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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A borboleta tímida

      


             Era uma vez uma borboleta enorme, espetacularmente linda, nas suas cores, e elegância dos seus voos. 

            Mas ela era muito envergonhada, estava na adolescência, e achava que era feia, desajeitada, não merecia ser vista. 

           Tudo isto era falso, mas foi por causa de um bando de abelhas, em especial uma que tinha a mania que mandava, também na adolescência, muito maldosas com todos, menos com quem as seguia. 

           Com a mania que eram as melhores, achavam-se as rainhas do mundo animal, eram demasiado vaidosas, arrogantes e invejosas. 

        Na prática, estes comportamentos eram só para disfarçar a sua auto-estima baixa. Pensavam que precisavam de se armar em poderosas, de ser más, para repararem nelas.                

        Eram mais venenosas do que os seus ferrões, sempre em punho, prontas a atacar quem achavam ser inferiores a elas. Achavam que era assim que conquistavam amizades, mas estavam muito enganadas. 

        A borboleta tímida, era das suas presas preferidas para envenenar. Quando viam que alguém se aproximava da borboleta, iam ter com elas e enchiam-lhes os ouvidos de coisas más, o que fazia com que se afastassem. 

        A borboleta ficava cada vez mais solitária e triste. Escondia-se, chorava, via-se ao espelho e não gostava.  

        Um dia, uma das abelhas que pertencia ao grupo das venenosas, recebeu um aviso de uma abelha rainha, sua madrinha, que não gostava nada desses comportamentos dela. 

        Ouviu um grande ralhete, incluindo a ideia que a borboleta que elas perseguiam não era nada do que aquela venenosa dizia. 

        A abelha rainha explicou porque é que a que se dizia chefe tinha esses comportamentos. Era muito feio, fazia a borboleta sofrer muito, e essa abelha que ela seguia não era de confiança! 

        Aconselhou-a a afastar-se dessa criatura que se achava rainha, porque ela era perigosa, falsa, invejosa, maldosa. 

         Estes não eram os bons valores que os seus pais e os avós, lhe tinham ensinado. Se eles descobrissem iriam com certeza ficar muito tristes, porque pensavam que a filha tinha boas amigas. 

        Conheciam-nas e até tinham boa impressão delas, mas na verdade, não suspeitavam como era realmente a que comandava. A própria abelha madrinha estava desiludida com a afilhada. 

- Desculpe, madrinha! Não sabia que ela era assim. 

- O que ela faz é muito grave! Sabias sim, achavas bonito e que era daquela maneira que iam conseguir conquistar amigas? A dar cabo de uma inocente? A acreditar nas palavras falsas e invejosas de uma, que nem sequer conhece realmente a borboleta? Inventa falsidades contra outros, para ter amigos...quem é que vai gostar ou querer amizade com um pequeno diabo? Só quem for igual a ela, ou não tiver nada na cabeça. Eu pensei que tinhas alguma coisa nessa cabeça, mas afinal também te deixaste levar. Que coisa mais feia...inveja! 

- Mas é que eu...também gosto de ter amigas! 

- Ora essa...isso não é justificação. Ela também gosta, e eu também, mas não temos de ser amigas de todos da nossa espécie. Era só o que faltava, mas pelo menos devemos ter respeito e ser educados com todos, a não ser que nos ofendam, e mesmo nessas situações, é melhor nem responder à letra, porque o que querem é mesmo isso. 

- Mas se eu não ando com elas, fico sem ninguém. 

- Que disparate! Ficas sem ninguém se continuares com essa criatura. Tu por acaso alguma vez falaste com a borboleta? 

- Não! Porque ela diz que ela... 

    A madrinha interrompe: 

- Ela diz...ela diz...e o que ela diz é sagrado, não? Ela também a conhece, por acaso? 

- Acho que...

- Claro que não conhece! Tem inveja dela, por ser tão bonita! Quem lhe dera ser como ela. Como a borboleta não fala com ela, nem a segue, ela inventa uma maneira de ser da borboleta que não existe, porque não a conhece. É tudo baseado na inveja. Achas que esse tipo de amigas serve? Para mim nunca serviu, e para ti também não, aliás, não te ensinamos a ser assim. Não faltam abelhas boas, que talvez não se tenham aproximado de ti porque andas com aquela maldosa, por isso, antes que eu vá contar aos teus pais e avós que andas com más companhias afasta-te dessa miserável. Vai ter com a borboleta, conversa com ela. Ela é muito tímida, passeia com ela, diz-lhe que a queres conhecer, e ser amiga dela. Fala-lhe de ti e pergunta-lhe coisas sobre ela. Mostra-lhe coisas boas e bonitas, brinca com ela, mostra-lhe como ela é bonita. Preocupo-me contigo, é por isso que te estou a dizer isto, antes que seja muito pior, entendido? 

- Entendido! Mas, óh madrinha, o que é que eu digo à rainha abelha? 

- Ora...não tens que lhe dar satisfações, não somos obrigados a andar com quem não gostamos, nem temos de ter amigas só da mesma espécie. Se ela meter veneno, não acredites no que ela diz até porque quando conheceres realmente a borboleta, vais ver que ela não tem razão. Deixa-a falar. 

