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domingo, 13 de dezembro de 2015

As transformações da bola de sabão

Era uma vez um artista de rua, com roupa de palhaço, cabelo encaracolado e colorido, que umas vezes trabalhava sozinho, outras vezes acompanhado. Todos esses artistas eram muito apreciados e aplaudidos, fotografados e quase toda a gente lhes deixava uma moedinha.
Um dia, num espetáculo de grupo, os artistas fizeram bolas de sabão, enormes com formas diferentes…que não se desfaziam. Voavam leves mas pareciam muito resistentes, ou que alguma coisa invisível segurava nelas.
Uma dessas bolas gigantes, redonda, transparente, não saiu da caixa. O palhaço insiste com a bola de sabão, mas ela não quer sair. Quem estava a assistir pensou que fazia parte do espectáculo, mas os artistas acharam muito estranho. A bola não queria sair.
- Não vou sair. – Diz a bola de sabão                                                                                                                
- O que é que estás a fazer aí…? Sai… - Pede baixinho outro artista
- Não nos estragues o espetáculo… - Diz-lhe baixinho um artista
- Não saio. – Diz a bola de sabão
- Sai… - Dizem os artistas baixinho e nervosos
- Temos aqui uma bola de sabão envergonhada! – Diz o palhaço ao público
- Porquê? – Pergunta uma criança
- Ela não saiu da caixa! – Responde o palhaço
- Porquê? – Pergunta outra criança
- Tanto porquê…! O que é que lhes interessa…? Não vou sair e pronto… Há muitas bolas de sabão para ser vistas. – Diz a bola de sabão
- Acho que deve ser…por…estar muita gente a olhar para ela. – Responde outra criança antes que o palhaço o fizesse
- Este é dos meus! Isso mesmo. – Diz a bola de sabão a sorrir
- E as bolas de sabão também são envergonhadas? – Pergunta outra criança
- São! – Respondem os artistas
- Quase todas gostam de se mostrar e ser vistas, mas também há algumas que não gostam tanto! – Explica outro artista
- Pois claro! Eu não gosto sempre de ser vista… às vezes apetece-me ser invisível. – Diz a bola de sabão
- As bolas de sabão são mágicas. – Diz outro artista
- Somos! – Diz a bola de sabão  
- Vamos tentar que ela saia…? – Propõe outro artista
- Sim! – Gritam todos
                A bola de sabão dá uma gargalhada.
- Como é que vamos fazer isso? – Pergunta outra criança
- Quero ver isso… - Diz a bola de sabão a rir
- Vamos aí tirá-la? – Pergunta outra
- Não faltava mais nada… - Diz a bola de sabão
- Não. Vamos bater palminhas enquanto ele dá umas batidas ali no tambor. Boa? – Propõe outro artista
- Boa! – Respondem todos
                À medida que batem palminhas e dão batidas no tambor, a bola de sabão começa a sair aos bocadinhos. As crianças riem e aplaudem, fazem tanto barulho que a bola de sabão volta a esconder-se:
- Mas que coisa…tantos gritos… por causa de uma bola de sabão… - Comenta a bola de sabão
- Óhhh…! – Exclamam todos
- Voltou a esconder-se. – Responde outra criança
- Eu acho que ela não quer mesmo aparecer…! – Diz outro artista
- Mas nós queremos vê-la. – Diz outra criança
- Mas se ela não quer aparecer então não devia ter vindo! – Diz outra
- Muito bem pensado! Será? – Diz o artista
- Pergunta-lhe! – Sugere outra criança
                Mas antes que o artista perguntasse, a bola de sabão sai da caixa com cor vermelha, e uma capa vestida! Ficam todos muito surpresos, sorriem e aplaudem.
- Parece que estava mesmo com vergonha e frio. – Diz o artista
- Uau! – Suspiram todos
                E a bola de sabão sai de lá a voar. Todos batem palmas.
- Para onde é que ela vai? – Pergunta outra
- Não faltava mais nada eu dizer para onde vou. Ainda vem atrás de mim. – Comenta a bola
- Não sei! Para onde vais bola de sabão? – Pergunta um artista
- Passear. – Responde a bola
- Ela diz que vai passear… - Diz um artista
- Conhecer a cidade – Diz outro artista
- Boa! - Gritam todos
- Tens sítios muito bonitos para ver! – Diz outra criança
- Vais gostar de tudo, tenho a certeza. – Diz outra
- E vais encontrar-te com as outras? – Pergunta outra
- Não sei… - Responde a bola
- Ela diz que não sabe! Pode ser! – Diz o artista
- Vais voltar aqui? – Pergunta outra
- Talvez. – Responde a bola
- Ela diz que talvez. – Responde o artista
                A bola de sabão segue o seu passeio, enquanto o espectáculo continua na rua com os artistas, e com muitas bolas de sabão. Esta bola de sabão voa devagar, mas assim que ouve gritos de crianças ou quando percebe que estão a reparar nela, ela faz de conta que rebenta e torna-se invisível.
