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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

a cabecilha (nomólogo sobre a esquizofrenia para adultos) psicólogos; estudantes de psicologia e população geral

 
desenhada por Lara Rocha 


Olá! Sou… sou muita gente…tanta…às vezes perco a conta às pessoas que sou. Sou tanta gente que não sei de quem falar primeiro. Nunca estou sozinha! Conheço tanta gente, mesmo num sítio para onde me trouxeram. Uns estranhos onde estive, um bando de mafiosos, traficantes, e usaram-me para ganhar dinheiro. Nojentos! Até me drogaram para trazer para aqui, e depois eu não saber onde estou, onde não conheço ninguém. Outras vítimas do mesmo grupo de traficantes que eu, ou descendentes. Não sei! Estes jogos de tráfico são muito estranhos, enormes, nunca se sabe quem é o cabecilha. Eu até gosto de estar aqui. Não conheço as outras vítimas, ainda não falei com elas, nem elas comigo. Também elas têm caras de cú, que acho que não quero conhecê-las. Aquelas, são umas venenosas, que devem fazer parte da quadrilha, se calha foram elas que me trouxeram. Estúpidas. Devem ser muitas mais, porque estamos aqui tantas… um dia vou chibá-las a todas. Vão pagá-las; quem se vai rir às gargalhadas vou ser eu. Cabras! Estão sempre a olhar umas para as outras. Devem gostar de mulheres…isso é problema delas, eu não tenho nada a ver com isso! Não jogo no mesmo clube que elas, mas as vacas devem pensar que sim. Pelo menos não devem ser capazes de ler os meus pensamentos, como os outros, do outro sítio. Que nojo! Não lhes chega uma para cada, ou entre elas, à vez que deve ser mais erótico? Precisam destas todas? Ai delas que me toquem. Às vezes tentam, mas eu mando-lhes logo uns gritos…e elas desaparecem. Sim, eu tenho esse poder, consigo fazer desaparecer pessoas com os meus gritos. Só não sei como faço isso nem se existe outra pessoa em mim que grita por mim. Se existe, deve ser transparente e envergonhada, porque eu nunca a vi. Uma vez perguntei depois de fazer desaparecer umas tantas pessoas na rua, quando gritei, quem era o ser que vivia em mim. Ela ou ele, que grita por mim, não me respondeu, não sei porquê, nem onde vive, nem porque grita por mim. Deve ter sido mandado por alguém que tem uma obsessão por mim, e quer comandar-me. Seja quem for, é alguém…mais uma companhia. Eu gosto de ter companhia! Aqui, parecemos um bando de abortos, não falamos umas com as outras…nem com outros, porque eu acho que algumas gajas, são bichas, ou homens disfarçados de moças. Com certeza é mais uma armadilha dos traficantes…usam disfarces de mulheres para nos atrair. Eles ou elas e eles, que se aproximem…que levam logo meia dúzia de gritos que viram fumo. Que seca! Aqui não há nada para fazer, mas eu faço, com as amigas bruxas que não sei se são mulheres, nunca lhes levantei as saias para ver se possuem o mesmo que eu. Áh, áh, áh… eu só trabalho para elas, o resto não sei! Somos amigas, mas não temos a confiança de chegar a esse tipo de conversas mais…porcas, que todas na verdade, adoram! Áh, áh, áh…. Calem-se que eu estou a falar. Não falei para vocês, falei de vocês. Convencidas! Mas eu até gosto delas. Vivo com elas loucuras que me fazem sentir viva, e como se eu fosse dona do mundo. É isso. Gigante! Bruxas. É sempre divertido. Todas nós devíamos ter amigas bruxas, com elas não há momentos de tédio, nem parados…adoro o que elas me mandam fazer. São umas malucas, estouvadas…mas as suas gargalhadas são contagiosas, e eu adoro rir-me com elas. Adoramos brincar umas com as outras, e estar juntas, mas tenho a certeza que só gostam de mim, para a brincadeira. Olá Cácá…estás aqui? Sim, claro. Eu já vou contigo, espera…deixa-me acabar. Xiu…cala-te, não vês