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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Coração de Avó

NARRADORA – Era uma vez uma boa senhora, que se chamava Nicole, já com uma certa idade, mas com um espírito ainda muito jovem. Dona Nicole adorava costurar e bordar. Vivia sozinha, mas tinha todos os dias a casa cheia de amigas que faziam o mesmo…passavam tardes inteiras a costurar e a conversar, faziam chás e bolinhos e riam muito. Às vezes passeavam juntas, menos quando estava mau tempo. Também adoravam tratar das flores. Como era pleno Inverno, o vento soprava forte e assobiava, que dava medo…abanava tudo. Chovia torrencialmente e trovejava. A senhora só tinha medo quando estava sozinha, mesmo assim, procurava fazer sempre alguma coisa que a distraísse. Enquanto costurava com a Dona Gabriela, e com a Dona Judite, a Dona Nicole olha para o calendário.
D. NICOLE – Falta pouco tempo para o Natal!
D. GABRIELA – É verdade!
D. JUDITE – O tempo passa a correr.
AS TRÊS – É verdade.
D. GABRIELA – Parece que foi ontem o Natal do ano passado…com os meus netos e os meus filhos…naquela montanha gelada…e já estamos noutro Natal.
D. JUDITE – É verdade. O tempo passa, e nós nem damos por isso.
AS TRÊS – É isso mesmo.
D. NICOLE – O meu Natal, este ano é aqui na minha casa…o ano passado foi na Serra da Estrela.
D. JUDITE – O meu vai ser na casa do meu filho Pedro, com os meus netos…é uma alegria.
D. GABRIELA – O Natal é tão bonito!
TODAS – Sim, é!
D. NICOLE – Muito diferente do nosso tempo!
TODAS – Felizmente.
D. GABRIELA – O nosso Natal era uma pobreza…agora é muito melhor…muito rico.
D. JUDITE – É verdade! O nosso Natal era uma pobreza, mas não faltava comida, nem calor humano, nem alegria, nem amor.
D. NICOLE – Era…! Estávamos em família, à lareira...quase à luz das velas…deitávamo-nos cedo…!
D. GABRIELA - Tudo era cozinhado naqueles potes, que lhe dava um sabor especial.
D. JUDITE – Agora é tudo falsificado…até o bacalhau às vezes já não é igual ao nosso.
TODAS – É verdade!
D. NICOLE – Agora…as crianças são carregadas de brinquedos, caríssimos, e pouco ou nada lhes ligam, ou estragam.
D. GABRIELA – Pois é! Mas eu continuo a adorar o Natal.
TODAS – Eu também.
D. NICOLE – Mas sabem uma coisa…?! Nesta altura também fico sempre um bocadinho triste…
D. JUDITE – Porque lembras-te do teu Natal e da tua família…é normal! Eu também…mas quando estou com eles esqueço as tristezas todas.
D. NICOLE – Não…não é só isso! É que lembro-me muito de quem não tem família nem prendas…não é que as prendas sejam mais importantes, mas toda a gente gosta de receber alguma coisa…! Lembro-me muito dos meninos pobres…! Sempre quis deixar uma prendinha a cada um, nos bairros pobres, e onde há crianças abandonadas…mas não tenho dinheiro, nem tenho mãos tão rápidas como tinha antes, para fazer tudo a tempo.
D. GABRIELA – Isso também me lembro, e agradeço tudo o que tenho…a família que tenho, a casa, o conforto, o calor, as amigas, a roupa, a comida…tudo!
D. JUDITE – Olhem…sabem que mais?! Em vez de estarmos aqui a ficar tristes, com as recordações, e a ter pena dos que não têm nada…em vez de ficarmos pelo desejo de ajudar…vamos pôr mãos à obra e fazer bonecas, saquinhos e roupas, para as crianças pobres e para as que estão nas instituições.
D. NICOLE (sorri) – Excelente ideia! Tens toda a razão!
D. GABRIELA – Amigas…isso é tudo muito bonito, uma excelente ideia, mas têm a certeza que vamos fazer tudo a tempo? Três gatas pingadas…de patas murchas…lentas…falta pouco…não sei se estão a ter a perfeita noção.
D. NICOLE – Fala por ti…!