- Esta criançada não pode ver uma bola de sabão. Já não se pode andar na rua à vontade, sem repararem em nós. De certeza que a vontade delas é só rebentar-me a mim e a todas as bolas de sabão! Onde já se viu? Ninguém lhes disse que nós, bolas de sabão, não fomos feitas para sermos rebentadas? Nós somos feitas para sermos vistas, apreciadas, elogiadas, fotografadas, e para andarmos livres por aí, não para acabarem com a nossa raça, em poucos segundos. Não percebo qual é a piada de rebentar…bolas de sabão. Nós já somos tão delicadas, tão frágeis…sempre ouvi dizer que apreciar e ver…é com os olhos, não com as mãos. Muito menos…a destruir. Áhhhh….tanta luz.
                A bola de sabão aproxima-se das lâmpadas e fica cor-de-laranja em vez de transparente, depois fica branca porque passa por candeeiros brancos, depois fica amarela ao passar pelas luzes da iluminação que estão penduradas nos fios, muda para transparente e azul quando pousa em cima de um pequenino candeeiro de jardim com uma luz azulada.
- Aqui está quentinho. – Comenta a bola de sabão a sorrir
                Volta a voar e pelo caminho fica com a cor verde, quando passa por pinheiros de Natal às portas das casas, e parece uma bola de gelatina flutuante, porque fica mais frio. Chega a uma rua onde dormem pessoas debaixo de claustros, e vê um casal com uma filha ainda pequena, que tenta agarrá-la.
- Há quanto tempo não via uma bola de sabão… olha mamã…olha papá. – Diz a criança encantada
- Sim! – Dizem os pais
- É linda… - Diz a mãe
- Mas deixa-a estar…não a rebentes. – Diz o pai
                A bola de sabão sorri, ganha a forma de um coração transparente com estrelas brilhantes.
- Olhem, mudou de forma e cor…! – Repara a criança
- Sim. – Dizem os pais também encantados e surpresos
                A menina conta a sua história e o motivo por estarem na rua. A bola de sabão teve uma ideia para ajudar aquela família. Quando acordam de manhã, a bola de sabão estava lá, transparente, protegida, a dormir num canto quentinha e deixou um frasco de bolas de sabão junto da menina.
A menina não sabia como tinha ido lá parar aquele frasco, nem quem lá tinha deixado, mesmo assim, quis experimentar. Ela sopra feliz, a primeira bola, que para sua grande surpresa era a linda bola de sabão que ela tinha visto nessa noite, em forma de coração transparente, grande, com estrelas azuis.
- Voltaste? – Pergunta a menina sorridente
- Eu estive sempre aqui. – Diz a bola de sabão
- Dormiste aqui?
- Dormi.
- Deixaste aqui o frasco?
- É para ti…para ajudar a tua família a ter uma casa.
- A sério? E o que é que temos de fazer?
- Bolas de sabão. O resto…deixa comigo.
- Mas…
- Só tens de soprar…
- Como…
- Sopra…e deixa o resto comigo.
- Mas uma bola de sabão não faz dinheiro.
- Faz.
- Faz?
- Faz.
                Mesmo sem perceber o que se estava a passar, a menina começa a fazer bolas de sabão, e a bola de sabão transforma todas as que saem do frasco, em verdadeiras obras de arte…bolas enormes, com formas diferentes, estranhas, bonitas, cores diferentes.
Os pais estavam de boca aberta, nunca tinham visto tal coisa. A bola de sabão empurra e sopra as outras para a rua para chamarem a sua atenção e consegue. Todos os que passam na rua, vêem bolas de sabão diferentes, e querem saber de onde vem…percebem que vem debaixo dos claustros.
Aplaudem, tiram fotografias, a menina dança, salta, corre com as bolas e diverte-se, contagiando toda a gente que via. Ela dava espetáculos fantásticos, encantadores, e todos deixavam dinheiro.
A própria bola de sabão transformava-se em formas muito diferentes, e participava o que tornava ainda mais especial o espetáculo. A vida daquela família nunca mais foi a mesma.
Em pouco tempo juntaram muito dinheiro, e graças aos espetáculos de bolas de sabão que a menina fez por todas as ruas da cidade, em sítios diferentes, conseguiram voltar a ter uma casa pequenina, mas tinha todo o conforto, e não lhes faltava nada. A bola de sabão passou a fazer parte dessa família, e a viver com eles sem se desfazer, e sempre a ajudá-los de todas as maneiras quando precisavam.
Esta bola de sabão era mesmo mágica.
Fim
Lálá
(11/Dezembro/2015)


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