que estou a disfarçar para te proteger? Escusas de ficar de trombas, sua mal-agradecida. Devias ficar contente, e até dar-me um abraço daqueles, porque estou a proteger-te daquelas que estão ali a olhar para nós, são perigosas! Cuidado! Não fales com elas. Não sei, mas supostamente foram trazidas pelos mesmos que eu! Pois! Não te aproximes delas. Óh…Flor…também me vieste visitar? Vocês são o máximo. Eu também já vos tinha procurado, mas não vos vi. Passaste por ali? São estranhas não são? Eu não gosto do olhar delas. É que vê-se logo o que fazem e o que querem! Vão ter sorte! Aqui não faltam, mas eu estou aqui e não estou disposta, nem na lista. Mesmo que esteja… não levam nada. Vês? Até tu já descobriste…querem…gajas! São, não são? A Dara já me tinha dito. Flor…não falaste com elas, pois não? Não fales! Olha que ás vezes há aqui microfones escondidos. Eu por acaso hoje ainda não os vi, mas podem estar algures. Temos de encontrar uma saída daqui, sem elas nos verem! Não! Cácá, que ideia genial! Áh, áh, áh!  Claro! A casa de banho. Mas espera…vamos sair por onde? Áh, boa! Pois é. Então telefona já à Dara a dizer que nos espere lá fora, e que nos puxe da janela. Diz-lhe onde é, e para ter cuidado com aquelas. São vítimas, mas não se pode confiar em todos, porque de certeza que algumas recebem dinheiro para se fazerem de vítimas, e depois vão dizer tudo à ou ao cabecilha. Claro que não. Nunca falei com elas, ou com eles vestidos delas…podem ser armadilhas! O cabecilha ou a…é burro ou burra…com tanta mulher aqui, devia era ter vestido mulheres de homens, ou pôr homens verdadeiros. Pois…caia de certeza. Aqui, até aqueles anjos são armadilhas. Se os gajos fossem bons…mas não são. Até nos dão droga! Não. Não caia. Ia levantar as saias. Áh, áh, áh. Claro, para ter a certeza! Não se pode confiar em ninguém. Óh bruxa Mati… cala-te! Agora não posso. Não vês que estou ocupada a falar com a Cácá, a Flor e a Dara, a pensar num plano para fugir, sem aqueles olharapos em cima de mim? Só se…eu gritar! Com o meu poderoso grito para elas desaparecerem. Pois…tens razão. Eu odeio dar razão aos outros, eu sei que nunca a têm, mas às vezes tenho de fazer de conta que acho que eles têm razão. Mas desta vez tens razão. Se me ouvem a gritar, vem logo. Esperem, mas eu posso ir à casa de banho sem dizer nada. O pior é que há espiões aqui em todo o lado. Ainda esta noite, estava lá metida uma espiã que contou as folhas do papel higiénico que usei. Não sei para que fez isso, mas talvez tivesse medo que eu comesse ou fumasse o papel. Só cortei duas folhas de papel higiénico e a gaja escreveu num papel, enquanto estava na sanita, eu sei que ela estava a ver-me na câmara de filmar, camuflada no anel dela, com uma ligação à sanita. Eu vi, essa ligação, no fim, antes de sair. De certeza que vai contar ao cabecilha, está feita com ele, veem… faz-se de vítima, que é uma das nossas, e depois escreve tudo, e vai dizer tudo. Não sei para quê! Talvez esteja a pensar num plano para sermos nós a pagar o papel higiénico, ou vai acusar-nos de qualquer coisa má, alguma trafulhice ele ou ela vai fazer. Ou então é um homem disfarçado de mulher, que nos vai ver à casa de banho. Mas não faltava mais nada, eu pagar o papel higiénico a uma besta que nem conheço, e que me trouxe para aqui. Ai dele, ou dela que me toque. Arranco-lhe a pele com as minhas garras de fera em que me transformo. Elas não sabem, mas quando me zango, e em noites de lua cheia, eu transformo-me em lobo selvagem e ataco. Quer dizer… eu não! Não tive escolha. Alguém que está lá fora e me transforma. Não sinto nada, mas sei que me levanto diferente, vejo-me ao espelho, estou com focinho e olhos de lobo, dentes grandes, linda de morder…quer