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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A LIBERDADE DA LUZ






NARRADORA - Era uma vez uma linda unicórnio, branca, elegante, de crinas longas e reluzentes, que vivia aprisionada numa quinta enorme, e era maltratada pelos outros cavalos, éguas e unicórnios e pelos humanos que a exploravam e usavam para competição.Ela não sabia o quanto era bonita, porque não se olhava ao espelho…não tinha tempo. Apesar do seu sofrimento, a pobre unicórnio não conseguia ser má, e sujeitava-se, era obediente e sorria sempre. Todas as noites, desde há muito tempo, a Luz sonhava com a sua liberdade…imaginava-se a correr livre pelos montes e pelas praias, com as crinas ao vento, e a conhecer novos lugares…e sentia-se muito feliz ao imaginar isso, mas logo a tristeza voltava, quando se apercebia que estava naquele estábulo a ser mal tratada. Num certo dia, começou a ficar farta de todo aquele ambiente, e estava muito cansada, fraca…no silêncio e sossego da noite, desloca-se ao lago da quinta em passo lento, e arrastado, com as lágrimas a cair-lhe dos olhos. Pára à beira lago e suspira, geme, chora e murmura a soluçar:
LUZ – Que sorte a minha…! Nasci…fiquei longe dos meus pais…porque fui vendida a estes monstros…humanos…ridículos…para ser maltratada…explorada…fazem de mim…gato-sapato! (p.c) Estou a ficar farta…mas…sou tão mole…tão chocha…que não tenho coragem de ser má para eles…talvez eles achem que mereço ser tratada assim! (p.c) Mas não sei o que lhes fiz para eles ficarem tão zangados comigo…! (p.c) Sou educada de mais…! (p.c) Óóóóhhh…eu não queria isto para mim…Até quando é que isto vai durar…?
(Uma fadinha sentada num ramo, vê a Unicórnio e murmura).
FADINHA – Vai durar até quando tu quiseres e permitires…! Já podias ter acabado com isso, Luz! (p.c) Acaba com isso…tu podes…e tu consegues.
NARRADORA – A unicórnio continua a murmurar e a lamentar-se, e de repente, sai uma luzinha da água, redonda e chama a sua atenção. Ela olha para a água e vê a sua imagem reflectida…e à sua volta, sobrevoa a luzinha, parando à sua frente. É uma linda, pequenina e adorável fadinha, de roupa azul, asinhas muito fininhas, e olhos azuis, cabelos pretos…que delicia. A unicórnio Luz olha para a sua imagem na água, muito admirada, e para a Fadinha.
LUZ – Óóóóhhh…está uma unicórnio ali debaixo de água…! O que é que ela está ali a fazer…? Coitada…caiu…? Alguém a ajude…!
(A fadinha ri às gargalhadas)
LUZ – Estás a rir de quê? (p.c) Que maldade…!
FADINHA (a rir) – Maldade…? Qual…?
LUZ – Estás a rir-te desta unicórnio que caiu aqui ao lago…?
FADINHA (a rir) – Não vi ninguém a cair aqui no lago.
LUZ – Olha bem…esta aqui…!
FADINHA (a rir) – Olha bem para a água…achas mesmo que é outra unicórnio que aqui está?
LUZ – Sim…e está lá em baixo.
FADINHA (a rir) – Óh, querida…olha bem…com olhos de ver.
LUZ – Estou a ver. É uma unicórnio que está ali debaixo da água.
FADINHA – Achas que sim?
LUZ – Sim.
FADINHA – Não…não é nenhuma outra unicórnio debaixo da água…é o teu reflexo!
LUZ – O quê? Estás a gozar comigo!
FADINHA – Não estou nada…estou a falar muito a sério. Essa és tu!
LUZ – Eu…? Mas…eu estou aqui…fora de água.
FADINHA – Sim, mas tu podes ver-te na água do lago…é como um espelho. (p.c) Olha para ti sem medo…
(A unicórnio olha-se fixamente)
FADINHA – Olha para ti…como tu estás!
LUZ – Aparentemente estou…normal, acho eu…não?
