Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Aquela estrela e nós

Olho para o céu, à noite, às vezes e vejo uma imensidão, um gigantesco manto negro por cima de mim, à minha volta, claro, é noite! 

   Só à noite vemos como somos minúsculos cá em baixo, e elas, as estrelas longe, parecem tão perto, porque conseguimos vê-las, umas melhor do que outras. São todas lindas! Pensamos: como é possível existir uma maravilha destas? 

  No meio de tantas estrelas cintilantes, há uma que sobressai, e é para ela que olho, para aquela estrela, que vejo da minha janela, aquela estrela que brilha mais, mesmo à frente dos meus olhos! 

     Ela está lá todas as noites, de certeza, mas não vou vê-la todas as noites. Mesmo assim ela está lá, muito senhora do seu nariz. 

    E continua a ser ela, sem querer saber se olham para ela ou não! Porque sabe que é mesmo muito bonita, e que há sempre alguém que a vê. 

     Devíamos ser como ela, senhoras e senhores dos nossos narizes, brilhar sem estarmos preocupados com o que os outros vão achar de nós, ou se vão gostar de nós, se fôssemos de outra maneira talvez gostassem mais ou não. 

     Há sempre alguém que nos aprecia, como nós apreciamos as estrelas, e tal como elas, cada um de nós tem o seu próprio brilho, uns conseguem vê-lo, outros não. 

    Uns toleram o nosso brilho, e as nossas estrelas, outros não, sentem medo deles, e afastam-se. Nós ficamos a pensar que não gostam de nós, mas às vezes são outros motivos, talvez...a nosso luz os ofusque. 

     Ou têm um ego maior que a via láctea, a achar que todos vão reparar neles, um nariz maior que aquela estrela muito senhora do seu nariz. Acham-se donos do espaço, do mundo, de todos. 

   Há sempre alguém que não diz por palavras que nos admira, mas consegue ver o nosso brilho, ao olhar para nós como se estivesse a ver as estrelas. E nós sentimos que sim, pelo olhar, pelo sorriso, pela delicadeza, pelo respeito com que nos tratam. 

    Mas às vezes, o céu também fica escuro, e as estrelas escondem-se, por trás das nuvens, para se recolherem, para chorarem, ou para não verem as tristezas da terra, como a guerra, a fome, as tempestades, a destruição geral. 

   Gosto de a ver, essa estrela que brilha mais, mesmo à minha frente. Para ela eu serei apenas mais uma, como outras almas solitárias, que nas noites de insónias olham para ela. Repousam na estrela os seus olhos tristes ou cansados sonolentos, sonhadores ou perdidos. 

     Os que procuram descansar os pensamentos barulhentos, os que procuram inspiração, respostas para perguntas que os inquietam. Outros olharão para ela, na esperança de pedir desejos e vê-los realizados, encontrar conforto e esperança. 

    Existem os que olham por olhar, até o sono chegar, ou sonham, constroem projetos, planos, desejos, a estrela brilhante aguenta! E deve rir à gargalhada com algumas coisas que ouve, que lhe pedem. 

      Como se ela fosse assim tão poderosa, milagrosa, para caprichos e sonhos humanos. Temos de ser nós a fazer para a concretização do que queremos, mas ver as estrelas é um privilégio que não pertence a toda a gente. 

    Privilégio, porque é sinal de que temos olhos, conseguimos pensar, idealizar, sonhar, planear e realizar alguns sonhos, projetos, ideias. 

   É um privilégio porque conseguimos vê-las da nossa janela, e não da janela de um hospital, num quartel dos bombeiros, cadeias, ou como outros, que têm outras profissões tão cansativas que, à noite só querem dormir. 

   Aqui, temos o privilégio do silêncio, mas os países que andam em guerra não se devem lembrar de olhar para as estrelas, com o medo sempre a tapar-lhes os olhos. 

    A estrela brilhante continua lá, como muitas outras, mas eles não conseguem olhar para elas, querem é fugir para salvar as vidas. Talvez para eles, as estrelas tenham outro significado. 

     As estrelas inspiram muitos de nós, como as pessoas se inspiram umas às outras, pelas atitudes de amor, de carinho, atenção, dedicação, companhia. 

    As estrelas vivem na terra, entre nós, naquelas pessoas que nos fazem bem, que nos querem bem, que cuidam de nós, dos animais, da natureza. 

     As estrelas estão na terra, nos médicos e enfermeiros, que cuidam de nós, os que são parte da nossa cura, com as palavras. 

    Nos professores humanos que estão atentos aos alunos e mais preocupados com eles do que com a matéria, nos professores que incentivam, elogiam, motivam, e cativam. 

  As estrelas estão nos alunos que obedecem e estão interessados, nos pais que respeitam os professores e que sabem educar, pôr limites, regras, nas pessoas que valorizam o trabalho dos outros. 

  Será que também olhas para ela? A mesma estrela brilhante que vejo? Não te vejo nela! Também não me vejo nela, mas gosto de pensar se haverá alguém a vê-la à mesma hora que eu, e se imagina o mesmo que eu!? 

     Será que também olhas para ela ao mesmo tempo que eu, e pensas que talvez alguém também esteja a olhar para ela? Mesmo sem saber a resposta, gosto de imaginar que a vês, e que talvez outros olhos repousem nela. Os meus e os teus.

    As estrelas gostam que olhem para elas, e nós também gostamos de olhar uns para os outros, mas só olhamos mesmo para fora, dizemos coisas desagradáveis, e nessas alturas as estrelas apagam-se em nós, toda a nossa luz se apaga. 

  Se dizemos coisas bonitas, agradáveis, palavras simpáticas, todo o Universo se acende em nós, iluminamo-nos, e iluminamos o mundo, os outros. 

  Quando olhamos para as estrelas, tenho a certeza aparente de que os nossos corpos não se encontram, todos os que olhamos para elas. 

  Mas quem sabe, porque gostamos de as ver e olhamos para elas a sorrir, a nossa essência troca abraços feitos de astros e estrelas cintilantes, com a promessa de que um dia os nossos olhos se encontrarão, longe da estrela que vemos. 

 Quem sabe, os nossos braços se entrelaçarão, como se envolvessem todo o universo, e nos tornaremos um só! Uma só estrela! E na nossa estrela viveremos o nosso amor eterno. 

  A estrela que talvez vejamos ao mesmo tempo, será a nossa madrinha. Como saberemos que somos nós? Os dois que olhamos para a estrela? Quando os nossos olhos se cruzarem, e virmos neles, a estrela a cintilar, eles reconhecer-se-ão, e o amor acontecerá.

                                                      FIM 

                                                  Lara Rocha 

                                                17/Janeiro/2023

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras