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terça-feira, 12 de novembro de 2019

o gato e a abóbora


            Era uma vez uma noite de Outono que mais parecia Inverno. Fria, muito chuvosa e ventosa. Um gato estava na casa dos seus donos, deitado em cima de almofadões à beira da lareira, dado à preguiça, e a saborear a ventania, o crepitar do lume, o calor. As pessoas da casa já se tinham deitado, e o gato ficou no mesmo sítio. Era o seu sítio preferido.
            Naquele ambiente, olhou para a janela e embalado pelos sons que o envolviam, deu um grande salto quando viu olhar para ele uma abóbora com uns olhos enormes e parecia que dava luz. Ficou todo eriçado. Nunca tinha visto tal coisa.
- Mas que espécie de animal é aquele? Credo! Parece um filme de terror, ou que me vai devorar com aqueles olhos e a bocarra. Deixa-te estar, gato. Tu aqui, e ela lá fora. Só espero é que ela não olhe para mim, e que vá embora. Não quero encontrar-me com aquela criatura da noite.
             De repente o gato ouve passos. É a sua dona adulta que vai à janela, apaga a vela, e mete a abóbora rapidamente dentro de casa.
- Bital, não estragues esta abóbora, está bem? É para os meninos levarem amanhã para a escola.
             A dona acaricia o pelo do gato, ele mia, e devolve carinho.
- Áh, que quentinho que estás aí. Não precisas de mais nada pois não…? Não. Boa noite, e porta-te bem. Já sabes. Os donos gostam muito de ti.
            O gato deixa a dona subir as escadas. Olha para a abóbora, está sem luz.
- Mas o que é que aconteceu? Não é a mesma…ela chamou-lhe...abóbora? Bital é um nome, o meu nome, é musical, mas abóbora...porque é que ela lá fora estava a dar luz, e agora não está.
            A abóbora abana. O gato fica gelado, ronda a abóbora com medo, devagar, levemente, cheira-a, e ouve um bocejo.
- Aqui está bem melhor. - soa uma voz da abóbora
           O gato apanha um grande susto, recua, e fica muito quieto nos seus almofadões. Pelo interior da abóbora espreita um pequenino morcego que se tinha abrigado do frio da noite. O gato solta um miar de medo. O morcego estica as asas.
- Ui, tanta luz. (boceja) Ali ficou muito frio de repente, estava mais quentinho há bocado. Um gato neste espaço todo…? Mas, onde estou? Está aí alguém?
- Eu… - diz o gato com medo
- Onde? Não te estou…(cheira) Hummm… já sei, estás ali onde há muita luz.
- É uma lareira. Tu quem és?
- Ora, não me conheces? Sou mundialmente conhecido, eu e os meus. Sou um morcego.
- Áh. Sim, desculpa. E o que tens a ver com essa abóbora?
- Aproveitei-a para me abrigar do frio e da chuva. E tu, vives sozinho neste espaço?
- Não. Há muita gente nesta casa. Mas estão lá em cima, eu é que durmo aqui.
- Ah! Que sorte.
- Aproxima-te mais de mim…
- Para quê?
- Para conversarmos um pouco.
- Está bem, mas não me vais atacar pois não?
- Não.
- Eu também não.
           O morcego e o gato tornam-se logo grandes amigos, conversam durante toda a noite, riem muito, contam aventuras, partilham água quente, conversam deitados no chão, depois deitados nos almofadões, e quase ao amanhecer, o morcego dorme com o gato, escondido entre as costas e o almofadão, envolvido nas suas próprias asas.
          As crianças da casa estão eufóricas, e o gato de olhos fechados mas acordado, ouve dizer:
- Mamã: temos de levar a nossa abóbora. Tens alguma luz?
- Está aí dentro, é só acender a vela.
- Ainda bem que a puseste cá dentro! - diz o menino
- Claro, se ficasse lá fora, ficava toda melada.
- Boa! - gritam os dois
- Está linda. - diz a menina
- Tenho a certeza que vai ser uma bela festa! - diz a mãe
         As crianças acendem a vela e a abóbora fica toda cor-de-laranja. O gato abre os olhos, e vê a imagem que tinha visto fora da janela. Pensa para si próprio:
- É isto, que era tão assustador? Aquilo que olhava para mim com uns olhos e uma bocarra tão grande que me parecia que ia devorar. Está diferente! O meu amigo tinha razão…visto de noite, e visto de dia é muito diferente. De noite é assustador, parece muito maior, muito mais escuro. Hum, que engraçado. Ainda bem que ela guardou aqui a abóbora, porque assim conheci um amigo.
          Ele procura discretamente o amigo.
- Áh, estás aqui.
- Xau, Bital... hoje temos festa no colégio, é por isso que vamos levar esta abóbora.
- Xau, Bital, ainda bem que não a comeste. Ela está assustadora, não está? Mas não faz mal, é só para brincar.
           O gato mia e ri. Os meninos saem a correr com a abóbora na mão.
- Até logo, Bital. Lindo bichinho. Porta-te bem...
          O marido sai a correr, com os outros dois filhos ainda a dormir, até se esqueceu do gato. A seguir desce a filha mais velha, toma o pequeno almoço e sai.
- Será que vai tudo para a festa da abóbora? E eu, não vou? Porquê? Se não estivesse a chover ia atrás deles espreitar. Gostava de saber como é essa festa. E depois, o que fazem com a abóbora? Será que há mais abóboras, ou é só aquela?
           O meu amigo deve saber. Mas vou deixá-lo dormir, e depois quando ele acordar, de certeza que me vai responder.
           O dia do gato foi como o de sempre, o seu amigo desperta ao fim do dia, e os dois divertem-se muito. O morcego conta ao gato como é essa festa da abóbora. Os meninos chegam a casa e contam a festa toda ao gato, prometeram que fariam uma festa na sua casa, e ele estaria presente. A abóbora foi para a panela da mãe e fez uma rica sopa.
          O morcego não abandonou mais o seu amigo gato. E assim se cumpriu mais uma festa da abóbora, que primeiro assustou o gato, mas também lhe deu um amigo, o morcego!
                                                             
                                                            Fim
                                                           Lálá
                                                  12/Novembro/2019

   

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