- Está bem! 

- Olha que eu estou a ver! 

- Madrinha, acompanhe-me por favor, e vá-me dando ideias para conversar com ela. 

- Está bem, eu estou próxima, mas sê tu mesma, como és, connosco por exemplo, na família, 

- Está bem, entendi. 

        As duas vão ter com a borboleta que estava muito chorosa, sentada na beirada da sua janela, encolhida. A abelha aproxima-se a medo. 

- Olá como estás? Precisas de alguma coisa? 

- Quem és tu? - pergunta a borboleta? 

- Não tenhas medo de mim. Sou uma abelha, mas... pareces-me muito triste! Queres...conversar comigo? 

- Senta-te!     


A abelha senta-se à beira da borboleta, olha para ela.

- Adoro as cores das tuas asas! Como és bonita!

- Achas? Obrigada... eu acho que não... quer dizer...dizem que não!

- Ui, quem é que diz que não?

- Umas que andam para aí.

- Óh, não lhes ligues.

        A borboleta conta-lhe tudo, falha-lhe da sua tristeza e solidão, de se achar feia, das coisas más que ouve

sobre ela, A abelha ouve-a sem interromper, e até deixa escapar umas lágrimas.

- Mas isso é muito mau! Eu sei quem faz isso para te magoar.

- Sabes?

- Sei. É a abelha que se dizia chefe, com quem eu andava. Eu, e muitas outras. Eu não sabia que ela era assim tão má!

Juntei-me a ela porque também tinha medo de ficar sozinha, medo que ela dissesse coisas más sobre mim.

Mas a minha madrinha avisou-me, sobre como ele é realmente! Aconselhou-me a afastar-me dela.

A minha madrinha disse-me que ela faz isso porque tem inveja de ti, por não ser bonita como tu. e porque

quer ter toda a gente do lado dela, para se achar importante, e poderosa!

Algumas das minhas amigas, tal como eu, tinham medo dela, seguiam-na para ele não dizer coisas más.

Mas não temos que seguir alguém, só por medo de ficarmos sozinhas! Se não for aquela...há certamente

muita mais gente que gosta de nós. Vamos passear?

- Vamos.

- Posso dar-te um abraço?

- Claro que sim.

        As duas dão um abraço, e vão passear. Conversam durante longas horas, apreciam a paisagem, dão umas

boas gargalhadas, brincam, a borboleta ensina a abelha a dançar, e aplaude. A madrinha está orgulhosa, mas a

abelha rainha invejosa não acha piada nenhuma.

        Ao ver aquilo, vai envenenar as outras contra a abelha que se tornou amiga da borboleta, e tentam várias vezes

envenenar as outras contra as duas, mas a abelha não lhe dá ouvidos e ainda lhe grita:

- Falsa! Um dia vais estar sozinha, quando as outras perceberem quem és realmente! Não é com esse veneno todo

que vais ter amigos, a não ser que sejam como tu! Também podes ser amiga de quem quiseres!

Até da borboleta que não é nada do que tu disseste.

- Odeio-te! - grita a abelha rainha

- Não faz mal. Há quem me ame, e chegam, não preciso de mais. - responde a abelha

- Borboleta estúpida, feia! - diz a abelha rainha furiosa.

- Não sabes nada, sua ignorante! Vai, vai lá para a tua comandita de veneno, e sê muito feliz.

Duvido que sejas, com essa maldade toda, mas tu é que sabes! - responde a abelha

        Esta abelha aprendeu bem a lição, e tornou-se amiga da borboleta. A amizade entre as dois cresceu, a

abelha ensinou a borboleta a gostar dela própria, a achar-se bonita como era realmente, e a mostrar como era especial.

Aos poucos, outras abelhas do grupo, começaram a sentir curiosidade em conhecer a borboleta, porque a viam tão feliz

e tão animada com a sua amiga abelha, e perceberam que realmente, a que se dizia amiga delas, era um grande veneno,

maldosa, arrogante e convencida.

        Todas se afastaram dela, e ela acabou por aprender a mudar o seu mau feitio, só assim conseguiu conquistar alguns amigos.

A própria abelha rainha percebeu que afinal estava errada sobre a borboleta, pediu desculpa, mas não se aproximava muito.

Mas não precisava de fazer isso, pois não? Não! Também há pessoas assim, por isso é importante gostarmos

de nós, como somos, aceitar o que somos, e quem somos! E antes de nos deixarmos levar «abelhas venenosas»,

devemos procurar conhecer as pessoas, por nós, tirar as nossas próprias conclusões, e perceber se gostamos da pessoa ou não.

        Claro que não gostamos de todos, nem todos têm de gostar de nós, mas não devemos influenciar os outros,

nem dizer que não gostamos de alguém só porque outro disse mal, coisas que nem sabemos se são verdadeiras ou falsas.

Antes de sermos todos «abelhas venenosas», podemos e devemos ser abelhas e borboletas.

Cada um é diferente, até nos gostos.


                                                                               FIM

                                                                            Lara Rocha

                                                                        10/Fevereiro/2021


 

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