têm uma cara bonita, e falam bem, prometem o que depois não cumprem...de que vale a fachada, e a cara bonita, se o coração é um fosso? 

       Porque foges de mim? Foges sim, não digas que não, nem tens consciência disso! Ou terás e fazes isso porque queres, porque achas que eu nunca vou perceber?! 

      Mas foges, porque para umas e uns a careta condiz com a letra, o que é esperado, mas na prática, não fazes isso? Na prática, só existe letra. Silêncio! Qual resposta, qual silêncio...indiferença. 

     Porque foges de mim? É por causa do meu aspeto? Porque não tentas olhar para o meu coração, e deixas o teu descobrir como é o meu? Não é a cara que mostra o coração, nem o que a pessoa tem de bom, enquanto pessoa, na relação contigo e com os outros. 

     Eu não estou na cara, estou no coração. Eu...aquele ser de quem tens medo, mas é lá que eu estou realmente, como sou, o que vivi, o que sofri, os meus medos, desejos, fantasias, sonhos, dores, desilusões, tal como tu. Porque sou muito mais do que o que tu vês, por fora...porque não me vês?

    Dou muito trabalho não é? Mas achas que a conquista não dá trabalho? Dá sim, e não é com duas tretas, meia dúzia de palavras agradáveis, bonitas. E o resto? 

    Sim, dou trabalho, porque a pressa desilude, não deixa a ver a realidade, não permite descobrir como somos. Para quê, ter pressa, na construção de uma amizade ou de uma relação mais séria? 

   O caminho da descoberta é muito mais bonito, isso é que preenche realmente! Cada dia, a cada encontro, deixar que os olhos conversem entre si e se descubram. 

     Mas isso não acontece na cara. Sou muito mais do que tu vês, por fora! Mas foges de mim, estás no teu direito, só que isso magoa. Tu dirás: problema teu, porque também tu, já deves ter passado pelo mesmo. 

   Porque não me vês? Nem sei se olharás para mim,...mas se olhares, não me vês, a tua resposta continua a ser a indiferença, o silêncio, mesmo com questões que não têm nada de pessoal, são apenas partilhas profissionais, que ajudariam a crescer. 

    Nem sabes o privilégio que tens, em estar a trabalhar, e não precisar de divulgar o teu trabalho, como muitos de nós fazemos, vezes sem conta, e as respostas quais são? Silêncios! Como as tuas! 

   Seria muito mais interessante e enriquecedor se houvesse partilha. Partilhei o teu trabalho, e de mais alguns, mas vocês fizeram isso por mim? Não! Isso dói, e espero que nunca passes pelo mesmo. 

    Tens uma conversa agradável, que privilégio. Mas de que adianta teres a conversa agradável, e conquistares com ela, com simpatia, se depois parece que deixo de existir para ti? 

    Porque não me vês? É a minha luz que te ofusca? Tens medo dela, é? Não sei porquê! Não tenhas. Podes aproximar-te, ver-me com olhos de ver! Ela não te queima! 

   Porque não me vês com os teus olhos interiores, não a minha cara, mas o meu coração? Está escuro? Está, mas tu também tens luz, podes usá-la para ver. 

   Porque não me vês com os teus olhos interiores? Dá muito trabalho, claro! E trabalho, é coisa que não te falta. Que privilégio. Infelizmente não é o meu, nem o de muitas mais pessoas. 

   Mas tenta...porque não? Poder ter surpresas inesperadas! Porque também queres distância de mim, sem o dizeres diretamente, percebo que é isso que queres, uma realidade que não queria ver, mas recentemente vi. Só pode! 

     Porque me ignoras? Pois, não tens tempo! Mas para outras e outros, tens todo o tempo do mundo. Podes entrar, a porta só está encostada...desde que não entres com espadas, ou paus ou pedras, garras...porque se isso acontecer, não vais conhecer o melhor de mim, e sim, o pior! 

      E nesse momento, não voltarás. Todos temos dois lados, mas somos «obrigados» educados, a esconder os piores lados, sempre que possível. Entra suavemente, com delicadeza, com palavras agradáveis, carinhosas, meigas....caminha sem pressa por entre as minhas ruas do coração! 

     Leva a lanterna, porque muitas estão sem luz. Vai tentando, e quem sabe, deixo-te entrar à primeira, ou posso estar de férias, mas prometo responder quando regressar. 

       Está nas tuas mãos, ou na tua escolha de entrar e explorar, ou olhar só para fora. Não precisas de ter medo de mim, eu não mordo, não como pedaços só quero que saibam olhar para a minha luz, e que a absorvam! Que cuidem dela, que a tratem com carinho, delicadeza e respeito, não com silêncios quando partilho qualquer coisa. 

       Onde estás? Porque não apareces? Porque não te aproximas? Vem! Se tiveres as chaves para entrar. Tenta! Espero-te, mas estou cansada! Quero esperar-te mas estou cansada! 

    Continuo à espera? Não, ao fim de tanto tempo, cansei. Não apareceste, nem dás sinal. Não, podes vir, vamos ver se te deixarei entrar. Não, não te espero mais. 


                                                                                     FIM 

                                                                      Lara Rocha 

                                                               20/Janeiro/2013 


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