FADINHA – Não…! Quer dizer, estás normal, tens tudo no sítio, direitinho…tens…focinho…dois olhos…nariz, boca…orelhas, crina…pêlo, patas…cauda…mas olha como tu és linda!
LUZ (sorri) – Achas…? (p.c) Nunca ninguém me tinha dito isso.
FADINHA – Que insensibilidade…mas és mesmo muito bonita…! Não estou a ser simpática…olha bem para ti…gostas do reflexo que vês? (p.c) Acha-lo bonito?
LUZ (sorri) – Sim…! E se eu sou este reflexo…então…sou bonita!
FADINHA (sorri) – Muito bem…! Claro que sim! (p.c) Agora…olha bem para os teus olhos…!
LUZ – Para os meus olhos…? Como é que eu vou olhar para os meus olhos, se não posso tirá-los da minha cara…?
FADINHA – Olha para os teus olhos no reflexo!
LUZ – Áááááhhh…! Está bem.
(A Luz olha para ela própria, para os seus olhos, assusta-se e desvia-se)
FADINHA – Então…?
LUZ – Vi uns olhos assustadores.
FADINHA – Não são assustadores…são os teus olhos e são muito bonitos…mas porque é que os achaste assustadores?
LUZ – Não sei…não gostei…estavam…estranhos…!
FADINHA – Estranhos…como?
LUZ – Feios…
FADINHA – Não podem estar feios, porque tu tens uns olhos muito bonitos.
LUZ – Mais bonitos são os teus olhos…querida!
FADINHA – Não. Os meus são bonitos, mas os teus também são…! Os meus não são mais que os teus…cada um tem o seu formato diferente…e uma cor diferente. (p.c) Mas…o que não gostaste neles?
LUZ – Assustaram-me.
FADINHA – Mas assustaram-te porquê? (p.c) Olha outra vez para eles, sem medo…e descreve-me o que vês!
A Luz olha para a sua imagem, novamente, fixamente, e vê uma unicórnio a chorar.
LUZ – Está a chorar…que feia…!
FADINHA – Dizes que o teu reflexo está a chorar…por isso é feio…?
LUZ – Sim.
FADINHA – Mentira! (p.c) Tu achas feio porque nunca antes tinhas visto…mas lembra-te…é o teu reflexo…e se ele está a chorar…é porque tu também estás! (p.c) O teu reflexo mostra tudo o que sentes…mostra a verdade nos teus olhos, sem máscaras… (p.c) Mas por isso mesmo é que este reflexo é ainda mais bonito…por mostrar o teu coração…!
LUZ – Mas…isso é possível?
FADINHA – Sim.
LUZ – Mas, como é que ele faz isso?
FADINHA – Não sei, só sei que faz isso.
LUZ – Óóóóhhh…mas ele não tinha nada que fazer isso.
FADINHA – E porque não?
LUZ – Porque nunca se mostra o que estamos a sentir.
FADINHA – E porque é que não se mostra o que estamos a sentir…?
LUZ – Porque se mostramos o que sentimos…os outros fogem de nós, principalmente se estivermos tristes, ou a chorar, ou com raiva…ou com dores…!
FADINHA – Mas que disparate. Quem é que te disse essas coisas horríveis?
LUZ – Toda a gente à minha volta…!
FADINHA – E tu achas que isso é correcto?
LUZ – Bem…deve ser…se toda a gente diz…todos os adultos, os outros animais, os humanos…! Se eles dizem isso, é porque é mesmo verdade…não?
FADINHA – Não…isso pode ser verdade para eles, coitados…foi o que lhes ensinaram…! (p.c) Mas achas que eles conseguem mesmo fazer isso?
LUZ – Sim…!
FADINHA – E achas que eles são felizes por fazer isso?
LUZ – Felizes, por não mostrar aos outros o que sentem…?
FADINHA – Sim. Achas que são felizes?
LUZ – Bem…não sei…devem ser.
FADINHA – E tu, ficas feliz por não mostrares o que sentes?
LUZ – Huuummm…isso é uma pergunta muito difícil…!
FADINHA – Olha para o reflexo dos teus olhos…e verás qual é a resposta…!
(A Luz olha para o reflexo)
LUZ – Óóóóhhh…o meu reflexo diz que não se sente feliz por ter de esconder o que sente, dos outros.