D. JUDITE – Mas que desvalorização…! Não confias nas tuas capacidades? Sempre fizemos coisas tão bonitas…e estamos sempre a descobrir peças novas…!
D. NICOLE – Não sejas tão pessimista.
D. GABRIELA – Acho que já não temos idade para nos metermos em altas cavalarias.
D. NICOLE – O quê?
D. JUDITE – Isso até é pecado!
D. NICOLE – Isso é preguiça tua…!
D. JUDITE - Idade…? Qual idade…eu nem sei quantos tenho! Sei que Graças a Deus tenho mãozinhas e cabecinha para fazer o que mais gosto…o resto…não quero saber.
D. NICOLE – Pois claro! Tens toda a razão.
D. JUDITE – É preciso que haja boa vontade, e confiança.
D. NICOLE - É claro que vamos conseguir fazer tudo a tempo. Querem ver? E não vão ser só três gatas pingadas de pata murcha…! Seremos um gatil.
NARRADORA – Dona Nicole levanta-se e vai ao telefone. Liga para todas as suas amigas e pouco depois, todas aparecem na sua casa, cheias de felicidade, entusiasmadas, e com vontade de trabalhar. Todas concordaram e levaram consigo todos os tecidos e materiais que precisavam. Numa grande alegria, enquanto conversam e riem umas com as outras, fazem roupas, pijamas, casacos, calças, meias, camisolas, gorros, luvas, vestidos, saias, botinhas de agasalho, saquinhos, e bonecas de pano. Cada qual a mais bonita. Juntam-se todos os dias e quando reparam, quase sem dar por isso…muito bem-dispostas, já têm vários caixotes e sacos cheios com os seus miminhos para os meninos.  Antes da noite de Natal, o Pai Natal da aldeia, recolhe os caixotes e sacos, na casa da D. Nicole, e distribui pelas crianças das Instituições e dos bairros sociais mais pobres da aldeia, e da cidade. Todas estão felizes e orgulhosas. As crianças pobres que receberam as roupas e as bonecas ficaram ainda mais felizes, e pediram ao Pai Natal para visitar as senhoras e agradecer. O Pai Natal leva-as à casa da Dona Nicole, que está com a sua família e toca à campainha. Ela abre a porta e todos gritam com um grande sorriso…
TODOS – Feliz Natal, Avó Nicole!
NARRADORA – Dona Nicole sorri emocionada, e cada menino abraça e beija a senhora.
CRIANÇAS – Muito obrigada, Avó Nicole!
UMA CRIANÇA (sorridente) – Avó Nicole…este foi o melhor Natal da nossa vida. Estamos muito felizes e muito agradecidos!
D. NICOLE (sorridente) – Eu também estou muito feliz.
PAI NATAL (sorridente) – Hoh, Hoh, hoh…! Feliz Natal querida Avó Nicole! És um anjo.
D. NICOLE (ri) – Que anjo, o quê? Eu sou só uma mulher velha…com uma criança debaixo da pele.
PAI NATAL (sorri) – E que linda que é essa criança! Não pediste nada…
D. NICOLE (sorridente) – Este é o melhor presente que podia receber…ver estas crianças, pobres, com estrelas nos olhos de felicidade por tão pouco. E esta visita…este carinho todo…! Além da saúde…o resto já tenho!
PAI NATAL (sorridente) – É uma Avó de Luz…! Que alma linda!
DONA NICOLE (sorri) – Tenho Natal todo o ano no meu coração!
PAI NATAL (sorri) – É verdade!
DONA NICOLE – Entrem! Está muito frio.
NARRADORA – Mas os meninos ficam envergonhados.
TODOS – Boa Noite, e Feliz Natal.
UMA CRIANÇA – Venha visitar-nos mais vezes!
OUTRA CRIANÇA – Agora é a nossa Avó Nicole!
D. NICOLE (sorri) – Com muito gosto! Irei com certeza. Não querem entrar?
TODOS – Não, obrigada.
CRIANÇA 3 – A família, o amor, o carinho, a amizade, a saúde, a alegria, a união e a paz são os maiores presentes que podemos ter!  
E começam a cantar, com umas pilhas, e vão saindo:
«Noite feliz…noite feliz…o Senhor…Deus de Amor…Pobrezinho nasceu em Belém…Eis na lapa Jesus nosso bem…Dorme em Paz óh Jesus…dorme em paz óh Jesus.»
TODOS - Feliz Natal!
FIM
Lálá

(4/Outubro/2013) 

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