dizer…de…morrer e matar por mais…ou uivar por mais…dentarrões grandes, pelo por todo o corpo…cauda, garras de fazer inveja a qualquer mulher que põe unhacas de plástico, tento andar mas caio, por isso ando a quatro. Uivo em vez de falar, e corro velozmente! Adoooooooooooooorrrrroooooooooooooo…. Há aqui uma casa de banho onde vive um bicho tarado. Sim. Nem sei que raça é, porque quando o vejo lá, saio, quer dizer, nem entro! Uma vez entrei lá, e o anormal mordeu-me o rabo sem dó nem piedade! Apanhou-me à traição. De certeza que é mandado pela cabecilha ou pelo… e até tem uma câmara de filmar na sanita. Não sei que beleza tem ver os nossos subterrâneos… eu já vi os meus subúrbios e não gostei nada! São tão…estranhos…o que é que farão lá? Precisavam de luz mas eu nem com luz lá entrava! Parece um esgoto das cavernas. E…fede mal. O ou a cabecilha deve ser mesmo porco. As outras vítimas ainda não devem ter conhecimento disso, caso contrário também não iam lá. Ou estão feitas com o bicho que filma e morde; mas elas não querem saber. Se calhar até gostam de ser vistas. É por isso que eu digo que há homens vestidos de mulheres; claro, um homem não vai morder o rabo do outro, nem filmar a arte sacra…ou…o foguetão…ou lá o que quiserem chamar… a não ser que sejam gays, e vão para esse esconderijo. Meninas, disfarcem agora! Vem aí aquela foca com comprimidos na mão! Deve ser mais uma dose de droga para nos por a dormir, ou levar para outro sítio! Se ela se aproxima, eu faço-a desaparecer com os meus gritos, ou transformo-me já em lobo. Olha…mais uma câmara nesta planta. Não podemos ser verdadeiras aqui, temos de fingir que não sabemos de nada, se não, arrancam-nos a cabeça. Acho melhor irmos para a casa de banho. Para a minha cama? Áh! Suas taradas…áh, áh, áh…querem brincar comigo? Na, na…não faltam aí almas que queiram fazer o mesmo. Procurem! Olhem aquelas todas ali, elas estão cheias de inveja e vontade…comem-me com os olhos…querem! E também estão a olhar para vocês. Eu sou gira, mas vocês são mais…muito mais… se quiserem vão! Está bem! Ufa…não veio aqui. Não, nem pensar…na cozinha há carniceiras e feiticeiros que metem coisas em caldeirões a ferver, usam facas, serras e machados! Nunca entrei lá, mas já vi pela janela, não muito, porque não consigo ver tanta crueldade…só aqueles facalhões e a fumaça, arrepiaram-me toda! Já tinha virado refeição se fosse lá. Que nojo! Na despensa também não. É um sítio cheio de câmaras e armadilhas; ratoeiras, traças devoradoras de carne humana, moscas que nos infetam dos pés à cabeça, pulgas que largam veneno na nossa pele, carraças. Não! Nem pensem. Aqui não há nenhum sítio seguro. Cuidado! Não falem alto, que ainda vos vem buscar. Temos de combinar um dia destes para nos divertirmos, mas fora daqui! Meninas…deem por aí uma volta para estudarem qual a melhor maneira de sair, sem sermos vistas, além do meu grito poderoso que faz desaparecer as pessoas. Só não vão para aqueles sítios que vos disse, correm perigo! Mas tentem descobrir outros! Óh não! Lá vem ela. (desata aos gritos para a enfermeira, outros grupos de enfermeiros agarram-na e dão-lhe comprimidos) Já se foram embora! Eu disse que estavam a tramar alguma. Estão a ver…? O meu grito é mesmo poderoso. (olha para o vazio, em silêncio e sorri) Vão, eu espero aqui! O cabecilha? Será? Sim…mas…áááááhhhhh….não posso acreditar. O cabecilha… é uma mulher…ou uma mulher disfarçada de homem, ou… um homem disfarçado de mulher? Maldito…! Ou maldita! Vou dar cabo de ti! Nem te atrevas a chegar perto de mim. Que raio de nome te deram, ou é o nome de código da quadrilha? Esquizofrenia… (adormece)

FIM 
Lara Rocha 
(10/Outubro/2018)


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