FADINHA – Muito bem! (p.c) É óbvio que eles não se sentem felizes por ter de esconder os sentimentos! Isso é sufocar o coração! E é muito mau…faz mal à saúde, mas…não pensam nisso! Que coisa mais feia!
LUZ – Faz mal à saúde?
FADINHA – Sim, muito mal…põe as pessoas doentes…porque ao sufocar os sentimentos, eles têm de sair por algum lado…gostam de liberdade…de sair…de respirar…é como tu te sentiste quando vieste aqui parar…verdade?
LUZ – Quem não gosta da sua liberdade! Sim…é verdade…foi assim que me senti…e é assim que ainda me sinto! 
FADINHA - E…achas que quando não mostram os sentimentos, eles sentem-se livres por dentro?
LUZ – Livres por dentro…? O que é isso?
FADINHA – Sim, livres por dentro…quer dizer…somos livres por dentro quando mostramos aos outros o que sentimos…quando mostramos…lágrimas por estarmos tristes…quando…gritamos…se estamos com raiva ou muito zangados…ou quando sorrimos ou rimos de alguma situação…por exemplo…de felicidade…!
LUZ – Ááááhhh…que lindo! E isso acontece mesmo…?
FADINHA – Sim…pensaste que os sentimentos eram o quê…? Eles também têm vida…o mal é que toda a gente os prende…têm medo…não percebo de quê…afinal de contas…os sentimentos são vivos…e fazem parte do ser vivo…e…mantém as pessoas vivas! (p.c) Achas que os seres humanos se sentem livres por dentro?
LUZ - Bem…depois do que tu me disseste agora…acho que não!
FADINHA – Podes ter a certeza que não! Tu sentes-te livre por dentro, por não poderes mostrar os teus sentimentos?
LUZ – Não…mas tem de ser.
FADINHA – Porque é que tem de ser?
LUZ – Porque não podemos mostrar aos outros o que sentimos…porque se não…ainda nos magoam…!
FADINHA – Que disparate! (p.c) Existe alguma lei escrita em algum sítio, a dizer que não se pode mostrar o que sentimos…?
LUZ – Bem…não sei…eu nunca vi essa lei, mas se os adultos dizem isso, é porque existe!
FADINHA – Eu já existo há…olha… tempo sem fim…não sei quanto…e nunca vi lei alguma! Muito menos essa horrível… (p.c) Se a visse, destruía-a logo! Que coisa mais feia! (p.c) Sabes uma coisa, amiga…além de seres maltratada, ainda te prendem de outra maneira…! (p.c) Tu, e todos os que te rodeiam…vivem em prisões...
LUZ – Não, vivem em casas…!
FADINHA – Prisões…não estou a dizer…casas…estou a dizer…prisões…embora andem por aí…andam por andar…porque tem pernas e pés…mas na verdade…andam com máscaras…presos nos seus sentimentos, que não podem mostrar…que horror…isso é um pesadelo…é por isso que o mundo está assim…só loucos…e…doentes…precisamente porque prendem por exemplo a tristeza…usam máscara, para suportar a dor e sufocam-se, para que os outros não vejam, nem se afastem…que maldade…!
LUZ – Sim, deves ter razão.
FADINHA – Como te sentes…?
LUZ – Bem…
FADINHA – Olha para o teu reflexo…! (p.c) De certeza que te sentes bem? Olha que o teu reflexo não usa máscaras…e não as ponhas agora…vê só o que ele te diz sobre como te sentes…!
(A Luz olha para o reflexo, e desata a chorar)
LUZ (a chorar) – Óóóóhhh…não me sinto nada bem…estou muito triste!
FADINHA (sorri) – Boa…! Muito bem…! E porque é que estás muito triste?
LUZ (a chorar) – Porque sou maltratada! Vivo naquela casota…fechada…presa…sou maltratada, usada, gozada…eu não gosto de estar lá…toda a gente me humilha e goza…fui obrigada a separar-me dos meus pais…fui vendida para aqui…e…sinto-me sufocada!
FADINHA – E nunca mostraste esses sentimentos a quem te rodeia?
LUZ (a chorar) – Não!
FADINHA – Porquê?
LUZ (a chorar) – Porque não podia…ainda me maltratavam mais…eu tinha que respeitar todos…! E se mostrasse o que sentia…a minha tristeza…ainda seria muito pior….todos se afastavam…! E eu não queria…!
FADINHA – Porquê? É contagioso?
LUZ (a chorar) – Acho que não…mas toda a gente nos ensinou a sermos assim.
FADINHA – Mas, que palermice! Nunca outra vi, nem ouvi. E tu, concordavas com isso?
LUZ – Não. Mas tinha que obedecer e respeitar os donos.
FADINHA – E a ti, respeitavam-te?
LUZ – Não…nunca me respeitaram…mas eu estava a servi-los…tinha que os respeitar, antes que acabassem comigo. (triste) Acho que todos éramos um bando de falsos…
FADINHA – Com certeza…falsos, infelizes e doentes! (p.c) Sentias-te bem no meu deles, naquele sítio…? (p.c) Responde…sem máscaras…!
LUZ (triste) – Não…nunca me senti bem ali, nem naquele espaço, nem com aqueles monstros…! Sempre detestei estar lá…mas tive que me render…e suportar.
FADINHA – Porque é que continuaste lá, se não te sentias bem?
LUZ – Porque, eles estavam sempre em cima de mim, e não me davam espaço! (p.c) Não me largavam um segundo…!
FADINHA – Fugias…! Nem que fosse à noite…!
LUZ – Não podia…ainda pensei nisso, mas nunca conseguia, porque os desgraçados dos cães começavam logo a ladrar, e os donos da casa iam logo ver o que se passava. (p.c) Tentei várias vezes…mas estava já muito cansada, sempre…depois de tanto trabalho…! A única maneira de eu ser livre era na minha imaginação…quando me imaginava a correr…livre…solta…feliz…a sentir o vento no focinho e nas minhas crinas…a correr pelas praias…e pela beira do mar…aí sim...mas logo voltava a minha tristeza, quando abria os olhos, e via que estava naquele sítio horrível, com aqueles animais horríveis…!  
FADINHA – Tu queres ser livre não queres?
LUZ – Sim, claro que quero…é o que eu mais quero…!
FADINHA – O que é que te impede, neste momento de seres livre…?
LUZ – O mesmo de sempre!
FADINHA – Mas…conseguiste sair para vir ao lago, e os cães não ladraram, nem os donos vieram à janela…! (p.c) O que te impede é o medo…certo?
LUZ – A única coisa que tenho medo, é de ser apanhada, e de sofrer as consequências…de me magoarem ou de me fazerem ainda pior.
FADINHA – Mas quem são eles para te impedir de fugires…?
LUZ – São os meus donos.
FADINHA – E o que é que te prende a eles…se eles te maltratam? Gostas deles?
LUZ – Não…não gosto deles…! Mas…
FADINHA – Mas… (p.c) Não existe mas…tu não os podes obrigar a nada…nem eles te podem obrigar a ficar aqui presa o resto dos teus dias…!
LUZ – São meus donos…!
FADINHA – De maneira nenhuma, querida…não tens que ficar aqui…a aguentar as humilhações e os maus tratos, e o uso que fazem de ti! (p.c) Vai…põe-te a andar…! (p.c) Corre…agora…! (p.c) Ninguém é dono de ninguém… (p.c) Eles não são teus donos…! (p.c) Enfiaram-te na casa deles, para te explorar e usar-te…e tu não mereces isso…não nasceste para isso! (p.c) Ninguém pode prender-te…tu…és mulher…tens todo o direito de ser muito bem tratada, e respeitada, tu podes ser livre…e não só na tua imaginação…! (p.c) Vai…corre solta, livre…brinca, desliza, mergulha…come erva…sai daqui…vai viver a tua liberdade…a tua vida é lá fora! Não é presa num estábulo…!  
LUZ – Mas…e os outros?
FADINHA – Os outros…? Que outros…? (p.c) Os que te merecem, e os que te amam…e os que te valorizam…? (p.c) Esses esperam-te ansiosamente, no estábulo de onde saíste…onde tinhas os teus pais e onde eras verdadeiramente feliz… (p.c) É lá…na tua casa que tens de estar…rodeada da tua família que te ama. (p.c) Estes aqui não valem nada…não te merecem…não te amam…sai, rapariga…esquece os outros… (p.c) segue o teu desejo de liberdade…segue a tua liberdade…! (p.c) Tu mereces… (p.c) Vai…não voltes a permitir que te maltratem…exige que te respeitem…que é o que tu mereces…! (p.c) Tu és livre para não permitir que te usem…! (p.c) Tu não mereces isso…! (p.c) Vai só atrás do que mereces…! E mereces tudo de bom… (p.c) Vai, linda…!
LUZ (sorri) – Sim…Tens toda a razão…! Está bem…eu vou…obrigada por todas as coisas bonitas que disseste a meu respeito…!
FADINHA (feliz e sorridente) – Não estou a dizer isto de ti, para ser simpática…não uso máscaras…só falo com o coração! Por isso…tudo o que te disse, é verdade!
LUZ (sorri) – E agora…vou ter que me separar de ti…? Gostei tanto de falar contigo…!
FADINHA (sorri) – Não…eu vou estar sempre por aqui perto! (p.c) Vamos encontrar-nos mais vezes, e qualquer coisa é só chamares! (p.c) Vamos…segue-me! 
NARRADORA – A Luz olha para trás, saltita, sorri e desata a correr pelo campo fora, atrás da fadinha, feliz, ri, corre livre, solta…pára para sentir o ar fresco…respira fundo…inspira…e expira…e sorri deliciada. A fadinha guia-a até aos pais…que estão noutra herdade, igualmente tristes por estarem longe da filha, mas reconhecem-na muito felizes, e vão a correr ter com ela…
LUZ (Sorridente) – Mamã…! Papá…!
MÃE E PAI (Sorridentes e felizes) – Filha…!
MÃE (sorridente e emocionada) – Voltaste…?
LUZ (sorridente e feliz) – Sim…voltei! (p.c) E ficarei sempre aqui…o resto dos meus dias. (p.c) Ááááááhhhh…este espaço sim…é de verdadeira liberdade…paz…e beleza! (p.c) Aqui respira-se!
PAI (sorridente) – O que aconteceu…?
LUZ (sorridente) – Eu…decidi ser livre, e feliz…!
MÃE (feliz e sorridente) – Que maravilha…e fugiste?
LUZ (sorridente) – Sim, fugi…já não aguentava mais! (p.c) A minha amiga…ela…é que me abriu os olhos! (p.c) Eu estava num sítio onde me odiavam, exploravam, gozavam, humilhavam…e a minha amiga estava cheia de razão…eu não merecia isso… (p.c) Aqui sei que vou ser muito bem tratada!  
MÃE E PAI (preocupados) – Foste maltratada…?
LUZ – Sim…!
PAI (zangado) – Malditos…! (p.c) Vão pagar bem caro…eles que aguardem…!
MÃE (triste) – Que injustiça…!
LUZ – Não percam tempo com vinganças…mais cedo ou mais tarde, eles vão ter o que merecem! (p.c) Eu consegui finalmente fugir…talvez agora sintam a minha falta, e me dêem valor…mas não vai adiantar de nada…! (p.c) Não quero mais saber deles…daqueles…miseráveis…infelizes…doentes…!
FADINHA (bate palmas) – Isso mesmo…linda…estás coberta de razão…! (p.c) Vês…? Sentes-te livre?
LUZ (sorri) – Sim…livre por dentro…e livre…em todos os sentidos…!
FADINHA (sorri) – Eu disse-te!
MÃE (sorri) – Mas que diferente que está o meu rebento…!
FADINHA (sorri) – Sim…é normal, mãe…ela voltou a encontrar a felicidade, com a sua liberdade, e aprendeu a olhar para ela…como ela é bonita…! (p.c) Deve ter muitos admiradores…! (Riem) Ela merece esta liberdade, e felicidade…e merece ser bem tratada, respeitada…!
MÃE (sorri) – Com certeza! (p.c) Obrigada, querida…fadinha.
FADA (sorri) – Ora essa…estou sempre por aqui.
MÃE (sorri) – És mulher…compreendes…!
FADINHA (sorri) – Nem mais…!
PAI – Ai, ai, ai, ai…mulheres juntas…é uma desgraça…!
(Todas riem)
LUZ (sorridente) – Que ciumento…! (p.c) Sim, Paizinho…tu também és maravilhoso…
PAI (vaidoso) – Óhhh…eu sei, minha filha…! (p.c) Isto é tudo pela felicidade de te ter de volta…!
(As três riem)
MÃE (a rir) – Este meu marido…é demais…! (p.c) Disfarça muito bem, não disfarça…?
LUZ (a rir) – Tantas máscaras que vocês usam…homens…!
(A FADINHA e a MÃE aplaudem, a sorrir)
FADINHA E MÃE (a rir) – Grande verdade…muito bem! Lindo…! (Riem)
PAI – Ahhh…mulheres…! O que nós temos de aturar… (p.c) Mas não sabemos viver sem elas…!
TODAS (a rir) – Pois…! Vês…!
PAI (a rir) – Sim, sim…! Venenozinhas deliciosas, encantadoras…! Sedutoras.
LUZ (sorridente) – Vamos dar uma volta…quero matar saudades da liberdade que perdi…e quero recuperá-la outra vez…!
MÃE E PAI (sorridentes) – Claro…vamos.
NARRADORA – E a unicórnio Luz, vai com os pais, feliz, passear a noite toda, corre com eles, livremente pelos campos, herdades, montes, e vales…ri com eles, brinca com eles, feliz, relincham de felicidade, trocam muitos mimos, comem erva e bebem água, e falam de tudo. Estão felizes por estarem juntos, em liberdade e a Luz passou a viver com os pais, na corte onde respeitavam todos os animais, onde todos andavam à solta, eram muito bem alimentados, e muito acarinhados, e adorados pelos humanos…levando-os a passear, e defendendo-os com coices sempre que os seus donos estavam em perigo. Mas a Luz, e os seus pais, ainda se tornaram mais livres, por poderem expressar e mostrar aos outros, os seus verdadeiros sentimentos, sem máscaras, e até os humanos mostravam sem medo e sem vergonha o que sentiam. Eram ouvidos por todos, e sabiam ouvir, compreendiam e ajudavam a animar quando estavam tristes. A Luz conquistou a sua liberdade, tão sonhada…a liberdade de poder e de querer ser respeitada, a liberdade de escolher ser livre e feliz, a liberdade de mostrar os seus verdadeiros sentimentos sem máscaras, sem medo que os outros se afastassem…porque como eram verdadeiros amigos, e gostavam mesmo muito uns dos outros, respeitavam os sentimentos, não gozavam nem humilhavam, porque todos os seres vivos têm sentimentos, e uns dias estão melhores, outros dias estão piores…faz parte! O ser humano não devia usar máscaras, e todos devíamos respeitar os sentimentos…bons e menos bons…e saber estar ao lado de quem precisa, em vez de usarmos o silêncio, ou de virarmos as costas aos amigos só porque eles estão tristes…até porque…a verdadeira amizade não existe só nos momentos de felicidade e de festa! Os sentimentos existem, em todos nós, e todos nós devíamos…e devemos mostrá-los sem medo…sem os disfarçar…pois somos todos seres humanos e todos precisamos uns dos outros…quanto mais não seja, precisamos muitas vezes de partilhar com alguém o que sentimos, e que às vezes nos faz tão mal, se não dividirmos…! Se todos fizéssemos isso, todos seriamos muito mais felizes, muito mais humanos, e muito mais saudáveis. Temos liberdade…pelo menos…liberdade para sermos quem somos, sem máscaras, e temos o direito de sermos bem tratados, e acarinhados, e amados…! E temos a liberdade para sermos livres, nos sonhos e no dia-a-dia. 




FIM
LÁLÁ
17/AGOSTO/2012


1 comentário:

  1. Olá, eu sou a Érica, a minha avó leu-me esta história e eu adorei, a parte que eu gostei mais foi em que a unicórnio Luz encontrou os seus pais.Obrigada tia LÁLÁ por escreveres histórias tão bonitas para crianças,beijinhos da Érica, sou tua FÁ!!!

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